Caso Pinho "tá a andar de mota"
É a maior polémica dos últimos dias. Manuel Pinho terá recebido 15 mil euros mensais, pagos pelo GES, durante o período em que foi Ministro da Economia. A maioria dos políticos e comentadores de política (alguns deles ex-políticos) escandalizou-se com a notícia que, em abono da verdade, não se sabe se é verídica ou não. Mas vamos admitir que sim, até porque a esmagadora maioria dos portugueses não tem dúvidas que este tipo de casos não são excepções à regra.
Vi e ouvi várias personalidades da política e do comentário político dizerem que “isto é absolutamente inaceitável”, “é de uma desmedida imoralidade” e que “se trata de uma situação que nunca tinha acontecido”.
De facto, a situação é inaceitável, é imoral e ilegal. Portanto, não há nada de errado em enfatizá-lo, o que me incomoda é a tentativa de políticos e comentadores políticos fazerem passar a ideia de que estas situações são uma raridade. Não, não são. Aliás, até se falar deste caso, também ele nunca tinha acontecido.
Sou muito mais propenso a achar que este tipo de casos configuram uma prática corrente no meio político nacional, do que que propriamente uma raridade. E, por essa razão, incomoda-me que se tente tratar estas situações como casos esporádicos, porque isso faz com que se concentre as atenções num só indivíduo, permitindo que os demais escapem, como sempre. O mesmo é dizer que, aquilo que é realmente raro é tornar público as patifarias de alguém e quando isso acontece, só serve para esconder a real bandalheira que prolifera no meio.
Note-se ainda que aqueles que agora ficaram muito escandalizados e perplexos são os mesmos que acham perfeitamente normal que, deputados em exercício sejam também advogados em exercício, ao serviço de interesses contrários aos do Estado. Ou que deputados em exercício sejam directores não-executivos de empresas cujo “core business” depende da desgraça do Estado. Ou, ainda, que ex-ministros se atirem para a rede dos grandes grupos económicos (que os recebem de braços abertos), assim que deixam o cargo governativo, como se isso não constituísse um pagamento pelos serviços prestados.
A esses políticos dá vontade de dizer: Tá a andar de Mota!