No momento em que está a ser equacionado o plano de reestruturação da TAP, já com milhares de despedimentos anunciados bem como a redução salarial de vários trabalhadores, fica-se agora a saber que alguns privilegiados verão os seus vencimentos aumentados. Ramiro Ferreira (CEO interino) dobrou o seu salário para o valor de 35 mil euros mensais, Alexandra Vieira Reis passará de 14 mil euros mensais para os 25 mil e, claro, o senhor presidente do conselho de administração, o “PSD” Miguel Frasquilho, plantado na TAP por um governo PS, passará dos actuais 12 mil euros mensais para 13,5 mil euros. Continua-se sem saber se Miguel Frasquilho já tem conta bancária em seu nome, ou se ainda recebe os seus honorários nas contas bancárias dos familiares a quem deve dinheiro.
Já agora, e porque me referi ao CEO interino, convém lembrar que no final de Setembro, o governo anunciou que havia contratado uma empresa estrangeira, especializada no recrutamento de gestores de topo. Imagino que essa empresa deve estar a cobrar uma pipa de massa e relembro ainda que o governo anunciou que a mesma tinha 45 dias para apresentar um “CEO dos bons”. Já se passou o dobro do tempo e a TAP continua com o CEO interino aos comandos, mas a partir de agora, a auferir o dobro da remuneração, porque o indivíduo não é parvo.
No início deste ano, ainda antes da pandemia chegar a Portugal – talvez por essa razão os nossos governantes pensem que já esquecemos – a TAP procedia à atribuição de prémios a uma minoria de trabalhadores, isto depois de a empresa ter apresentado prejuízos na ordem dos 100 milhões de euros. Por essa altura, Pedro Nuno Santos (ministro das Infra-estruturas e da Habitação) disse que “é uma falta de respeito para com a esmagadora maioria dos trabalhadores da TAP e para com os portugueses”. Acrescentou dizendo que “a atribuição dos prémios era inaceitável”.
O que tem o governo a dizer, agora, sobre mais uma aberração na TAP? Vai continuar a alegar que a gestão da empresa não lhe diz respeito? Mesmo com mais de 70% do capital da empresa? E o que tem a dizer o representante do Estado na TAP, o presidente do conselho de administração, Miguel Frasquilho? Vai dizer o mesmo que disse no início deste ano, aquando da imoral atribuição de prémios, altura em que alegou não saber de nada? Será que ele só soube que vai ser aumentado pelos jornais?
É escandaloso o que se está a passar na TAP, pelo menos desde a sua privatização em 2015, incluindo o próprio processo de privatização. E agora, em cima da tomada de decisão de um processo de reestruturação que vai custar milhares de milhões ao erário público, e do qual a maioria dos portugueses tem muitas dúvidas sobre se deve ou não avançar, somos confrontados com indecorosos aumentos salariais numa empresa à beira da falência e a despedir milhares de trabalhadores.
É mais do que exigido que o senhor Primeiro-ministro, António Costa, se digne sair do covil onde se costuma enfiar em momentos como este. Estará ele à espera que, uma vez mais, seja o ministro Pedro Nuno Santos a queimar as asas? Se calhar é isso que pretende, esturricá-lo aos poucochinhos.