![fundação_jn.jpg]()
A Fundação José Neves desenvolveu um estudo sobre o “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências”. Das conclusões desse estudo, os especialistas que o realizaram destacam que, em 2021, apenas 74% dos jovens recém-formados estavam empregados, que o salário médio dos portugueses com ensino superior caiu 11% na última década e que os trabalhadores com curso superior auferem um salário, em média, de mais 44% face àqueles que concluíram apenas o ensino secundário ou que não chegaram a concluí-lo.
Em relação a esta última conclusão, os especialistas que realizaram o estudo rematam que só por essa razão vale bem a pena tirar um curso superior.
Pois é. Voltamos sempre à estaca zero do pensamento crítico sobre os problemas que se abatem sobre a sociedade portuguesa. Em Portugal, as Fundações brotam como ervas daninhas, contudo limitam-se a realizar uma série de estudos que retiram sempre as mesmas conclusões erradas. E, nesta matéria, nem sequer é necessário realizar qualquer tipo de estudo para se chegar às conclusões certas.
Vejamos, os salários da esmagadora maioria dos trabalhadores portugueses são baixos. Naturalmente que, em termos médios, os salários de trabalhadores com curso superior são mais elevados. Não obstante, não é o facto de se ter um curso superior que, automaticamente vai fazer com que um trabalhador tenha uma maior probabilidade de auferir um salário mais elevado. Por exemplo, se um trabalhador de uma caixa do supermercado decidir tirar um curso superior, não vai receber um aumento salarial por essa razão. Ou seja, o curso superior permite que uma pessoa possa abrir o leque de opções laborais e, eventualmente poder vir a ganhar mais, mas isso não significa que aqueles que estão a ganhar menos – e são tantos –, por se encontrarem em funções para as quais não é necessária formação superior, esses não terão nunca um aumento salarial só por decidirem tirar um curso superior.
E são tantas as profissões que não requerem formação superior. Funcionários que trabalham na recolha de lixo, funcionários que trabalham nas limpezas, operadores fabris, e tantas outras. Estas profissões não requerem - e nunca requererão – um curso superior, contudo requerem e vão continuar a requerer muitos trabalhadores disponíveis para as desempenhar. A menos que algum “unicórnio” descubra uma forma de estas funções tidas como básicas, mas de muito difícil execução possam vir a ser executadas por máquinas, por uma varinha mágica ou por uma app, a necessidade de recrutar trabalhadores sem curso superior manter-se-á.
O cerne da questão é sempre o mesmo, isto é, os salários baixos dos trabalhadores portugueses. E se queremos atacar esse problema temos que assumir a necessidade premente de aumentar significativamente os salários dos trabalhadores, sobretudo os daqueles que ganham menos que, não pelo facto de não terem um curso superior – que na verdade não têm, nem necessitam – mas pela baixíssima remuneração que por hábito se atribui a estas funções, que são essenciais ao funcionamento da sociedade.
Eu costumo sugerir aos cidadãos que imaginem como seria o seu dia-a-dia se não houvesse ninguém que aceitasse limpar casas de banho, fazer a recolha do lixo ou fazer pão. O país implodiria em pouco tempo.
Enquanto os senhores do poder e os iluminados que os assessoram insistirem na ideia de que as pessoas com mais qualificações académicas é que devem ganhar mais, o problema dos salários baixos vai continuar. Primeiro, pela razão que acabei de descrever, ou seja, a existência de profissões que não requerem a necessidade de um curso superior e que, por essa razão os iluminados entendem que não devem ser bem remuneradas. Segundo, porque enquanto uma série infindável de profissões essenciais ao funcionamento da sociedade continuarem a ser tão mal remuneradas (salário mínimo ou pouco mais), os trabalhadores academicamente mais qualificados também nunca irão ver os seus salários aumentados, porque como é hábito neste país, o nivelamento faz-se sempre por baixo.
Portanto, o ideal é proceder ao aumento generalizado dos salários dos trabalhadores. Mas aquilo que é absolutamente crucial é começar por aumentar condignamente os salários mais baixos e reduzir as diferenças salariais entre classes profissionais.