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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

Contrário

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RAPIDINHA

Diz o gajo que proibiu o exercício da actividade política a vários partidos da oposição e que cancelou a realização de eleições no seu país.

Foi mais um ano espectacular

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Foi mais um ano espectacular, sobretudo para aqueles que ignoram ou que dissimuladamente se desviam da realidade. Foi mais um ano profícuo para todos quantos apreciam a demonização daqueles que ousam impedir a propagação de processos ilusórios, e para os mesmos tantos que se fascinam pela mentira, pelo seguidismo boçal e bacoco que os mantêm nesse estado esquizofrénico de adoração aos mestres.

Foi também um ano espectacular para todos quantos adoram exibir a máscara da bondade, colocar bandeirinhas e lacinhos pretos nas páginas de perfil e, invariavelmente embarcar nas superficiais correntes de comoção generalizada.

Foi um ano espectacular para muita gente, de facto. Gente que ao ler o que acabo de escrever, não perderia tempo em me acusar de ter tido “mais um ano espectacular”, porque é assim que eles são – autómatos sempre muito expeditos a lançar nos outros as suas mais intrínsecas características.

Eu tive um colega na escola que tinha um defeito numa perna e que estava constantemente a chamar os colegas de “coxos” e “pernetas”. Uma patetice apenas justificada pela tenra idade.

Caso “Alexandra Reis”: o que ninguém questiona

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Sempre que vem a público um caso que indigna a maioria das pessoas, aquilo que se verifica é que os políticos que estão no poder tratam logo de sanar a situação com o rolar de uma ou duas cabeças, na esperança de que o caso morra. E ele morre, na maioria das vezes. Também neste caso, o PS – o partido do governo – já veio dizer que “a demissão de Pedro Nuno Santos encerra o assunto”.

Se é expectável que alguém assuma a responsabilidade política pela ocorrência de um caso com estes contornos é também exigível que se actue sobre as causas que originam este tipo de casos. E isso nunca é feito, o que faz com que os casos continuem a existir.

O que deveria estar a ser discutido era a criação de imperativos legais que garantissem que este tipo de manigâncias não volta a acontecer. Mais importante do que a demissão de ministros ou governos é produzir legislação que defenda o interesse público. Vejamos, em última análise, caso este governo se demitisse, em bloco, o que mudaria em relação ao status quo? Rigorosamente nada. Porque as leis que permitem que aqueles que ocupam os lugares de decisão política possam fazer o que bem entenderem continuam a vigorar. E é por essa razão que este e outros tipos de casos análogos sempre existiram e vão continuar a existir, pelo menos enquanto PS e PSD governarem, porque estes dois partidos nunca estiveram nem estão interessados em legislar no sentido de colocar entraves às teias de poder, de tachos e às intermináveis mamatas que alimentam as tropas fiéis, seus familiares e amigos.

É inacreditável verificar tantas horas de “informação” e de opinião à volta deste assunto, com todos os intervenientes a concordar com o pedido de demissão do ministro das Infra-estruturas e da Habitação, pelo facto de acharem que, quer ele soubesse ou não soubesse da indemnização atribuída a Alexandra Reis, tem a obrigação de se demitir, mas nada dizem sobre alterar a lei e os contractos que dão cobertura legal a estas vergonhas. Ou seja, são os mesmos que acabam por considerar com a posição do Partido Socialista – a de que a demissão do ministro encerra o assunto. Até porque acabam por considerar que “a indemnização não é ilegal”. Claro que não é ilegal. E esse é que é o problema. Notem que até há quem se adiante a alertar para que ninguém exija a demissão da CEO da TAP, porque a indemnização a que esta terá direito é ainda maior. Incrível.

Esta gente não consegue perceber que o problema está na lei e nos contractos que o Estado e uma infinidade de organizações públicas estabelecem com determinados indivíduos predestinados? O problema é o valor dos salários atribuídos a pessoas que, não raras vezes, nem sequer apresentam as qualificações necessárias para as funções que são nomeadas. O problema são também as cláusulas pétreas que condenam o Estado ou empresas públicas ao pagamento de chorudas indemnizações.

O centro da questão tem que ser a alteração das leis que continuam a dar cobertura legal a este tipo de engrimanços. O rolar de cabeças, apesar de justificado, não pode desviar a atenção do verdadeiro problema, porque esse vai continuar a acontecer em cada esquina, quer seja com o PS ou com o PSD.

Quase 50 anos disto deveria ser tempo suficiente para que todos já tivessem assimilado a realidade.

“A democracia é isto”

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Perante os firmes protestos – sobre os incêndios e não só – de que foi alvo em Murça, Marcelo Rebelo de Sousa reagiu assim, perante os cidadãos revoltosos:

“Eu vou ver, eu vou ver…”“Vamos lá ver, vamos lá ver…”.

Já para a comunicação social, Marcelo disse o seguinte:

“A democracia é isto. A democracia, pode haver 60%, 70%, 80%, 90% de pessoas que percebem que há coisas que demoraram tempo demais e que demoram algum tempo a mudar. E depois há quem sofra e quem seja mais crítico…”.

Aquilo que Marcelo quis dizer e que 60%, 70%, 80%, 90% das pessoas não percebem foi, mais ou menos, o seguinte:

“Em democracia, nós conseguimos controlar e maniatar 60%, 70%, 80%, 90% das pessoas, basta olhar para os resultados eleitorais dos últimos quase 50 anos. E depois há uma minoria insignificante que bem pode tentar parar o vento com as mãos”.

“Compreendo que o país tenha dificuldade em perceber”

Quando o “estrito cumprimento da lei” é uma desavergonhada comilança

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Estranhamente ou não, em vez de termos o Primeiro-ministro a esclarecer mais um imbróglio do seu governo, é Marcelo Rebelo de Sousa quem, uma vez mais, se apronta a dar explicações sobre as trapalhadas da turma do Costa. E, invariavelmente, Marcelo aparece para pôr água na fervura e dizer coisas do tipo: “isto é tudo legal”, “não há incompatibilidade”, “a senhora até aceitou receber menos do que aquilo que lhe era ‘legalmente’ devido”.

Claro que o governo de Costa já tratou de fazer o seu habitual número de circo, ao dar conhecimento de que já interpelou a administração da TAP sobre o sucedido, querendo fazer passar a ideia de que aquilo que acontece na TAP não é da sua responsabilidade. Quanto mais não fosse, após a polémica que envolveu a renovação da frota automóvel da TAP, o governo tinha a obrigação de estar ainda muito mais atento ao que é decido no Conselho de Administração da companhia pública.

Vejamos, Alexandra Reis viu o seu contrato com a TAP rescindido em Fevereiro deste ano, quando ainda faltavam cerca de dois anos para o término do período contratual. Ora, tal como referiu Marcelo, nestas situações a lei “estabelece uma indemnização correspondente ao que receberia até final do mandato”. Importa desde logo notar a forma como o Estado - ou melhor, os governos em nome do Estado - estabelecem tão maravilhosas condições contratuais para com os gestores que contratam. Segundo foi noticiado, a senhora Alexandra Reis teria direito a receber uma indemnização de 1,5 milhões de euros, o que corresponde a um salário mensal superior a 50 mil euros. Note-se que, no meio desta turbulência, ninguém se mostra escandalizado com o salário que a senhora auferia na TAP. Então, a senhora é contratada com um opulento salário – só pode ter sido por se evidenciar muito competente - e não cumpre o contrato até ao fim? Mau! A TAP precisa e muito de profissionais com a tamanha competência demonstrada pela senhora Alexandra Reis.

Entretanto, sabe-se – através de Marcelo – que Alexandra Reis terá aceitado receber “apenas” um terço do valor da indemnização a que tinha direito. Ora, quem ouve as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa até fica com a sensação de que Alexandra Reis até foi muito honesta e nada gananciosa, ao aceitar receber “apenas” um terço da indemnização – 500 mil euros. Recordemos que na sua passagem pela TAP, Alexandra Reis foi das que defendeu cortes salariais aos funcionários, porque a companhia está com graves dificuldades.

Virem dizer que se trata de uma questão que não comporta “nenhuma ilegalidade” é algo que não satisfaz nem defende os interesses dos cidadãos, porque isto, infelizmente é o pão nosso de cada dia nos mais diferentes governos. É assim desde sempre. E ainda querem tomar-nos por parvos, como se as leis não fossem feitas por eles próprios – os políticos - e em causa própria. Como pode a lei servir de desculpa, quando a lei é elaborada "à medida" por quem dela se serve?

Está-se mesmo a ver que, uma vez mais, a discussão do assunto andará em torno dos aspectos legais que envolve a situação, através dos quais os intervenientes irão escudar-se para sustentar que não há nada de ilegal. E ninguém se atreverá a exigir que se faça, de uma vez por todas, aquilo que já deveria ter sido feito há muito, ou seja, a criação de mecanismos legais que impeçam que tais situações aconteçam, porque são já inúmeros os casos desta e de outras estirpes que contaminam e saqueiam o Estado. Os governantes têm a obrigação de garantir que o dinheiro público não é esbanjado desta maneira sórdida e insultuosa para os cidadãos.

Outros tentarão levar a questão para o campo político, alegando também (e mal) que do ponto de vista legal não há nada a apontar. Pois como se pode ver é precisamente a questão legal que dá cobertura a um vasto rol de vergonhosos expedientes engendrados para perpetuar as mamatas ao Estado. E, se pensarmos bem e puxarmos o fio à meada de todas as problemáticas que envolve a vida em sociedade, rapidamente concluiremos que todas as questões são políticas. É, pois, um tipo de argumentação que só serve para desviar as atenções sobre o problema essencial – o de que os políticos servem-se das instituições do poder para fazerem delas aquilo que lhes apetecer. E isso tem que parar. No fundo, os políticos têm que elaborar leis, imbuídos do mesmo espírito daqueles jogadores viciados que pedem aos casinos para lhes vedarem a entrada, no sentido de evitar que caiam na tentação. E como é grande a tentação do decisor político, do administrador e gestor público.

Mas os Marcelos desta vida estão sempre prontos a passar uma esponja pelas artimanhas daqueles que conspurcam os cargos de decisão política e de todos quantos usam o poder de nomeação para altos cargos públicos, a fim de eternizar as conezias para a malta amiga. Marcelo diz que “a lei permite que Alexandra Reis receba uma indemnização pelos dois anos não cumpridos”. E ainda concluiu – com ar de resignado – que “do ponto de vista jurídico, olhe… a lei permite fazer isto. É assim”. É assim? Resignemo-nos todos então e deixemos a coisa passar incólume, como sempre. A culpa é da lei que, como toda a gente sabe é feita por seres alienígenas. Marcelo foi ainda mais longe ao afirmar que “o português comum não entende [estes valores], porque desconhece que são equivalentes aos praticados nas mais diversas companhias aéreas internacionais”.

Marcelo é capaz de ter de razão. Os portugueses são uns burros que não compreendem nada. A única coisa que os portugueses compreendem muito bem é que os valores baixos dos salários da maioria dos trabalhadores não devem acompanhar o valor dos salários praticados nos outros países europeus. Não, os salários dos gestores de topo é que devem estar ao nível – às vezes até mais - daquilo que se pratica lá fora, os da “arraia-miúda”, esses são para manter bem esmagadinhos. Coitada da "arraia-miúda" que, no meio de tanta lei, não consegue encontrar nenhuma que lhe permita safar-se bem na vida.

O país tem mesmo muita dificuldade em perceber. E tenho para mim que a maioria dos portugueses ainda nem sequer se apercebeu por que razão Marcelo se chama Marcelo.

A razão pela qual Zelensky foi tão aplaudido no Congresso

Se aquelas pessoas do Congresso norte-americano estão verdadeiramente interessadas em ajudar o povo ucraniano – e não em canalizar milhares de milhões para os bolsos da indústria das armas – por que razão são accionistas dessas empresas?

Mais, se o objectivo da administração Biden, do Pentágono e de toda a cúpula do poder nos EUA é defender a soberania da Ucrânia e a liberdade do seu povo, por que razão as empresas de armamento norte-americanas estão a cobrar pelas armas muitíssimo mais do que o seu preço de custo?

Com a aprovação deste novo pacote de “ajuda”, que ascende a 45 mil milhões de dólares, o total da “ajuda” dos EUA já ultrapassou os 100 mil milhões de dólares, sendo que a maioria desse valor vai parar às manápulas das indústrias de armamento – aquelas que têm como accionistas os políticos que aprovam as leis que muito os beneficiam.

Só para que se tenha a noção daquilo que estamos a falar, os EUA – que recusam veementemente a ideia de estar a servir-se da Ucrânia para travar uma guerra por procuração contra a Rússia – já gastaram mais dinheiro nesta guerra do que a própria Rússia, que é uma facção beligerante no conflito.

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Portagens: o bloco central e os amigos privados

Mais um presente de Natal do governo de Costa, muito aprazível ao PSD

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O ministro das Infra-estruturas e Habitação veio dizer ao país que não se esperasse que “perante o aumento do valor das portagens em cerca de 10,5%, o governo ficasse a assistir”. Ou seja, Pedro Nuno Santos quis dizer que o governo está atento à ganância e prepotência das empresas privadas - aquelas a quem o seu partido (PS) e a outra parte que forma o bloco central (PSD) entregaram o direito à cobrança de taxas de portagem, por utilização de infra-estruturas pagas e repagas (inúmeras vezes) pelos contribuintes.

Vejamos, por “imperativos” contratuais, as concessionárias poderiam proceder ao aumento do valor das portagens em cerca de 10% (o valor da inflação prevista para este ano). Contudo, importa salientar que o facto de essa condição estar prevista no contrato (contrato assinado pelos governos e concessionárias, sempre muito favoráveis às concessionárias), isso não significa que tenha que ser aplicada. Atentem bem na facilidade com que os governos do “bloco central” entregam as jóias da coroa à exploração privada e a benevolência com que lhes permitem incluir cláusulas que, invariavelmente só preconizam o “nós podemos” e “vós (o Estado) obedeceis”.

A verdade é que as concessionárias não têm qualquer necessidade de realizar aumentos nos valores das portagens (que já são demasiado elevados para a realidade portuguesa), mas como era previsível, estas empresas – tal como todas as outras – não iriam perder mais uma oportunidade para dar largas à ganância e tratar de operar mais um saque aos cidadãos, sob a desculpa da inflação.

Aumentar o valor das portagens é manifestamente desnecessário e injusto, fazê-lo “às claras”, na ordem dos 10% seria um dos mais escandalosos roubos aos bolsos dos cidadãos. Então, para que a coisa pareça justa e para que todos – excepto o povo – saiam bem na fotografia, a estratégia passou pelo anúncio de um aumento na ordem dos 10%, para que posteriormente, um aumento de valor inferior (cerca de metade) pudesse ser acatado sem que se verificasse um grande descontentamento. Se ouvirmos e lermos as notícias na comunicação social ficamos com a ideia de que, afinal as empresas concessionárias privadas até nem são assim tão exploradoras e que podemos contar sempre com o governo, que está bem atento às intenções gananciosas dessas empresas e que nunca falha na defesa dos interesses dos cidadãos.

Isto não é mais do que a habitual encenação para ludibriar o povo. Lembremo-nos, por exemplo, que o governo também estava obrigado a aumentar as pensões de acordo com o valor da taxa de inflação e, ao abrigo do poder absoluto que a maioria parlamentar lhes concede, ignorou essa obrigação e deixou a coisa pela metade. Sendo que, pelo meio, ainda procedeu a um adiantamento do valor do aumento de 2023, pagos em Outubro, para dar a ideia de que estavam a ajudar os pensionistas. Portanto, o governo entende que as obrigações legais nem sempre são para se cumprir, sobretudo aquelas que favoreçam os mais desfavorecidos. Já se forem obrigações legais que defendam os sórdidos interesses das empresas privadas, o governo é sempre muito mais complacente.

Portanto, o aumento não será de 10%, não senhor. O governo de Pedro Nuno Santos está atento e não está de braços cruzados a assistir à avidez pela maximização do lucro evidenciada por parte das empresas privadas. Assim, o aumento será de 4,9% (directo aos cidadãos/utilizadores) acrescidos de mais 2,8% pagos pelo Estado, ou seja, pagos pelo povo. Perfaz um total de 7,7%, aos quais as concessionárias poderão ainda aplicar pequenos aumentos (na ordem dos 0,1%) nos períodos seguintes. Contas feitas, o valor do aumento real a aplicar no próximo ano não será muito abaixo do valor anunciado inicialmente, sendo que, garantidamente não haverá descida do valor das portagens quando a taxa de inflação descer. Mas a ideia que fica é a de que as empresas privadas “amigas” dos governantes (privatizadas pelo bloco central (PS e PSD) e, muitas vezes, geridas por ex-governantes) não são assim tão más e, como não poderia deixar de ser, a outra face da moeda, em que o governo aparenta ter actuado na defesa dos interesses dos cidadãos – o habitual trade off latente entre os governantes e o poder económico.

Merkel pôs a nu as verdadeiras intenções de “Minsk”

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Numa entrevista dada ao jornal Die Zeit, Angela Merkel admitiu que, aquando das negociações realizadas com Vladimir Putin em 2014 e 2015 (os famosos Acordos de Minsk), a paz nunca esteve na mente dos negociadores ocidentais, nomeadamente Alemanha e França, que tomaram parte do Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia.

Afinal, o cessar-fogo no Donbass nunca esteve em questão. O que estava na mente dos negociadores do Ocidente era “ganhar tempo para que a Ucrânia se pudesse fortalecer” militarmente e se preparar para uma guerra com a Rússia. Merkel assumiu que era preciso "dar tempo à Ucrânia" porque naquela altura, em 2014, "a OTAN não tinha capacidade para fornecer armas a Kiev, nas quantidades com que o faz agora".

Como já toda a gente deve estar a par - mesmo os mais distraídos, os desinformados e os trolls -, os Acordos de Minsk visavam estabelecer o cessar-fogo e garantir uma resolução pacífica para a região do Donbass. Ora, segundo as recentes afirmações de Angela Merkel, parece que, afinal, Vladimir Putin foi o único que esteve de boa-fé nessas negociações. E o único a acreditar que os Acordos de Minsk constituiriam o garante da paz no Donbass.

É um facto inegável que a Rússia tentou uma solução diplomática e pacífica para a grave situação do Donbass, caso contrário não teria perdido tempo e teria actuado nessa altura, nos mesmos modos com que o fez em Fevereiro deste ano. Em 2014 e 2015, a Rússia tinha uma vantagem militar ainda maior do que aquela que detém hoje e, tal como referiu Merkel, nessa altura, a OTAN não dispunha da mesma quantidade de armamento que dispõe hoje, para fornecer à Ucrânia.

Por que razão iria Putin embarcar na realização de acordos de paz, se não fosse para os cumprir? Faz algum sentido pensar que a Rússia esperou oito longos anos de constantes e violentíssimos bombardeamentos no Donbass - perpetrados pelo governo ucraniano -, esperando que a Ucrânia se fortalecesse militarmente (com o apoio e treino da OTAN), para os enfrentar agora? É claro que não faz qualquer sentido e, tal como referiu Angela Merkel, quem esteve de má-fé nessas negociações de paz foram os intervenientes políticos do Ocidente.

Foi o Ocidente que estabeleceu, de forma muito clara, que as regras da diplomacia não são para se cumprir e que aquilo que os representantes políticos do Ocidente dizem, escrevem e assinam não tem qualquer valor e não é para se levar a sério, tal como aconteceu com a promessa de que a OTAN nunca avançaria para leste, que nunca ultrapassaria as fronteiras alemãs.

Portanto, em 2014, enquanto os Estados Unidos punham em prática um golpe de Estado na Ucrânia, com o objectivo de plantar um governo fantoche e, logo de seguida proceder ao aumento das infra-estruturas militares, ao treinamento militar e respectivo aumento do número de efectivos e da quantidade de armamento, Merkel e outros lacaios europeus andavam a entreter Putin com falsas intenções de paz no Donbass.

Já nem se dão ao trabalho de disfarçar

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Emmanuel Macron - um dos mais fervorosos defensores do pensamento único – foi à Cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico) dizer que o mundo precisa de “uma só Ordem Global” – a “ordem” que o alimenta, que o controla e ao serviço da qual ele pretende emmerder todos quantos ousem opor-se-lhe.

As fraquezas do Eixo do Mal

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No programa Eixo do Mal do passado dia 1 de Dezembro, no canal SIC Notícias, os comentadores de serviço Clara Ferreira Alves, Luís Pedro Nunes e Daniel Oliveira abordaram o tema dos confinamentos na China. Pedro Marques Lopes não esteve presente nesse programa, algo que não se notou, pois como já devem ter reparado, o nível de conluio que os quatro comentadores evidenciam nas suas opiniões, o nível de autocensura e de intolerância pela diferença de ideias e de opiniões é de tal forma flagrante que o programa devia até mudar de nome, para algo do tipo: “Todos nos Eixos” do mal, eventualmente.

Os três comentadores presentes criticaram ferozmente as políticas de combate à pandemia levadas a cabo pelo governo chinês, pouco importados com a opressão do povo chinês e muito empenhados em passar uma esponja sobre as medidas antidemocráticas, inconstitucionais e fascistas até, que se tomaram no lado de cá do mundo, incluindo Portugal, com as quais todos eles concordaram e aplaudiram de pé. Apesar de muita gente ter protestado - cá tal como lá - contra as medidas implementadas durante a pandemia, os comentadores do Eixo do Mal fizeram parte do grupo que não admitiu protestos em “democracia”, que não tolerou a diferença de opinião e não se inibiu em protagonizar tristes figuras, quando tentaram ridicularizar aqueles que por cá decidiram fazer uso do seu direito de protestar. Como é que se atreveram a protestar em “democracia”? Coisa de biltres insubordinados, não é verdade?

Clara Ferreira Alves falou do fracasso das políticas COVID implementadas pelo governo chinês, tratando logo de estabelecer imediatos paralelismos à “repressão” e “tremenda corrupção”, tanto na China como na Rússia. Claro que a Rússia tinha que ser trazida para a fogueira. E acrescentou que “no ocidente estamos ocupadíssimos a tentar defender as democracias”. Não haja dúvidas de que no ocidente não há lugar para repressões nem corrupções. Clara Ferreira Alves deveria enveredar por uma carreira humorística.

Já o Daniel Oliveira optou por dizer que “nunca que no ocidente as medidas que são impostas na China alguma vez foram… há sempre uma irracionalidade, a irracionalidade dos regimes totalitários, é da sua natureza porque não têm nada para os moderar”. Para o Daniel Oliveira, as medidas absurdas que se tomaram no ocidente e as mentiras que se difundiram de manhã à noite (e continua) não tiveram nada de irracional.

A verdade é que os protestos em “democracia”, portanto, os protestos realizados no lado de cá, praticamente não surtiram efeitos, porque as pessoas que protestaram foram marginalizadas, excluídas de qualquer debate e viram as suas reivindicações completamente ignoradas pelo poder. Por cá foram impostas as ideias – erradas – daqueles que estão no poder e de todos quantos os controlam. Será assim tão diferente da China? Aquilo que vimos na China é que os protestos levaram a mudanças muito significativas nas políticas COVID implementadas pelo governo chinês. Vejamos, depois dos protestos, parece que o governo chinês – contrariado ou não – ouviu o povo e decidiu abordar a situação de outra maneira. As medidas restritivas mais severas foram abandonadas, acabaram os campos de quarentena, as pessoas passaram a poder fazer a quarentena em casa, acabaram as separações familiares, já não é necessário apresentar um teste negativo para entrar em recintos de espectáculos, menos restrições nas viagens e deslocações nacionais e, para breve, a queda das restrições para o tráfego internacional. Nada mal para protestos que duraram poucos dias, num país que é uma terrível ditadura.

Mas muito pior do que a desfaçatez e a hipocrisia evidenciadas nos comentadores deste programa é o discurso da propaganda e da mentira, que eles têm abraçado com muito carinho nos últimos tempos.

Ora, atentemos nas seguintes afirmações de Clara Ferreira Alves: “A vacina da China é manifestamente inferior às vacinas ocidentais”. E acrescentou, com aquela bazófia típica de todos quantos consideram que viajar os torna mais sábios que os demais: “Eu estive no Vietname e toda a gente me dizia: ‘nós apanhamos a vacina chinesa, a vacina chinesa não presta, morreu muita gente porque devíamos ter apanhado a vacina ocidental – a vossa vacina’”. Muito científica esta abordagem da Clara Ferreira Alves.

Dizer que “a vacina da China é manifestamente inferior às vacinas ocidentais” é uma tremenda mentira. Proferir afirmações deste nível, num programa que passa num canal de notícias, sem sequer se dar ao trabalho de demonstrar minimamente que isso corresponde à verdade é algo que não deveria acontecer “em democracia”. E como bem sabemos, ninguém naquele espaço de comentário vai sequer ousar contradizer ou questionar a autenticidade da afirmação. Eles estão lá para declamar a cartilha.

Tratou-se, pois, de mais uma tremenda mentira que foi dita em horário nobre, sem qualquer contraditório. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacina Sinopharm é segura e eficaz para todas as pessoas com idade superior a 18 anos, mesmo em mulheres grávidas. O nível de eficácia contra infecção sintomática e hospitalização apontada pela OMS é de 79% e a vacina é recomendada pelo SAGE (Strategic Advisory Group of Experts).

Já agora, aproveitemos para lembrar que, ao contrário das “nossas vacinas”, como lhes chama a senhora Clara Ferreira Alves (aquela velha e pacóvia ideia de que aquilo que vem dos EUA é “nosso”), a vacina Sinopharm usa a mesma tecnologia das anteriores e antigas vacinas, portanto, uma tecnologia com mais de 100 anos de experiência. Já sobre “as nossas”, as que recorrem à tecnologia mRNA não se pode dizer a mesma coisa. A vacina Sinopharm utiliza o vírus inactivado, algo que, à partida, confere muito maior garantia no nível de resposta que o sistema imunitário dará ao vírus. Ou seja, uma muito mais abrangente resposta policlonal.

Se os senhores comentadores do programa Eixo do Mal não estão na posse destas informações, que pelo menos tenham a honestidade de não se pronunciar sobre aquilo que desconhecem. Mas a forma como eles afirmam com tanta veemência o contrário daquilo que são as evidências científicas, demonstra claramente que estão lá para servir os interesses de alguém, que não é o dos cidadãos que os ouvem e acreditam nas patranhas que proferem. E são muitos os que acreditam piamente naquilo que eles dizem. Esse é o grande problema.

Como referi, a OMS garante que todas as vacinas aprovadas apresentam um elevado nível de eficácia contra doença grave e hospitalização. E se há vacina que, à partida, dá maiores garantias disso é a vacina chinesa, pelas razões que descrevi anteriormente. Portanto, em que evidência científica se basearam os senhores comentadores do programa Eixo do Mal para contrariar a OMS?

Relativamente à eficácia das vacinas mRNA, a Pfizer começou por indicar que a sua vacina tinha uma eficácia de 95% na redução do risco em termos “relativos”, já a Moderna garantiu que a sua apresentava uma eficácia de 94%. Não obstante, a redução do risco em termos “absolutos” apresentada durante o período de testes fixou-se nuns módicos 0,84%. Já a redução do risco em termos absolutos na vacina Moderna foi de 1,24%. A “redução do risco em termos absolutos” tem a ver com o risco que uma pessoa tem de desenvolver a doença durante um determinado período de tempo. Ora, após cerca de seis meses, a vacina da Pfizer apresentou um nível de eficácia de 3,7% e a da Moderna de 4,9%. Quanto à redução do risco em termos absolutos da vacina chinesa, não existem dados, contudo, os próximos tempos vão demonstrar o seu nível de eficácia, já que com o levantamento de muitas das restrições, haverá com toda a certeza um aumento exponencial do número de casos e, não será de estranhar que daqui a poucos meses possamos afirmar com toda a certeza de que a redução do risco verificada na vacina chinesa será, muito provavelmente, superior à verificada nas vacinas administradas nos países ocidentais.

Nessa altura, veremos se estes senhores terão a dignidade de assumir as patetices que andam a propagar, ou se vão fazer como têm feito, isto é, fazer de conta que não andaram a propagandear e a desinformar os telespectadores. E a tentar reescrever a história, como se fossemos todos, um bando de desmemoriados.

Reparemos ainda num pequeno excerto do diálogo que os três comentadores presentes no programa tiveram, como se estivessem numa dinâmica de vendas em grupo.

Daniel Oliveira: “espero que [os chineses] recuperem um bocadinho da liberdade que perderam”.

Clara Ferreira Alves: “pelo menos que não sejam internados à força”.

Luís Pedro Nunes: “a vacina chinesa é de facto muito má”.

Daniel Oliveira: “eles só não importaram (as mNRA – as boas) por ‘orgulho nacionalista’”.

Clara Ferreira Alves: “claro… e precisam dela…”.

Ninguém diria que algum dia veríamos o Daniel Oliveira – que costuma ficar com a barba azul, quando o tema é a liberdade e a democracia e que costuma eriçar-se todo contra os “precedentes” – usar a suspensão de direitos e perda de liberdade num país, que invariavelmente só é usado para servir de bode expiatório e para apagar os holofotes que expõem a sórdida violação dos direitos e liberdades nas democracias ocidentais. E ainda embarcou na palermice de que as vacinas chinesas são piores do que as norte-americanas. O Daniel Oliveira tornou-se num soldado disciplinado da “Esquerda” que destrói a Esquerda.

Clara Ferreira Alves diz esperar que “pelo menos [os chineses] não sejam internados à força”. Uma cómica esta senhora. Já no ocidente, o que assistimos foi ao despedimento “à força” de muitos profissionais de saúde que estavam a tratar daqueles que “forçosamente” necessitaram de internamento. Hilariante. E, no entanto, sobre isso, os comentadores de serviço nunca disseram uma única palavra.

Luís Pedro Nunes ainda se mostrou muito preocupado e irritado com o facto de aqueles que criticaram as políticas implementadas por cá, no ocidente, (confinamentos, vacinação e outras obrigatoriedades) estarem, agora, a dizer que aqueles que defenderam essas políticas não podem falar do que se passa na China. Pois fazem-no com toda a razão, porque aquilo que estamos a ver agora é a tentativa de negar aquilo que foi dito e feito, e a tentativa de reescrever a história. Luís Pedro Nunes considera que essa “é uma perspectiva errada porque o sistema chinês controla em absoluto…”. Parece que o senhor Luís Pedro Nunes está disponível apenas para aceitar um controlo que não seja absoluto. Se for um controlo moderadamente autoritário, ele já concorda de bom grado. Patético.

Só este pequeno diálogo é suficientemente ilustrativo das falsidades que se ouvem neste programa. Claro que muitos poderão alegar que ninguém é obrigado a assistir a um programa que, na sua opinião, difunde mentiras. Mas a questão vai muito para além desse ponto. Além disso, não sou eu que costumo defender a visão única, a ausência de contraditório e a orquestração de narrativas. Isso é tarefa para o Eixo do Mal e para outros programas de comentário e de informação que têm-no feito com muita maestria. Eu até considero que o programa Eixo do Mal deveria fazer parte de um plano de formação obrigatório, a que os delegados de propaganda médica da Pfizer e da Moderna deveriam participar. Não haja dúvidas que os formadores do Eixo do Mal são uns especialistas a vender a banha da cobra.

Por último, como eu não gosto de atirar afirmações para o ar, sem sustentar aquilo que estou a dizer. Aqui ficam os links que suportam as minhas afirmações sobre a eficácia das vacinas:

https://www.who.int/news-room/feature-stories/detail/the-sinopharm-covid-19-vaccine-what-you-need-to-know

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9115787/

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2034577

https://patient.info/news-and-features/calculating-absolute-risk-and-relative-risk

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