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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

Lá se vão as batatas do Matt Damon

Batatas em Marte.jpg

Após o enorme – tão grande que nem me atrevo a detalhar - sucesso que tem sido a missão da sonda InSight que a NASA fez chegar ao planeta Marte em 2018 (já ninguém se lembra), a NASA voltou a fazer das suas e colocou outra sonda no planeta vermelho, a Perseverance.

A Perseverance ainda mal chegou a Marte e já se fartou de trabalhar, tendo enviado para cá imagens e sons daquele planeta. Segundo os cientistas da NASA está muito vento em Marte.

Fiquei preocupado e a pensar no que poderá ter acontecido à estufa de batatas do Matt Damon. Tanto trabalho que homem teve… Só espero que tenha feito um seguro contra intempéries.

O PRR parece um folheto de campanha do Governo

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O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um documento desenvolvido pelo Governo que supostamente define as linhas estratégicas e as reformas fundamentais a desenvolver, no sentido de assegurar a saída da crise provocada pela pandemia e robustecer o país, por forma a torná-lo mais resiliente.

O PRR encontra-se em consulta pública até ao próximo dia 1 de Março. Mas, será que faz sentido submeter este plano estratégico à consulta do público? Ou será que é só uma forma de o Governo já estar a preparar um plano de escusas para falhanços futuros, na execução deste plano? Se as pessoas desatarem a fazer sugestões, o Governo vai tê-las em consideração? E, afinal de contas, não compete ao Governo delinear a estratégia? Para se poder fazer uma apreciação exaustiva sobre a aplicação dos milhares de milhões de euros da “bazuca” é necessário estar na posse de um vastíssimo manancial de informação a que só o Governo tem acesso.

Mas aquilo que realmente me assusta é a forma e o conteúdo deste PRR que o Governo colocou em consulta pública. Este PRR parece mais um folheto de campanha do que outra coisa, pois está repleto de chavões que fazem parecer dizer muito, mas que na verdade consubstanciam muito pouco.

O PRR está pejado de expressões como:

“Transição digital”, “transição climática”, “resiliência”, “reduzir as vulnerabilidades sociais”, “aumentar potencial produtivo”, “reforçar coesão territorial”, “reforma estrutural do país”, “problemas estruturais”, “criar condições para a diversificação da economia”, “crescimento inteligente”, “enfrentar o envelhecimento da população”, “construir uma economia inclusiva”, “alteração dos hábitos de consumo”, etc.

Ou seja, trata-se de um documento que padece de clarividência. Aquilo que eu gostaria de ver neste documento era, rubrica a rubrica, a especificação de cada medida, cada investimento e respectiva quantificação do seu custo. Por exemplo, o documento revela um montante de 1.383 milhões de euros a alocar ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) – o que, para mim, constitui um valor muito aquém das reais necessidades – mas quase não revela onde e como vai ser feito esse investimento.

Todos conhecemos bem o flagelo das listas de espera no SNS, seja para a realização de consultas, de exames ou de cirurgias. Nestas últimas semanas tomei conhecimento de hospitais públicos que mantêm vários pacientes em regime de internamento, apenas porque estão a aguardar a realização de determinados exames, ou seja, pacientes que poderiam ter libertado as camas muito mais rapidamente, caso tivessem acesso mais rápido à realização dos exames necessários. Tenho também conhecimento de hospitais onde falta insulina. E são apenas dois exemplos das muitas dificuldades que o SNS enfrenta.

Portanto, era este tipo de situações que eu gostaria de ver no PRR. Como é possível querer tornar o país mais resiliente, quando os reais problemas do SNS não se encontram devidamente enquadrados no plano estratégico do Governo?

Era expectável que o PRR apresentasse medidas do tipo: Os hospitais A, B e C vão ser equipados com mais X, Y e Z meios complementares de diagnóstico e terapêutica, para fazer face às necessidades da população.

Ao invés de chavões expressivos e inócuos, eu gostaria de ver reflectidos neste PRR, os problemas reais que a maioria dos portugueses enfrenta todos os dias, sobretudo os que se prendem com os cuidados de saúde, mas não só. Vejamos um exemplo que tem a ver com a chamada “transição climática”. O Governo refere no PRR que vai atribuir cheques a 100 mil famílias em situação de pobreza energética. Primeiro, este número é bastante duvidoso, pois creio que existem muito mais de 100 mil famílias em situação de pobreza energética e, uma vez mais, a medida não está detalhada nem quantificada. Recordemos que o Governo já tem em vigor uma medida de apoio à eficiência energética em edifícios, operacionalizada pelo Fundo Ambiental. Esta medida, já em vigor, é de apenas 4,5 milhões de euros e, ainda assim, não se encontra esgotada, porque as pessoas não aderiram. E por que razão não aderiram? Porque não é vantajosa. O Governo anunciou a medida com toda a pompa e circunstância, tal como está a fazer agora com o PRR mas, na verdade, a medida não vai ao encontro das necessidades reais das pessoas, porque as pessoas que necessitam de realizar obras nas suas casas não dispõem de meios financeiros para o fazer. O Governo anunciou taxas de comparticipação de 70%, mas impõe limites de financiamento que ficam muito abaixo desses 70% anunciados.

Nada como dar um exemplo. Uma família que pretenda proceder a obras de isolamento térmico no telhado da sua habitação poderá ter que incorrer, em média, num custo de cerca de 5 mil euros. Ora, o Governo diz que comparticipa com 70%, mas limita a comparticipação ao máximo de 1.500 euros. Ou seja, a obra vai custar, no mínimo 3.500 euros, valor insuportável para a maioria das famílias nesta situação. Mais, o valor concedido pelo Governo, em muitos casos, não chegará para pagar o IVA, isto porque a maioria das empresas que fazem este tipo de obras apresenta um valor ao cliente sem IVA e outro com IVA, caso ele pretenda a factura. Visto que para aceder ao apoio é necessário apresentar a factura (obviamente), em muitos casos nem sequer compensa a diferença e o Governo está só a atribuir uma comparticipação, a que chama de “ajuda”, no mesmo valor ou aproximadamente ao valor que já recebeu em sede de IVA. Ou seja, a medida do Governo não é aliciante nem para fazer com que as pessoas exijam a factura, optando (aqueles que ainda vão podendo) por realizar a obra sem factura, porque lhes sai mais barato, mesmo sem o apoio do Estado.

O Governo prepara-se ainda para “gastar” cerca de 2.750 milhões de euros em Inovação, Qualificações e Competências (quase o dobro daquilo que vai investir no SNS). Estas medidazinhas encobertas pelos habituais chavões da “Inovação”, das “Qualificações” e das “Competências” cheiram tanto, mas mesmo tanto a “Tecnoformas”, “ÂngeloCorreiísses” e outras conezias, que até dá medo.

Enfim, este PRR não passa de um folheto de campanha do Governo que, na realidade, não aponta soluções para os reais problemas do país e que - escudado num curto período de consulta pública - só serve para dar cobertura às decisões que venham a ser tomadas pelo Governo, no exercício da aplicação destes fundos, como bem entender.

As vacinas e a União Europeia de sempre

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A União Europeia é um projecto de pendor essencialmente económico e político, em que os Estados-membros (ditos independentes) estão, cada vez mais, dependentes das políticas desenvolvidas na grande central de negócios sediada em Bruxelas.

A União Europeia sempre foi e, infelizmente, continua a ser um grupo de Estados subordinados ao poder capitalista. Apesar de constituir um enorme mercado - também ele a funcionar sob as leis puramente capitalistas - a UE é assustadoramente dependente desse bastião imperialista que se chama Estados Unidos da América (EUA).

Podíamos, mas não necessitamos de recuar mais do que até ao ano de 2008 para atentar na forma como a UE lidou com as consequências da crise financeira, tendo negligenciado a soberania dos seus Estados-membros, submetendo alguns deles (Portugal incluído) às sórdidas regras capitalistas criadas pelos EUA. Como é possível que uma organização tão vasta e tão importante se submeta às regras mercantilistas impostas por um Estado externo à União e pelas suas agências de notação financeira? É o equivalente a ir disputar um jogo de futebol, em que as regras são ditadas pelo adversário e o árbitro do jogo é um insaciável accionista da sociedade que controla o clube que vamos defrontar.

Agora, temos a trapalhada da negociata da compra de vacinas. Uma vez mais, a UE está a ser a velha UE (antiga CEE), sempre dependente e subordinada às leis de quem manda no mercado. É repugnante a forma como as entidades europeias não têm qualquer poder perante os gigantes da indústria farmacêutica. A UE realizou vários contractos com alguns dos gigantes farmacêuticos que desenvolveram vacinas contra a Covid-19, pagou adiantado (pelo menos uma considerável parte), sendo que já havia financiado com muitos milhões o desenvolvimento das mesmas, agora, esses laboratórios recusam-se a cumprir os prazos acordados e as instituições europeias - em especial a Comissão - não conseguem fazer valer a sua posição de grande comprador.

E porquê? Porque ninguém respeita a UE. Há muito tempo que a UE é vista como um mercado muito apetecível, porque compra muito e paga ainda melhor, mas que nunca consegue deixar de envergar a sua farda de cumpridor subordinado, sem qualquer direito a exigências. Há poucos dias até ouvimos um deputado europeu que, por acaso até é português, a instigar a senhora Presidente da Comissão Europeia a comprar já mais vacinas, mesmo que se tenha que pagar mais por isso. Realmente, como se já não estivéssemos numa posição deveras desconfortável, ainda há quem suplique por um pouco mais de sodomização. Parece que há quem aprecie.

No que respeita à escassez de vacinas, a UE deveria ter negociado a possibilidade de, num cenário como o actual, poder tornar as patentes públicas, por forma a poder assumir a produção das vacinas nos laboratórios europeus. A Comissão não foi capaz de negociar em defesa do interesse dos cidadãos europeus.

Pior que isso, os contractos firmados entre a Comissão Europeia e as farmacêuticas nem sequer foram tornados públicos, porque outra das grandes características da CE é a falta de transparência. E, depois de muita insistência por parte do Parlamento Europeu, a senhora dona Ursula lá disponibilizou o contrato com a AstraZeneca, mas tendo omitido as principais cláusulas, porque isso tem que ficar no segredo dos deuses. Deve ter sido uma exigência da big pharma, a que a Comissão Europeia assentiu com especial servilismo.

O chefe do Governo Português – António Costa – e actual Presidente do Conselho Europeu, no que a esta matéria diz respeito, não perdeu tempo em fazer aquilo em que é especialista, isto é, vir a público muito lampeiro para dizer que o plano de vacinação em Portugal está a correr muito bem, sendo que a escassez de vacinas não é da responsabilidade do governo que lidera. Bem, ou António Costa assume que a posição do Governo Português na UE é a de apenas fazer figura de corpo presente, ou então, não pode sacudir a água do capote porque, que se saiba, Portugal ainda é membro da União Europeia.

A verdade é que a posição do Governo Português no seio da União Europeia é a mesma que os líderes da União Europeia têm no panorama internacional, nomeadamente nas relações com os EUA e com os gigantes que controlam os mercados, ou seja, sempre de calças arriadas.

E depois de tanta incompetência, tanta falta de liderança, tanta subordinação, ainda temos que ouvir Ursula von der Leyen dizer que “não entende a razão pela qual Putin quer vender a vacina Sptunik V à União Europeia, quando ainda não vacinou toda a população russa”, isto, no mesmo momento em que anunciou a compra de mais 300 milhões de vacinas à farmacêutica norte-americana Moderna. Ora, juntando esses 300 milhões aos muitos milhões que também comprou à norte-americana Pfizer e outros tantos milhões que se prepara para comprar à também norte-americana Johnson & Johnson, devemos então assumir que nos EUA a população já está toda vacinada, isto seguindo a linha de raciocínio que a senhora dona Ursula produziu face à posição de Putin. Deve ser da laca.

Esta pandemia tem-nos mostrado o quão frágil e perversa é esta sociedade capitalista, onde aqueles que já possuíam meios mais do que suficientes para produzir as vacinas e disponibilizá-las à população a baixo custo, ou até mesmo gratuitamente, foram aqueles que só se disponibilizaram a produzi-las mediante avultadíssimos financiamentos públicos. Portanto, os Estados (as pessoas, todos nós) pagaram a investigação e desenvolvimento das vacinas e agora, para as obter, ainda têm que as pagar a um elevado custo e com prazos de entrega para lá do aceitável, porque há milhares de pessoas a morrer todos os dias. Sendo que toda esta atrocidade relacionada com a escassez de vacinas poderia ser rapidamente colmatada com a produção em massa nos imensos laboratórios mundiais, bastando para isso que os laboratórios que detêm as patentes o permitissem, ou que os Estados que os financiaram assim o tivessem exigido.

O problema é que isso impedira que alguns multimilionários valorizassem desmesuradamente as acções das suas empresas nos mercados viciados, algo que aconteceu mesmo antes de as vacinas estarem prontas e disponibilizadas à população. Para quem ainda tinha dúvida, esta pandemia veio clarificar que estamos a testemunhar o princípio do fim do sistema capitalista, pelo menos, tal como o conhecemos.

E um certificado de imbecilidade?

Muito se tem falado sobre a possibilidade de os Estados colocarem em prática um certificado de vacinação, por forma a facilitar a movimentação de pessoas, sobretudo nas deslocações internacionais.

No campo político, uma das primeiras pessoas que lançou a hipótese foi Ursula von der Leyen, a Presidente da Comissão Europeia. António Costa, como bom soldado disciplinado que é, embarcou logo nessa ideia, mostrando-se disponível para a abraçar com muito vigor.

O problema é que essa ideia é uma perigosa imbecilidade, por várias razões. Desde logo, porque a vacinação não é obrigatória, pelo que ninguém deve ser impedido de exercer o seu direito de circulação por falta de um certificado que ateste algo a que não está obrigado.

Depois, vem o facto de as actuais vacinas não oferecerem protecção eficaz contra as novas estirpes do vírus SARS-CoV-2, tal como alguns laboratórios já assumiram (Pfizer, por exemplo).

Outra questão tem a ver com o facto de todas as pessoas não poderem ser vacinadas no mesmo momento, por indisponibilidade de vacinas. E não estamos a falar de poucos dias ou semanas de diferença, estamos a falar de muitos meses. Portanto, não faz qualquer sentido exigir um certificado de vacinação, quando as pessoas (todas) não têm acesso à vacina. E nem sequer se percebe a pressa em implementar esta medida, quando a população que já se encontra vacinada e que será vacinada nos próximos meses é, muito provavelmente, aquela que menos viaja.

Há ainda outro pronto que se prende com o facto de uma pessoa vacinada continuar a poder constituir um vector de propagação e contágio da doença, pelo que os cuidados, por enquanto, têm que ser iguais para todos, vacinados ou não vacinados.

Se por um lado não faz qualquer sentido exigir um certificado de vacinação sem que a vacina esteja disponível para todos, por outro, também não fará muito sentido quando houver imunidade de grupo.

Enfim, as habituais imbecilidades de quem está no poder.

Missão a Marte

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Uma sonda da NASA chega esta noite à superfície do planeta Marte. Diz que vai recolher amostras de solo e rocha. Diz também que a sonda vai aterrar (ou será “amartar” ou “amartear”?) numa cratera, onde se pensa que tenha existido um lago.

A NASA garante que a recolha de amostras naquele local - onde supostamente, em tempos, houve a presença abundante de água – pode ajudar a explicar a evolução ocorrida naquele planeta, sobretudo no que respeita à existência de espécies.

Uau! Só espero que não descubram que fui eu que mandei canalizar a água que existia naquela cratera para uma plantação de canábis que eu tenho do outro lado de Marte, onde o solinho é mais quentinho.

A incompetência do Governo não desapareceu

A incompetência do Governo para gerir a pandemia não desapareceu, está apenas confinada, mas mortinha por desconfinar.

Assim que o número de novos casos diários confirmados com Covid-19 começou a baixar, aqueles que defendiam que as escolas eram locais seguros começaram logo a falar em reabrir as escolas. O próprio Primeiro-ministro nunca deixou de o afirmar (que as escolas são locais seguros). Como toda a gente se recordará, no próprio momento em que anunciou o encerramento das escolas, António Costa fez questão de afirmar (pela enésima vez) que as escolas são locais seguros. Nem se chega a perceber bem porque as fechou, se nunca mudou de opinião.

Seguiram-se inúmeras declarações daquele senhor que representa as associações de pais, sempre a dar entrevistas, mas enfiado e protegido no seu buraco, e sempre a defender a abertura das escolas. O Ministro da Educação também foi um dos que nunca deixou cair a ideia das “escolas seguras” e que a sua reabertura deveria acontecer “logo que possível”. Logo que possível? Claro, mas não apenas as escolas. Tudo deve reabrir logo que possível. E todos os outros locais não são menos seguros do que as escolas. A questão é que o “logo que possível” ainda está longe.

Há pessoas que acham que pelo facto de os números diários de contágio terem descido muito significativamente, que a situação já está “normalizada” e fora de perigo. Enganam-se. Os números que devemos ter em conta são aqueles que demonstram que a pressão nos hospitais continua elevadíssima. São esses números (internamentos e cuidados intensivos) que devem ser considerados. E esses continuam perigosamente elevados.

O Governo, pela voz do Ministro da Educação, já veio dizer que um rastreio efectuado nas escolas detectou apenas 25 casos de Covid-19, entre 13 mil funcionários. Tal como também todos se recordam, ainda antes do encerramento das escolas, o Governo havia iniciado a testagem a alguns alunos nas escolas e já informou que vai aumentar (e muito) o número de testes, assim que as escolas reabram. Portanto, o Governo não reconheceu o erro, não mudou de opinião e continua a insistir incompetentemente na realização de testes antigénio que, como sabemos, tendem a apresentar uma elevada percentagem de falsos negativos.

O Governo não abandonou – e pelos vistos nunca abandonará – a mentira de que as escolas são locais seguros. E já tratou de enviar os “batedores” que carregam a missiva.

Se fossem honestos e dignos de desempenhar os cargos que ocupam, tratavam de realizar testes PCR, massivamente, à população escolar e, então, veríamos a verdade dos números e se as escolas são locais mais seguros do que os demais lugares, como o Governo sustenta.

O Governo vai despender centenas de milhares de euros, senão mesmo milhões, em testes que não servem para nada, a não ser encher os bolsos a quem os vende. Incompetentes.

O apoio “extraordinário” do Governo aos trabalhadores

Para fazer face às dificuldades que milhares de trabalhadores (por conta de outrem e estagiários, independentes e informais, do serviço doméstico e membros de órgãos estatutários) enfrentam, por se encontrarem numa situação de desprotecção económica devido às medidas restritivas e ao confinamento, o Governo criou um apoio social tão confuso e tão burocrático que já deu para perceber que o mais provável é que a maioria nem sequer receba qualquer apoio.

No essencial, aquilo a que o governo chama de “apoio” apresenta os seguintes valores:

“O valor do apoio oscila entre um limite mínimo de 50 euros e 501,16 euros para a generalidade dos universos. No caso dos gerentes de micro e pequenas empresas, empresários em nome individual, o limite máximo é de 1.995 euros”.

Portanto, este Governo – apelidado de socialista – vai atribuir um apoio entre 50 euros e 501,6 euros à esmagadora maioria dos trabalhadores que, numa situação normal, já são os mais desfavorecidos e precários. Note-se que, dentro deste intervalo de valores, a maioria receberá um valor mais próximo dos 50 euros do que dos 501,6 euros. Já aos gerentes de micro e pequenas empresas e aos empresários em nome individual que, regra geral, apresentam rendimentos mensais muito acima dos demais trabalhadores, o Governo reserva-lhes um valor que pode ir até aos 1.995 euros.

Ou seja, o Governo entende que aqueles que auferem rendimentos mensais baixos e que desenvolvem as suas actividades em situações laborais precárias devem ter uma ajuda muito, mesmo muito inferior à ajuda que pretende conceder àqueles que habitualmente já recebiam valores mensais bem acima da média da maioria dos trabalhadores portugueses.

Este governo entende que o Estado não deve funcionar como elemento equilibrador e atenuador de desigualdades, mesmo numa situação de emergência. Não. Para este governo, o Estado deve apoiar com mais aqueles que já costumam ter mais.

Um governo que actua desta forma, profunda e repugnantemente discriminatória, num momento de especial emergência social, imaginem só como procederá em relação aos milhares de milhões que hão-de vir na bazuca europeia.

Nem a AstraZeneca vende tão bem o seu “peixe”

O Governo Britânico publicou um documento sobre a vacina da AstraZeneca, no qual constava o seguinte: “Efficacy and safety data are currently limited in individuals ≥65 years of age”, o que significa que os dados sobre a eficácia e a segurança da vacina eram (e continuam a ser) limitados, na população com mais 65 anos.

A própria AstraZeneca informou que apenas 5,9% dos participantes nas fases de testes tinham mais de 65 anos, pelo que não existe uma base suficientemente sólida para atestar a eficácia e a segurança da vacina nesta população. Entretanto, a AstraZeneca acrescentou que “o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra as novas variantes pode demorar até nove meses”.

Contudo, eis que aparece a OMS – sempre muito expedita e firme no seu conhecimento científico – a garantir que a vacina da AstraZeneca não só é eficaz em pessoas com mais de 65 anos, como também no combate às novas estirpes do novo coronavírus.

Considerando as recentes notícias que dão conta do enorme aumento dos lucros da farmacêutica AstraZeneca, provavelmente, os especialistas da OMS estarão apenas a candidatar-se a um lugar ao sol. Os profissionais de vendas da farmacêutica anglo-sueca nunca sentiram os seus lugares tão ameaçados.

A ciência da “não evidência”

A Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 diz que a vacina da AstraZeneca – aquela que não foi testada em maiores de 65 anos – é segura e pode ser administrada a pessoas com mais de 65 anos. Os especialistas que compõem esta comissão técnica alegam que “não há nenhuma evidência” de que a vacina não seja segura em pessoas com mais de 65 anos.

E eu que julgava que a ciência funcionava ao contrário, ou seja, de que é necessário “haver evidência” para se atestar algo. Os senhores da Comissão Técnica de Vacinação, apesar da idade, ainda não conseguiram perceber a diferença entre “não haver evidência de que algo pode ser nefasto” e “haver a evidência de que é seguro”. A verdadeira ciência faz-se – ou deveria fazer-se – apenas nesta segunda hipótese.

Se a ciência se fizesse pela “não evidência”, então, bastaria que nunca se efectuasse nenhum tipo de testes e, assim, nunca haveria evidência de que algo poderia correr mal.

Pedro Siza Vieira diz que não disse aquilo que realmente disse

Numa entrevista ao The New York Times, o ministro da economia, Pedro Siza Vieira disse que “as evidências da mobilidade no país mostraram” que os portugueses “não respeitaram as restrições” no período natalício.

Confrontado com as suas afirmações, Siza Vieira explica que “a última coisa que faria era culpar os portugueses” pelo que aconteceu no período do Natal.

Portanto, Siza Vieira diz que não disse o que realmente disse. Ou melhor, ele disse, mas não era bem aquilo que ele pretendia dizer, só que disse, assim, como quem não queria dizer, mas dizendo-o com todas as letras.

Ora, como a entrevista foi dada a um jornal norte-americano, através de um correspondente espanhol, a coisa vai ficar pelo “diz que disse”.

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