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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Anda há anos a prestar vassalagem a Washington. Agora quer fazer de conta que acordou e que já não suporta mais ser sodomizado. Imbecil.

O potencial perigo das pessoas já vacinadas

Parece-me que o grupo de pessoas que já foram vacinadas pode constituir um perigo para a restante população, que actualmente é a esmagadora maioria. Acho que as autoridades estão a dar pouco ênfase à comunicação deste importante aspecto, que é o de avisar as pessoas que já se encontram vacinadas que nada de substancial mudou e que os comportamentos preventivos devem manter-se.

É óbvio que a vacina confere protecção, mas essa protecção esgota-se na pessoa que a “tomou”. Ou seja, a única mudança na situação pandémica é a de que todas as pessoas já vacinadas (com as duas doses) encontram-se protegidas contra o desenvolvimento de doença grave. É apenas isto. A vacina não protege quem está ao lado e não se encontra vacinado. Repito: a vacina confere protecção apenas a quem a toma, contra o desenvolvimento de doença grave, mas não impede que essa pessoa possa ser portadora do vírus e potencialmente contagiosa, mesmo que seja em menor grau. Como ainda estamos muito longe da imunidade de grupo, nenhum dos comportamentos de protecção e prevenção do contágio devem ser postos de lado. Nem mesmo pelas pessoas já vacinadas.

Tenho ouvido muitas pessoas a dizer que agora que já se encontram vacinadas estão mais à vontade e que já não necessitam de ter tantas precauções. Eu até compreendo que as pessoas mais idosas possam interpretar erradamente o que significa estar vacinado contra a Covid-19, neste momento. Daí resulta que as autoridades políticas e da saúde tenham que encetar uma campanha de comunicação “agressiva”, no sentido de fazer entender que, para já, nada mudou, os perigos mantêm-se. Todos devem manter os mesmos comportamentos que vêm sendo martelados: uso da máscara, distanciamento social e lavagem e/ou desinfecção frequente das mãos.

Neste fim-de-semana iniciou-se a vacinação de professores e não docentes do primeiro ciclo. Fiquei perplexo quando ouvi inúmeras declarações de vários professores – que eu julgava possuírem o mínimo de entendimento nesta matéria – a dizer o seguinte: “obviamente que agora estaremos mais tranquilos e seguros e também as crianças e os seus pais podem sentir-se mais seguros” e “finalmente, vamos poder retomar a normalidade no ensino, onde é necessária a proximidade e o contacto com os alunos”.

Não, não e não. Os senhores professores (e também os auxiliares de educação) não poderão, para já, voltar à normalidade, à proximidade e ao contacto físico com os alunos. Eu achava que não seria necessário estar a dizer isto a professores, mas estava enganado. Não só é necessário como é algo premente. E apesar de ter referido acima a razão pela qual não podem retomar nenhuma normalidade, vou tentar dar um exemplo que me parece bastante esclarecedor.

Se o facto de professores e funcionários de um dado estabelecimento de ensino estarem vacinados constituísse um factor de mudança de paradigma, no sentido em que permitisse o regresso à normalidade com maior segurança entre todos, então poderíamos daí deduzir que o país inteiro poderia voltar à normalidade, já que a percentagem de pessoas vacinadas em todo o país é superior à percentagem de pessoas vacinadas dentro de qualquer escola.

Obviamente que estamos muito longe de podermos baixar a guarda. Os comportamentos de protecção e prevenção são para manter à risca, por todos, não apenas pelos que ainda não se encontram vacinados.

Podia chamar-se Tory Carreira

Parece que anda por aí uma estilista norte-americana - chamada Tory Burch - a copiar tudo o que é marca portuguesa para servir de “inspiração” às suas criações. Sinceramente, nunca tinha ouvido falar desta personagem e também já percebi que não estava a perder nada.

A dona Tory, ao que consta, muito bem assessorada por uma assistente portuguesa, não se rogou a apropriar-se das camisolas poveiras e da louça Bordallo Pinheiro. Às primeiras atribui-lhes inspiração mexicana, já em relação à louça desconheço qual é sua alegada inspiração. Aquilo que eu agora sei é que a dona Tory é pau para toda a colher, já que é especialista em criar objectos de arte de todos os ramos de actividade. E, ao que consta, tem um vasto leque de clientes muito requintado, exigente e culto. Ah! E com muito poder de compra.

Tendo em consideração o modus operandi desta artista, eu diria que o nome Tory Carreira lhe assentaria bem melhor.

A negociata dos testes antigénio

Hoje não me vou focar no facto de os testes antigénio serem uma falácia na prevenção e combate à Covid-19, pois como aqui já referi várias vezes, este tipo de testes são de sensibilidade baixa e costumam apresentar um elevado número de falsos negativos. Hoje venho apenas colocar uma dúvida sobre o negócio em volta deste tipo de testes.

A União Europeia (UE) informou que adquiriu cerca de 20 milhões de testes antigénio por cerca de 100 milhões de euros, portanto, cerca de 5 euros por cada teste. Portugal deverá receber cerca de 1 milhão de testes.

Não obstante, há não muito tempo, António Costa havia informado que o Governo iria investir 20 milhões de euros neste tipo de testes, só para as escolas. Contudo, não referiu quantos testes iriam ser adquiridos com esse montante.

Entretanto, a Câmara Municipal de Lisboa avançou que iria investir 15 milhões de euros em testes rápidos, isto só para o concelho de Lisboa, claro.

Ao consultar o portal Base, após uma rápida pesquisa, verifica-se a existência de inúmeros contractos públicos tendo em vista a aquisição deste tipo de testes. Note-se que este tipo de contractos são por ajuste directo. Note-se ainda que algumas entidades públicas adquiriram testes antigénio ao preço unitário de 37 euros, outras a 17 euros, enfim, há para todos os gostos, sendo que muitos desses contractos nem sequer apresentam a quantidade adquirida.

Ora, não seria muito mais eficaz e sobretudo mais barato para o Estado se a compra destes testes fosse centralizada? Não há lógica de mercado nos negócios onde quem paga é o Zé Povinho?

Parece que não. Aliás, basta atentar no grande negócio que fez a UE, que adquiriu 20 milhões de testes ao preço unitário de 5 euros, falta saber se com ou sem IVA.

Eu tenho uma novidade para os senhores governantes. Eu consigo comprar este mesmo tipo de testes numa farmácia, ao preço unitário de 4,99 euros (IVA incluído). Ou seja, a UE não consegue ter poder negocial junto dos fabricantes, já que adquire milhões de testes ao mesmo preço que eu os adquiro no fim da cadeia de fornecimento, isto é, na farmácia, já depois de o fabricante, o distribuidor, a respectiva farmácia e o próprio Estado (em sede de IVA) terem incluído a sua margem.

O erário público sempre a alimentar excelentes negócios.

EDP e a arte criativa de bem fugir aos impostos

A empresa EDP esquivou-se de pagar impostos no valor de mais de 100 milhões de euros, numa operação de venda de seis barragens que rendeu à empresa mais de dois mil milhões de euros. Só para que se tenha a noção, o Estado “ofereceu” a EDP à China Three Gorges, em 2012, a troco de 2,7 mil milhões de euros. Ou seja, a China Three Gorges quase que ensaca o valor que pagou pela empresa só nesta venda. Só isto serviria para perceber o bom negócio que o governo de Passos Coelho fez ao “oferecer” a EDP ao Estado Chinês.

Contudo, convém ainda recordar que ainda antes de Passos Coelho oferecer a empresa à chinesa China Three Gorges, o Estado realizou vários contractos de compra de energia, que garantiram e garantem enormes lucros à EDP, por várias décadas. Portanto, o Estado não sabe negociar com “privados”, mas sabe - como ninguém - assegurar-lhes voluptuosas rendas ad eternum.

Isto leva qualquer pessoa a questionar-se por que razão o Estado insiste em fazer tão maus negócios para o erário público. Talvez os oito ex-ministros e muitos outros anteriores altos quadros do Estado que foram parar ao board administration da EDP saibam responder a essa pergunta.

A questão da fuga aos impostos por parte da EDP privada não é nova. Já todos sabíamos, ou deveríamos saber, que a China Three Gorges não tem por hábito pagar impostos sobre os dividendos que obtém da EDP.

Depois de privatizada, a EDP é uma recordista em lucros. Os liberais crónicos dirão que as empresas privadas são mais bem geridas do que as públicas. Sim, eles são capazes de garantir isso, mesmo quando as pessoas que gerem a empresa EDP privada são as mesmas que ocuparam lugares de governação enquanto a empresa era pública. Além disso, verifica-se que a EDP tem apresentado avultadíssimos lucros, sobretudo à custa da venda de património. Primeiro foi a venda da Naturgas, agora são seis barragens e, como sempre, a extorsão permanente que a empresa perpetra junto dos seus clientes, que são dos que mais pagam pela electricidade em toda a Europa.

Convém também não esquecer que António Mexia, o anterior CEO da empresa, que é arguido no processo das rendas, por suspeita de corrupção activa onde estão envolvidos antigos governantes do PS e do PSD, vai receber 800 mil euros por ano, nos próximos três anos.

Entretanto, sabe-se que o actual ministro do ambiente conhecia os contornos do negócio destas seis barragens desde Setembro do ano passado e nada fez. Matos Fernandes vem agora dizer que não competia a ele ou ao governo intervir no negócio de uma empresa privada. Sim, realmente, ninguém pode contar que um qualquer governante ouse sequer intrometer-se num negócio manhoso que visa lesar o Estado, por via da fuga ao fisco. O próprio António Costa classificou este negócio como “criativo” e ainda disse que a sua condição de Primeiro-ministro de Portugal não lhe permite interferir nestas negociatas.

Tal como concordei anteriormente com o ministro Matos Fernandes, também concordo com António Costa. Ninguém estaria à espera que um Primeiro-ministro se mostrasse minimamente incomodado ou empenhado em impedir um negócio altamente lesivo para os contribuintes. A António Costa pode imputar-se muitas coisas, agora, exigir-lhe que se sinta lesado em nome do Estado e que faça algo em consonância, isso já me parece pedir-lhe algo para o qual ele não está preparado.

Não sei se também se lembram que este governo substituiu o antigo secretário de estado da energia, Jorge Seguro Sanches por João Galamba, quando o primeiro parecia estar a incomodar muito os senhores da EDP, por estar a ser demasiado exigente. A EDP não gostou da postura e queixou-se a António Costa, que muito prontamente tratou de o substituir, para não importunar mais o Estado Chinês, que manda na EDP.

Como referi, o governo foi alertado - ainda antes de o negócio se fechar - para as eventuais irregularidades que poderiam advir deste negócio. Matos Fernandes e o governo fecharam os olhos e, agora, ainda insinuam que a EDP não tem que pagar impostos relativamente a este negócio e se, por acaso, havia lugar ao pagamento de impostos, cabe à Autoridade Tributária apurar, dizem eles. Pois é. Todos sabemos que uma investigação da AT só vai fazer com que o caso, na melhor das hipóteses chegue a tribunal, onde deverá perecer muito lentamente.

Ainda assim, um chefe de governo tem que, no mínimo, mostrar-se incomodado com esta situação. Algo que manifestamente não aconteceu.

Este negócio da venda das barragens foi um dos maiores negócios feitos em Portugal nos últimos anos. Faz algum sentido ser o próprio Estado (o lesado), pela voz do governo, vir dizer que tudo foi feito dentro da lei? E ainda termos que assistir ao representante máximo do governo classificar o negócio como “criativo”? Se a lei permite estas trapaças, pois que se altere a lei muito rapidamente.

Se calhar, António Costa ainda vai atribuir um prémio à EDP pela criatividade demonstrada.

Das vacas voadoras aos milhões voadores

Ontem, enquanto inaugurava um Centro de Saúde, António Costa disse que no decorrer deste ano, o governo vai investir 12 mil e 100 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Sim, leu bem, Costa disse 12 mil e 100 milhões de euros.

O Primeiro-ministro até fez o paralelismo com o montante de 14 mil milhões de euros da chamada bazuca europeia, só para que se tivesse a verdadeira noção do enorme investimento que o governo diz que vai ser feito no SNS.

Nos últimos tempos, o governo não tem feito outra coisa senão anunciar milhares de milhões para aqui e para ali. Bem, para aqui não é de certeza, mas a verdade é que, segundo o governo, voam milhões para todos os lados. Das vacas voadoras aos milhões voadores.

Eu ainda me encontro estonteado com os 12 mil e 100 milhões de euros que António Costa anunciou para o SNS. E ainda não percebi muito bem como é que ninguém questionou este valor. Eu acho que as pessoas perceberam mal, ou então foi o próprio Primeiro-ministro que não se explicou muito bem. Mas eu sei muito bem o que ouvi, Costa anunciou – com toda a pompa e circunstância – que, só este ano, serão investidos – vou repetir – 12 mil e 100 milhões de euros no SNS.

A SIC Notícias ainda ficou mais aturdida que eu e, talvez por também considerarem que são demasiados milhões, optaram por corrigir o Primeiro-ministro baixando a fasquia.

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Eu suponho que a estes milhares de milhões que António Costa anunciou para o SNS vai acontecer o mesmo que aos 7 mil milhões de euros que o governo diz que atribuiu em apoios às empresas e aos trabalhadores, isto é, vão andar por aí a voar, como as vacas.

Governo erra e depois pune os cidadãos

Já vem sendo um hábito neste governo decidir punir ou atribuir culpas aos cidadãos, depois de se espalharem por completo na tomada de decisões.

Em apenas cinco dias, sem que nada se alterasse, o Governo atestou que a vacina da AstraZeneca era absolutamente segura, para depois suspender a sua administração e voltar a atestar a sua fiabilidade. Podem escudar-se nas desculpas esfarrapadas que muito bem entenderem, averdade é que a suspensão da administração da vacina da AstraZeneca em Portugal cabe exclusivamente às autoridades portuguesas, ao Governo.

Independentemente de nada ter ficado provado, ou seja, de não haver provas de correlação entre os casos de tromboembolias e a vacina, nem o seu contrário, a realidade é que nada se alterou durante o período de suspensão da vacina, isto é, não surgiu nenhuma informação que pudesse alterar o que quer que fosse em relação à continuidade da administração desta vacina. Além disso, o Governo e a Agência Europeia do Medicamento sempre garantiram que, independentemente do que se viesse a apurar – não sei o que raio imaginaram que pudesse ser apurado em três dias – a vacina da AstraZeneca não iria ser retirada do Plano de Vacinação contra a Covid-19.

Ora, neste contexto, a suspensão da vacina não fez qualquer sentido e, agora, muito menos sentido faz castigar os cidadãos pelos receios que estes possam ter em relação a esta vacina. Se mesmo antes de se terem tornado públicos os casos de tromboembolias, a vacina da AstraZeneca já era vista com algum cepticismo, pelo facto de a própria AstraZeneca desaconselhar a sua aplicação a pessoas com mais de 65 anos, agora, com o reporte destes casos, com esta atitude estapafúrdia das autoridades da saúde e, sobretudo, a decisão vacilante do Governo, não é de estranhar que algumas pessoas sintam alguma repulsa em relação a esta vacina.

Faz algum sentido enviá-las para o fim da fila, caso recusem receber esta vacina? Claro que não. O que deve ser feito nos casos de recusa – que é um direito que assiste a cada um de nós – é ser colocado em espera, até que outra vacina esteja disponível.

Quem originou este imbróglio não foram as pessoas e quem acentuou o clima de desconfiança foi o próprio Governo, com a sua habitual trajectória ziguezagueante. Agora, como antes, querem castigar as pessoas pelos seus (do Governo) próprios erros. Querem coagir as pessoas a devolver o capital de confiança a uma vacina que eles próprios descredibilizaram.

Quantas tromboses ocorreram nas outras vacinas?

Esta é a pergunta que ainda ninguém fez e para a qual ainda não encontrei resposta. Desde segunda-feira à noite que muitos especialistas se desmultiplicaram em inúmeras entrevistas, nos mais diversos órgãos de comunicação social. Todos empenhados na entrega da mesma missiva, recorrendo aos mesmos argumentos e salientando a mesma justificação para atestar a segurança da vacina da AstraZeneca. E nenhum jornalista foi capaz de lhes fazer a pergunta que se impõe.

A propósito das dúvidas sobre a segurança da vacina da AstraZeneca, cuja administração se encontra interrompida em vários países, foram mesmo muitos os especialistas na matéria que se apressaram a garantir que não há razões para alarme, usando como principal argumento o facto de o número de tromboembolias verificadas ser inferior ao número de tromboembolias que habitualmente se verifica em pessoas não vacinadas, tomando por base o mesmo período de tempo. E, por essa razão, atestam que não existe nexo de causalidade.

Eu não tenho acesso a esses números, pelo que dou como verdadeiro aquilo que disseram os especialistas. Contudo, há uma outra variável que importa – e muito – juntar à equação, que é a de saber quantas pessoas sofreram tromboses depois de “tomar” qualquer outra vacina, que não a da AstraZeneca.

Seguindo o raciocínio dos especialistas é de esperar que também tenham ocorridos casos semelhantes nas pessoas a quem foi administrada qualquer outra vacina, na mesma proporção. Caso contrário, o principal argumento usado pelos especialistas fica coxo. Portanto, ocorreram ou não casos de tromboses após a administração das outras vacinas?

Se não ocorreram é legítimo considerar-se que, provavelmente, existe correlação entre a aplicação da vacina da AstraZeneca e as tromboses observadas subsequentemente. Por outro lado, se ocorreram casos semelhantes também após a aplicação das outras vacinas, então também essas teriam que estar suspensas. Ou então, nenhuma delas (AstraZeneca incluída) deveria estar suspensa.

Não creio que alguém esteja interessado em fazer perseguição à AstraZeneca.

Mais um lamentável episódio de leviandade

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Até ontem, as autoridades portuguesas da saúde garantiam muito solidamente que não havia nenhuma razão para suspender a administração da vacina da AstraZeneca, mesmo depois de vários países o terem feito, por haver suspeitas de que pode causar coágulos e diminuição das plaquetas sanguíneas, algo que se verificou em várias pessoas a quem foi aplicada esta vacina.

De um momento para o outro, sem que houvesse qualquer novidade sobre o assunto, a DGS e o Infarmed mudaram radicalmente de posição e decidiram fazer uma pausa na vacinação com esta vacina, alegando o princípio da precaução. Notem bem! Precaução. Não é precipitação. Isso foi o que outros países tiveram, tais como a Dinamarca, a Noruega ou a Islândia. Uns piegas, como dizia o outro.

A verdade é que, quer o Infarmed quer a DGS, não têm qualquer competência nesta matéria (e não só). Não estão à altura de garantir o que quer que seja e só tomaram esta decisão porque seria muito difícil manter a posição inicialmente assumida, principalmente depois de países como Alemanha, França, Itália e Espanha também o terem feito. O problema reside no facto de aquilo a que se chama “autoridade do medicamento” e aquilo a que se chama Direcção-Geral da Saúde defenderem acerrimamente uma coisa de manhã e mudar radicalmente de posição à tardinha, sem que houvesse alteração dos factos.

Falando em factos, foram detectados dois casos em Portugal, que estas duas autoridades garantem nada ter a ver com os casos ocorridos noutros países. Bem, com o capital de credibilidade que têm amealhado, nós só podemos acreditar que é verdade.

Estas duas instituições, pela boca de Graça Freitas e Rui Santos Ivo - que as representam - dizem que não há razão para alarme, uma vez que estas reacções extremamente graves são também extremamente raras. Bem, eu fiquei logo descansado, porque se é extremamente raro, não há-de acontecer a mim certamente, há-de acontecer a outro qualquer.

Infarmed e DGS também garantem que não há um nexo de causalidade entre a vacina da AstraZeneca e as reacções graves reportadas. Também a OMS afirma que não há nenhum estudo que confirme a correlação entre uma coisa e outra. Portanto, como referi há já algum tempo, agora a ciência faz-se pela falta de evidências. Portanto, o mais importante não é haver estudos fidedignos que garantam que não há nenhuma relação entre a vacina e as reacções verificadas, o importante é que não haja nenhum estudo que prove que há relação. Bonito. Entramos na era da ciência da não evidência.

Alegam ainda que a taxa de reacções adversas verificadas na população que “tomou” esta vacina não é superior à taxa verificada habitualmente no resto da população. Hum… Será verdade? Então, podemos assumir que as pessoas que “tomaram” as outras vacinas também apresentaram as mesmas reacções, na mesma proporção? Pois…

Eh pá! Tantos fãs de andebol (e da RTP2)

Andebol, modalidade desportiva praticada há muitas décadas em Portugal. Eu sou fã desde pequenino. Ainda me lembro daquele jogo fantástico que a selecção nacional protagonizou há muitos anos, contra aquela outra selecção daquele país. Eh pá… foi fantástico e inesquecível.

O andebol é mesmo uma modalidade desportiva muito espectacular e de grande qualidade. É uma espécie de RTP2 no panorama da televisão nacional. O que eu não fazia ideia é que havia tantos fãs de andebol em Portugal.

Hoje, não há bloco noticiário (de qualquer canal de televisão) nem nenhum jornal que não apresente a notícia da qualificação da selecção nacional de andebol para os Jogos Olímpicos de Tóquio com elevadíssimo destaque. Hoje somos todos #selecçãonacionaldeandebol.

Claro que isto me incomoda. Logo eu que sou fã de andebol desde sempre e nunca conheci ninguém que apreciasse a modalidade. Eu sim, tenho verdadeiras razões para celebrar a vitória de ontem sobre a selecção francesa. Ainda por cima, uma vitória sobre a França, com quem nós sempre tivemos contas a ajustar. Ah! Peço desculpa. Essas contas são do futebol. Já me estava a confundir…

Agora a sério, o jogo de ontem foi mesmo incrível. Pá… aquele jogador, estão a ver? Aquele que joga do lado esquerdo… o coiso… que jogaço que ele fez. E o outro coisinho que estava sempre lá na frente a metê-las? Pfff… então nem se fala. Já a defender, aquela dupla, daqueles dois, aqueles dois altos que tinham um número na camisola, aqueles pronto… estão a ver não estão? Realmente, uma equipa de sonho, orientada por um treinador/seleccionador que dispensa apresentações.

Ah! Falta apenas falar no Quintana. Esse, por infelicidade, todos sabemos de quem se trata, não é verdade?

O Governo trata-nos como carneirinhos

Invariavelmente sou obrigado a vir aqui, uma vez mais, criticar o Governo. O que fazer perante tanta impreparação e tanta incompetência? Calar-me? Nunca foi opção para mim.

Os Governos, através das mais diversas instituições do Estado têm perante os cidadãos aquele hábito rançoso, herdado com muito orgulho dos tempos da velha senhora, que é o de os tratar como se fossem carneirinhos. Seja nas instituições do SNS, seja nas Finanças, na Segurança Social, ou outras, a postura é sempre a mesma: “tem que ir para a fila”, “tem que tirar a senha”, “tem que preencher o impresso X”, “agora tem que juntar o anexo A”, “falta a fotocópia Y”, “assine aí em baixo na cruzinha”, “sente-se ali e aguarde”, “se ainda não foi atendido(a) é porque não chegou a sua vez”, enfim, sempre aquela postura autoritária, mas sempre descoordenada e reveladora da ausência de planeamento e, pior que tudo, completamente desprovida de sentido de serviço público. A ideia com que se fica é que o Estado Português trata os seus cidadãos e contribuintes como um fardo, um bando de chatos a quem só interessa despachar muito rapidamente.

Uma das situações mais recentes tem a ver com o processo de vacinação contra a Covid-19. Vejamos, as autoridades da saúde (que dependem do Governo) estão a convocar as pessoas para a vacinação através de mensagens escritas (SMS). Ora, parece-me extremamente desleixado abordar os cidadãos desta forma, num assunto tão importante. Até parece que o Estado está a marcar um encontro para um cafezinho com os cidadãos. E, se pensarmos que a esmagadora maioria da população que foi incluída na primeira fase da vacinação são pessoas idosas, já se está a ver que esta forma de comunicação não faz qualquer sentido. É geradora de confusões e, portanto, ineficaz.

O contacto deve ser feito por chamada telefónica (nalguns casos, presencialmente), onde quem aborda o cidadão deve estar preparado para esclarecer as dúvidas que estes possam apresentar, desde logo a começar pela vacina que lhe vai ser administrada. O SNS tem o dever de informar o cidadão de qual a vacina que está disponível para lhe ser aplicada porque, se por um lado as pessoas não podem escolher a vacina, por outro lado têm todo o direito de recusar determinada vacina.

Veja-se o que está a acontecer com a vacina da AstraZeneca, que tem levantado muitas dúvidas e que até já se encontra suspensa em muitos países. Desde o início que a própria AstraZeneca desaconselhou a aplicação da sua vacina a maiores de 65 anos, não obstante, os iluminados da DGS e Infarmed garantem que não há qualquer problema em fazê-lo. Independentemente disso, as pessoas (que não são carneirinhos) – principalmente os maiores de 65 anos – têm todo o direito de recusar que lhes seja administrada esta vacina, por exemplo. Para isso, é necessário que o SNS planeie atempada e devidamente o processo de vacinação, que informe os cidadãos de qual a vacina que lhes vai ser administrada e só depois confirmar. Senão, corre-se o risco de as pessoas só tomarem conhecimento da vacina que lhes vai ser administrada no momento exacto da sua aplicação. Continuam a poder exercer o seu direito de recusa mas, o que fazer às sobras que resultarão dessa situação, perfeitamente evitável?

Portanto, criaram uma task force só para garantir que o processo de vacinação corresse sem falhas e até já demitiram o anterior responsável da mesma, devido às sobras e administrações indevidas. Ficou lá um vice-almirante a comandar as tropas, que por acaso até já lá estava desde o início, mas a verdade é que a desordem mantém-se. As pessoas continuam a ser convocadas por SMS, pouquíssimos dias antes da data da vacinação e na qual não consta o nome da vacina que vai ser administrada.

Pior que isso, a ordem de prioridade estabelecida não está a ser respeitada. Conheço casos de pessoas (não prioritárias) que já estão a ser convocadas e vacinadas, sem que centenas de milhares de pessoas consideradas prioritárias tenham recebido a vacina.

Vejamos, mais de metade da população com mais de 80 anos ainda não foi chamada para ser vacinada, o mesmo acontece com muitos profissionais de saúde. E agora – mesmo eu não concordando com isso – consideraram que professores e pessoal não docente devem entrar na Fase 1 do Plano de Vacinação e, como se sabe, a vacinação neste grupo ainda nem sequer se iniciou.

Como é possível que pessoas listadas na Fase 2 da vacinação já estejam a ser vacinadas, quando centenas de milhares de pessoas da Fase 1 ainda estejam por vacinar?

Quando se apresentam perante as câmaras das televisões, todos emproados a dizer que o Plano de Vacinação está a decorrer muito bem, quase na perfeição, estão só a fazer o habitual: a mentir despudoradamente para salvar a renomada e aparente figura de gente que sabe o que está a fazer.

Por muito boa vontade que se tenha, não é possível confiar em gente desta estirpe.

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