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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

O Bloco Central e o vaso de Rubin

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Agora que parece mais do que certo que vamos ter eleições legislativas antecipadas – ainda que isso não seja uma inevitabilidade – são muitos os que têm falado em “Bloco Central” que, como todos sabemos, refere-se à possibilidade de termos uma aliança política entre o PS e o PSD.

Do lado do PSD, quer o actual líder, Rui Rio, quer o candidato à liderança, Paulo Rangel, já fizeram questão de afirmar que a possibilidade de formar um governo de Bloco Central está fora de hipótese. Quanto ao Partido Socialista, aquilo que António Costa tem afirmado reiteradamente é que não fará nunca acordos com o PSD. Note-se que António Costa até já avançou com o desejo de formar uma nova geringonça. Pena que não estivesse para aí virado depois de ter vencido as eleições em 2019, sem maioria.

Também a maior parte dos analistas e comentadores políticos partilha da mesma opinião – que novidade -, ou seja, não se cansam de afirmar que o Bloco Central é a pior coisa que poderia acontecer ao país.

E, visto assim, até parece que ninguém deseja o mal-afamado Bloco Central. Realmente parece. E não é que esta ideia sempre vendeu como pãezinhos quentes.

Pena que a larga maioria dos eleitores ainda embarque nestas manobras ilusórias, que não têm outra intenção que não seja a de perpetuar o Bloco Central. Vejamos, há décadas que o país é governado por estes dois partidos que, parecendo que não, até se entendem muito bem e, não raras vezes aprovam ou rejeitam propostas de lei em deleitoso concubinato. Por exemplo, nos últimos dois anos de governação – período que, erradamente, muitos chamam de geringonça – o PS votou mais vezes em concordância com o PSD do que ao lado dos partidos de Esquerda.

E, na verdade, foi sempre assim. PS e PSD sempre foram os partidos que mais vezes se entenderam e que mais vezes votaram ou impediram leis em conjunto. Por isso, deixem-se lá de tretas, porque se há coisa que nunca deixou de existir na governação em Portugal foi o Bloco Central, com uma pequena excepção para o período 2015-2019. Período a que chamaram de geringonça que, ao contrário do que muitos dizem, terminou em 2019, por vontade do próprio António Costa.

Olhando para trás, não se vislumbra outra coisa que não seja décadas e décadas de Bloco Central. Infelizmente, para a maioria das pessoas o Bloco Central é como o vaso de Rubin, há quem só consiga enxergar o vaso. Eu vejo duas faces praticamente iguais.

Marcelo foi ao multibanco pagar as quotas

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Marcelo Rebelo de Sousa queria tanto, tanto, mas mesmo tanto que o Orçamento do Estado fosse aprovado – e que não houvesse uma crise política – que, ainda decorriam os trabalhos na Assembleia da República e ele já estava a reunir com um militante do PSD, candidato à presidência do partido.

Marcelo queria tanto, tanto, mas mesmo tanto que o OE fosse aprovado porque, segundo ele próprio, a não aprovação do mesmo levaria à dissolução da Assembleia da República e faria com que o país tivesse que ficar em suspenso até à formação de um novo governo e, consequentemente, à aprovação de um novo Orçamento. Por ser sempre tão coerente com aquilo que apregoa, Marcelo recebeu Paulo Rangel para lhe perguntar qual a data que lhe dá mais jeito para ir a eleições, assumindo que este já despachou Rui Rio da presidência do seu partido. E, como sabemos, a data que mais convém a Paulo Rangel – caso vença as eleições no seu partido – é o mais tarde possível.

Portanto, Marcelo – como sempre – colocou o superior interesse nacional à frente de qualquer interesse partidário. Esta gente nunca enganou. Já Sá Carneiro usava esta ladainha: “Primeiro o país, depois o partido e só depois a circunstância pessoal de cada um”. Nunca percebi a lógica de tal afirmação, já que se em primeiro lugar está o país, não vale a pena enumerar mais nada, porque quem defende o interesse de um País, defende os interesses de cada um dos seus cidadãos e de todas as organizações que nele existem. Portanto, as habituais manobras rançosas de semântica que só servem para engrupir os ingénuos e desprevenidos.

Entretanto, na reunião de cortesia entre Marcelo e Rangel, este último terá lembrado o senhor Presidente que para poder votar nas eleições internas do PSD tem que ter as quotas em dia. Daí, Marcelo ter saído apressado em direcção à caixa multibanco mais próxima, para regularizar a situação.

Este episódio entra directamente para o Top 3 das maiores desonras que um inquilino do Palácio de Belém alguma vez fez à figura do Presidente da República. Mas, a Marcelo perdoa-se tudo, afinal ele nasceu assim, ele cresceu assim e é mesmo assim, vai ser sempre assim Marcelo, sempre Marcelo.

António Costa vai dar com os burros na água

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Ao fim de seis anos de governação, António Costa está a viver o seu momento “Passos Coelho”, ou seja, aquilo que ele julga ser o momento ideal para “ir ao pote” – entenda-se, abraçar o poder com uma maioria absoluta.

Como todos se recordarão, em 2015 – quando Passos Coelho julgava que iria continuar a mandar no pote – o Partido Socialista acabou por formar governo, com o apoio de PCP, Verdes e Bloco de Esquerda. Na altura houve um acordo escrito entre o governo do PS e os restantes partidos, que permitiu garantir estabilidade governativa para toda a legislatura. Recordemos também que o período de governação 2015-2019 foi dos que mais agradou à maioria dos portugueses, sendo que o resultado das eleições legislativas de 2019 acabaram por corroborar isso mesmo, apesar de não se compreender a fuga de uma parte significativa do eleitorado dos partidos mais à Esquerda, quando foram eles que mais contribuíram para que o referido período de governação tivesse sido do agrado da maioria dos portugueses. É o habitual comportamento errático de uma significativa parte do eleitorado nacional.

Ao contrário do que acontecera em 2015, nas legislativas de 2019 o PS venceu as eleições, mas sem maioria, contudo, António Costa tratou logo de pôr as manguinhas de fora e recusar quaisquer acordos escritos com os antigos parceiros à Esquerda – ainda que o acordo escrito não fosse fundamental, o facto de António Costa se recusar a fazê-lo foi um claro sinal daquilo que viria a ser a postura do seu governo. Portanto, Costa nunca teve maioria, mas sempre agiu como se os portugueses lha tivessem dado. Costa não quis comprometer-se com acordos escritos para a legislatura (2019-2023), porque já estava a traçar o caminho para chegar até ao momento em que nos encontramos. Na discussão do OE2020 a coisa ainda correu mais ou menos, mas já com muito descontentamento evidenciado quer pelo PCP quer pelo BE. Já no ano passado, as coisas correram ainda pior e o OE só foi aprovado porque o PCP decidiu deixar passar. Recordemos que o país estava a atravessar um período difícil da pandemia – que ainda não terminou - e, uma vez mais, coube ao Partido Comunista assumir as despesas políticas que garantissem estabilidade à governação, ainda que o OE estivesse longe de satisfazer os seus intentos.

Resumindo, António Costa e o seu PS andam há dois anos a governar como se tivessem maioria absoluta. O PS de António Costa diz, reiteradamente, que não faz acordos com a Direita, apesar de a realidade demonstrar que PS e PSD votaram a maioria dos diplomas em concordância – o habitual bloco central que domina a governação há quase 50 anos. E, mesmo dizendo que só negoceiam com os partidos de Esquerda, a verdade é que o PS, nestes últimos dois anos, só quis saber de PCP e BE para que estes anuíssem na altura de votar os Orçamentos do Estado.

Ou seja, desde de 2019 que o PS de António Costa deixou de mostrar abertura à negociação com o PCP e BE, não por considerar que o país não tem condições para suportar as exigências destes dois partidos – longe disso – mas apenas porque António Costa sentiu que este é o momento de “ir ao pote”, à maioria absoluta. Apenas isso.

António Costa viu a crise que se abateu sobre o PSD e não mais conseguiu em pensar em mais nada que não fosse a possibilidade de “ir ao pote”. E já. Que se lixe o Orçamento do Estado, isso pode esperar, até porque Costa está mesmo convencido de que o PS vai chegar à maioria absoluta.

António Costa vai dar com os burros na água.

Felizmente, em Portugal, a pandemia já acabou

Graças ao governo, à DGS e, claro, a Gouveia e Melo, já não há pandemia em Portugal. Isso é passado.

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Há pessoas que ainda não perceberam que a pandemia não terminou e que continua bem presente e activa, aliás, cada vez mais activa. É certo que em Portugal a situação ainda não é visivelmente preocupante, contudo – como já todos deveríamos saber – quando os números atingem proporções preocupantes é sinal que algo de errado já foi feito, semanas antes desse momento.

No leste da Europa a situação está seriamente descontrolada. E o que dizem as autoridades portuguesas? Dizem que eles não têm o nosso nível de vacinação e que por essa razão estão a sofrer com a escalada de novos casos. Pois, só que uma taxa de vacinação mais baixa não explica, por si só, a escalada dos números, da mesma forma que uma elevada taxa de vacinação – como aquela que se verifica em Portugal – não garante que os números também não venham a disparar. Basta reparar no que se está a passar no Reino Unido, que apresenta uma taxa de vacinação próxima dos 80%.

Convinha também lembrar que os vírus respiratórios aumentam a sua actividade no tempo frio e húmido e, para quem ainda não se deu conta, por cá ainda é “Verão”. No ano passado, a chuva e as temperaturas baixas já tinham chegado há mais de um mês. Portanto, não é de ignorar este importantíssimo factor. E mesmo assim, já se nota uma tendência clara de crescimento dos novos casos, a taxa de incidência tem vindo a subir e o índice de transmissibilidade (Rt) já está acima de 1.

Se considerarmos que o tempo quente não vai continuar por muito mais tempo, que as pessoas rapidamente passarão a permanecer muito mais tempo em espaços fechados e que a maioria das pessoas já baixou definitivamente a guarda – muito à custa dos irresponsáveis apelos e do fim de algumas medidas levadas a cabo pelas autoridades competentes – não é muito difícil de antever o que vai acontecer daqui a algumas semanas.

O cenário fica ainda mais negro se atentarmos no facto de, neste momento, ainda sem sequer haver casos de gripe e, no entanto, muitos dos serviços de urgência já se encontram à beira da ruptura. Agora, imagine-se o que acontecerá se houver um pico de gripe e outro de covid-19 – lembremo-nos que as autoridades políticas e da saúde não fizeram muita questão de manter o uso obrigatório da máscara, até mesmo em muitos espaços fechados, algo que evitaria muito a propagação do vírus da gripe e da covid-19. Como será que os hospitais vão poder responder a tal situação?

São apenas dúvidas que eu tenho e que não me parece que estejamos em condições de as ignorar. Mas o governo já só está preocupado com o PRR, com as tricas orçamentais e eventuais eleições. Veja-se que nem sequer passou pela cabeça desta gente – e aqui incluo todos os agentes políticos - que, caso o governo caísse, poderíamos vir a ter uma campanha eleitoral e umas eleições legislativas num cenário pandémico completamente descontrolado. Claro que a discussão do Orçamento do Estado e do PRR são fundamentais. O problema é que eu só ouço falar em “pós-pandemia”, como se ela alguma vez tivesse sido erradicada. O Presidente da República disse, ontem – vejam bem -, que a pandemia ainda não acabou, mas que ele espera que esteja definitivamente “terminada na Primavera do próximo ano”. Com base em que evidência é que alguém com tamanha responsabilidade pode dizer uma coisa destas?

Mas há quem diga coisas piores e de forma exaustiva. O vice-almirante disse que “Portugal já venceu este vírus”, o Primeiro-ministro fartou-se de anunciar o “fim da pandemia” e a “libertação do país” e o “regresso à normalidade” entre outras sandices proferidas pelos que acabei de referir e outros que tais.

Já aqui referi, inúmeras vezes, que a enormíssima fé depositada nas vacinas é desproporcional à realidade, já que as mesmas não oferecem o elevado nível de eficácia inicialmente anunciado. Menos eficácia demonstra na contenção da propagação do vírus. Imagine-se como será se aparecer uma ou mais variantes para as quais as vacinas poderão ser ainda menos eficazes.

Se calhar sou eu que ando a imaginar coisas a mais, tanto que até já consigo vislumbrar qual será o discurso de toda esta gente que, afortunadamente, já vive num mundo sem pandemia.

As palavras que Marcelo nunca te dirá [dizendo]

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Marcelo Rebelo de Sousa voltou a demonstrar muita preocupação acerca da execução dos fundos europeus contemplados no PRR – a famigerada bazuca. Marcelo tem feito tantos avisos nesta matéria que só por muita distracção é que alguém ainda pode alimentar dúvidas sobre aquilo que aconteceu a todos os outros fundos públicos, colocados à disposição de vários governos ao longo de várias décadas.

No fundo, Marcelo está apenas a romancear sobre o assunto e a dizer – nas entrelinhas – as palavras que nunca disse nem dirá.

Atentemos nas palavras ditas por Marcelo, mas também nas implícitas.

“A última coisa que pode ocorrer nesta execução é desbaratarmos fundos [como fizemos anteriormente], que são fundos de todos [e não apenas da meia dúzia do costume], a última coisa que poderá acontecer durante esta execução é termos casos de mau uso, de fraude, de desperdício na utilização de fundos europeus [tal como aconteceu em todas as outras enxurradas de fundos públicos] ”.

“Se isso é sempre condenável [felizmente, inimputável] em fundos que são fundos públicos, é mais grave quando se trata de fundos irrepetíveis e de utilização em curto espaço de tempo [em que fica mais difícil disfarçar para onde vai o dinheiro]. Os portugueses não perdoariam [como sempre têm perdoado] e é bom que se tenha a noção disso e se tenha no momento do arranque, e não a meio, nem no final [porque aí ficará mais difícil de tapar o rasto]. Não perdoariam e não perdoarão".

"Vamos ter de trabalhar no duro durante os próximos anos [e não andar a mandriar como sempre fizemos] ”.

Pois é… Marcelo tem-se fartado de enviar mensagens engarrafadas, que eu desconfio não ter despertado nenhum tipo de paixão em quem as encontrou. E sem qualquer tipo de receio em tornar este texto numa espécie de spoiler – até porque todos já conhecem bem o enredo -, não é difícil antever que esta história acabará como todas as outras.

Quanto ao perdão do povo português, Marcelo pode ficar descansado. O povo português saberá – como sempre – perdoar. Não tem feito outra coisa em todos os actos eleitorais, em quase 50 anos de Democracia. Tem sido assim, cíclica e sucessivamente, até ao naufrágio final.

Tomar as vacinas mas não cruzar os braços s.f.f.

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A partir de hoje passa a ser possível tomar as vacinas contra a gripe e a terceira dose contra a covid-19 no mesmo momento. Note-se que até hoje tal não era possível, já que a DGS entendia que as vacinas deveriam ser administradas com pelo menos 14 dias de intervalo. Mas a partir de hoje – que ficará para sempre assinalado como o dia do armistício das vacinas – as vacinas da gripe e da covid-19 deixam de apresentar incompatibilidades, podendo ser administradas conjuntamente. Portanto, com o acordo de paz estabelecido entre estas duas vacinas deixou de haver razão para hostilidades.

Saliente-se ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) - depois de muito pensar sobre o assunto - fez saber que a toma conjunta das vacinas é “aceitável”. Reparem que a OMS não disse que era absolutamente seguro, não, disse que era “aceitável”, assim como quem diz que comer arroz com formigas em princípio não faz mal. E o que não mata engorda.

Felizmente, por cá, podemos contar sempre com a muito competente e diligente DGS que, mesmo depois do armistício firmado entre as duas vacinas, decidiu que deve ser administrada uma vacina em cada braço, não vá as duas engalfinharem-se no mesmo braço. Assim está garantido que ninguém vai para casa com o músculo aos pulos. Assunto resolvido.

Mas, mesmo com toda esta previdência por parte da DGS, considero que ainda se poderia ir mais além na garantia da segurança das pessoas que vão receber as duas vacinas em simultâneo. Creio que seria da mais elementar prudência recomendar às pessoas para que não cruzem os braços, pelo menos durante duas semanas, só para evitar eventuais confrontos entre as duas vacinas. Bem sabemos que nestas situações existem sempre ressentimentos recalcados, pelo que o melhor mesmo é evitar encontros desagradáveis.

Estado, privados e os preços dos combustíveis

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Os combustíveis atingiram um nível de preços absolutamente absurdo e incomportável para o bolso da esmagadora maioria dos portugueses. Obviamente que a carga fiscal que incide sobre este tipo de produtos contribui – e muito – para essa situação. Contudo, não podemos ignorar que a inconcebível e inaceitável escalada de preços dos combustíveis verificados nos últimos meses se deve – principalmente – às margens de lucro das gasolineiras.

Não obstante, o governo não pode ignorar o problema e escudar-se na desculpa esfarrapada das metas ambientais. Não que as metas ambientais não sejam importantes, mas não é admissível que um governo possa sequer cogitar a ideia de que a população pode comportar ou evitar semelhantes custos, sendo que é o próprio governo que avisa que os preços vão subir ainda mais. Medidas de preservação do ambiente são deveras importantes, mas é impossível mudar o paradigma de um dia para o outro. A maioria das pessoas não tem alternativas face ao uso da própria viatura, não tem ao seu dispor uma rede de transportes públicos que sirva as suas necessidades, muito menos condições financeiras para adquirir um veículo eléctrico.

O governo deveria ter ainda em consideração o nível de rendimentos da esmagadora maioria da população portuguesa, que não apresenta condições para acompanhar a tão desejada transição verde com a rapidez desejada. Basta comparar com o que se passa no país vizinho e rapidamente constatamos que a população espanhola tem a vida muito mais facilitada – salários consideravelmente mais elevados e combustíveis muito mais baixos – e, por lá, tal como por cá, também existem metas ambientais a cumprir.

Portanto, a carga fiscal deveria baixar, bem como as margens das gasolineiras.

Mas há muita gente que merece suportar estes preços e muito mais e, provavelmente, são aqueles que mais estrebucham agora. São os primeiros a defender a privatização de tudo e mais alguma coisa, até mesmo de sectores tão essenciais como o dos combustíveis e da energia. Mas agora também reclamam. Se a Galp (Petrogal) não tivesse sido privatizada, hoje teríamos o Estado com todas as condições para cumprir com uma função que lhe compete e da qual se demitiu, ou seja, a regulação directa de um sector tão fundamental para a sociedade. Sim, porque essa coisa a que chamam de entidade reguladora - além de dar emprego a alguns boys - só serve para legitimar a cartelização de preços por parte dos operadores privados.

Até quando esta verborreia frenética?

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A directora-geral da saúde, Graça Freitas, apelou para que os funcionários de lares que ainda não foram vacinados o façam, como acto de solidariedade e responsabilidade. Sugeriu ainda que os lares devem reorganizar as suas tarefas por forma a que os funcionários não vacinados não sejam os cuidadores directos dos utentes, como se tivessem sarna ou coisa pior.

Logo de seguida, no mesmo bloco noticiário, uma reportagem - à semelhança de muitas outras - dava conta de um surto de Covid-19 num lar, onde todos se encontram vacinados, quer utentes quer funcionários.

Até quando esta verborreia frenética (como dizia o outro) que não tem qualquer aderência à realidade?

A falta de médicos no SNS tem uma solução simples

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Querem acabar com a falta de médicos no SNS? Fácil. A solução passa por exigir a todos os novos licenciados em medicina e médicos especialistas que permaneçam no SNS, pelo menos, por um período de 20 anos.

Não há aqui truques. O Estado investe muito dinheiro na formação deste tipo de profissionais, que depois de aproveitarem a aprendizagem e a especialização de qualidade concedida pelo Estado abandonam o serviço público e vão tratar da vidinha deles para o sector privado. Se querem ter liberdade para tal, pois que vão tirar o curso e a especialização noutro sítio.

Portanto, a questão é muito simples e passa por exigir a permanência dos médicos formados pelo Estado no Serviço Nacional de Saúde, por um longo período de tempo que satisfaça as necessidades do SNS.

Desta forma, qualquer aluno que esteja a terminar o ensino secundário e deseje inscrever-se numa das faculdades de medicina públicas já saberá ao que vai. Se não concorda ou não sente o apelo do serviço público, que opte por outra área vocacional, ou então que vá tirar o curso de medicina noutro sítio e que liberte a sua “hipotética” vaga numa faculdade pública para alguém mais vocacionado para tão nobre missão. Mesmo que isso implique que as vagas acabem por ser preenchidas por alunos com médias mais baixas. Isso não me choca nada. Ter uma média acima de 19 valores não é garantia de inteligência e competência, muito menos de vocação.

Conheço muitas pessoas que apresentaram médias de 16, 17 e 18 valores e que ficaram de fora dos cursos de medicina. Pessoas extremamente vocacionadas para a missão de serviço público que não couberam no numerus clausus que, por sua vez, foram preenchidos por muitos daqueles que aproveitaram a oportunidade para se formarem e se especializarem nas faculdades e hospitais públicos e que agora dão à sola para um qualquer privado que lhe acene com mais meia dúzia de patacas.

Seria também uma boa forma de garantir que aqueles que se candidatariam aos cursos públicos de medicina não estariam apenas a pensar no dinheiro que vão receber no final do mês. E, convenhamos, os médicos – principalmente os que detêm uma especialização – não são profissionais mal pagos, ainda que essa situação possa vir a ser revista, mas sempre de acordo com as possibilidades do Estado e não por comparação com aquilo que é oferecido por uma qualquer entidade privada.

E, já agora, seria bom fechar de vez a torneira pública que alimenta a actividade privada da saúde. Assim, deixariam de ter condições para oferecer aos médicos aquilo que o sector público não consegue, porque é esta a sórdida verdade - o Estado investe milhões a formar médicos que depois são atraídos pelas condições (€) oferecidas pelo sector privado de saúde que, por sua vez, é fortemente alimentado por dinheiros públicos.

O cisco no olho do Fisco

Ora ficou-se a saber que o motorista do fugitivo João Rendeiro comprou um apartamento de luxo, num valor superior a um milhão de euros. O motorista – coitado – depois de gastar as poupanças de uma vida decidiu ceder o usufruto do imóvel à mulher de João Rendeiro. Os motoristas que servem este tipo de gente costumam ter um espírito muito altruísta.

Obviamente que o motorista foi apenas um testa-de-ferro usado por Rendeiro. Obviamente que um motorista não dispõe de tal quantia monetária, a menos que ganhe o totoloto ou algo do género.

O que eu gostava de saber é a razão pela qual o Fisco não tem um sistema de alerta para este tipo de situações. Como é possível que um indivíduo que, muito provavelmente, apresenta uma declaração anual de rendimentos modesta, tem capacidade para adquirir um imóvel de luxo. Trata-se de um tipo de informação que as Finanças dispõem, quer o rendimento do indivíduo quer a aquisição do imóvel. Como é possível uma situação destas entrar pelos olhos dentro e mesmo assim não conseguir enxergar? Não sei, mas um simples alerta das Finanças poderia ter originado uma investigação mais eficaz.

Em Portugal é assim. Há políticos de carreira que fundam e afundam bancos. Há os que têm dinheiro para adquirir hotéis. E ainda há os que aplicam as poupanças de uma vida em acções não cotadas em bolsa e constroem imóveis milionários ao pé da praia. E, que se saiba, esses não receberam heranças dos avós.

A justiça em Portugal funciona mal, mas o Fisco, esse está sempre distraído a tentar retirar o cisco do olho, e por isso não consegue ver nada, excepto quando é para apertar os calos ao pequeno devedor.

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