Ilações das eleições
Comecemos pelo voto útil. Dizem os entendidos na matéria que foi o voto útil que fez com que o PS obtivesse uma maioria absoluta. Os mesmos entendidos dizem que uma boa parte do eleitorado à esquerda do PS decidiu votar no Partido Socialista, para evitar uma vitória do PSD e da Direita. Mas isto faz algum sentido? Em que medida é que a transferência de votos dos partidos mais à Esquerda para o PS era condição essencial para evitar um governo de Direita? As pessoas têm assim tão fraca memória, que já nem se lembram do que aconteceu em 2015? Se essa franja de eleitorado que optou pelo “voto útil” no PS tivesse mantido o seu voto nos partidos da Esquerda, a maioria parlamentar seria sempre de Esquerda, pelo que essa ideia do voto útil não faz qualquer sentido.
Assim, tivemos uma maioria absoluta. Eu até vou repetir - só para me convencer de que isto é mesmo verdade - tivemos uma maioria absoluta. Incrível. As maiorias absolutas já quase não existem em nenhum país, sobretudo nos países europeus, mas em Portugal ainda há quem aprecie esta situação política.
Tantos anos a reclamar da corrupção, do poder absoluto, da falta de diálogo, do “quero, posso e mando”, dos tachos e tachinhos, do esbanjar de dinheiros públicos, do caciquismo e nepotismo e voltamos às maiorias unicolores. Nem o facto de nos próximos anos jorrarem milhares de milhões em fundos comunitários fez com que as pessoas tivessem o cuidado de não conceder o poder absoluto a um só partido. Vai ser bonito, vai.
Espero que os 42% de votantes que passaram um cheque em branco ao Partido Socialista, bem como os 42% de abstencionistas estejam muito satisfeitos com os resultados eleitorais e, sobretudo, espero que agora fiquem bem caladinhos durante os próximos quatros anos. É que já não basta ter de constatar e aceitar – porque a Democracia assim exige – as escolhas desta esmagadora e esclarecida maioria, como ainda ter que os ouvir reclamar das escolhas que fizeram. Era só o que faltava.
Queriam estabilidade? Tomem-na.