O potencial perigo das pessoas já vacinadas
Parece-me que o grupo de pessoas que já foram vacinadas pode constituir um perigo para a restante população, que actualmente é a esmagadora maioria. Acho que as autoridades estão a dar pouco ênfase à comunicação deste importante aspecto, que é o de avisar as pessoas que já se encontram vacinadas que nada de substancial mudou e que os comportamentos preventivos devem manter-se.
É óbvio que a vacina confere protecção, mas essa protecção esgota-se na pessoa que a “tomou”. Ou seja, a única mudança na situação pandémica é a de que todas as pessoas já vacinadas (com as duas doses) encontram-se protegidas contra o desenvolvimento de doença grave. É apenas isto. A vacina não protege quem está ao lado e não se encontra vacinado. Repito: a vacina confere protecção apenas a quem a toma, contra o desenvolvimento de doença grave, mas não impede que essa pessoa possa ser portadora do vírus e potencialmente contagiosa, mesmo que seja em menor grau. Como ainda estamos muito longe da imunidade de grupo, nenhum dos comportamentos de protecção e prevenção do contágio devem ser postos de lado. Nem mesmo pelas pessoas já vacinadas.
Tenho ouvido muitas pessoas a dizer que agora que já se encontram vacinadas estão mais à vontade e que já não necessitam de ter tantas precauções. Eu até compreendo que as pessoas mais idosas possam interpretar erradamente o que significa estar vacinado contra a Covid-19, neste momento. Daí resulta que as autoridades políticas e da saúde tenham que encetar uma campanha de comunicação “agressiva”, no sentido de fazer entender que, para já, nada mudou, os perigos mantêm-se. Todos devem manter os mesmos comportamentos que vêm sendo martelados: uso da máscara, distanciamento social e lavagem e/ou desinfecção frequente das mãos.
Neste fim-de-semana iniciou-se a vacinação de professores e não docentes do primeiro ciclo. Fiquei perplexo quando ouvi inúmeras declarações de vários professores – que eu julgava possuírem o mínimo de entendimento nesta matéria – a dizer o seguinte: “obviamente que agora estaremos mais tranquilos e seguros e também as crianças e os seus pais podem sentir-se mais seguros” e “finalmente, vamos poder retomar a normalidade no ensino, onde é necessária a proximidade e o contacto com os alunos”.
Não, não e não. Os senhores professores (e também os auxiliares de educação) não poderão, para já, voltar à normalidade, à proximidade e ao contacto físico com os alunos. Eu achava que não seria necessário estar a dizer isto a professores, mas estava enganado. Não só é necessário como é algo premente. E apesar de ter referido acima a razão pela qual não podem retomar nenhuma normalidade, vou tentar dar um exemplo que me parece bastante esclarecedor.
Se o facto de professores e funcionários de um dado estabelecimento de ensino estarem vacinados constituísse um factor de mudança de paradigma, no sentido em que permitisse o regresso à normalidade com maior segurança entre todos, então poderíamos daí deduzir que o país inteiro poderia voltar à normalidade, já que a percentagem de pessoas vacinadas em todo o país é superior à percentagem de pessoas vacinadas dentro de qualquer escola.
Obviamente que estamos muito longe de podermos baixar a guarda. Os comportamentos de protecção e prevenção são para manter à risca, por todos, não apenas pelos que ainda não se encontram vacinados.