Depois dos recentes atentados ocorridos em Paris, volta à ordem do dia a questão da integração dos refugiados na Europa.
Eu acho que devemos acolher todos aqueles que vêm por bem (certamente a esmagadora maioria), e que estão a fugir dos mesmos que perpetraram os ataques em Paris e em muitos outros sítios. Portanto, que fique desde já bem claro que sou contra qualquer forma de terrorismo, da mesma maneira que sou a favor do acolhimento e integração das suas vítimas.
Mas o que me tem causado alguma perplexidade são as “muito boas condições” (refiro-me concretamente a algumas boas casas) que se estão a oferecer aos refugiados que chegam a Portugal, quando sabemos que o mesmo não acontece para muitos portugueses que cá moram desde sempre e que aqui agoniam o pão nosso de cada dia. O que por aqui se vê é o contrário, ou seja, a retirarem as casas a muitas famílias portuguesas. Mas isso deve ser coisa desses malandros que andam a gastar o pouco dinheiro que têm onde não devem, pelo menos é o que diz Passos Coelho e seus pares.
Não! Não me venham com a lengalenga de que quem questiona o que se está a fazer pelos refugiados, são os mesmos que nunca fizeram nada por ninguém. Isso é outra grande mentira que muito tenho escutado por aí, e uma tremenda falta de vergonha na cara de muitos que o dizem. Até porque, no limite mínimo, estamos todos a contribuir para o acolhimento dos refugiados nessas habitações, já que tudo isso é pago com fundos comunitários e apoios do Estado, portanto, dinheiro meu, seu e de todos. Tal como referi anteriormente, sou a favor do acolhimento dos refugiados na Europa (Portugal incluído, obviamente). Mas fico espantado ao ver a qualidade das habitações, que ficaram imediatamente disponíveis, assim que soou a campainha em Bruxelas e cheirou a fundos comunitários.
Já viram as imagens de algumas das habitações a que me refiro? Pesquisem por "casas refugiados" e vejam.
Quantos de vocês moram numa habitação com essas características?
Quantos dos vossos familiares habitam em casas como essas?
Quantas pessoas conhecem a viver em condições muitíssimo pior do que essas? Alguns, nem sequer têm casa… E todos foram acusados, pelo governo ainda em funções, de viver acima das suas possibilidades.
A mim, parece-me que os refugiados que vêm para Portugal é que estarão a viver acima das suas possibilidades… Mas a culpa não é deles, que fique bem claro. Sendo que muitos deles, provavelmente, não terão acesso a casas tão boas como essas a que me refiro.
Na maioria dos casos, essas habitações pertencem a instituições do Estado, de solidariedade social e às câmaras municipais. Mas por que razão se encontram vazias? Com tanta gente a necessitar de uma habitação condigna... Provavelmente, porque as condições que exigem aos portugueses que nelas gostariam de habitar não são comportáveis com o nível de rendimentos que as pessoas usufruem. E, como sabemos, os fundos comunitários disponibilizados não são para ajudar os pobretanas dos portugueses, mas sim os refugiados. Há regras nisto.
Não sei… Mas parece-me que já muitos portugueses tentaram saber como conseguir o estatuto de refugiado, para poderem também usufruir de tais condições.
Eu gostaria muito que pudéssemos acolher muitas famílias de refugiados e dar-lhes as melhores condições do mundo, mas a verdade é que para os que cá vivem e labutam uma vida inteira essas condições não existem. Para não falar (mas já falando) dos milhares de jovens portugueses que gostariam de constituir família e que, para isso, necessitariam de uma casa (vá… uma casinha…) e nem sequer têm metade do apoio que é disponibilizado aos refugiados, mesmo a pagar. Esses (os jovens portugueses) têm que emigrar e ter, lá fora, uma vida muitas vezes pior do que a de alguns refugiados que cá entram. Desculpem, mas há algo de errado nisto.
O que me parece óbvio é que os fundos comunitários desbloqueados em Bruxelas vêm trazer um encaixe financeiro muito bom a quem está a disponibilizar essas casas (Câmaras Municipais incluídas). Sim, porque apesar dos refugiados não pagarem, o dinheiro vai entrar, e não é pouco. Dinheiro que é pertença de todos nós. Os proprietários recebem as “boas” rendas das casas que estavam às moscas e as Fundações (e outras associações) que intermedeiam e conferem um carácter mais solidário e despretensioso ao “negócio” também devem receber em troca, algo mais do que os fantásticos sorrisos de gratidão das famílias realojadas.
Não sei por que será, mas sempre que vejo solidariedade arquitectada por consórcios alicerçados em Câmaras Municipais, Fundações e Fundos Comunitários, eu torço logo o nariz.