A obsessão pelo n.º 2, a capacidade inata para ser 2.º, a dualidade de critérios ou a dupla personalidade.
Paulo Portas nasceu para ser 2.º, de facto, ele é o filho Portas n.º 2 e, parecendo que não, já estava a ser traçado o seu destino à nascença – a irrevogável apetência para ser o n.º 2.
Mas vamos centrar-nos na sua vida profissional e política. Como todos sabem, Paulo Portas é o líder do CDS-PP... Como? Eu disse líder? Isso quer dizer que é o n.º 1 do partido. Então, onde está a apetência para ser n.º 2?!
Calma! Eu passo a explicar, ele é de facto o líder do seu partido, mas importa salientar que o CDS-PP não é um partido qualquer, o CDS-PP é a “última” facção do PSD. Já agora, aproveito a deixa para relembrar que o “Paulinho das feiras” começou a sua militância política no PSD. Mas isso são outros quinhentos, voltemos ao raciocínio anterior sobre a sua posição de “líder” do seu partido. Será que isso significa ser n.º 1 de alguma coisa? Eu acho que não e esclareço porquê. O CDS-PP é a “última” facção do PSD... mas o que quero eu dizer com isto? Muito simples, todos os partidos têm pelo menos duas facções. E, o que significa ter duas ou mais facções? Segundo os próprios partidos significa pluraridade, mas também pode querer dizer que dentro dos partidos há quem conspire e maquine contra os seus camaradas, uma espécie de dissidência política dentro de portas (lá está, a palavra “portas” outra vez). Tudo faz sentido, portanto! Clarificando ainda mais, o CDS-PP é um partido composto por indivíduos que nunca conseguiriam chegar aos primeiros lugares do PSD, nem sequer aos segundos lugares, objectivo manifestamente evidenciado por Paulo Portas (ser segundo). Enquanto membros de uma facção pouco significativa dentro do PSD, estes indivíduos nunca chegariam a lado nenhum, logo há que criar um “novo” partido, através do qual possam encabeçar listas na esperança de chegar ao poder, coisa que se veio a verificar por duas vezes com Paulo Portas. Ora, cá está mais uma prova do que afirmei inicialmente, ou seja, o Paulo Portas tem um fetiche com o n.º 2.
Ainda sobre as facções dos partidos e, considerando a postura do CDS-PP nos últimos 39 anos, eu diria que o CDS-PP não é a segunda, nem a terceira facção do PSD, o CDS-PP é a última facção, ou melhor, a (putre)facção do PSD que, já de si, tem pouco ou nada de sano.
Voltando à obsessão pelo n.º 2. Paulo Portas foi co-fundador do jornal O Independente, juntamente com Miguel Esteves Cardoso e, tenho para mim que também aí o Paulinho era o n.º 2, pois nessa altura o MEC assumia uma maior popularidade. Poderia começar a questionar o facto de nessa altura, ambos terem assumido uma atitude ofensiva (e bem) às políticas do então Primeiro-Ministro Cavaco Silva e até mesmo à sua pessoa, algo que hoje insiste em contrariar, mas fica apenas o registo de mais uma dualidade latente na personalidade desviada deste ilustre político-jornalista-jurista português.
No período 2002/2005 formou a coligação governativa... Com quem? Ah... deixem-me pensar... Ah pois! Claro! Com o PSD. Coligação pós-eleitoral, pois claro, à boa maneira dos politiqueiros que se servem desta nobre nação e das inúmeras lacunas que a Lei (por eles elaborada) lhes oferece. E, para não me desviar muito do tema principal deste texto, queria apenas partilhar uma recordação que corrobora a minha teoria de dualidade e dupla personalidade do Paulinho. A campanha eleitoral para as legislativas de 2002 foi manifestamente rica em ataques e contra-ataques violentos entre Paulo Portas e Durão Barroso (o fugitivo) que, até ao último dia de campanha trocaram acusações gravíssimas e até mesmo insultos, sempre demonstrando que nunca se coligariam para governar. A verdade é que no dia seguinte às eleições, ambos trocavam beijos e abraços e anunciavam a formação de um governo de coligação. Paulo Portas conseguia uma vez mais atingir o seu objectivo máximo, ser o n.º 2 de qualquer coisa. Como todos se lembram (ou não), Durão Barroso abandonou a função de chefe do governo, desprezando o juramento que havia feito sobre a Constituição (o que quer que isso represente), rumando à liderança da Comissão Europeia, onde até hoje tem desempenhado de forma exemplar o seu papel de Bonifrate. Santana Lopes (outro ilustre politiqueiro) substitui Durão Barroso e, desta forma, assegura a continuidade do sonho do Paulinho, seguir como n.º 2.
Em 2005, dá-se a realização de novas eleições legislativas, pois como qualquer pessoa inteligente adivinhava, aquele governo em que Paulinho era o segundo, não poderia durar até ao fim da legislatura. Paulo Portas é esmagado nas urnas e demite-se da liderança do seu partido, mais partido que nunca. Mas... volta 2 anos depois (lá está o 2 outra vez). É verdade! Bastaram apenas 2 anos para “lavar” a sua imagem dentro do seu partido (se é que alguém naquele partido sabe o que significa lavar, ou, se calhar até sabem o que é lavar outras coisas), que o recebeu de braços abertos e o confirmou como líder pela segunda vez. Mas, já sabemos que ser líder do CDS-PP não significa ser o n.º 1 de nada.
Nas legislativas de 2009, o CDS-PP consegue chegar aos “2 dígitos” (em termos percentuais) nos resultados eleitorais. . Para quem não se lembra, eu recordo aqui a primeira frase proferida por Paulo Portas na noite das eleições, após o conhecimento dos resultados: “Foi desta vez, 2 dígitos”. Foram palavras dele, não estou a inventar nada. Paulo Portas é um obcecado pelo n.º 2 e não esconde esse facto, apesar do fingimento.
Ano vem, ano vai e chegamos a 2011, altura em que se dão novas eleições legislativas (antecipadas, pelos motivos que todos sabemos). Nessa altura, assistiu-se ao mesmo filme de 2002, onde PSD e a sua (putre)facção CDS-PP concorrem às eleições separadamente, claro, trocando animosidades constantes durante a campanha, mas com o mesmo fim à vista – uma coligação pós-eleitoral (nunca assumida), onde o Paulinho possa tomar novamente o tão ambicionado lugar de n.º 2 no governo. Facto que veio a acontecer, com muita pena minha há que dizê-lo, pois não há nada mais triste do que ver um povo a dar em si mesmo como o sino da igreja.
Em tão pouco tempo, as pessoas esqueceram-se do caso Moderna, da empresa de sondagens Amostra, das 60 mil fotocópias, dos submarinos (caso Portucale), etc. etc. etc. Esta é a vantagem de ser n.º 2, as atenções caem sempre sobre a linha da frente e quem está por trás, salvo seja, sai protegido.
O importante é que o Paulinho das feiras consegue chegar uma vez mais a n.º 2 do governo. A sério? N.º 2 do governo? Esperem lá, desta vez ele não chegou a n.º 2 de coisa alguma. Vejamos, o primeiro foi Passos Coelho, o segundo Miguel Relvas e o terceiro Vítor Gaspar. Desta vez, a coligação pós-eleitoral colocou Paulo Portas em 4.º lugar na hierarquia do governo. Bom, considerando a minha teoria da obsessão pelo 2.º posto, poderia dizer que Paulo Portas preferiu ficar em 4.º lugar porque isso significa ser 2 vezes 2.º... Hmmm... mas não faz muito sentido. Terá feito na sua cabecinha diabolicamente perseverante?
Eu acho que, à semelhança da maioria dos portugueses, Paulo Portas sempre achou que era o n.º 2 do governo, desde a sua tomada de posse. Contudo, só no dia em que Vítor Gaspar se demitiu é que a comunicação social fez alarde de que Paulo Portas viria a assumir a posição n.º 2 do governo. Isto apanhou de surpresa toda a gente, incluindo o próprio Portas, razão pela qual decide apresentar a sua demissão no dia seguinte. Mas o que é isto? Andam a brincar com o Paulinho? Então só agora é que assume o seu lugar de sonho, aquele que ele mesmo considerava ter vindo a ocupar há mais de 2 anos?
Esta é a única razão plausível que justifica a atitude de Paulo Portas. Não venham agora dizer que foi por causa da nomeação da senhora professora do Passos Coelho para ministra das finanças. Isso não faz sentido. Até porque ela já fazia parte do governo, já tinha assumido um papel importante na destruição e degradação do património do Estado, tal como a venda da EDP aos chineses, onde o seu marido desempregado passou a assumir funções pouco tempo depois. Quais funções? Isso não importa. O mais importante é que passámos a ter menos um desempregado.
Mais ainda, o plano de ressuscitamento da coligação governativa apresentado ao Presidente da República comporta a continuidade da ministra das finanças e, o Paulinho parece não ter nada contra. Paulo Portas que havia apresentado um pedido de demissão irrevogável, apontando como principais razões a falta de confiança na nova ministra das finanças e a irresponsabilidade de Passos Coelho, volta atrás com a palavra, aceitando a continuidade da incompetente ministra e, claro está do irresponsável Passos Coelho. E porquê? Porque Paulo Portas, que na sua dualidade consciente é também o Paulinho das feiras, apenas está obcecado numa coisa – ser o n.º 2. E desta vez, não há volta a dar, ele será mesmo o n.º 2 do governo, pois fez questão de garantir por escrito o título de vice-primeiro-ministro e que todo o país testemunhasse esse facto durante dias (dias quentes, dias de alerta laranja) e onde obriga o mais que morto Presidente da República Cavaco Silva, a “homologar” a sua ambicionada posição – a segunda posição (não confundámos com o kama sutra, apesar das analogias que daí se poderiam retirar).
A partir deste momento, não será apanhado de surpresa pela comunicação social, a informar que não é o n.º 2, pois está mais do que claro que o é, com toda a desfaçatez e dualidade que assistem à sua personalidade.