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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

“Cavalo branco” mais branco não há

Está em curso o julgamento sobre os “Vistos Gold”, onde o antigo ministro da administração interna Miguel Macedo é arguido. Soube-se que ontem houve uma sessão de julgamento onde foram ouvidas testemunhas abonatórias do arguido Miguel Macedo, entre as quais se destacam Rui Rio (líder eleito do PSD), Paula Teixeira da Cruz (ex-ministra da justiça) e Jaime Marta Soares (presidente da liga dos bombeiros).

 

Rui Rio terá dito na sessão de ontem que “A minha (sua) percepção é que a actuação de Miguel Macedo foi sempre determinada pelo interesse público". Fez ainda questão de dizer que conhece Miguel Macedo desde tenra idade e que se cruzou várias vezes com o arguido, mas só por “razões políticas”, não vá o diabo tecê-las.

 

As testemunhas abonatórias foram questionadas pelo advogado de defesa do arguido, como se já não soubessem o que lhes iria ser perguntado e o que haveriam de responder. Todos sem excepção salientaram a elevada “competência”, “isenção”, “integridade” e “honorabilidade” do arguido. Recorde-se que Miguel Macedo está acusado dos crimes de prevaricação e tráfico de influências. Recorde-se também que existem escutas telefónicas que comprovam a existência de encontros, jantares, viagens e presentes oferecidos a Miguel Macedo, onde este supostamente era apelidado de “cavalo branco”.

 

O Ministério Público não tem dúvidas da responsabilidade de Miguel Macedo nos crimes de que é acusado. As escutas são do conhecimento público, tal como acontece com outros casos mediáticos. A única diferença é que para algumas pessoas, como é o caso de Rui Rio, uns são inequivocamente culpados, partindo do conteúdo de algumas escutas, porém outros são absolutamente imaculados, independentemente do conteúdo das escutas e das acusações de que são alvo.

 

É caso para dizer que, para Rui Rio, “cavalo branco” mais branco não há.

 

Resta-me ainda salientar o facto de Jaime Marta Soares ter ido a tribunal desfazer-se em elogios para com o ex-ministro Miguel Macedo, quando todos sabemos que tem por hábito criticar toda a gente, especialmente governantes. Se tivermos em conta que no ano de 2013, em pleno reinado de Miguel Macedo no Ministério da Administração Interna morreram 8 bombeiros, não vemos grandes razões para que Jaime Marta Soares tenha especial apreço pelo ex-ministro. 

 

E, por último, duas perguntas. Por que razão um indivíduo “imaculado” recorre a testemunhas abonatórias? Suponho que seja para usar os créditos no desconto do débito.

 

E, já agora, de que forma poderá Paula Teixeira da Cruz abonar alguém?

A assunção de Cristas e do CDS

Durante o passado fim-de-semana, Assunção Cristas, líder do CDS disse que “Em 2019 não se discute já quem fica em primeiro lugar, em 2019 não se discute já quem é que pode ou não governar porque ficou em primeiro lugar. Isso era antes, antes de 2015. Em 2019, o que se vai discutir é quem é que consegue ter um bloco de apoio no parlamento de 116 deputados”.

 

Também disse que “Houve alguém que perdeu as eleições e está a governar, e governará até ao fim com a ajuda das esquerdas unidas, disso não tenho dúvidas. Mas ‘esse alguém’ também poderá ver um dia o filme virar. E o filme virará quando no centro-direita, nós tivermos 116 deputados”.

 

Que diabo! Então não foi sempre assim? Ora deixa cá ver se eu ainda sei fazer contas simples: a Assembleia da República é composta por 230 deputados; para haver uma maioria que possa suportar um governo são necessários… hmm… ora deixa cá ver… 6 vezes 3 são 18… olha! 116. São necessários 116 deputados para ter maioria.

 

Ao que parece, Assunção Cristas só conseguiu realizar este cálculo em 2015, altura em que o Partido Socialista, mesmo não tendo vencido as eleições, conseguiu formar governo – porque conseguiu um apoio parlamentar superior a 115 deputados. Mas só agora assumiu que o seu partido também está disposto a "geringonçar".

 

Convém lembrar que o CDS já fez parte de governos por intermédio de coligações pós-eleitorais, num dos quais Cristas até foi ministra. O que há de novo então? Parece que, afinal, o CDS de Cristas concorda com a solução que o PS encontrou para governar após as eleições de 2015, assumindo que estarão dispostos a actuar da mesma forma nas eleições de 2019.

 

Outra coisa. Assunção Cristas disse que não tem dúvidas que o actual governo durará até ao fim da legislatura, com o apoio das esquerdas (parece que há mais que uma). Que metamorfose! Ainda se lembram do que diziam da actual solução governativa?

 

Para terminar em beleza, resta-me salientar aquilo que disse Nuno Magalhães, deputado do CDS, a propósito das jornadas parlamentares do seu partido. Nuno Magalhães afirmou estar contra o aumento do salário mínimo nacional, sendo que o tema do debate era “Diálogo Social para Mais Investimento, Melhores Empregos e Melhores Salários”. Melhores salários dizem eles. Resta saber para quem é que eles defendem os melhores salários, se estão contra o aumento do salário mínimo nacional.

 

O CDS é um partido anedótico. Mas tem uma grande virtude, assume-se todos os dias. Só não vê quem não quer.

 

As câmaras de TV também assediam

A estação de televisão SIC emitiu ontem, no Primeiro Jornal, uma reportagem sobre assédio sexual. A mesma dava conta de que as queixas por assédio e importunação sexual em Portugal aumentaram, mas lamentava o facto de não haver condenações, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus. A ser verdade, eu também lamento a inexistência de condenações.

 

Contudo, não menos lamentável foi constatar que, no decorrer da notícia, foram mostradas algumas imagens que a SIC captou nas ruas, dando particular destaque a determinadas partes do corpo de algumas mulheres que circulam numa rua da cidade, sem se aperceberem de que estão a ser filmadas. O(a) operador(a) de câmara nem se coibiu de filmar o corpo de uma jovem adolescente que passeava tranquilamente na rua, fazendo questão de escolher bem o ângulo de captação da imagem, onde a sua câmara foi percorrendo lentamente o corpo da adolescente (que se encontrava de calções curtos) de baixo para cima, expondo também a sua cara, e como tinha cara de turista a SIC terá achado que era seguro mandar "a peça" para o ar.

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Portanto, a SIC denuncia o assédio sexual, denuncia a falta de condenações, mas não acha errado que as suas câmaras, os seus editores de imagem, os seus jornalistas pratiquem actos que, para mim, configuram práticas de assédio, importunação ou exploração sexual, desta feita através da... imagem - essa coisa com muito pouco poder nos dias que correm.

 

Hipócritas.

 

U2: uma máquina a vender bilhetes

Os bilhetes para o concerto dos U2 são postos à venda hoje, mas o período de venda não deverá demorar mais do que alguns minutos, vai depender da destreza dos funcionários das lojas MEO incumbidos dessa tarefa. A verdade é que a quantidade de bilhetes disponível para venda é muito reduzida (cerca de 3 mil), fruto da pré-venda de bilhetes efectuada no site da banda, prática que tem sido habitual, mas não só.

 

Já toda a gente sabe que os U2 são uma máquina a vender bilhetes em todo o mundo. Portugal não é excepção, só em 2010, os U2 esgotaram dois estádios em muito pouco tempo e se tivessem realizado um terceiro espectáculo, também esse esgotaria. Ora, desta vez os U2 decidiram dar concertos em “arenas”, algo que reduz drasticamente a oferta de bilhetes, logo, não é de espantar que esgotem num ápice. Para que a banda pudesse, nesta próxima tournée, adequar a oferta à procura, só em Portugal teriam que realizar pelo menos uns 10 concertos. E mesmo assim…

 

Como é hábito, são muitos os fãs que decidem acampar à porta das lojas, para garantir o lugar na fila de acesso aos tão desejados ingressos. Entretanto, a empresa MEO informou que vai distribuir mantas, gorros, guarda-chuvas, snacks, água e brindes a todos quantos decidam penar até à hora de abertura das lojas.

 

Fiquei curioso. Sendo que uma boa parte das lojas se localizam dentro de centros comerciais, onde ficam as filas? Não deve ser dentro do centro comercial, pois creio que isso não é permitido. Então, onde se fazem as filas nesses casos? À entrada do centro comercial? Alguns têm mais que uma entrada. Para evitar confusões, será que fazem uma espécie de reserva de lugar na fila, recorrendo à distribuição de senhas e listas de presenças? Mas isso não é também uma forma de pré-venda? E ainda por cima clandestina. Enfim, são apenas curiosidades.

 

O que realmente não se percebe é a razão pela qual alguém está disposto a passar várias noites ao frio e à chuva, sem ter a garantia de que vai conseguir um dos poucos bilhetes disponíveis, quando poderia ter adquirido o bilhete a partir do conforto do seu lar. A maioria dos que estão nas filas nem sequer tentou esta via, com bastante mais bilhetes disponíveis. Bastava que tivessem efectuado o registo no site da banda. É claro que teriam que suportar uma despesa adicional de cerca de 40 euros, ainda assim, bem melhor do que passar noites em claro, à chuva e ao frio, acrescido de todas as desvantagens que isso pode trazer à saúde. E, se calhar, até acabaram por gastar mais de 40 euros em toda a "logística" necessária para passar quase uma semana numa fila.

 

Outra coisa. Presumo que todos aqueles que estão nas filas sejam milionários a viver dos rendimentos. São adultos, mas não na idade da reforma, passam uma semana inteira sem ir trabalhar e dispõem de pelo menos 80 euros para gastar num concerto. Bem, milionários não diria mas, por certo, é gente que está bem na vida. Ou então estão todos a gozar uma semana de férias.

 

Para finalizar, uma notícia em primeira mão (não confirmada, mas a fonte é quente). Os U2 vão agendar uma segunda data em Portugal (pelo menos, mais uma), ainda assim, será muito pouca oferta para tanta procura.

 

Supernanny - o debate. Qual debate?

O canal de televisão SIC transmitiu ontem à noite um debate sobre o programa Supernanny. Não creio que aquilo a que assisti tenha sido um debate verdadeiro e isento. O debate foi capitaneado por Conceição Lino que, na presença da sua superior – Júlia Pinheiro – foi interpelando num tom inquisidor e reprovador as convidadas que contestam o programa, a saber, a dra. Dulce Rocha do Instituto de Apoio à Criança e a dra. Rosário Farmhouse da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens. Do outro lado, as defensoras do programa, Júlia Pinheiro (Direcção de Programas da SIC) e a dra. Cristina Valente (Psicóloga). A dada altura parecia que a SIC tinha convidado as representantes destas instituições (IAC e CNPDPCJ) para lhes dar um puxão de orelhas.

 

Foram esgrimidos os argumentos (contra e a favor) que toda a gente já havia discutido, desde que o primeiro programa foi para o ar. Obviamente que existirão sempre opiniões divergentes, como em tudo na vida. Contudo, creio que existem três momentos no debate que demonstram bem quem defende a posição mais razoável e aceitável.

 

O primeiro momento tem que ver com o facto de a SIC se escudar no facto de os pais das crianças terem concedido autorização para a exposição pública dos seus filhos. Pois bem, convém lembrar que os filhos não são propriedade dos pais e as crianças têm direitos indisponíveis. A direcção de programas da SIC tem a obrigação de saber que uma assinatura dos pais não é suficiente para isentar a estação televisiva das suas responsabilidades.

 

O segundo momento dá-se quando a Conceição Lino coloca a seguinte questão à dra. Dulce Rocha: “Como é que pode ter a certeza que esta exposição pode prejudicar e afectar a dignidade das crianças?".

 

Vejamos, esta é daquelas perguntas cuja resposta deve ser dada com outra pergunta, ou seja, “Como é que alguém pode garantir que esta exposição mediática não vai prejudicar as crianças?”. Não pode. Daí se depreende que, na defesa dos interesses e direitos dos menores, seria melhor evitar a exposição. A direcção de programas da SIC deveria ter começado por tentar responder a esta pergunta, para a qual obviamente não tem resposta.

 

Terceiro momento. A dada altura, Júlia Pinheiro, que não resistiu em clarificar quem estava, de facto, a conduzir o debate, interpelou directamente a dra. Rosário Farmhouse perguntando-lhe se ela desconhecia o facto de que muitas crianças portuguesas têm os mais variados aspectos das suas vidas expostos nas redes sociais. Portanto, a senhora directora de programas da SIC acabou por tropeçar nos seus próprios argumentos, quando considerou que a exposição nas redes sociais é frequente (apesar de condenável) e por isso pode também ser explorado pela televisão.

 

O canal SIC, na pessoa da sua directora de programas, assumiu com altivo paternalismo a postura de educador dos educadores, chamando a si e ao programa Supernanny a responsabilidade de formar bons pais. Júlia Pinheiro chegou mesmo a afirmar que a TV tem também o papel de ajudar a resolver os problemas das pessoas. Perigosa e presunçosa ideia não vos parece? Que a televisão pode e deve contribuir para uma boa e efectiva informação dos seus públicos, nos mais diversos assuntos, disso ninguém duvidará. Agora, que os problemas pessoais de cada um devam ser solucionados por intermédio de voyeurismo televisionado, disso eu já tenho sérias dúvidas.

 

Perguntinhas para a Júlia Pinheiro: Estaria disponível a televisionar todas as conversas que teve com o seu filho sobre homossexualidade? Concordaria em emitir as conversas que teve em família sobre anorexia? Estaria disposta a expor a sua vida familiar no grande ecrã? E não estamos a falar de menores. Ou só permite que passem as imagens de uma alegada família exemplo?

 

Há uns tempos, Júlia Pinheiro dizia o seguinte: "Uma das minhas filhas está neste momento internada num hospital público onde estão a tratar muito bem dela mas, infelizmente, não foi possível protegê-la da curiosidade dos outros".

 

Pois é dra. Júlia Pinheiro, quem protege agora as crianças visadas da curiosidade (ou algo pior) dos outros?

 

P.S. Não falei de audiências, do alegado pagamento às famílias envolvidas, nem da sonoplastia usada no primeiro programa, aquando das sapatadas para sacudir o pó da roupa… Mas também ninguém quer saber disso, não é verdade?

O Sporting não vai apresentar queixa?

Em Agosto do ano passado, o Sporting CP apresentou uma queixa sobre o comportamento do árbitro Jorge Sousa, nomeadamente, pelas palavras que este proferiu no encontro entre o Real e o Sporting B.

 

Na altura, um comunicado emitido pela SAD do Sporting repudiava as palavras usadas pelo árbitro Jorge Sousa, salientando que a linguagem utilizada pelo árbitro era inadmissível.

 

Na passada Sexta-feira, o jogador do Sporting Fábio Coentrão usou o mesmo tipo de linguagem, enquanto se dirigia ao árbitro da partida disputada em Setúbal, Fábio Veríssimo. As imagens demonstram inequivocamente que Fábio Coentrão se dirigiu ao árbitro da seguinte maneira: “Vai pó caralho…”.

 

Aguarda-se com elevada expectativa que o Sporting se pronuncie e actue coerentemente, portanto, estamos à espera que a SAD do Sporting apresente uma queixa ou processo disciplinar ao jogador Fábio Coentrão, por conduta errada. E nem vou dar importância aos murros na cobertura do banco de suplentes.

 

Ou será que, tal como escrevi na altura, o Sporting entende que, ao contrário dos jogadores, os árbitros foram feitos para ser insultados?

 

RTP e a transparência

Segundo consta, o PSD questionou o Governo sobre a eventual falta de transparência na RTP. Em causa estará o “conflito de interesses” entre alguns administradores da RTP e algumas empresas que têm relações comerciais com a estação pública.

 

Portanto, o PSD, ao fim de tantos anos chegou à conclusão que “se calhar” há qualquer coisa na RTP que não está a funcionar como deveria.

 

Pois bem, eu diria que de entre todas as empresas públicas, a RTP – devido ao carácter da sua actividade – é das empresas mais transparentes no que respeita a conflitos de interesse. A RTP é uma empresa pública, cujos postos de trabalho são transmitidos e admitidos de pais para filhos, de tios para sobrinhos, de amigo para amigo. E isto não acontece apenas nos lugares de maior destaque. Eu conheço um indivíduo que até para arrastar cabos teve que ter uma cunha de um primo que já lá trabalhava. Ele entrou para a função de “arrastador de cabos”, mas pouco tempo depois chegou onde queria, tal como estava previsto. Não há nenhum funcionário na RTP que não tenha entrado pelo “canal C”. Sempre foi assim. Também no que respeita aos sucessivos administradores, as escolhas são sempre políticas. E, como não poderia deixar de ser, todas as empresas que “mamam” na teta da estação pública padecem do mesmo carácter.

 

Parece que o PSD acordou agora, mas só abriu metade de um olho. Ou seja, um indivíduo acabou de cair numa fossa séptica e está coberto daquela matéria até aos olhos. E o que diz o PSD? “O meu amigo está um bocadinho despenteado”.

 

Dinheiro dos pobres?

A propósito de uma eventual entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) no capital do banco Montepio, tem-se ouvido muito falar no “dinheiro dos pobres”. Uns dizem que isso seria meter o dinheiro dos pobres na compra de parte de um banco, outros dizem que significa retirar dinheiro aos pobres para dar aos bancos (aos ricos).

 

Ora, como estou farto desta treta, sou obrigado a escrever sobre o assunto. Primeiramente, importa salientar que a expressão “dinheiro dos pobres” nem sequer faz sentido, ilustres senhores, se os pobres tivessem dinheiro não seriam pobres. Depois, é preciso que fique claro que o dinheiro da Santa Casa não é nem nunca foi dos pobres. O dinheiro é da Santa Casa, que de pobre não tem nada.

 

Fala-se na possibilidade de a Santa Casa entrar no Montepio com 200 milhões de euros, dos pobres dizem eles. Portanto, a Santa Casa considera a possibilidade de “investir” 200 milhões de euros porque, como se sabe, a Santa Casa tem muitas mais centenas de milhões de euros disponíveis para investir, mas só há disponibilidade financeira porque… porque é dinheiro dos pobres, claro está. Imaginem só o que tantas centenas de milhões de euros poderiam fazer pela vida dos pobres. Mas os milhões só existem porque há pobres. Se os milhões fossem distribuídos pelos pobres, não haveria pobres, nem haveria milhões e a Santa Casa não seria tida nem achada neste imbróglio.

 

A Santa Casa tem a exclusividade de uma enorme e rendosa fatia do jogo em Portugal, só o Placard (a mais ou menos recente novidade) deu cerca de 6 milhões de euros de lucro por mês, isto apenas no primeiro trimestre da sua existência. No entanto, a SCML informa que o lucro anual da Casa não chega sequer a 5 milhões de euros. E porquê? Porque a Santa Casa tem muita despesa com os pobres. Sim, com os pobres de espírito que vivem montados em alguns partidos (os do costume) e que sugam magníficos salários, entre outras benesses, na Santa Casa – a Casa dos Pobres - segundo os especialistas. A Santa Casa tem cerca de 5 mil funcionários, sendo que mais de 2 mil auferem um salário superior a 2 mil euros mensais. Está certo. Toda a gente sabe que os pobres são muito exigentes e não aceitam qualquer pessoa a trabalhar na defesa dos seus superiores interesses, por isso, querem os melhores e os mais bem pagos ao seu serviço.

 

Conheço muitas pessoas que se podem considerar pobres e quase nenhuma delas recebe ou recebeu um chavo da Santa Casa. Na verdade, conheço mais pessoas que trabalham na Santa Casa do que pessoas (pobres) que recebem algum tipo de ajuda por parte da instituição. Conheci apenas uma pessoa que recebia um prato de comida e uma tijela de sopa por dia, e ainda tinha que gerir o majestoso manjar de modo a que fosse suficiente para o almoço e jantar, pois não dava para mais. Devo ainda acrescentar que para ter acesso a tamanha benesse, a Segurança Social tinha de entrar com “algum” na Santa Casa, senão talvez só desse mesmo para a sopa. O mesmo acontece, por exemplo, em determinados tratamentos médicos e/ou meios complementares de diagnóstico prestados pela Santa Casa, apenas porque a maioria daqueles que recorrem a esses serviços estão munidos de uma credencial para esse efeito, emitida pelo SNS, sendo o Estado a pagar a parte de leão.

 

Se a Santa Casa gastasse o dinheiro do jogo na ajuda aos pobres, talvez já não houvesse pobres ou, pelo menos, não seriam tão pobres. Essa coisa de dizer que o dinheiro da Santa Casa é dinheiro dos pobres é a maior asnice dos últimos tempos.