Certificado Digital Covid da UE: um atentado à Democracia e à saúde
Depois dos vários escândalos sobre a entrega dos dados pessoais dos cidadãos, mais recentemente, as informações que a Câmara de Lisboa enviou a determinadas embaixadas, ou ainda, as informações que a Google (entre outras tecnológicas) recolhem de determinados sites do Estado Português, tal como o SNS, temos agora o “Certificado Digital Covid da UE”.
O “Certificado Digital Covid da UE” é a mais recente e indecente invenção, com origem no sítio do costume, ou seja, nas empresas tecnológicas de ponta que, uma vez mais, colocam os mais diversos governos ao seu serviço. É impressionante a facilidade com que estas empresas controlam tudo, tomando de assalto os estados pela via governamental. É uma espécie de vírus que invade os estados e as vidas dos seus cidadãos, por via do controlo dos seus governos.
Mas a maior e perigosa aldrabice é aquela que governantes e autoridades da saúde estão a propagar aos seus concidadãos, quando defendem o uso do Certificado Digital como medida de combate à pandemia Covid-19. Este certificado não só não serve de nada no combate à pandemia, como o torna muito perigoso para a saúde pública. A maioria das pessoas fica com a ideia de que se possuir um Certificado Digital Covid é porque não possui Covid. Ora, nada mais errado. Qualquer pessoa com vacinação completa ou que tenha recuperado da doença nos últimos seis meses pode ser portadora e estar infectada com o SARS-CoV-2 e, portanto, ser um vector de contágio e propagação da doença. Qualquer uma destas pessoas – que vai receber uma carta de alforria – não oferece maior garantia de segurança aquando da sua circulação, do que qualquer outra pessoa que, não estando vacinada ou não tendo ainda tido a doença, se encontra assintomática. E, assim, temos esta situação verdadeiramente patética de vermos a Área Metropolitana de Lisboa a recuar no desconfinamento, mas as pessoas que lá moram e que possuam um certificado não. Essas podem sair para onde bem entenderem, como se houvesse a garantia de que não são portadoras do vírus ou de que o não vai contrair. Todos sabemos bem a tendência que as pessoas têm para relaxar nos cuidados, principalmente quando sentem que estão mais seguras.
Veja-se que, neste momento, ainda nem sequer se tem a certeza da eficácia das vacinas contra as novas variantes, nem mesmo se todas elas são eficazes na mesma medida. Note-se ainda que alguns países, como Israel – onde metade dos novos infectados tem vacinação completa e onde a taxa de vacinação é das mais elevadas -, voltaram a implementar restrições devido ao clima de incerteza que existe neste momento face às novas variantes.
Já o Governo Português ignora que o país caminha a passos largos para se tornar, uma vez mais, no pior país da União Europeia no que à pandemia diz respeito e insiste em implementar medidas inócuas, como as restrições de fim-de-semana na AML, enquanto as incentiva a contornar essas restrições com o Certificado Digital Covid.
Há ainda um Presidente da República – que depois de garantir que o caminho é só para a frente – que diz que o número de pessoas em cuidados intensivos não aumentou grande coisa, como alguns vaticinaram (disse ele), como se o facto de o número de pessoas em cuidados intensivos ter duplicado no espaço de apenas uma semana não fosse suficientemente alarmante.
E para coroar o brilhantismo desta fina flor que assola o país, só faltava mesmo Ferro Rodrigues – o Presidente da Assembleia da República, eleito pelo mesmo partido do Governo – abrir aquela bocarra para deixar sair o que dela habitualmente sai. Eu creio que já assistimos ao suficiente para que se torne do interesse público a exigência da realização de um teste (de alcoolemia) a Ferro Rodrigues, de cada vez que lhe apeteça tagarelar.
Alguns poderão dizer que o Certificado Covid da UE tem como principal objectivo incentivar as pessoas a tomar a vacina, contudo, esse argumento cai logo por terra se considerarmos que não há vacinas em sobra nos países da UE, muito menos em Portugal, onde o nível de confiança que a população deposita nas vacinas é quase estratosférico. Portanto, não se vislumbra nenhuma necessidade de apelar à vacinação em Portugal, nem usar este certificado como “ultimato”, pois a quase totalidade da população deseja ser vacinada. Se não há mais pessoas vacinadas é porque não há vacinas.
Resumindo, este Certificado Digital da UE não traz nenhuma vantagem, muito pelo contrário, é um atentado à Democracia e um perigo para a saúde pública.