O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes sugeriu, há alguns dias, que as famílias portuguesas deveriam avaliar a possibilidade de baixar a potência contratada para um valor não superior a 3,45 kVA, para que pudessem beneficiar da redução de 23% para 6% da taxa de IVA.
As hostes direitistas passistas ficaram escandalizadas com as afirmações do ministro, comparando-as com os vários apelos que o anterior Governo PSD/CDS fez aos portugueses, para que emigrassem, para que saíssem da sua zona de conforto.
Ora vamos lá ver. Será comparável o teor das referidas afirmações? Obviamente que não há comparação possível. Aquilo que o ministro Matos Fernandes disse nem sequer é reprovável, mesmo tendo sido infeliz na forma como se expressou e também porque esta medida não tem quase nenhum impacto no valor da factura. Contudo, o próprio Matos Fernandes já admitiu o erro e pediu desculpa, coisa que Passos Coelho e seus acólitos nunca fizeram.
Os Joões Miguéis Tavares desta vida vieram logo com a habitual pergunta, que tanto têm feito durante a actual Legislatura: E se fosse o Passos? Esta pergunta revela algum desencontro com a capacidade de raciocínio, já que todos sabemos que um Governo de Passos Coelho jamais seria capaz de baixar a taxa de IVA, para qualquer nível de potência contratada.
O actual Governo procede à redução da taxa de IVA na potência contratada não superior a 3,45 kVA, coisa que Passos Coelho não só não foi capaz de fazer, como ainda entregou a EDP aos chineses, numa bandeja, e esta gentinha ainda reclama. Não os vejo a reclamar com a EDP. Porque é aí que reside o problema das elevadas tarifas praticadas pelo sector energético. Se acham que pagam muito pela energia (e eu também acho), então deveriam estar a apontar o dedo à EDP e a quem a vendeu. E é aqui que os Joões Miguéis Tavares deveriam colocar a célebre pergunta que tanto apreciam: E se fosse o Passos? Pois, não é “e se fosse…”, foi mesmo Passos Coelho que alienou o Estado Português do centro das decisões, no que ao preço da energia diz respeito.
Outra coisa que importa referir é que a potência de 3,45 kVA é suficiente para uma família média (4 pessoas), ao contrário do que alguns privilegiados têm dito. Ou seja, esses privilegiados alegam que se reduzirem a potência para os 3,45 kVA, simplesmente não poderão viver em condições condignas. Pois, eu também gostaria de ter aquecimento em toda a casa, mas ao preço a que está a energia é incomportável. Por conseguinte, quem pretende usufruir desse nível de conforto terá que pagar por ele. É apenas o mercado que os Joões Miguéis Tavares tanto apreciam a funcionar. E se já têm esse nível de conforto é porque podem pagar, mas se ainda assim acham que é caro reclamem com a EDP, reclamem com quem estabelece o nível de preços. O que não podem é serem capitalistas ultraliberais, que defenderam e aplaudiram de pé a alienação da EDP das mãos do Estado e agora reclamam do Estado, pelo facto de as tarifas praticadas pelo operador “privado” serem demasiado elevadas.
A esmagadora maioria das famílias portuguesas não tem aquecimento em toda a casa, muitos não têm sequer a possibilidade de ter uma única divisão com esse nível de conforto. E o que está em causa em relação à potência contratada de 3,45 kVA (ou inferior) é mesmo a questão do aquecimento por todas as divisões ou na maioria das divisões da casa, porque qualquer casa pode “sobreviver” perfeitamente com a potência de 3,45 kVA, não podem é desatar a ligar à corrente tudo que é aparelho eléctrico em simultâneo. Quem já usufrui de aquecimento por toda a casa é porque tem condições financeiras para suportar o seu custo e não tem nenhuma razão para reclamar do facto de este Governo reduzir a taxa de IVA apenas para a potência de 3,45 kVA, porque mesmo que o fizesse para os restantes níveis de potência, no máximo, poupariam por mês um valor que não chega sequer a 5 euros. Mas se querem beneficiar do desconto baixem a potência para 3,45 kVA e, inevitavelmente, abdiquem de algum conforto térmico.
Aqui em casa, tal como na casa do ministro Matos Fernandes, a potência contratada é de 3,45 kVA e chega perfeitamente para 2 frigoríficos, 1 televisor, 2 computadores, 1 aquecedor e ainda acrescentar o ferro de engomar, ou o microondas ou o secador de cabelo, ou o jarro eléctrico. E nem estou a considerar a iluminação e um ou outro telemóvel que possa estar em carregamento. Não é assim tão mau como pintam. O que é realmente mau é o valor da factura no final do mês.
Claro que eu também gostava de ter aquecimento por toda a casa, acho que toda a gente deveria ter esse conforto, mas o quadro não aguenta e a minha carteira também não. Ainda assim, prefiro viver numa casa com aquecimento numa só divisão, do que ir viver quentinho num T1 partilhado com mais 7 pessoas, em Londres ou em Paris, longe da família, dos amigos, das minhas raízes e a comer enlatados por tempo indeterminado. Portanto, o paralelismo entre as declarações de Matos Fernandes e as do anterior Governo não existe e querer insinuá-lo é só estúpido.
Querem ser levados a sério? Sejam homenzinhos.