A UEFA anunciou que a final da Liga dos Campeões 2020/2021 vai ter lugar no Estádio do Dragão, cidade do Porto. Recordemos que na época passada a fase final da competição realizou-se em Lisboa. A final deste ano (tal como a do ano passado) estava inicialmente destinada a realizar-se em Istambul, mas por razões relacionadas com a pandemia a UEFA vê-se obrigada a mudar novamente de local.
Ora, problemas relacionados com a pandemia todos os países têm e não se compreende como é que as autoridades portuguesas estão sempre prontas a acolher aquilo que os outros não querem ou não podem fazer. O facto de a situação pandémica em Portugal parecer estar mais ou menos controlada não é motivo para que se esqueça que há quatro meses éramos o pior país do mundo nesta matéria.
Vejamos, o grande entrave à realização da final na cidade de Istambul é o facto de as autoridades inglesas exigirem um período de quarentena de 10 dias (no regresso) às comitivas das duas equipas finalistas: Manchester City e Chelsea. Se ambas as equipas são inglesas, por que razão a final não se realiza em Inglaterra?
Outra coisa, esta época não houve lugar à presença de adeptos nos estádios portugueses, contudo, a UEFA já está a negociar com as autoridades portuguesas a possibilidade de se permitir a entrada de 20 mil adeptos ingleses no Estádio do Dragão. Por enquanto já está garantida a presença de 12 mil adeptos nas bancadas. Se calhar, é por essa razão que o Governo já anunciou que vai permitir a ocupação de 10% da capacidade dos estádios dos clubes da Primeira Liga, na última jornada do campeonato, algo que não faz qualquer sentido e é completamente injusto. Assim, quando começar a chover críticas pela presença de adeptos no Estádio do Dragão, na final da Liga dos Campeões, o Governo vai escudar-se na esfarrapada desculpa de que esse caminho já vinha a ser feito. Os políticos que não apreciam “precedentes” são os primeiros a criá-los, quando serve os seus intentos.
É uma situação inadmissível e absolutamente imperdoável, sobretudo depois do que se assistiu nos festejos dos adeptos do Sporting. Imaginem só como será ter 12 mil (ou mais) adeptos ingleses na cidade do Porto. Imaginem na batalha campal que pode acontecer antes, durante e depois do jogo. E logo adeptos ingleses que, como bem sabemos, são tão bem comportados fora de casa. Dizem que os adeptos vão estar constantemente numa bolha anti-Covid. Veremos.
A UEFA está ainda a negociar – e nós bem sabemos quão persuasiva é a UEFA – com as autoridades portuguesas, uma série de excepções às restrições pandémicas, para que não se chateie muito os senhores do futebol. A UEFA costuma atrelar muitas centenas, senão mesmo milhares de convidados VIP, nestas ocasiões.
E depois, ainda temos que aturar os do costume com as habituais parvoíces de que se trata de um evento importante para a cidade, para o região e para o país. É lógico que uma ínfima quantidade de pessoas e instituições estão muito interessadas, porque esses sim, vão lucrar muito, já o país pouco ou nada terá a ganhar com isso, muito menos no decorrer de uma pandemia que, na cabeça de muitos parece já ter terminado. Tal como escrevi há poucos dias, o futebol em Portugal é mesmo um Estado dentro do Estado.