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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

Contrário

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

Sempre houve “animais” nos restaurantes

Anda tudo melindrado com a possibilidade de os animais de companhia poderem entrar em cafés e restaurantes. Não percebo a algazarra. Há muitos anos que frequento restaurantes e, na maioria das vezes, fui “obrigado” a aturar a presença das mais variadas espécies de bicharocos. Ora é a mesa ao lado que de um momento para o outro fica repleta de orangotangos num estado de persistente alrotaria. Ora é a mesa que está mesmo atrás de mim que acolhe um grupo de pitas que ainda mal cheiraram as caipirinhas e já se riem como hienas à volta da carcaça. E, não raras vezes, aparece uma família de macacos-prego. Pff… Aí não há mesmo ponta de sossego, a chinfrineira é de tal ordem que nem dá para conversar com as pessoas que estão comigo na mesma mesa. Mas há que ver pelo lado positivo, de repente é-nos oferecida a possibilidade de ter uma refeição repleta de exotismo, recriando-se o ambiente que se vive nas florestas de Bornéu e Samatra. Às vezes até aparecem algumas equipas da BBC para registar o fenómeno. São profissionais tão bem disfarçados que até parecem clientes normais e que procedem à captação de imagens com smartphones, mas eu topo logo que só podem estar ao serviço da BBC Wildlife, tal é o afinco com que desejam captar cada momento.

 

Bem, é por isto que não entendo a posição de muita gente em relação às propostas do PAN, BE e PEV nesta matéria. Eu acho que a presença de alguns animais de estimação nos restaurantes e cafés até poderá contribuir para que os outros baixem a guarda e, quem sabe, adeqúem os seus comportamentos ao espaço e à presença dos demais, tal como qualquer cão bem-comportado é capaz de fazer.

 

Há por aí quem se escandalize e afirme que se encontrar algum cão ou gato num restaurante, simplesmente abandonará o local e não voltará. Pois eu já faço isso há muito tempo. Como não aprecio ter refeições em ambiente de selvajaria, há muito que procuro seleccionar os locais onde posso ter momentos tranquilos à mesa. E, mesmo assim, às vezes ainda sou surpreendido. Fazer o quê? Com tanta gente perita na bela arte de enchiqueirar…

 

O que anda Marcelo a chocar

Após a tragédia dos incêndios do passado dia 15 de Outubro, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa não perdeu a oportunidade para, uma vez mais, fazer passar a ideia de que é uma espécie de consciência social do país, a supercola que vai unir um país em cacos.

 

Parece que anda por aí tudo chocado com o discurso que o Presidente fez vai para três quinze dias. Obviamente que Marcelo sabia das intenções do Governo quanto às medidas a apresentar em Conselho de Ministros e, acima de tudo, sabia que a então Ministra da Administração Interna já se encontrava demitida (até eu sabia). Mesmo assim, Marcelo fez o discurso que todos conhecemos, chamando a si a responsabilidade e proveniência das decisões que já estavam tomadas, pelo Governo e não por ele. Como se o Presidente da República tivesse alguma autoridade nesta matéria.

 

É óbvio que Marcelo foi oportunista e traiçoeiro. Oportunista, muitos já se aperceberam que sempre foi, mas no que respeita à traição ficou-se a perceber agora que não é uma característica exclusiva do anterior presidente. Mas bem pior que isso, quem diria que este Marcelo é o mesmo Marcelo que falou na noite do pesadelo de Pedrógão. Que divergência de pensamento sobre situações tão idênticas.

 

Marcelo é Marcelo, só que às vezes disfarça bem. Marcelo veio agora dizer que há por aí quem olhe para a realidade com base no diz-que-diz especulativo e, em boa verdade, é ele próprio que, fiel ao que sempre foi, não se escusa a comentar aquilo que um qualquer jornalista lhe interpela. Ou seja, os jornalistas perguntaram-lhe o que achava do facto de o Governo ter ficado chocado com o seu discurso, como se alguém deste Governo se tivesse pronunciado nesse sentido e Marcelo prestou-se logo a comentar o que ele próprio classifica como “diz-que-diz especulativo”.

 

É por essa razão que, mais cedo ou mais tarde, Marcelo vai acabar por cair na sua própria teia. Porque ele não resiste em ser um comentador profissional ou, como alguém disse um dia, um catavento de opiniões erráticas.

 

Mas, é preciso ir ainda mais fundo nesta questão. Marcelo falou grosso após os incêndios do dia 15 de Outubro, algo que não foi capaz de fazer aquando dos incêndios na zona de Pedrógão, porque o PSD já tratou de começar a arrumar a casa, tendo já assegurado a não continuidade de Passos Coelho ao leme do partido. Ou seja, o primeiro grande objectivo de Marcelo já foi conseguido, isto é, eliminar Passos Coelho da liderança do PSD. Agora vem o resto.

 

Marcelo deixa as coisas bem claras quando volta a atacar o actual Governo com declarações do tipo “chocado ficou o país”, ou quando deixa definitivamente cair a máscara afirmando que “o país não pode ser sistematicamente esquecido, (…) faltam menos de dois anos para o fim da Legislatura, portanto deste Parlamento e deste Governo”. Só faltou acrescentar que a partir de Janeiro, o PSD já terá uma nova liderança do seu agrado e que já falta “poucochinho” para as eleições. Eu desafio o senhor Presidente da República a clarificar o que realmente pensa do actual Governo. E se considera que a moção de censura apresentada pelo CDS, pelos motivos que todos conhecemos, deveria ter sido votada favoravelmente. Ele que gosta tanto de opinar sobre tudo e mais alguma coisa…

 

A mim, não resta qualquer dúvida que caso o PSD tivesse a casa arrumada e as sondagens fossem favoráveis, o Presidente Marcelo trataria de dissolver o Parlamento e convocar eleições. Como não é o caso, ficará para a próxima oportunidade.

 

Pois é, afinal Marcelo não é assim tão diferente de Cavaco. Difere do seu antecessor no que respeita à pose e às aparências, disso não há dúvida, mas no que concerne ao pensamento político e à manha é a mesma coisa. Até parece que estamos a reviver aqueles momentos iniciais em que Cavaco começou a rebelar-se contra o governo de então. Não tardará muito e talvez vejamos Marcelo a falar sobre escutas em Belém ou o estatuto político-administrativo dos Açores. É esperar para ver.

 

Para já, não resta dúvida que Marcelo se começou a encavacar com este Governo e que, indubitavelmente anda a chocar alguma.

 

A moção é legítima mas imoral

Esta tarde será discutida e votada na Assembleia da República a moção de censura apresentada pelo CDS. Muito se tem falado nesta moção de censura, que já estava chumbada mesmo antes de nascer.

 

Defender esta moção de censura argumentado que a mesma é legítima, trata-se de pura estupidez, de retórica política de quinta categoria. Obviamente que esta moção de censura é legítima, se houvesse algum impedimento legal, ela não estaria sequer em discussão. Simplesmente não existia.

 

Se queremos opinar sobre a moção de censura, teremos de o fazer sob o ponto de vista da observância da moral de quem a apresenta e da sua probidade política. Feito este pequeno exercício de honestidade, rapidamente se conclui que esta moção de censura é desavergonhadamente imoral.

 

Uma moção de censura deve ser apresentada quando se considera que um governo cometeu falhas tão graves, que não merce continuar no exercício das suas funções. E quem a apresenta deve, pelo menos, ter como base de sustentação um conjunto de medidas e propostas que tenham sido apresentadas, por si, no devido tempo e contrárias àquilo que foi a actuação desse governo.

 

Ou seja, para que o CDS tivesse algum resquício de moralidade para apresentar esta moção, tendo por base a calamidade dos incêndios, teria que ter apresentado no devido tempo medidas contrárias às que foram tomadas (ou não) pelo actual governo. Olhando para os últimos anos verifica-se que, entre 2011 e 2015, o CDS esteve no governo, Assunção Cristas era Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território e não tomou nenhuma medida que ajudasse a mitigar a problemática dos incêndios e do ordenamento das florestas, muito pelo contrário. Mesmo durante estes dois anos de governação do PS, o CDS não apresentou uma única medida e nem sequer foi capaz de alertar para o que podia estar errado. Com que moral vem agora pedir a demissão do governo?

 

A moção do CDS é legítima, mas transpira imoralidade por todos os poros.

Retardado #MeToo

Os escândalos sexuais de Hollywood têm vindo a acumular-se, sendo que o último caso diz respeito ao produtor Harvey Weinstein, acusado de violação, tentativa de violação e assédio sexual por parte de inúmeras actrizes. Primeiro foram Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow, há alguns dias a actriz Alyssa Milano lançou um repto através da rede social twitter para que todas as mulheres que tivessem sido vítimas respondessem ao seu tweet com um “Me Too”, para que se possa aferir a dimensão do escândalo.

 

Pois bem, ninguém duvidará que em Hollywood (mas não só) os escândalos sexuais sejam o pão nosso de cada dia. Estas reputadas senhoras não sabiam disso antes de caírem na teia? Tal como diz na canção dos Red Hot Chili Peppers, que moram lá pertinho e portanto sabem muito bem do que falam, “It's understood that Hollywood sells Californication”.

 

Também ninguém deveria ter dúvidas de como são feitos os castings em Hollywood e, repito, não só em Hollywood. Também por cá isso acontece, nomeadamente nos castings para actores/actrizes, carinhas da TV, modelos, etc.

 

Mas atenção, o facto de ser certo e sabido aquilo que se passa por detrás das câmaras de Hollywood não significa que isso deva ser ignorado ou tido como normal. Contudo, parece-me que o combate à chavasquice de quem manda em Hollywood tem de começar com um ruidoso “Not Me”, por parte de todas as rapariguinhas que entram cheias de sonhos nos estúdios de Hollywood. Não é depois de vários anos de sucesso, de uma carreira devidamente estabelecida e, nalguns casos já em decadência que se deve meter a boca no trombone. Tinha que ser logo, no momento exacto em que as coisas aconteceram ou estiveram em vias de acontecer. Agora, embarcar na situação para retirar os tão desejados proveitos, mesmo sabendo que a via para lá chegar está errada e, só anos mais tarde vir alertar para a sórdida realidade da qual fizeram parte, não tem grande valor.

 

Portanto, foram assediadas e/ou abusadas, na maioria dos casos no início da carreira, mas não disseram nada, não denunciaram, não fizeram queixa na polícia e aceitaram os papéis que lhes foram atribuídos e lhes abriu as portas do passeio da fama. Mesmo as que poderão ter sido forçadas, por que razão não apresentaram queixa e, pior que isso, aceitaram continuar a trabalhar com o abusador? Tenham paciência, mas não é assim que se acaba com o problema. Porcalhões como o Weinstein sempre existiram e vão existir. Não é possível entrar na cabeça deles e mudar-lhes o chip. A solução passa por barrar-lhes as intenções e denunciá-los. Se todas as que agora se queixam o tivessem feito logo no primeiro momento, provavelmente este biltre já estaria devidamente enquadrado há muitos anos. Agora também é verdade que, muito provavelmente, também elas não teriam feito carreira em Hollywood. Então, o meliante atraía as mocinhas para o quarto do hotel e atirava-se a elas (como se elas não soubessem de antemão a razão pela qual ele as queria no seu quarto). Mas admitamos a ingenuidade genuína de algumas, na altura em que foram assediadas e/ou abusadas porque não disseram não? Ok, disseram não mas o porco insistiu. Porque não fugiram? Ok, porque o porco não deixou. Porque não gritaram por ajuda? Ok, o porco tapou-lhes a boca. Porque não tentaram fazer outros ruídos, do tipo partir objectos na esperança que alguém ouvisse? Porque o porco lhes impediu os movimentos. Está bem, mas como se sabe, todas elas sobreviveram ao momento e não foram mantidas em cativeiro. Quando finalmente se conseguiram libertar das garras do biltre, porque não foram à polícia? Ah, essa é fácil, porque tiveram vergonha. Talvez sejam respostas aceitáveis mas, em última análise, será a vergonha um sentimento exclusivo dos pobres e desconhecidos. Depois da fama e do dinheiro a vergonha desaparece?

 

Há outra situação que também carece de explicação, que tem a ver com o facto de as vítimas terem aceitado continuar a trabalhar sob a alçada do abusador. Porquê?

 

Há décadas que Hollywood é uma indústria de putaria ligeira. Toda a gente sabe disso e fecha os olhos. A verdade é que apesar da relativa ligeireza do métier, os dividendos financeiros que daí se podem retirar são imensos, pelo que sempre houve, há e continuará a haver muitos interessados em passar pelos castings de Hollywood. Rapariguinhas bonitas com talento para a representação (ou até mesmo sem talento) não faltam, o que vai decidir se avançam para o estrelato ou se ficam pelo caminho é o seu desempenho no “casting”. E todos sabemos quais os atributos que vão ser valorizados por quem faz o casting.

 

Querem acabar com o que está errado? Força! Comecem por gritar bem alto, para todo o mundo ouvir “Not Me”, quando vos fizerem propostas indecentes ou vos assediarem, mesmo que isso vos custe ouvir um “Not You” para o papel que gostariam muito que vos fosse entregue.

 

Eu acredito que muitas terão dito “Not Me, pig” e, como tal, ficaram pelo caminho. Bravas desconhecidas, pobrezinhas mas íntegras, que não se deixaram subjugar ao sentimento de vergonha e ao desejo de fama a qualquer custo. Contudo, a indecente realidade revela-nos que há sempre muitas que dizem “Me Too” no “casting” e assim continuam a alimentar esta indústria e os javardos que nela mandam.

 

Hollywood é, sempre foi, o maior e mais rentável prostíbulo do planeta.

 

That’s all fucks folks!

Deixem a Bíbila em paz

Andam todos a falar no acórdão do Tribunal da Relação do Porto que terá compreendido os motivos pelos quais um marido traído agrediu a sua ex-companheira. Não é a primeira vez que o júri deste tribunal profere decisões polémicas, algumas absolutamente ridículas. Relativamente a este caso concreto, em termos jurídicos, parece não haver dúvidas de que o agressor agiu de forma premeditada, tendo cometido o crime de ofensa à integridade física e, ao que aprece, de forma agravada. Quanto a mim, deveria ter sido condenado com pena de prisão efectiva. Ponto.

 

Contudo, há quem se tenha encolerizado com o facto de o tribunal ter aludido para determinadas passagens bíblicas ao falar de adultério. E o mais espantoso é que falam da Bíblia como se alguma vez a tivessem lido. Mais incrível ainda é verificar que algumas dessas pessoas são juristas. Então não é mais do que sabido que a Justiça sempre sustentou as suas decisões em passagens bíblicas, textos religiosos, tomando-os muitas vezes como base de argumentação? O Direito sempre teve uma relação de proximidade com a religião. Qualquer caloiro das Faculdades de Direito sabe isso. A origem desta relação de proximidade entre o Direito e a religião é algo que se aprende em Introdução ao Direito. O próprio léxico do Direito se confunde muitas vezes com o léxico religioso. Estar a soltar espuma pelos cantos da boca por causa de citações bíblicas num acórdão, independentemente de se concordar ou não com a sustentação factual da decisão, é o mesmo que querer estar num estádio a assistir a um jogo de futebol sem ouvir um único palavrão.

 

É hoje. Vai? E sabe ao que vai?

As manifestações são “apartidárias” e pelas redes sociais pode ler-se mensagens de incitamento à queda do governo, mensagens de ódio ao primeiro-ministro e à ex-ministra da administração interna, há até quem sugira a colocação de caixões (verdadeiros, imaginem) junto às sedes do PCP e do BE, mas são apartidários, pois claro. Há também quem sugira que se mostre desagrado pela escolha de Eduardo Cabrita para o Ministério da Administração Interna e em resposta, os organizadores da manif incitam: “Façam cartazes! Imprimam cartazes!”. E logo de seguida relembram “mas este protesto é apartidário”, para não afugentar os incautos.

 

Muitas pessoas já se aperceberam das verdadeiras intenções dessa manifestação e já declinaram a sua presença.

 

Mas há ainda quem, na sua boa-fé, chegue a sugerir que se deveria recolher donativos para entregar às populações afectadas, mas os organizadores, aqueles que não se cansam de dizer que a manif é apartidária aparecem logo a dizer que não há logística para isso. Portanto, a manif não é política nem partidária, é “pelas vítimas da catástrofe”, mas quando alguém sugere que se faça, de facto, algo pelas pessoas, a resposta é “não temos logística” e segue o vigoroso incitamento à realização de cartazes de protesto, chegam mesmo a desafiar as pessoas a “escreverem o que quiserem”, como quem clama por sangue na arena.

 

Já agora, sabiam que a manifestação agendada para Lisboa tem nas fileiras alguns daqueles que também estiveram no “cordão humano” em Novembro de 2015? Lembram-se da idiotice do cordão humano que não serviu para nada? Que se dizia apartidário mas que defendia acerrimamente três cores políticas. Os mesmos “cidadãos apartidários” que apregoaram o “Movimento Compromisso Democrático”, que tinha como objectivo o fervoroso apoio à formação de um governo PSD-CDS-PS. Portanto, gente “apartidária” que, à partida, põe de lado todos os partidos que não sejam o PSD, o CDS e o PS. E só incluíram o PS porque a coligação PàF não poderia governar sem o seu apoio. Reparem, há dois anos desdobraram-se para arrastar o PS para uma solução governativa que permitisse manter Passos e Portas no poder. Diziam que o PS tinha muito mais em comum com o PSD e CDS do que com os partidos de esquerda. Agora tudo fazem para tentar correr com o PS do poder. Mas lembrem-se, tudo isto é feito por “gente apartidária”.

 

É a beatice política no seu esplendor. Os fingidos amantes de procissões de velas e falsos democratas cristãos orquestrando putativas manifestações espontâneas de cidadania.

Manifs “batutadas”

Foram anunciadas várias manifestações de protesto contra a forma como o governo tem gerido o problema dos incêndios. Saliente-se, desde já, o facto de as mesmas terem ganho notoriedade no mesmo dia em que o CDS decide apresentar uma moção de censura ao governo.

 

Primeiro as manifs. Então, não é que de um momento para o outro se consegue combinar várias manifestações via redes sociais, sem que se saiba ao certo quem está por trás da ideia, quem está a orquestrar? Note-se que há aqui um padrão, isto é, à semelhança do que acontece nos incêndios, também neste caso não são meia dúzia de indivíduos isolados que consegue gerar tal dimensão em tão curto intervalo de tempo. Obviamente que há mão política neste assunto. Obviamente que a acção partiu de um (ou mais) partido político que, com toda a sua experiência na arte de bem arregimentar, tratou de fazer espalhar a ideia pelas redes sociais. E todos sabemos que as redes sociais são como as matas portuguesas, basta encetar algumas ignições cirúrgicas e fica logo tudo a arder. Ah! Claro que, como é habitual, contaram com o alto patrocínio de alguns órgãos de comunicação social que, também por hábito, ajudam a incendiar as coisas. Portanto, está mais do que visto que vivemos num país de incendiários e em que pouca gente está verdadeiramente interessada em apagar.

 

É fácil perceber que toda esta situação das manifs está a ser dirigida por alguns políticos de beira de estrada e, ao que parece, são muitas as pessoas que sabendo ou não das suas intenções, vão alinhar na marosca, servindo assim os interesses imorais desses mesmos políticos. Note-se que esses interesses nada têm a ver com solidariedade ou preocupação com as populações afectadas. Trata-se de puro aproveitamento político, recorrendo à desgraça de muitos concidadãos.

 

Eu apoiaria com todo gosto este tipo de manifestações, mesmo considerando que têm pouco impacto no processo de decisão política, se tivesse a certeza que eram verdadeiras manifestações de solidariedade e preocupação com a protecção do bem comum. Agora, quando tresandam a vigarismo. Não.

 

Veja-se agora a moção de censura do CDS. O CDS deveria ser o último partido a pensar numa moção de censura ao governo tendo por base a problemática dos incêndios. O CDS já se esqueceu que fez parte do anterior governo e que nada fez para minorar este grave problema. Não apresentou uma única medida, nem tomou nenhuma decisão relevante nesta matéria. Assunção Cristas, líder do CDS, fez parte desse governo (2011-2015)? Sim, com certeza. Mas qual terá sido a pasta que lhe foi entregue? Consta que foi o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. Pronto. Está tudo dito quanto à idoneidade do CDS e, em especial, de Assunção Cristas.

 

Mas, façamos um último esforço e tentemos pensar pela cabeça de Paulo Portas. Por que razão Portas considera que esta moção de censura, neste momento, poderá trazer algum benefício político ao seu partido?

Mãos incendiárias

Ontem, em poucas horas, o país inteiro ficou a arder. Obviamente que não houve meios de combate suficientes para combater tantos incêndios em simultâneo. Já todos sabemos que o Estado Português não está preparado para combater situações catastróficas e também sabemos que a esmagadora maioria dos incêndios têm mão criminosa. Mas o que aconteceu ontem deixou bem claro que, em Portugal, existe uma máfia dos incêndios. Desprezíveis terroristas do fogo.

 

Depois do que aconteceu este ano (por exemplo, na zona de Pedrógão) e sobretudo ontem, já ninguém poderá duvidar da existência de um grupo altamente organizado, devidamente dotado dos meios necessários para perpetrar incêndios em larga escala. Esse grupo de criminosos tem cobertura nacional e objectivos bem definidos. Eu não tenho dúvidas que esse grupo de bandidos está intimamente conectado com alguns políticos de beira de estrada, que proliferam de norte a sul. Mas isso é trabalho para a investigação policial que, por esta altura, também já deveria ter mais respostas para dar.

 

Espero que um dia destes saibamos quem são as verdadeiras mãos incendiárias e que parem de entregar a culpa em supostos criminosos isolados que, aqui e ali, vão incendiando as florestas só porque estavam bêbados, desempregados ou outra coisa qualquer. Isto trata-se de crime organizado puro, não é obra de meia dúzia de desgraçados.

Este PSD é o mesmo de sempre

São muitos os que andaram e adam por aí a dizer que “este PSD” – o de Passos Coelho – não é igual ao PSD de outros tempos. Pois eu sempre achei que este PSD não passa de uma canção do Tony Carreira, ou seja, o mesmo de sempre.

 

Há poucos dias, Pacheco Pereira escreveu que o PSD “foi fundado de uma forma sui generis, que resultou da combinação de três tradições políticas: o liberalismo político, o personalismo de origem cristã e a social-democracia”. Eu concordo com Pacheco Pereira quanto à parte do sui generis, já no que respeita às tradições políticas a coisa muda de figura. O PSD é, de facto, um partido muito peculiar. Um partido que se fundou sob a denominação de Partido Popular Democrático (PPD) e com o primordial objectivo de acolher os aprendizes e descendentes do Estado Novo. Mais tarde alterou a designação para Partido Social Democrata, com o intuito de parecer um partido democrata e com preocupações sociais. Passaram então a usar chavões como “solidariedade social” e “justiça social”, conseguindo vender (a muitos) a ideia de que se preocupavam com os mais desfavorecidos.

 

Pacheco Pereira tem meia razão noutra coisa, quando diz que o PSD incorpora a tradição do liberalismo político. Liberalismo sim, mas não é político é económico e elevado ao expoente máximo. O PSD é e sempre foi um partido de direita. Não embarquem na ideia do centro-direita ou nas oscilações à esquerda, como aludiu Pacheco Pereira. Isso não passa de habitual e dissimulada treteira do PSD. Note-se que Pacheco Pereira ainda foi mais longe dizendo que “o PSD nunca foi anti-socialista”. Não tardará muito e estarão a dizer que, afinal não são laranjas, são toranjas. Vermelhinhos por dentro, quase comunistas. Na verdade, eles estão só a um passinho de o fazer, já que também dizem que defendem a social-democracia.

 

Não vão em cantigas. O PSD de Passos Coelho não é diferente do PSD de Cavaco (do qual Pacheco Pereira fez parte) e também não será diferente do PSD que, em breve, terá um novo líder. Será apenas mais um a figurar no rol de personagens que este fingido partido já partejou.

 

Por último, e porque está na moda elogiar Passos Coelho (agora que está de saída), importa salientar que, mesmo sem querer, Passos Coelho, no meio de toda a exibição “redícula” que foi o seu reinado, foi o líder que mais conseguiu expor a verdadeira natureza do PSD. Passos Coelho fez um enorme favor aos portugueses distraídos, levantando o véu laranja para que todos pudessem enxergar um pouco do que lá vai dentro.

Piqué, o bom exemplo…

Gerard Piqué é uma das principais caras do Barcelona, do futebol espanhol, europeu e mundial. Há pouco tempo tornou-se também numa das caras mais conhecidas a defender a independência da Catalunha. No passado Domingo, até fez questão de publicar uma fotografia do momento em que foi votar. Mais tarde também chorou para as câmaras, mostrando o seu desalento para com a atitude da polícia (aqui não lhe retiro a razão). Porém, ontem, Segunda-feira, Piqué voltou a juntar-se à selecção espanhola para integrar o estágio de preparação para os últimos jogos de qualificação para o campeonato do mundo de futebol. Como sabemos, Piqué tem vindo a representar a selecção nacional de Espanha desde há vários anos.

 

Como seria de esperar, os aficionados de “La Roja” receberam-no com apupos e insultos. Entretanto, Piqué já tinha afirmado que se os responsáveis pela Real Federação Espanhola de Futebol considerassem que ele deveria abandonar a selecção, ele o faria sem qualquer problema. Ora, aqui está (talvez) a verdadeira analogia daquilo que se está a passar na Catalunha. Piqué é a cara chapada dos independentistas, um verdadeiro exemplo de imaturidade. Reparem que não estou contra Piqué (ou qualquer outro catalão) por ele ser a favor da independência da Catalunha, mas porque não é capaz de agir de acordo com as suas convicções. Como pode continuar a representar a selecção espanhola? Aliás, como pôde alguma vez ter aceitado vestir a camisola da selecção de futebol de Espanha?

 

Piqué é o bom exemplo da imaturidade e irresponsabilidade dos independentistas. Verdadeiros catalães, acérrimos defensores da independência, mas espanhóis quando dá ou deu jeito.

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