Devo começar por dizer que não li o mais recente livro de Cavaco, nem vou ler. Contudo, considero-me suficientemente esclarecido pelos resumos que vieram a público (infelizmente não encontrei os "Apontamentos Sr. Américo).
Ora, uma vez mais, Cavaco vem fazer prova de vida com um conjunto de histórias que ele desenterrou do passado, como se fosse um ajuste de contas com todos aqueles que o fizeram sentir-se menor do que realmente é.
Mas, a julgar pelos resumos, Cavaco não consegue sequer ser coerente, nomeadamente quando diz que a “demissão irrevogável” de Paulo Portas foi incompreensível e “absolutamente inaceitável” e que teve como propósito “destruir a credibilidade da ministra das Finanças”. Alega ainda que Portas teve uma atitude de “infantilidade pouco patriótica”, que contrastava com a postura de “sentido de Estado e determinação” de Passos Coelho.
Comecemos e terminemos rapidamente pela credibilidade da ministra das Finanças de então. Como nunca houve credibilidade, o assunto morre à nascença. Agora Portas. Que se saiba, Paulo Portas apresentou um único pedido de demissão (irrevogável, é um facto) e, por causa disso, Cavaco considera-o infantil e político sem sentido de Estado. Por outro lado, Passos Coelho (o primeiro-ministro de então) que, segundo Cavaco, apresentou-lhe várias vezes a demissão já é um político com “sentido de Estado e determinação”.
Resumindo, Cavaco chama a si toda a responsabilidade de o Governo PSD/CDS ter durado até ao final da Legislatura, mesmo depois de os líderes de ambos os partidos da coligação terem apresentado a demissão, por diversas vezes, no seu conjunto, com a justificação de que não havia condições para governar. Portanto, tal como eu referi aqui na altura, aquele era o governo de Cavaco.
E o que disse Cavaco depois da demissão irrevogável de Portas? E depois de o PS ter recusado fazer parte de um Compromisso de Salvação Nacional? Cavaco disse que o governo PSD/CDS continuaria até final da Legislatura, mais forte e coeso do que nunca. A coerência de Cavaco.
Entretanto, apareceu por aí Passos Coelho dizendo que também anda a escrevinhar umas coisas para juntar às de Cavaco. Ou seja, Passos Coelho entende que este livro de Cavaco pode ser o princípio de uma campanha que o reabilitará como político e o catapultará, de novo, para a liderança do PSD. Pode até ser, mas este livro de Cavaco é mais um atestado de incompetência ao próprio Passos Coelho que, segundo as afirmações de Cavaco, andou a fazer de conta que era o primeiro-ministro, quando na verdade ele se encontrava em Belém.
Por fim, que isto já vai demasiado longo, Cavaco volta a demonstrar o ser pequenino que é e sempre foi, e que não é capaz de guardar para si, conversas que ocorreram em circunstâncias especiais e que deveriam ficar circunscritas ao reduto institucional. Coisas demasiado grandes para caberem em Cavaco.
Como se diz na minha terra, Cavaco é uma giga rota.