O Partido Socialista precisa urgentemente de olhar para si próprio. Eu penso que isto podia acontecer noutro partido qualquer… no PSD, em qualquer partido de poder. Mas não aconteceu. Lamento. Isto aconteceu ao Partido Socialista.
O PS, como os outros partidos, tem responsabilidades perante os cidadãos. Não pode ser tão fácil enganar o João, o Pedro, o António, a Cristina ou seja quem for, como é enganar um partido como ele [Sócrates] enganou durante tanto tempo. Não pode ser tão fácil.
Porque os partidos têm que ser um sítio onde nós temos que confiar nos processos de escolha, porque senão ficamos completamente expostos. Porque nós, no fundo, não conhecemos aquelas pessoas. Mas confiamos que os partidos escolhem pessoas que são, pelo menos, honestas. E isso não aconteceu.
Estas foram algumas das afirmações que o comentador Pedro Marques Lopes proferiu no último programa Eixo do Mal, a propósito da última entrevista de José Sócrates (à TVI) e das reacções de alguns elementos do Partido Socialista.
E o que me leva vir aqui salientá-las não é nenhum tipo de prurido para com o comentador Pedro Marques Lopes, mas antes o facto de serem muitas as vozes que ecoam pelos mais diversos órgãos de comunicação social a corroborar as mesmas ideias, sobretudo aqueles que realcei nos primeiros três parágrafos deste texto. Vejamos:
“O Partido Socialista precisa urgentemente de olhar para si próprio”. O próprio Pedro Marques Lopes fartou-se (e bem) de defender o princípio da presunção de inocência. Ora, se ainda não houve nenhuma condenação, por que razão deve o Partido Socialista olhar urgentemente para si próprio? Ou então, por que razão deve fazê-lo só agora? Para quem acha que as posições políticas, neste caso concreto (parece que é mesmo só neste), não necessitam de um desfecho judicial, então, o PS já deveria ter tirado as devidas ilações há muito tempo. E, se bem me lembro, o PS já o fez. O que mais deveria fazer o PS? Não me digam que estão à espera que políticos desonestos dêem um passo em frente e assumam que o são?
Pedro Marques Lopes também disse que isto poderia acontecer a qualquer partido do poder, como o PSD, “mas não aconteceu”, disse ele. Não aconteceu? Ai isso é que aconteceu. Assim, de repente, vem-me logo à memória nomes como Oliveira e Costa (PSD), Arlindo de Carvalho (PSD), Duarte Lima (PSD), Isaltino Morais (PSD) e tantos outros que ficaram por condenar e por levar a julgamento.
Ou seja, fica-se com a sensação de que há quem só esteja interessado em atrelar aquilo a que eles próprios apelidam de “tralha socrática” para o lamaçal. No entanto, são os mesmos que nunca falaram nos mesmos termos em relação à “tralha cavaquista” que, por sinal, constituíram uma teia muitíssimo maior e muitíssimo mais penalizadora para o Estado.
Pedro Marques Lopes ainda aproveitou para surpreender todas as crianças de sete anos, ao dizer que “os partidos têm que ser um sítio onde nós temos que confiar nos processos de escolha, porque senão ficamos completamente expostos”. Parece-me que o senhor Pedro Marques Lopes é que expôs toda a sua “ingenuidade”, sobretudo quando acrescentou que “confiamos que os partidos escolhem pessoas que são, pelo menos, honestas”.
Bem, eu poderia usar os mesmos quatro nomes que referi acima para demonstrar o nível de confiança que os processos de escolha dos partidos – sobretudo os do poder - nos merecem.
Pedro Marques Lopes e todos aqueles que o ecoam deveriam frequentar as universidades de Verão e as escolas de quadros de alguns partidos, só para terem a noção do quão honesta tem que ser uma pessoa para fazer parte da nata de um partido de poder. Alguns têm mesmo que nascer duas vezes.
É este tipo de “ingenuidade” movida a hipocrisia que jamais deve ser desprezada, porque é ela que normaliza a desonestidade dos políticos (a maioria deles).