Foram muitos os que durante vários dias andaram de olhos postos no céu, directamente ou através das enviesadas lentes mediáticas, apenas para ver o balão chinês que vagueou pelo espaço aéreo dos Estados Unidos.
As autoridades norte-americanas não perderam tempo em vir dizer que se tratava de um balão de espionagem, que a China enviou para sacar informações ultra-secretas. Por seu turno, as autoridades chinesas não tiveram qualquer problema em assumir que se tratou de um incidente involuntário, sem contudo deixar de apresentar as desculpas pelo sucedido. Acrescentaram ainda que não havia nenhuma razão para fazer disto, um incidente diplomático, já que se tratava de um balão de pesquisa meteorológica. Mas nem isso serviu para quebrar o ímpeto neurótico das autoridades norte-americanas.
Vejamos, é óbvio que se tratava de um balão de pesquisa meteorológica. E convém acrescentar que estes tipos de balões não são dirigíveis e que podem sair da rota pretendida e vaguear para zonas indesejadas. É algo que acontece com alguma frequência e as autoridades sabem-no muito bem. Aliás, precisamente na mesma altura, um balão semelhante sobrevoou os céus da Colômbia e, por lá, ninguém entrou em histeria. Lidaram com a situação com a ponderação que uma situação deste tipo acarreta.
Pensem bem, faria algum sentido a China realizar uma operação de espionagem com estes contornos? Será assim tão difícil imaginar que a China tem meios muitíssimos mais evoluídos, mais discretos e mais eficazes para a prática da espionagem? Claro que os tem, tal como os EUA os têm. Portanto, a China não tem nenhuma necessidade de tentar realizar espionagem através de um balão meteorológico para saber onde se encontram as bases militares norte-americanas e, pensem lá, como pode alguém pensar que um este dispositivo aéreo poderia passar despercebido nos céus norte-americanos? Parece que o discernimento das pessoas anda perdido a vaguear pelos céus, tal como o balão chinês.
É, de facto, preciso ser-se muito néscio para sequer equacionar a possibilidade de este balão se tratar de uma manobra de espionagem.
Como referi, trata-se apenas de um balão de pesquisa meteorológica que, não raras vezes, desviam-se do curso pretendido, porque não são passíveis de ser “conduzidos” e estão sujeitos às naturais condições atmosféricas. E, apesar de ser algo que acontece com relativa frequência, nunca foi caso para se tornar notícia em todo o mundo, nem mesmo no desequilibrado mundo vassalo.
Aquilo que merece ser realçado neste caso é a reacção das autoridades norte-americanas. Trata-se de uma reacção que encaixa perfeitamente na situação diplomática que os EUA têm neste momento com a China e nas manobras provocatórias que Washington tem direccionado a Pequim. Como sabem, o secretário de estado dos EUA, Antony Blinken tinha uma visita agendada à China precisamente para esta altura para reunir com o Presidente Xi Jinping, e cujo principal objectivo seria aliviar a tensão na relação entre os dois países. Assim, a visita foi cancelada (ou adiada para nunca mais), só para criar mais um incidente diplomático e acicatar ainda mais a tensão nas relações entre os dois países.
Outro objectivo de Washington é começar a colocar os cidadãos do seu lado, para uma eventual decisão de conflito armado com a China. Aquilo que o poder norte-americano está a dizer aos seus cidadãos e aos vassalos dos outros países é: “Eles estão a violar o nosso espaço aéreo e a espiar-nos. Olhem só para o que nos estão a fazer. Eles estão a provocar-nos.”
Reparem, os EUA poderiam ter abatido logo o balão e assunto encerrado. Por que razão não o fizeram? Porque isso poderia representar um perigo para as pessoas? Bullshit. Não o fizeram apenas para alimentar a onda de histeria. Se o balão constituía uma potencial ameaça, não para a segurança interna dos EUA, mas para a aviação comercial, então as autoridades norte-americanas não deveriam ter deixado o balão a circular o espaço aéreo por tanto tempo. Mas o objectivo era criar um ambiente de tensão e de atenção para este caso, pelo máximo de tempo possível.
Realmente, como é possível que, aquela que se acha a maior potência mundial em tudo e mais alguma coisa ficar em completa histeria por causa de um simples balão a hélio, passível de ser observado a olho nu? Este mundo tem que estar mesmo muito doente, para continuar a aceitar e a sustentar as insanidades do poder norte-americano.
Mas muito mais visível do que o balão chinês está a completa decadência do poder imperialista norte-americano que está em claro colapso. E é precisamente por já ter tomado consciência disso, que os EUA não vêem outra alternativa que não seja atacar os seus inimigos de estimação. E este balão serve apenas como o fertilizante especial que vai germinar a ira nas mentes dos cidadãos norte-americanos (e dos vassalos) contra a China, ou seja, exacerbar o sentimento anti-China, tal como fizeram há não muito tempo, quando pretenderam intensificar o sentimento anti-Rússia, com o famigerado Russiagate.
E até se torna cómico verificar que, para o poder norte-americano, os seus inimigos, numa fase inicial são muitíssimos competentes e possuem uma tecnologia muito avançada, que até consegue invadir as suas fronteiras, espiar tudo e mais alguma coisa e até mesmo, pasmemo-nos, eleger Presidentes. No entanto, pouco depois, logo que as falácias tenham encontrado terreno fértil nas mentes ocas, essas nações inimigas passam rapidamente ao estágio de países parados no tempo, cujo poderio tecnológico e militar não passa de um hino à obsolescência.
A história repete-se uma e outra vez e, ainda assim, os países com governos vassalos, com uma comunicação social vendida e corrupta – a que se acrescenta uma larga fatia da população que é ignorante, distraída ou simplesmente mentecapta - embarcam sempre nos estratagemas de Washington.