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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

Desafio à comunicação social: Não falar de Trump por um dia

Eu sei que vos vai custar muito mas, por favor, só vos peço um dia, um único dia sem falar de Trump. A bem da sanidade mental de todos, apelo a que façam uma pequena pausa neste assunto. Vá lá, vão ver que não dói nada.

 

Vamos lá ver se nos entendemos. Pelo que tenho observado, parece que a maioria concorda com o facto de Trump ser um psicopata e, como tal, trata-se de alguém que necessita de ser estimulado pelo ambiente que o rodeia. O seu comportamento doentio, impulsivo e descontrolado requer que se fale dele. Trump, sendo psicopata, sente prazer em fazer o que faz e dizer o que diz, mas o clímax só é atingido quando o mundo inteiro fica em polvorosa. Isso sim, é o que lhe dá mais prazer. É o que o completa e realiza as fantasias. Contudo, convém não esquecer que os psicopatas são seres incorrigíveis, pelo que não é a dar-lhe destaque todos os dias e a todas as horas que o problema se vai resolver, muito pelo contrário.

 

Por conseguinte, caros órgãos de comunicação social, façam o favor de não falar tanto de Trump. Estarão a prestar um bom serviço à sociedade. Vá, só um dia. Eu, pela pequeníssima parte que me compete prometo não falar dele durante um mês, pelo menos. Garantido.

 

Southernexit?

Está a decorrer a Cimeira dos Países do Sul da Europa, em Lisboa. Nesta cimeira, além de Portugal, estão representados os governos de Espanha, França, Itália, Grécia, Malta e Chipre. O principal objectivo desta cimeira é discutir o futuro da União Europeia (UE), onde certamente será abordada a questão da saída do Reino Unido.

 

A pergunta que eu gostaria de fazer a esta cimeira é se vão ter a coragem de avançar com a ameaça de uma saída em bloco, um “Southernexit”. Sei que se trata de uma ideia peregrina, principalmente pela conveniente amizade entre franceses e alemães e, também, a posição servil do governo de direita espanhol. Não quero com isto dizer que o caminho deva ser mesmo a saída da União Europeia, mas imagine-se a força que este grupo de sete países teria nos destinos na União se soubesse usá-la convenientemente.

 

Podem dizer que um clima de crispação e ameaça não é solução para os problemas da Europa, mas a verdade é que esses mesmos problemas resultam disso mesmo, ou seja, do clima de ameaça constante que os países a norte (Alemanha, em especial) exercem sobre os restantes membros. Partilho da opinião dos que defendem que é necessário virar o bico ao prego. Já vivemos o suficiente para perceber que não há outra forma de resolver a situação de impasse em que a Europa se encontra. E se não há saída, então o caminho é sair.

 

Os mais pessimistas dizem que se os países com economias mais frágeis optarem por sair será pior para eles. Será? Então, alguém já pensou como seria para os outros países da UE, caso estes sete saíssem?

 

A União Europeia não é nem nunca foi uma verdadeira união entre Estados-membros, foi sempre um jogo de forças e de poder, em que a vontade e os interesses dos mais fortes sempre se impuseram. Na verdade nunca houve uma União Europeia, mas sim uma “Relação Europeia” que, como em qualquer relação, são os jogos de poder que comandam os destinos. É por essa razão que não tenho dúvidas que está na hora de entrar no jogo e equilibrar as forças, ou então, a melhor coisa a fazer é saltar fora.

 

Se eu acho que esta cimeira vai ser um passo nessa direcção? Não, não acredito. Trata-se apenas de conversa e mais conversa. Contudo, poderia ser uma excelente oportunidade para, pelo menos, colocar o Tratado Orçamental em cima da mesa e começar a fazer exigências. Mas nem isso estes sete países serão capazes de fazer. Há quem não compreenda o alcance das suas forças, ou prefira viver para sempre subjugado.

 

La La Féria

Nunca fui apreciador das obras do La Féria e o teatro de revista nunca me entusiasmou. Não consigo apreciar esse tipo de teatralidade encharcada de dança e música. Soa-me sempre a algo aparvalhado… Ou são os actores que me parecem maus dançarinos, ou os dançarinos que são maus actores, ou ainda as duas coisas acrescentadas do facto de não saberem cantar. Como em tudo, há sempre excepções, claro. Mas fazer o quê? Não consigo gostar daquilo.

 

No entanto, uma boa parte do mundo discorda de mim e ainda bem. Veja-se por exemplo o que acontece com os musicais feitos em Hollywood, são vários os casos de enorme sucesso. O último a rebentar foi o “La La Land”, que só estreou em Portugal ontem, mas do qual já ouvimos falar há mais de mil anos. Quem é que ainda suporta ouvir falar desse filme? Nem é preciso assistir para saber do que se trata. Este filme está a ter um enorme sucesso de bilheteiras nos EUA e não tenho dúvida que também terá no nosso país. Mas a mim não me convencem. Não gosto de lamechices românticas e, note-se, eu até aprecio o romantismo, só não suporto que o abandalhem com exacerbados sentimentalismos exponenciados pela dança e música de qualidade e originalidade duvidosas.

 

Podem dizer-me que La Féria é teatro e “La La Land” é cinema, mas eu não vejo grandes diferenças. Aliás, é exactamente (e sempre) a mesma coisa: um conjunto de imitadores de Fred Astaire e Ginger Rogers, mas com muito menos qualidade.

 

“La La Land” já recebeu uma porrada de Globos de Ouro e prepara-se para levar uma sacada de Óscares para casa. Toda a gente considera este filme uma obra sublime, mas isso é porque ainda não viram as obras do La Féria que, goste-se ou não, estão ao mesmo nível. Se o problema do La Féria é estar no teatro, falem com o homem que ele adapta as suas obras para cinema num instantinho.

Hambúrgueres sulfitados

Há poucos dias a Deco recomendou aos consumidores que não comprem hambúrgueres pré-preparados nos talhos. A Associação de Defesa dos Consumidores afirma que foram encontradas bactérias nocivas e aditivos alergénicos (os famosos sulfitos) na carne picada, dando assim a ideia de que o produto é fresco.

 

Quando ouvi a notícia sobre o estudo da Deco não fiquei nada surpreendido, sempre desconfiei da qualidade desse tipo de produtos, pelo que o melhor é não arriscar. Já corremos riscos suficientes ao comprar e ingerir a “carne normal”, aquela que em princípio é mesmo fresca.

 

O que me surpreendeu foram as declarações dadas pelo Inspector-geral da ASAE sobre este assunto. O senhor inspector disse que não havia qualquer razão para alarme, visto que a própria ASAE tem efectuado inspecções regulares nos talhos portugueses (ao longo de 2016), cerca de duas fiscalizações por dia, portanto, segundo o próprio, “umas 630”. Disse ainda que se verificou uma taxa de incumprimento, por estas e outras razões (higiene, uso de sulfitos, rotulagem, etc.), de cerca de 22%. Acrescentou que a saúde pública não está em risco.

 

Já que o jornalista/repórter não foi capaz de questionar o senhor inspector (depois fazem conferências para se queixarem), eu pergunto:

 

Sr. Inspector-geral, não lhe parece que uma taxa de incumprimento de 22% nas condições de higiene e segurança alimentar nos talhos inspeccionados é demasiado? Não lhe parece que a saúde pública pode estar em risco (e de que maneira)?

 

Não lhe parece também que depois de tais afirmações deixou de ter condições para continuar no exercício das suas funções?

 

“You stupid woman”

Morreu Gorden Kaye, o actor que interpretou a personagem René Artois da sitcom ‘Allo ‘Allo!, exibida pela RTP nas décadas de 80 e 90. Há coisas que ficam para sempre na nossa memória e esta brilhante série de comédia da BBC é uma delas, muito à custa do hilariante e satírico humor da história mas, sobretudo, da peculiar interpretação das personagens. Quem acompanhou a série na altura, certamente que mantém bem fresco na memória personagens como Edith, Yvette e Maria, Madame Fanny, Michelle Dubois da Resistência (listen very carefully, I shall say this only once), os coronéis e capitães alemães, a Helga, Herr Flick, o capitão Crabtree (good moaning), os aviadores ingleses (e as cebolas) e, claro, o René – a figura maior do elenco – o homem que queria ter uma vida pacata e que estava sempre envolvido na confusão entre o Exército Alemão, a Resistência, a Gestapo, a dança da Gestapo… Isto para não falar no “The Fallen Madonna” e o relógio, o transmissor debaixo da cama da sogra, os "supostos" diferentes idiomas e os seus sotaques… Tudo nesta série é de uma inolvidável excelência.

 

René Artois, a personagem principal da série, tornou-se imortal. Quem não se lembra, por exemplo, de o ouvir dizer “you stupid woman”?

 

Não querendo parecer demasiado saudosista e desacreditado da qualidade do presente e passado recente, a verdade é que “heróis” deste nível já não se fazem mais. Quem, daqui a 20 ou 30 anos se lembrará daquilo que se faz agora?

 

 

 

A Caixa deve aumentar as taxas?

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai aumentar as comissões cobradas com anuidade de cartões, transferências e requisição de cheques. Trata-se de uma medida que estava prevista no Plano de Reestruturação de António Domingues. O banco público informou que se trata de uma medida que vai ao encontro daquilo que deve ser o mercado concorrencial.

 

Não sou cliente da CGD mas estava a pensar seriamente nisso, já que as taxas cobradas pelo banco que me presta serviços são, no mínimo, um abuso. Até já havia consultado o preçário da CGD e, apesar de não apresentar diferenças substanciais, eu estava decidido a mudar para a Caixa. Agora, com esta medida que entrará em vigor em Abril/Maio deste ano, volto à posição anterior, ou seja, não estou satisfeito com o preçário do banco com que trabalho, mas também não existe outro que me apresente valores melhores, nem mesmo a CGD…

 

Da minha parte, o que tenho a dizer é que se a CGD baixasse as taxas, nomeadamente as comissões com manutenção de contas, anuidade de cartões e transferências teriam mais um cliente.

 

E dizem eles que é uma medida concorrencial. O senhor Domingues esteve lá pouco tempo, mas foi mais do que suficiente para deixar a sua marca. Dá bem para ver ao que ia. E também dá para perceber para onde vai a Caixa.

 

Sporting com medo de falar

O Sporting anunciou um “blackout”, pelo que não participará nas conferências de imprensa dos dois jogos frente ao Desportivo de Chaves, o primeiro este Sábado, a contar para o campeonato e o segundo na próxima Terça-feira, a contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal.

 

O Sporting justificou esta decisão com o facto de se sentir “desrespeitado por parte de algumas instâncias que regulam o futebol português”. O Sporting acrescentou que voltará a falar antes do jogo com o Marítimo, a realizar-se no dia 21 de Janeiro. Ou seja, o ressentimento leonino para com as instâncias que regulam o futebol é intenso, mas de curta duração.

 

A verdade é que o Sporting não quer falar porque tem medo. Algo verdadeiramente espantoso para quem anda sempre com a língua afiada. O Sporting sabe que nestes dois jogos com o Chaves está em disputa a salvação do que resta da época. O Sporting está a 8 pontos do primeiro classificado, o Benfica, e se as contas para o campeonato já estão muito difíceis, caso não vença este Sábado em Chaves, estará definitivamente fora da luta pelo título. E, já na Terça-feira, o Sporting jogará a continuidade na luta pela Taça de Portugal, a única competição com que ainda pode sonhar. Portanto, nestes dois jogos em Chaves está a "chave" para o que resta da época do Sporting. A tensão é tanta, e o medo é ainda maior, que o Sporting não se sente capaz de enfrentar as câmaras e as perguntas incómodas.

 

Mas há mais. Já todos sabemos que o Sporting foi buscar a Setúbal os dois jogadores que lhe havia emprestado, Gauld e Geraldes, isto no mesmo dia em que foram eliminados (pelo Setúbal) da Taça da Liga. E foi buscá-los porquê? Porque precisa deles no seu plantel? Não, nada disso. Precisa deles para tentar seduzir o Desportivo de Chaves com um hipotético empréstimo de ambos. Consta que os jogadores já estão em Chaves, porque o Sporting não brinca nesta matéria, é um clube que gosta de negociar com o produto à vista. Se o Chaves se “portar bem” nestes dois jogos, coisa que o Setúbal não foi capaz, talvez tenha como prémio o empréstimo dos referidos jogadores. É também por esta razão que o Sporting tem medo de falar.

 

É lamentável, mas pouco surpreendente, que o Sporting recorra a este tipo de comportamentos perversos que contaminam a ética desportiva. É também anedótico que Bruno de Carvalho recorra ao subterfúgio do “blackout”, esse estratagema inoperante e muito popularizado no século passado.

 

Indecente e patético.

 

Dicas à oposição

É mais do que sabido que, desde que o último Governo tomou posse, não existe oposição. Não existe por uma razão, ou seja, porque a Direita está na oposição. E quando a Direita está na oposição não há oposição, porque a Direita só sabe fazer oposição quando está no poder. Parece confuso mas não, é apenas uma patologia congénita que sempre caracterizou a Direita.

 

Eu, que não sou de Direita (graças a Deus), não suporto a ideia de não haver oposição, já que isso significa que quem está no poder não é devidamente escrutinado (fica sempre bem usar verbos da moda). Em boa verdade, são os partidos à Esquerda, que apoiam o Governo, que ainda conseguem fazer alguma oposição.

 

Como a Direita, em particular esta Direita, não sabe ser oposição decidi lançar-lhes uma pequena dica, em jeito de repto, na esperança de que possam fazer qualquer coisa de útil pelos cidadãos.

 

Vou-me centrar apenas em algumas medidas de âmbito social que o actual Governo apresentou e que contou com o apoio da maioria de Esquerda.

 

- Complemento Solidário para Idosos (CSI)

- Tarifa Social da Energia

- Tarifa Social da Água

 

Sugiro à oposição que procure fiscalizar o funcionamento dos serviços do Estado e, sobretudo, que fiscalize a observância e efectividade das novas medidas sociais recentemente apresentadas. Querem um exemplo não é? Está bem. Por exemplo, as novas regras de acesso ao CSI. O Governo e os partidos que o apoiam afirmaram que, com as novas regras, mais famílias passam a ter acesso ao CSI, sendo que não terão que fazer nada para aceder a esse direito. E quem diz o CSI, diz a Tarifa Social da Electricidade. Afirmam que o Estado dispõe de toda a informação necessária para atribuir automaticamente o CSI a quem tiver direito e que iriam contactar as famílias em causa. Pois. Balelas é o que é. Quem quiser aceder a esse direito terá que preencher uma série de impressos que requerem um amontoado de informação desnecessária, juntar mais uma série de cópias de documentos e, pior ainda, deslocar-se e enfrentar as infindáveis filas dos serviços da Segurança Social, criando-se, assim, muitos entraves a quem supostamente teria direito a esse apoio social. É que fazer uma lei que confere direitos e não desobstaculizar o seu acesso, muito pelo contrário, é a mesma coisa que não exista.

 

Isto acontece não apenas no CSI. Acontece também no caso da Tarifa Social da Electricidade e da Água, onde os entraves também não faltam. No que respeita à aplicabilidade da Tarifa Social de Energia, o Estado tem um organismo que se chama Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), a quem compete fiscalizar e garantir que os fornecedores de energia estão a aplicar o respectivo desconto social. Pois, pois… Quem estiver à espera que a DGEG defenda os seus direitos, bem pode esperar sentado. Na Tarifa Social da Água a situação é ainda mais hilariante, já que se trata de uma medida que só será implementada se os municípios assim o entenderem. Discricionariedade e discriminação, portanto.

 

Entretanto, o SIMPLEX+ parece que está aí em força para estreitecer a comunicação com os cidadãos, sobretudo se for para lhes imputar responsabilidades e sacar algum, já que no que respeita à concessão de direitos, vigora a falta comunicação e de informação que, não raras vezes é pouco inteligível. A obrigatoriedade de as pessoas terem que se deslocar aos serviços, quando a maioria delas apresenta dificuldades de locomoção (idosos e pessoas com limitações físicas), a obrigatoriedade de apresentar comprovativos de tudo e mais alguma coisa, mesmo de situações que não têm razão de ser, apenas para criar dificuldades às pessoas no acesso aos seus direitos... Por exemplo: Por que razão se exige um atestado de residência a uma pessoa que nunca se ausentou do país e sempre manteve os seus dados actualizados nos serviços de administração central do Estado?

 

Mais um exemplo? No mesmo âmbito, a nova linha da Segurança Social (300 502 502) simplesmente não funciona. Pode-se estar o dia todo a ligar que ninguém atende. Ainda pior, no caso do CSI, criaram uma nova linha (300 513 131) para esclarecer os cidadãos sobre as regras de atribuição. Também esta linha não funciona convenientemente, trata-se de um atendimento automático com uma exaustivo amontoado de opções que, na sua maioria, nada têm a ver com o CSI e, quando finalmente é dada a opção de escolher como assunto o CSI, a gravação continua e continua e continua, sem que ninguém se digne atender o telefone e prestar o devido esclarecimento. É a habitual postura rançosa que o Estado tem para com os cidadãos, levando-os a desistir dos seus direitos.

 

Fiscalizem a aplicabilidade e eficácia destas leis. Ou será que já o fizeram e estão satisfeitos com os seus parcos resultados? Se calhar é isso. São leis que não interessam à Direita.

 

O grande problema que os políticos têm em detectar as falhas que existem entre o Estado e os cidadãos reside em duas simples razões: desconhecimento e desinteresse. A esmagadora maioria dos políticos desconhece as dificuldades que os cidadãos têm no contacto com os organismos do Estado, pelo simples facto de nunca se encontrarem nessa posição, já que o Estado lhes proporciona esse privilégio. É doentio, não é?  E, se por acaso, tomam conhecimento de alguma falha ignoram e desconsideram. A visão que têm do Estado não é a de servir os cidadãos é a de os servir.

Soares foi fixe!

É incontornável. Mário Soares será recordado como um dos maiores políticos portugueses de sempre. Foi adorado por muitos e odiado por outros tantos em vida. E isso pode constatar-se também agora, na hora da sua morte, onde muitos demonstram o seu pesar pela perda, mas muitos outros não conseguem disfarçar (apesar do esforço inglório de alguns) o profundo ódio que sempre nutriram pela pessoa de Mário Soares.

 

Como acontece com qualquer outra pessoa, a vida de Mário Soares terá tido coisas boas e outras menos boas. Contudo, aos portugueses interessa o desempenho de Mário Soares enquanto político. E também neste aspecto, haverá coisas a salientar de muito positivo e outras a destacar como negativas ou menos boas. Isso será sempre muito discutível. Mas o que é realmente incontornável é o facto de Mário Soares ter sido um político que nunca teve medo de o ser. Pode parecer redutor, mas a verdade é que esta característica não é assim tão abundante nos políticos portugueses, do passado e do presente (principalmente no presente).

 

Pessoalmente, recordarei Mário Soares como um político que sabia fazer política a sério, com uma franqueza e uma descontracção muito características, independentemente de concordar ou não com as suas ideias.

 

Recordarei também aquela noite de São João no Porto, onde lhe apliquei uma martelada quase que por engano. Apenas mais uma entre as centenas que, na qualidade de Presidente da República recebeu com genuína boa disposição e afabilidade. Mário Soares, o político, o Presidente que não tinha medo de se entranhar no meio da população para festejar em conjunto.

 

Sim, Soares foi fixe muitas vezes.

 

O competente Sérgio Monteiro

Em Novembro de 2015, Sérgio Monteiro, ex-secretário de estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do Governo de Passos e Portas, assinou um contrato (com duração de 12 meses) com o Fundo de Resolução (Banco de Portugal) com o único objectivo de vender o Novo Banco. O Banco de Portugal assumiu o pagamento de um salário mensal no valor de 30 mil euros, suportando ainda as obrigações para com a Segurança Social. Segundo o contrato de prestação de serviços firmado por ambas as partes, Sérgio Monteiro teria o prazo de 12 meses para vender o banco. Não cumpriu.

 

Recorde-se que em Agosto de 2014, o Fundo de Resolução injectou 4900 milhões de euros no banco, sendo que 3900 milhões provieram do Estado, pelo que não seria suposto nem aceitável que o banco fosse vendido abaixo desse valor. A verdade é que o prazo concedido a Sérgio Monteiro para a venda do banco já terminou e a situação do Novo Banco continua num impasse. Pior. Acresce a esta situação o facto de as propostas apresentadas serem de valor muito inferior ao que seria suposto. Fala-se em duas propostas, uma veiculada pela Lone Star e outra pela Apollo, ambas com valores que não ultrapassam os 750 milhões de euros. Ridículo. Ainda pior? Sim, os pretensos compradores exigem ao Estado uma garantia acima dos 2000 milhões de euros, caso o negócio não lhes corra bem. Haja lata!

 

Recordemos também que o nome de Sérgio Monteiro foi escolhido por Passos Coelho e Carlos Costa, alegando este último que Sérgio Monteiro era uma pessoa com reconhecidos méritos e elevada experiência. A forma vergonhosa e altamente polémica com que geriu o processo de privatização da TAP e os contratos swap brutalmente corrosivos que assinou com o Estado Português, enquanto representante de consórcios privados são alguns dos mais elevados méritos de Sérgio Monteiro. Nem o relatório do Tribunal de Contas sobre o TGV, que dava conta de perdas de mais 150 milhões de euros para o Estado, devido a um contrato swap que Sérgio Monteiro assinou do lado dos privados e que resgatou enquanto secretário de estado (em nome do Estado) juntamente com a ex-ministra Maria Luís, tendo o Estado assumido todo o prejuízo, foi suficiente para impedir que este senhor voltasse a assumir funções públicas. Sérgio Monteiro também foi o competente governante que "negociou" a concessão dos STCP e Metro do Porto à boca das urnas. Tal como no caso da TAP, quando é preciso andar da perna ele até corresponde.

 

Estamos em Janeiro de 2017 e o Novo Banco continua por vender. Já se fala que o prazo para a venda do banco foi alargado até Agosto. Entretanto, também foi alargado o contrato de prestação de serviços com Sérgio Monteiro, que continuará na posição de principal negociador da venda do banco. É justo. O homem já provou que é verdadeiramente competente.

 

Parece-me óbvio que enquanto o competente Sérgio Monteiro estiver à cabeça das negociações, o preço do Novo Banco estará em constante queda. Primeiro, enquanto governante ignorou (ele, a sua ministra e o seu primeiro) a situação do banco e nada fizeram para o evitar. Depois, enquanto negociador da venda do mesmo, não tem feito outra coisa que não seja depreciar o seu valor no mercado. Haja competência.

 

Também me parece cada vez mais óbvio que, passados mais de dois anos não irá aparecer (nem mesmo com o alargamento do prazo até Agosto) nenhuma oferta de compra que ultrapasse os 750 milhões de euros, ou seja, meros trocos para o valor em causa. Mais vale facilitar já a vida ao senhor Sérgio Monteiro e autorizá-lo a dar o banco a quem lhe aprouver. E assim sempre se poupava no salário principesco que aufere. Ou então, não vejo outra solução que não seja a nacionalização do banco. Dizem que é penalizador para os contribuintes, mas a verdade é que os contribuintes já foram penalizados com a injecção de 3900 milhões de euros no Fundo de Resolução, montante que o Estado só iria reaver daqui a 20 anos se optasse pela venda desbaratada a um privado e, claro, se depositasse muita fé nisso e o Papa viesse cá todos os anos.