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Uma Graça na Padaria é a história de um humorista português que foi pioneiro a aventurar-se na arte de fazer pão. A vida de padeiro não é nada fácil, pois obriga a madrugar e isso não é para todos. Já a vida de humorista é bastante mais fácil, principalmente em Portugal, que é um país rico em fontes de inspiração. Está provado que em Portugal só não é humorista quem não quer.
O humorista/padeiro de que vos falo é José Diogo Quintela, uma espécie de Michael Landon das padarias. O homem notabilizou-se como humorista no grupo Gato Fedorento, muito na sombra do Ricardo Araújo Pereira (RAP), é certo, mas também não é fácil fugir à sombra do RAP, devido à sua estatura, pois claro, só à estatura.
Há vários anos que José Diogo Quintela estava condenado ao esquecimento, parecendo estar definitivamente entregue às carcaças, papos-secos e bolos-rei. Mas um humorista, mesmo sendo pioneiro na arte de fazer pão, nunca perde “o bichinho”. Ora, com o passar do tempo a saudade foi levedando e o Quintela voltou a dar um arzinho da sua graça, num desenxabido anúncio a uma marca de óculos, cujas lojas ficam sempre “à direita”.
Insatisfeito com o pouco sucesso do pequeno filme comercial, Quintela decidiu fazer uma piada que causasse verdadeiro impacto, uma que o voltasse a catapultar para a linha da frente do humorismo nacional. Então, decidiu fazer humor com o caso das crianças com cancro que, segundo foi noticiado, têm recebido tratamentos nos corredores da ala pediátrica do Hospital de São João, no Porto. Quintela, na qualidade de colunista desse jornal referência que é o Correio da Manhã, escreveu uma crítica, num tom irónico e sarcástico, sobre as tais condições inapropriadas do serviço de pediatria do referido hospital.
Aparentemente, não há nada de errado em querer fazer humor com uma situação que envolva doença e crianças. Pode até ser eficaz, enquanto chamada de atenção e, na melhor das hipóteses até pode ajudar a suavizar um assunto que, quase sempre se torna demasiado pesado, principalmente para os envolvidos.
Infelizmente, não foi isso que aconteceu. O texto do José Diogo Quintela até pode estar impregnado de ironia e sarcasmo, mas não pretende alertar para um problema, muito menos contribuir para a sua resolução. Trata-se, antes, de um texto politizado, ao serviço de uma desditosa facção que só pretende aproveitar-se de uma situação que é altamente desconfortante para as pessoas envolvidas. O padeiro Quintela, entre uma fornada e outra, encontrou tempo suficiente para fazer uma piada que fosse devidamente notada, num texto bem à Correio da Manhã, onde acusa os pais das crianças com cancro de se tratar de “paizinhos que se lamuriam das condições de tratamento dos filhos, mas provavelmente rejubilam com o défice de 0,9%”. Ora, esta afirmação demonstra bem a intenção por trás da ironia. Por que razão Quintela considera que os pais das crianças com cancro “provavelmente rejubilam com o défice de 0,9%”?
Não, isto não é humor. Não é ironia, muito menos sarcasmo. Isto é política servil e rastejante, sob o disfarce do humor de padaria.
Está visto que, enquanto o Ricardo Araújo Pereira não estiver disposto a repescar o Zé Diogo para os principais palcos do humor nacional, o padeiro Quintela terá que se contentar com uma pequena coluna no Correio da Manhã, onde tem um espaço bem à sua medida.
Não queria terminar sem antes endereçar um conselho às pessoas que se indignaram com a coluna de opinião do José Diogo Quintela. Podem mandá-lo apanhar na regueifa, à vossa inteira vontade, mas, no caso dele, isso nem sequer chega a ser um insulto.