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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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Debates solidários para Santana Lopes

A menos de um mês da realização das eleições directas para escolher o futuro presidente do PSD, acentua-se a discussão em torno dos debates a realizar entre Santana Lopes e Rui Rio. Desde o primeiro momento que Santana Lopes mostrou interesse na realização de inúmeros debates, consta que gostaria de realizar cerca de 216 mil debates, um em casa de cada militante. Excentricidades de quem passou pela Santa Casa. Por seu turno, Rui Rio, que como toda a gente sabe adora debater ideias, tinha uma posição menos excêntrica. Rio era a favor da realização de “zero mil” debates.

 

Depois de inúmeras jogadas de bastidores, ambos chegaram a acordo para a realização de dois debates televisivos, um na RTP e outro na TVI. Entretanto, o debate da TVI foi cancelado porque Santana Lopes recusou-se a participar. Que estranho! Santana Lopes, o candidato que queria muitos debates acabou por inviabilizar a realização de 50% dos debates agendados, deixando na mão de Rui Rio a possibilidade de não participar nos restantes 50%, sem que possa ser atacado por isso.

 

Mas, afinal quem é que está interessado em ver debates entre os candidatos à liderança do PSD? Quando a esmagadora maioria dos militantes do partido não está sequer interessada em votar. Ou melhor, cerca de 80% dos militantes do PSD não poderão votar nas eleições directas de Janeiro, porque não têm as quotas em dia.

 

Ainda assim, Santana Lopes insiste na ideia de que gostaria que se realizassem debates com cobertura nacional. Santana Lopes defendeu mesmo que os debates deveriam ser transmitidos pelos três canais generalistas, em simultâneo. Uma espécie de transmissão dos jogos solidários da selecção nacional de futebol. Estará Santana Lopes contagiado pelo “espírito solidário” ou pela excentricidade da Santa Casa?

 

Considerando que só se deverá realizar um debate entre os dois candidatos, o da RTP, eu sugiro à televisão pública que crie uma “linha 760”, que permita aos militantes do PSD pagar as quotas em regime especial. Mas, atenção, só os militantes vivos poderão ligar e só poderão pagar as suas próprias quotas.

 

Melhores álbuns de 2017

Dezembro é o mês dos balanços anuais. Respondendo ao desafio do Sapo Blogs, aqui fica o meu Top 10 dos melhores álbuns de música editados em 2017 (ordenados de acordo com a data de lançamento).

 

1 - Elbow – Little Fictions

2 - Depeche Mode – Spirit

3 - Frances – Things I’ve Never Said

4 - Roger Waters – Is This The Life We Really Want?

5 - Arcade Fire – Everything Now

6 - The Killers – Wonderful Wonderful

7 - Courtney Barnett and Kurt Vile – Lotta Sea Lice

8 - Robert Plant – Carry Fire

9 - Morrissey – Low In High School

10 - U2 – Songs Of Experience

 

E a canção do momento é:

 

 

 

Trump, o idiota útil

O facto de Donald Trump ter anunciado que vai transferir a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém e o reconhecimento, por parte da administração norte-americana, de que Jerusalém é a capital de Israel, constitui um enorme factor de destabilização nas negociações de paz, que duram há anos. Aquela região do planeta é um barril de pólvora e Trump decidiu atirar um fósforo. Eu acredito que Trump tomou esta decisão depois de ter consultado a Wikipedia, onde verificou que Jerusalém é a capital de Israel.

 

Que Donald Trump é um idiota, já todos sabíamos. Mas, mesmo nas piores idiotices, como é o caso, Trump consegue ser um idiota útil. Porquê útil? Porque parece que o facto de ter sido ele a tomar uma atitude tão estapafúrdia fez com que meio mundo (ou mais), que andava distraído e insensível à questão, acordasse para uma realidade tão menosprezada.

 

Quero dizer, os direitos do povo palestiniano têm sido insistentemente ignorados por uma boa parte da comunidade internacional. Já a crescente ocupação israelita não tem sido objecto de grandes condenações. As fronteiras com a Palestina são severamente controladas pelo exército israelita, que mantém o povo palestiniano cercado por muros e subjugado ao seu poderio militar. A verdade é que há um povo que tem sido oprimido por outro e ninguém se tem interessado muito em sequer condenar. Há uma nação ancestral que está sujeita à opressão e, se nada for feito, condenada ao desaparecimento e ninguém, ou melhor, poucos se têm importado verdadeiramente com isso.

 

Talvez agora, aqueles que já poderiam ter feito muito mais pela situação no Médio Oriente decidam bater o pé à posição dos EUA, nem que seja só para contrariar Donald Trump. Por vezes, há males que vêm por bem.

As mentiras sobre Belmiro

Em Portugal há o hábito de se falar bem das pessoas que morrem. É aquela coisa de “lá no fundo, bem no fundo, até era boa pessoa”. Eu não vejo grande mal nisso, afinal, a pessoa já cá não está e se é para falar dela, então é preferível que se diga algo de bom. O que eu não aceito é que se digam mentiras.

 

Após a notícia da morte de Belmiro de Azevedo, foram muitos os que se apressaram a vir a público enaltecer a “excelência de um grande homem e brilhante empresário”. Suponho que a maioria deles desconhecia o homem por completo e, ao que parece, também não sabiam muito do empresário, excepto a parte da acumulação de riqueza que, como se sabe, é a condição essencial para se ser reconhecido como “ser superior”.

 

Políticos, empresários, jornalistas e comentadores disseram que Belmiro foi um “grande exemplo (talvez o maior) do que é ser um empresário de sucesso”, destacando o facto de “nunca se subjugar ao poder político” e de “não precisar de subsídios do Estado”.

 

Pois bem, eu não conhecia a pessoa em causa, mas conheço alguns factos da sua vida enquanto empresário, que são as razões pelas quais se tornou figura pública. Evidentemente, lamento a morte da pessoa, tal como a de qualquer outra pessoa que desconheço. Mas sinto-me impelido a contrariar as razões pelas quais muita gente o enaltece na hora da sua partida.

 

Muitos dos que referi atrás, começaram por se indignar com o facto de o PCP ter votado contra o voto de pesar na Assembleia da República. Isso, por si só, já é demonstrativo da posição inquinada que algumas pessoas com espaço na comunicação social têm. O facto de o PCP ter votado contra é perfeitamente aceitável, eu dira mesmo normal e, acima de tudo, coerente com aquilo que sempre defenderam e sustentaram sobre o empresário em causa. Há pessoas que não conseguem (quando lhes dá jeito) perceber que os votos de pesar da Assembleia da República são o reflexo de posições políticas.

 

Agora, vamos às mentiras. Disseram por aí que Belmiro de Azevedo “não se subjugava ao poder político”. Pois não. Quem tem os políticos subjugados ao seu poder, não tem qualquer necessidade de se subjugar. Obviamente que Belmiro de Azevedo e a sua Sonae sempre tiveram “poder” sobre alguns políticos. Parece que já ninguém se lembra da polémica demissão do ministro Miguel Cadilhe, cujo secretário de estado, Elias da Costa, foi parar ao board administration da Sonae.

 

Mais? Vamos a isso. Durante o reinado cavaquista, a fortuna de Belmiro e a opulência da Sonae pulularam como nunca. A Sonae teve relações especiais com membros do governo, que posteriormente foram parar a bancos que, por sua vez, injectaram milhões no grupo Sonae. Mais tarde, alguns dos que aprovaram voluptuosos financiamentos enquanto administradores de bancos, foram parar à administração da Sonae.

 

O grupo Sonae, à semelhança de outros grandes grupos económicos, tornou-se também num receptáculo de ex-ministros e ex-secretários de estado. E porquê? Certamente porque eram muito competentes e andavam a perder tempo na política. Portanto, Belmiro e a Sonae nunca se subjugaram a políticos.

 

Belmiro também foi um fervoroso apoiante de Passos Coelho, nas eleições de 2011.

 

Resta falar da dependência do Estado. Só para começo de conversa, basta recordar como Belmiro de Azevedo começou a tomar o controlo da empresa. Em 1975, uma parte da Sonae foi entregue, pelo Estado, a Belmiro de Azevedo. Foi apenas o início. Belmiro começa, então, a construir o seu reinado na Sonae. Que a empresa cresceu muito depois disso ninguém tem dúvidas, mas também ninguém (pelo menos os que referi anteriormente) deveria ser alheio à forma como esse crescimento ocorreu, sobretudo à custa de investimentos especulativos.

 

Mas voltemos à dependência do Estado. Ao longo de décadas, a Sonae apresentou, anualmente, vários milhões de euros em benefícios fiscais. A Sonae recebeu do Estado Português subsídios ao investimento (aquisição de activos, etc.), recebeu também subsídios à exploração, entre os quais, uma grande fatia no apoio à formação via IEFP, com milhares de estágios profissionais sustentados pelo Estado.

 

Querem mais? Há muito mais. Mas creio que este texto não terminaria tão cedo. E já vai longo. Mas ainda há espaço para referir os milhões de que a Sonae beneficiou nos chamados subsídios de interruptibilidade de energia.

 

Em suma, se querem falar bem de alguém, seja em termos pessoais ou profissionais, façam-no sem recorrer à ignorância e, principalmente, à mentira. Tenho a certeza que há algo de positivo e verdadeiro para dizer sobre Belmiro de Azevedo.