Será que os crentes na comunicação social ainda não perceberam? Será que ainda continuam a embarcar nas mentiras fabricadas pelo poder instalado em Washington, que tentam inventar manobras que justifiquem tudo o que é conflito, um pouco por todo o mundo? E onde eles estão sempre presentes. Será que já se esqueceram das mentiras inventadas para justificar a guerra no Iraque? Ou das mentiras inventadas para justificar a guerra no Afeganistão? Ou ainda, das mentiras inventadas sobre a Líbia? A Síria? A Ucrânia? Ou até mesmo o “longínquo” Vietname?
A estratégia é sempre a mesma: fabricar um monstro horroroso do outro lado, que nos quer destruir e que, por essa razão, tem que ser eliminado, seja de que maneira for. E nós – os crentes - temos que estar todos unidos em torno dessa patranha, pois só assim o poderemos derrotar.
Como é possível ainda alguém cair nestas patéticas históricas hollywoodescas? Bem, é certo que a comunicação social tem o poder de endeusar os maiores criminosos e de fazer cair todas as culpas sobre os inocentes, contudo, creio que já vai sendo mais do que tempo de abrir os olhos. E, na verdade, é muito simples. Requer um pouco de atenção aos detalhes, mas, no essencial, basta apenas ouvir e ler o que é veiculado pela comunicação social e assumir o contrário de tudo – quase tudo – aquilo que é dito. Basta este pequeno exercício para se ter a noção da verdadeira realidade.
Há poucos dias, dois dos maiores criminosos do chamado “mundo democrático” vieram dizer que o horrendo ataque (mais um, para juntar a tantos outros) de Israel a um hospital em Gaza foi, afinal, obra do “outro lado”, ou seja, dos próprios palestinianos. Eles usam a expressão “jihad islâmica”, com o propósito de misturar todos no mesmo saco e também porque o uso de chavões facilita a cristalização da propaganda. Eu percebo que eles não tenham nenhum rebuço em usar esta patética estratégia, porque ela tem apresentado resultados. Basta ver o que aconteceu com a propaganda acerca do conflito na Ucrânia. Aí sim, os ataques a hospitais (maternidade), a escolas, ao teatro, à estação de caminho-de-ferro, a pontes, à barragem e muitas outras infra-estruturas foram obra das forças ucranianas, com o objectivo de colocar as culpas na Rússia. As chamadas “operações de bandeira falsa”, que constituía a única forma de continuar a alimentar o ódio da opinião pública sobre os russos e a única forma de manter a máquina de guerra a funcionar e, corolário dos corolários, continuar a fazer jorrar biliões de dólares para as corporações que verdadeiramente governam os EUA e o chamado “mundo ocidental”. E a maioria das pessoas acreditou, sem qualquer laivo de hesitação, em tudo aquilo que lhes despejaram através da comunicação social. Portanto, se agora voltarem a mentir, mesmo com o recurso à inversão de papéis, em princípio, a propaganda colherá novamente os seus frutos. Até porque, os FdP da comunicação social tratarão de fazer a coisa acontecer.
Veja-se que, agora, também voltaram a recorrer à estratégia do “eles são nazis”. Netanyahu disse que o Hamas são os novos nazis. Portanto, a mesma estratégia que foi usada na Ucrânia. Lá, na Ucrânia – o maior hub internacional do neonazismo – os nazis eram o exército russo. Bem, por este andar, qualquer dia Hitler ressuscita, volta a formar o seu exército e diz que vai combater os nazis. E se for a comunicação social e os seus FdP de serviço a dizê-lo, não vai faltar quem acredite.
Para os FdP da comunicação social, agora, as coisas já podem caber numa área cinzenta… “nem tudo é a preto e branco”, dizem eles. Agora há que fazer a “contextualização histórica” do problema. Agora, as “pessoas não têm que ter uma opinião formada”, não têm que “escolher um dos lados”, porque há assuntos que são muito complexos… No conflito israelo-palestiniano a história é muito “nebulosa”. Nebulosa é de certeza, sobretudo devido ao fumo das muitas bombas que Israel faz explodir em Gaza (e também na Cisjordânia), há décadas. Para esses FdP, na Ucrânia é que era e é tudo a preto e branco, porque do outro lado estão os russos. E quando de um dos lados está a Rússia, nós – TODOS - temos que automaticamente assumir a defesa do outro lado, seja ele qual for. Cambada de FdP acéfalos.
Sobre o conflito na Palestina, os FdP querem fazer-nos acreditar que a situação é complexa e que, apesar de haver atrocidades de ambos os lados, os terroristas são o Hamas e não o governo do Israel. Os FdP fingem uma aparente solidariedade para com o povo palestiniano, para, logo de seguida, culpar os próprios palestinianos pelas atrocidades que Israel comete sobre eles e, assim, justificar e promover a continuidade do apartheid e do genocídio levado a cabo pelos criminosos israelitas. Os FdP dizem que os terroristas do Hamas escondem-se atrás da população civil. Inacreditável. Vê-se logo que não fazem a mínima ideia da situação que se vive em Gaza. Os militantes do Hamas vivem no subsolo de Gaza, nos muitos túneis que por lá existem. Algo que deita logo por terra qualquer justificativa para os ataques que Israel tem realizado a partir do ar, sobre habitações e outras infra-estruturas civis, como hospitais e mesquitas. Mas notem bem. Mesmo que os membros do Hamas circulassem e vivessem à superfície, junto do resto da população palestiniana, que outra alternativa teriam senão a de se encontrarem involuntariamente na situação de estar atrás da população civil? Em Gaza, todos quantos queiram exercer a resistência armada não terão qualquer hipótese de o fazer sem colocar em risco o resto da população, porque a densidade populacional em Gaza é a mais elevada do planeta. Nem a cidade de Tóquio tem uma densidade populacional tão elevada.
Mas mais inacreditável ainda é o facto de estes FdP não terem nenhum pejo em garantir que o Hamas é uma organização terrorista e que usa a população palestiniana como escudos humanos. E, no entanto, são os mesmos que endeusaram os neonazis do Batalhão de Azov que, para esses FdP, eram uns “heróis da resistência” ucraniana. Quando esses é que usaram e abusaram da população civil como escudos humanos. Basta apenas recordar o episódio “Azovstal”.
Enfim, uma cambada de FdP avençados e assalariados que só têm o objectivo de veicular a propaganda dos mestres da guerra em Washington: os maiores terroristas à face da Terra.
A capacidade que esta gente tem para cair no vazio moral e na total falta de humanidade é de uma gravidade sem precedentes. Por incrível que pareça, ainda é necessário repetir até à exaustão que “a tragédia que se abate sobre o povo palestiniano dura há longas décadas”. Aqueles que agora dizem que “isto é complexo”, só querem uma coisa: condenar o ataque do Hamas e fazer deles os piores terroristas à face da Terra (relegaram Putin para a segunda posição), e centrar o foco no Hamas, com o objectivo de defender e apoiar os maiores terroristas daquela região – o governo israelita. O objectivo destes FdP é sempre o de seguir as instruções de Washington e, assim, preservar o maior terrorista. E o maior terrorista são os EUA, não se distraiam. Os governantes israelitas são uns facínoras da pior espécie, mas não passam de moços de recados ao serviço de Washington.
Os FdP tentam isolar este ataque do Hamas e projectá-lo como se fosse o gatilho que originou o conflito. Notem que a máquina de propaganda de Washington tratou de ditar a todos os órgãos de comunicação social para que estes chamem este conflito de “guerra Israel-Hamas”, para distrair os incautos sobre o massacre, sobre a punição colectiva, sobre o genocídio que cometem sobre o indefeso povo palestiniano. Como se a guerra de Israel não fosse contra o povo palestiniano. Como se Israel não estivesse apenas obcecado em realizar uma limpeza étnica na Palestina.
Voltando ao ataque do Hamas, é óbvio que se olharmos para esse acto de forma isolada, ou seja, se esquecermos tudo o que está para trás, não vamos encontrar nenhuma justificação para tal atrocidade. Claro que qualquer morte, qualquer dano físico infligido à população civil, mesmo que insignificante, torna-se algo difícil, se não mesmo impossível de tolerar. Mas, a verdade é que o passado não pode ser apagado, por muito que tentem. Muito menos um longo passado do mais perverso horror exercido sobre um povo que a comunidade internacional optou por esquecer. Por tudo isto, fica muito difícil condenar o Hamas. E todos aqueles que tentam equiparar as acções do Hamas com as atrocidades cometidas por Israel ou, ainda pior, quem quer que o Hamas seja visto como “os terroristas” deste conflito, só estão a tentar forçar a ideia de que todos nós devemos tomar o lado de Israel. Que todos nós devemos apoiar e legitimar o genocídio que Israel comete contra o povo palestiniano há décadas. É por esta razão que eu me recuso a juntar-me à onda de condenação do Hamas. Que outra forma tem aquele povo indefeso de resistir às atrocidades cometidas por Israel? Nenhuma. Apenas a de continuar a morrer lenta e silenciosamente. É isso que os FdP defendem com as suas imbecis afirmações.
Os FdP querem fazer-se passar por gente moderada, como se o fascismo e o autoritarismo se combatesse com falsa moderação. São os mesmos que ainda se atrevem a propagandear que Joe Biden é "o moderado na sala", no mesmo momento em que a sua administração envia mais armamento para Israel e desaprova o cessar-fogo em Gaza. Mas que puta de lata a destes FdP.
E quem são os FdP que querem que todos nós condenemos o Hamas? São os mesmos que assobiaram para o lado quando os soldados israelitas assassinaram civis desarmados (incluindo muitas crianças), quando assassinaram jornalistas, enfermeiros, médicos e socorristas. São os mesmos FdP que se indignam com o facto de o Hamas ter feito reféns civis, mas que nunca se importaram que, durante décadas, Israel mantivesse (e continua a manter) inúmeros civis palestinianos em prisões, entre eles, muitas mulheres e crianças. Sim, crianças presas porque atiraram pedras sobre aqueles que lhes atiram balas e bombas constantemente. São os mesmos FdP que nada dizem acerca da humilhação a que o povo palestiniano é submetido diariamente na Cisjordânia, por um regime apartheid muitíssimo pior do que aquele que se verificou na África do Sul. E, já agora, lembrem-se todos que, Nelson Mandela, na altura, também era visto como o terrorista lá da zona, como o principal culpado pelo conflito na África do Sul. E até esteve preso durante quase três décadas, vejam bem.
Os FdP que querem que todos condenem o Hamas, são os mesmos que nunca disseram uma única palavra sobre os ilegais e criminosos colonatos israelitas, cujos colonos matam palestinianos só porque sim, só porque querem roubar-lhes o seu território e as suas casas. São os mesmos FdP que ficaram calados quando o exército israelita expulsou o povo palestiniano de Jerusalém. O povo palestiniano habitava aquela região há incontáveis gerações, mas Israel achou-se no direito de as expulsar e ficar com as terras e com as casas que lhes pertenciam. São os mesmos FdP que ignoram a existência de milícias de bandidos de judeus extremistas que violentam e espancam até à morte os palestinianos que circulem perto deles, ou que apenas estejam nos seus locais de oração.
São os mesmos FdP que agora aceitam a declaração de guerra de Israel a Gaza, onde a população já é aterrorizada e condenada a morrer à fome e à falta de todo o tipo de assistência por culpa do governo israelita, há décadas, não é só agora (agora a situação agudizou-se ainda mais). A população palestiniana em Gaza – cerca de metade são crianças e adolescentes - vivem sem electricidade, sem água, sem comida, sem medicamentos e é constantemente bombardeada por Israel há muito, muito tempo. São estes os FdP que querem que eu e outras pessoas como eu condenemos o Hamas para, assim, passar uma borracha por cima de todas estas barbaridades? Não contem comigo.
Estes FdP que querem, à força toda, que condenemos o Hamas, só pretendem que o povo palestiniano em Gaza baixe as armas e que se mantenha mudo e quedo, no maior campo de concentração que alguma vez existiu. Ou seja, aquilo que estes FdP desejam - e que muito querem que todos concordemos - é apenas a condenação de um povo indefeso que se encontra a desaparecer lentamente da face da Terra, ou seja, a morrer lenta e sofredoramente. Um povo que vive na mais profunda miséria e completamente à mercê de um exército de fascistas que não perde uma única oportunidade para os aniquilar a sangue frio, por nenhuma outra razão que não seja a pura desumanidade, o racismo, a xenofobia e pelos seus ignóbeis desígnios de supremacia.
Os FdP ignoraram completamente as declarações feitas pelo governo israelita que classificou como “animais” a população que vive em Gaza, na mais repugnante tentativa de desumanizar uma população, apenas para justificar as horrorosas atrocidades que cometem sobre ela.
As atrocidades que o Hamas possa cometer contra Israel, todas somadas e multiplicadas por mil, não chegam sequer a fazer cócegas às atrocidades que Israel já cometeu e continua a cometer contra a população palestiniana. E a comunidade internacional - o famigerado “mundo livre e democrático ocidental” – quer continuar a apoiar um estado apartheid e genocida. É esta a realidade, pura e dura.
A população palestiniana não é usada como escudo humano pelo Hamas, ou por outras organizações que mantêm viva a resistência na Palestina, ao contrário do que é amplamente afirmado pelos FdP. Eles que vão lá perguntar ao povo palestiniano se eles se sentem usados como escudos humanos. Basta atentar nas manifestações de apoio ao Hamas que ocorreram na Cisjordânia.
Para terminar, que isto já vai muito longo, é incrível constatar que muitos destes FdP que querem que todos condenemos o ataque do Hamas, são os mesmos que enchem a boca para falar contra o colonialismo e a escravatura de há séculos. Se os escravos nunca se tivessem revoltado contra os seus mestres e senhores – com recurso a qualquer tipo de violência que tivessem ao seu dispor – a escravatura (a de outros tempos) nunca teria acabado.
São ou não são uns grandessíssimos Fanáticos da Propaganda (FdP)?