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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

Contrário

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RAPIDINHA

Trump deporta imigrantes, porque considera que as pessoas devem viver na sua terra, no seu país de origem, com excepção do povo palestiniano, que deve ser expulso do seu próprio país e entregá-lo aos "nazionistas".

O "Mestre Guerra" já está em Israel

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A estratégia repete-se infinitamente. Os mestres da guerra e mestres da propaganda deturpam a realidade, acusam os outros de fazerem aquilo em que eles são “os mestres”, acusam os outros de cometerem atrocidades que, nem que se multiplicassem por mil chegariam perto daquilo em que eles são “os mestres”, e ainda se atreve a comparar a situação actual dos israelitas com o holocausto e os campos de concentração, quando ali ao lado, na Faixa Gaza, os palestinianos resistem como podem no maior campo de concentração que alguma vez existiu.

Blinken fez o habitual, ou seja, passou por cima da realidade, enunciou “razões” sem apresentar factos, ditou a narrativa (que os europeus já vinham e continuarão a seguir com exemplar obediência) e ainda aproveitou para, ali mesmo, desde Israel, garantir que o negócio das armas vai continuar a fluir para os oligarcas americanos e, pior do que tudo, garantir que o genocídio do povo palestiniano - que não tem como se defender - é para continuar.

Já agora, qual é o denominador comum em todas as guerras? 

A SIC já dispensou os serviços deste indivíduo?

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Obviamente que se trata de uma pregunta retórica. O canal de televisão com mais audiência no país jamais poderia descartar um especialista em propaganda. O canal de televisão mais visto em Portugal apresenta “notícias” sobre o conflito entre Israel e a Palestina pela lente de um “jornalista” israelita. Não há nada de novo aqui, a SIC tem feito a mesma coisa noutras situações.

A SIC, bem como todos os demais órgãos de comunicação social, não fazem jornalismo. Aquilo a que se pode assistir todos os dias é um festival da mais sórdida propaganda que só tem o objectivo de servir os mestres em Washington.

Este crápula, que dá pelo nome de Henrique Cymerman, num dos seus directos para um bloco de notícias do canal SIC disse o seguinte:

“Há fotografias, imagens e vídeos terríveis de uma criancinha de quatro, cinco anos, loirinho, no meio de meninos de Gaza que o insultam…”.

Portanto, durante uma comunicação que fez em directo de Tel Aviv, este indivíduo mais não fez do que branquear e prestar adoração à sórdida violação de direitos humanos e à prática genocida que os sucessivos governos israelitas exercem sobre o povo palestiniano. O ódio, o racismo, a xenofobia estão bem patentes nas suas afirmações, como esta que acabei de salientar.

Para Cymerman, a criança israelita é uma “criancinha”. E é “loirinho”, não é como as crianças de Gaza, mestiças, de cabelos e olhos escuros, que só sabem grunhir e comportarem-se como animais.

Aquilo que Cymerman fez, em directo para todo o país ver, foi um execrável e repelente acto do mais puro radicalismo racial, típico dos sionistas em Israel, que se consideram uma “raça” superior e que não suportam a convivência com as demais. E para emporcalhar ainda mais a sua peça de “jornalixo” e o canal que lhe dá espaço, ainda se atreveu a comparar a situação que se vive em Israel com o Holocausto, como se não fossem os mais de dois milhões de palestinianos em Gaza que vivem no maior campo de concentração de toda a história.

O nível de desumanidade, bem como a incompetência e o servilismo jornalístico são mais do que evidentes neste indivíduo e estão bem adequados ao canal que serve. Mas poderia estar ao serviço de qualquer outro órgão de comunicação social, já que o jornalismo prostibular grassa por todo o lado. A única diferença está no estilo.

O muro racista e xenófobo é, agora, o muro do amor

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Tal como noticiou a RTP, Joe Biden vai avançar com a construção de mais 32 km de muro no Texas, junto à fronteira sul com o México. O presidente democrata tinha prometido durante a campanha eleitoral não dar seguimento à obra de Donald Trump. Revogou agora 26 leis federais para avançar com a ampliação do muro.

Não sei se ainda se lembram quando todos (sobretudo a comunicação social) caíram em cima de Donald Trump, acusando-o de ser “racista”, “xenófobo” e de “extrema-direita”, por este querer aumentar o muro que já existia na fronteira com o México.

Eu não estou em condições de afirmar que Donald Trump não é nada daquilo que foi chamado por todos os “democratas” e por quase toda a “isenta” comunicação social, mas aquilo que eu posso afirmar com absoluta certeza é que Joe Biden – que é um incontestável democrata, (não é?) – faz de Donald Trump um visionário da democracia norte-americana.

Se Joe Biden quiser ser um bocadinho menos hipócrita, depois de finalizar o seu “muro do amor” deverá mandar colocar uma estátua de Donald Trump em cima, para o homenagear. Ele bem merece.

Um escroque é um escroque

E o que não falta são escroques

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Este escroque – que é o fantoche de Washington na Presidência da Comissão Europeia – passa os seus dias a dizer que “há um invasor e um invadido”, “há um agressor e um agredido” e que nós (União Europeia) “temos que estar do lado do invadido e ajudá-lo a defender-se”.

É o mesmo escroque que diz que Israel – o invasor, o agressor, o violador das leis internacionais e dos direitos humanos – “tem o direito de se defender”. Este escroque ignora o longo passado de ocupação de Israel na Faixa de Gaza, o longo rasto de massacre, perseguição e liquidação sumária de um povo e ainda tem a puta da lata de estar ao lado de um governo fascista, que só tem como objectivo fazer desaparecer esse povo da face da Terra.

Este escroque nunca quis ajudar o povo palestiniano - invadido e agredido - a se defender. Este escroque – que nem sequer foi eleita – limita-se a cumprir rigorosa e alegremente as instruções que recebe de Washington: o maior instigador do terror por todo o mundo. Além de mostrar claramente o quão incoerente e maldosa é a sua actuação enquanto presidente da Comissão Europeia, ainda se atreve a atirar lenha para uma fogueira que arde há tempo demais, instigando o governo fascista de Israel a escalar a violência sobre um povo praticamente indefeso e abandonado pela comunidade internacional. Esta c**** criminosa deveria estar na cadeia.

À semelhança deste escroque, muitos outros escroques chamados de “líderes políticos”, por toda a União Europeia, também saíram em defesa de Israel – o invasor, o agressor, o violador das leis internacionais e dos direitos humanos – repetindo a mesma cassete do escroque-mor em Bruxelas que, por sua vez, não sabe fazer outra coisa que não seja repetir a cassete enviada por Washington.

E, por fim, os asquerosos escroques da comunicação social que noticiam os últimos acontecimentos, como se se tratasse de uma guerra que acaba de se iniciar, e por culpa dos palestinianos – os invadidos e agredidos. Portanto, como é seu hábito, a comunicação social não contextualiza os acontecimentos, faz de conta que nada se passou até agora e noticia os acontecimentos através das deturpadas e conspurcadas lentes americanas e israelitas.  

Já agora, só para que se tenha uma pequena ideia do quão nojenta é a comunicação social, nas últimas horas morreram muito mais palestinianos às mãos dos israelitas do que o contrário. Mas a desprezível comunicação social relata a situação como se os muitos mortos e feridos fossem todos vítimas do Hamas.

Numa verdadeira democracia, esta gentalha repelente não ocuparia os lugares que ocupa.

A demência que grassa

A Miss Portugal é um Mister

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Primeiro foi em Porto Rico, depois nos Países Baixos e agora foi em Portugal. Sim, porque se há país que adora abraçar as novas e patéticas modas do “estrangeiro”, esse país é Portugal.

Ora, parece que um homem acaba de vencer o concurso de Miss Portugal. Sim, leu bem, um homem venceu o concurso de Miss Portugal e vai representar o país no concurso Miss Universo 2023.

O acontecimento é recente – deu-se na passada Quinta-feira – e talvez se deva ao pouco destaque que a comunicação social lhe atribui que faz com que ainda ninguém se tenha manifestado em relação a uma ocorrência com estes contornos. As (e os) feministas parecem que desapareceram do mapa, ou então, talvez se deva ao facto de as poucas notícias sobre este assunto referirem que se trata de uma “mulher transgénero” e talvez tenham considerado que isso significa ser mulher. São pessoas de causas, mas de fracas convicções.

Bem, os concursos de beleza nunca foram muito abonatórios para a integridade e para a dignidade das mulheres, mas, pelo menos eram concursos em que uma mulher só tinha que ser mulher para fazer parte. Agora, numa sociedade pejada de movimentos feministas e de muitas outras pessoas que, sendo feministas ou não, dizem querer lutar por um mundo onde haja mais respeito pelas mulheres, um homem vence um concurso destinado a celebrar a beleza feminina

Será este o cúmulo do machismo? Onde os homens já nem sequer permitem que uma mulher vença um concurso de beleza feminina. Onde ser mulher já não é requisito obrigatório para se candidatar a Miss Portugal. Não, não creio que a coisa vá ficar por aqui.

A demência que grassa é de tal forma acentuada, que já ninguém se presta a indignar-se com o que quer que seja. Venham as novas modas, venha os ditames que o rebanho está mais do que pronto.

 

Zelensky foi a Granada, mas só lhe deram cavilhas

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Zelensky foi convidado a estar presente na reunião do Conselho Europeu em Granada. Trata-se de uma reunião informal, mais uma que serve rigorosamente para quase nada, a não ser a demonstração de que os chefes de estado da União Europeia (quase todos) continuam firmes na sua posição preferida - de quatro – a obedecer alegremente às instruções de Washington.

Uma vez mais, o presidente do país mais corrupto da Europa foi convidado a tomar parte de uma reunião de um órgão da UE (faz sentido). Zelensky foi a correr até Granada, porque achava que iria sair de lá com mil contentores cheios delas, para atirar aos russos. Mas, uma vez mais, a montanha pariu uma rataria e Zelensky saiu de lá só com as cavilhas.

Primeiro, a Polónia retirou o apoio militar, depois os EUA suspenderam a ajuda e, agora, até a OTAN diz que está a ficar sem armas. Estranho? Nem por isso. Portanto, Zelensky está claramente a perder o apoio que tanto suplica. Contudo, não há razão para esmorecer, já que do outro lado está um exército de jovens impreparados (a lutar contra a sua própria vontade e mortinho por desertar), que só têm à sua disposição o pouco armamento obsoleto e de pólvora seca que sobrou da Segunda Guerra Mundial, mais umas pás e umas sacholas.

No meio de todo este circo, ainda houve tempo para Marcelo apalhaçar ainda mais a situação – aquilo que ele melhor sabe fazer – convidando Zelensky a participar na Cimeira de Arraiolos. O encavilhado Zelensky agradeceu a Marcelo, mas declinou o convite e terá alegado que no Palácio Mariyinsky não faltam tapetes.

“Jornalismo” de totós para totós

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O “jornalismo” da Executive Digest prima pelo “diz que disse”, pela total ausência de factos mas, também, por uma tremenda dose de humor. Quem optar por interpretar este tipo de “jornalismo” pela perspectiva humorística, certamente não vai ficar muito incomodado e até vai achar alguma piada. Contudo, os muitos totós que recebem este “jornalismo” de braços abertos e mente fechada, e que acreditam que se trata de verdadeiro jornalismo, nem se dão conta que só estão a tentar satisfazer a sua insaciável fome de trampa jornalística e a alimentar a existência dos jornaleiros da desinformação.

A Executive Digest – bem como toda a comunicação social, diga-se – continua a propagar mentiras sobre o que se passa na Ucrânia. Trata-se de uma comunicação social que está ao serviço de tudo, menos da verdade, dos factos e da divulgação de informação previamente analisada e confirmada. Desta vez, a Executive Digest desinforma que “ataques da Ucrânia praticamente derrotaram a frota russa no Mar Negro”. É certo que eles referem que foi o ministro britânico James Heappey quem passou essa “informação” (veja-se o tamanho do desespero dos políticos britânicos), mas isso não confere nenhuma credibilidade à “notícia” da Executive Digest, muito pelo contrário. Isto não é jornalismo. Isto é, apenas e só, difundir propaganda encomendada. Se já é péssimo termos um poder político corrompido, fica ainda pior quando a comunicação social se junta e se verga a servir esse poder.

Enquanto isso, na Sky News, a deputada parlamentar ucraniana - Lesia Vasylenko – afrimava que “infelizmente [a Ucrânia] recuperou menos de 1% do território ocupado pela Rússia”. E ainda acrescentou que “a Rússia está a vencer” e que a “contra-ofensiva ucraniana falhou”.

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Convém apenas acrescentar que também a Sky News é um canal de propaganda, que só serve os interesses da minoria que comanda e controla o poder instituído. Aparentemente, na Sky News não estavam a contar que a deputada ucraniana dissesse a verdade em directo e, por essa razão, até já retiraram o vídeo da entrevista em que Lesia Vasylenko disse a verdade e o óbvio. Provavelmente até já estarão a preparar uma “peça”, na qual vão descredibilizar a deputada ucraniana, apelidando-a de ser pró-Rússia e pró-Putin. Não me admirava nada. É sempre assim. É a receita, pouco original mas muito eficaz, determinada por Washington.

Para já limitaram-se a tentar apagar o registo das afirmações da deputada ucraniana e assim encobrir a verdade, uma vez mais. E eu que pensava que esse era o comportamento da comunicação social russa e chinesa. Pelo menos é o que se ouve e se lê no "mundo livre", todos os dias. 

“Gravíssimo e sem precedentes”, sem dúvida

Os médicos que dizem fazer 500 e 600 horas extra por ano, não aceitam fazer 300 horas extra por ano

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Os médicos (do SNS) andam a dizer-nos – há séculos – que trabalham muito, que são explorados, que fazem muitas horas-extra por dia e que estão exaustos. Por estas razões, alegam que está em causa o atendimento aos doentes. Certamente que todos já demos conta das intermináveis listas de espera no SNS (consultas, exames e cirurgias) e no número inaceitável de horas que uma pessoa tem que esperar, sobretudo nos serviços de urgência.

Neste momento, a Ordem dos Médicos e os vários sindicatos ameaçam com inúmeras greves e avisam que as coisas só vão piorar. Parece que a gota de água tem a ver com o facto de o governo pretender que os médicos se disponibilizem a fazer mais do que as 150 horas de trabalho extraordinário, a que estão obrigados por lei. O governo pretende que os médicos aceitem fazer até 300 horas de trabalho extraordinário. Algo que os representantes dos médicos dizem ser algo inaceitável e impossível de implementar.

Ora, recapitulemos a situação e façamos alguns cálculos básicos.

Os representantes dos médicos sempre disseram que a maioria dos médicos tem estado sujeitos – há vários anos – à realização de várias horas extraordinárias. Todos nos recordamos de ouvir falar em 14, 16 ou até mesmo 18 horas de trabalho diário. Mais, sempre disseram que os médicos já se encontram a realizar 400, 500 e, nalguns casos, 600 horas de trabalho extraordinário por ano (eles nunca dizem que é por ano, supostamente para fazer a opinião pública considerar a impossibilidade de ser por mês). Ora, como agora fica bem claro – porque são os próprios médicos a admiti-lo -, os médicos não fazem mais do que 150 horas extraordinárias por ano. E os que têm feito as 150 horas extraordinárias anuais, só o fizeram porque a lei assim o determina, caso contrário, nem isso estariam disponíveis a fazer. Obviamente que há sempre excepções, mas a regra é a de que a maioria dos médicos não faz mais de 150 horas extraordinárias por ano. Aliás, qualquer pessoa que tenha o mínimo de contacto com os serviços de saúde rapidamente se apercebe dessa realidade.

Contas feitas, 150 horas anuais de trabalho extraordinário significa que, em média, cada médico realiza cerca de 40 minutos de trabalho extraordinário por dia. Uns singelos 40 minutos de trabalho extraordinário por dia, que nem sequer compensam os muitos minutos que os "xôs dotôres" despendem a tomar cafezinhos. Portanto, parece que estes 40 minutos diários de trabalho extraordinário têm posto a cabecinha dos "xôs dotôres" em água, levando-os ao tão propalado burnout.

Se atentarmos na proposta do governo – realizar até 300 horas anuais – logo verificamos que aquilo que está a ser pedido aos médicos (e não se aplica a todos os médicos) é que se disponibilizem a realizar, em média, pouco mais de uma hora de trabalho extraordinário por dia. Considerando o estado em que se encontra o atendimento no SNS, não se vislumbra a razão pela qual os médicos não estão disponíveis para colaborar na melhoria da qualidade do atendimento aos doentes.

O SNS tem muitos problemas para resolver, os doentes sofrem imenso no atendimento, sobretudo nos serviços de urgência e infelizmente não existe uma solução miraculosa que resolva a situação no imediato. Por que razão os médicos estão tão intransigentes em se esforçar um bocadinho – porque é mesmo de um bocadinho que se trata – e colaborar na amenização de um problema grave que acomete o SNS?

Não creio que o governo esteja a pedir demasiado aos médicos. E penso que nem será necessário recordar que esse acréscimo de trabalho é devidamente remunerado, pois de outra forma não poderia ser. Mas os médicos não estão disponíveis para aliviar um pouco a pressão no SNS, muito pelo contrário, eles pretendem usá-la como arma de negociação para forçar o governo a aumentar os seus salários. É apenas disso que se tratam a reivindicações dos médicos – mais dinheiro. Porque se o governo atendesse às suas pretensões salariais, já não havia burnout e os "xôs dotôres" já arranjavam mais tempinho para trabalhar no serviço público de saúde.

Os médicos só fazem este braço de ferro porque usam a concorrência do sector privado como factor de comparação. Portanto, trata-se apenas de mercantilizar o serviço público de saúde. Claro que o resultado só poderia ser aquele que está à vista de todos, isto é, a degradação do SNS em favor da promoção do negócio privado da saúde, para o qual os governos PS e PSD/CDS muito contribuíram. Isto é gravíssimo e inaceitável.

Do ponto de vista político, não se esperava da direita, outra coisa que não fosse aproveitar a actual situação para tentar degradar ainda mais o SNS e promover os amigos do sector privado. Já da esquerda, que está sempre a defender o SNS, é muito estranho vê-los a ceder às exigências inaceitáveis dos médicos. Eu vi e ouvi políticos que se dizem de esquerda, a defender um aumento de 50% no salário dos médicos, ao mesmo tempo que defendem um aumento inferior a 20% para todos quantos auferem o salário mínimo nacional.

De facto, não se percebe a razão pela qual a classe médica continua a ser uma classe de trabalhadores à parte de todas as outras. Os médicos continuam a ser vistos como trabalhadores especiais, quer pela classe política - de uma ponta à outra – quer pela comunicação social que dá sempre uma enorme e amiga cobertura às reivindicações dos médicos, quando, regra geral, procede ao contrário com todas as outras classes profissionais. Ou seja, qualquer outra classe de trabalhadores que proteste em Portugal é logo vista como um bando de preguiçosos e gananciosos que só querem ganhar mais dinheiro. Quando se trata dos "xôs dotôres", aparecem todos a bradar aos céus para que atendam às suas pretensões, porque eles são seres especiais.

Convinha acordar de uma vez por todas e perceber que os médicos – mesmo os que estão no SNS - são dos trabalhadores mais bem pagos no país. Se eles acham que ganham pouco, imaginem o quão mal remunerado é o trabalho de todos os outros, ou quase todos. Mais, a maioria dos trabalhadores em Portugal realiza muito mais de 150 horas de trabalho extraordinário por ano e não reclamam tanto, não ganham tanto e não contribuem para a paralisação de um serviço tão essencial, como é o caso dos serviços de saúde.

Alguns distraídos vêm logo alegar que, precisamente pelo facto de o serviço de saúde ser tão importante é que o governo deve atender às exigências dos "xôs dotôres". Ora, nada mais errado, desde logo porque os serviços de saúde não funcionam apenas com médicos e, como já referi, estes são os que menos razões têm para se queixar. Além disso, se o governo passar a olhar para o problema do SNS na perspectiva mercantilista e capitalista e atender às exigências daqueles que são os mais privilegiados, isso só irá contribuir para aumentar o exagerado poder que esta classe já possui – e nunca deveria ter possuído – e ficar refém dela para sempre.

A solução para o problema que se coloca pela falta de médicos no SNS é simples e única. Não há outra forma de resolver o problema de forma duradoura. Só é preciso um governo que tenha coragem de a implementar. Passa por “obrigar” todos os médicos formados nas faculdades públicas a estarem ao serviço do SNS. Sim, eu disse “obrigar”, entre aspas claro, porque ninguém seria, de facto, obrigado a fazê-lo. O Estado deve apresentar, previamente à entrada nas faculdades, um contrato a todos quantos desejem formar-se e especializar-se numa faculdade de medicina pública do país. Esse contrato deve ser muito claro quanto à qualidade da formação dos alunos/profissionais, quanto à progressão na carreira, quanto a todas as regalias (salário incluído), mas também quanto à obrigatoriedade de os médicos permanecerem ao serviço do SNS, pelo menos por um período que garanta a sustentabilidade e a qualidade do atendimento nos estabelecimentos públicos de saúde. Só assim se pode garantir que, a longo prazo, o SNS não terá de lidar com o problema da falta de médicos. Não há outra forma de resolver o problema.

Os falsos profetas da democracia e da liberdade bem podem barafustar com a implementação de uma medida com estas características, contudo, ela não tem nada de autoritária. O Estado coloca a opção às pessoas antes de elas enveredarem por esta profissão, quem não estiver de acordo tem bom remédio, que vá fazer outra coisa na vida ou que pague do seu bolso a realização do seu curso de medicina numa faculdade privada. Afinal, não é do privado que eles tanto gostam? Não é o sector privado que eles adoram usar como benchmarking? Ou estarão apenas interessados em apropriar-se do melhor dos dois mundos, que significa aproveitar a formação e a especialização (extremamente caras para o erário público) no Estado, para logo depois dar à sola para o sector privado?

Uma vez mais, parece que estou a ouvir os mesmos falsos profetas da democracia e da liberdade a barafustar com o facto de isso não acontecer com nenhuma outra classe profissional. Pois claro que não. O Estado só o deve pôr em prática quando está em causa a garantia de um serviço público de qualidade, que não falte nunca à sua população. Além disso, perguntem a todos os portugueses quão incomodados ficariam se o Estado lhes oferecesse a possibilidade de optar pela realização de um contrato com as mesmas características daquele que eu defendo que deve ser implementado com os candidatos a futuros médicos. A esmagadora maioria assinaria de cruz.

Se os médicos têm algum fundo de razão nas exigências que fazem, outras classes profissionais têm muitas mais razões de queixa. E, por uma questão de justiça social, todos os que auferem o salário mínimo nacional (ou pouco mais que isso) e todos os que recebem pensões miseráveis é que devem ser assunto prioritário para o governo. E não os "xôs dotôres" que são uma classe privilegiada face a praticamente todas as outras.

Se os médicos podem fazer chantagem com o Estado, depois de este lhes ter providenciado formação, especialização e experiência, por que razão não pode o Estado estabelecer, logo à partida e com toda a clareza e justiça as regras do jogo? Se os médicos não se coíbem a recorrer às leis mercantilistas para defender apenas os seus interesses pessoais, por que razão não pode o Estado avançar com uma medida que contenha os pressupostos que referi, quando todos sabemos que a esmagadora maioria dos candidatos aos cursos de medicina fica de fora do numerus clausus?

Não só pode, como deve. É esse o papel do Estado - garantir um serviço de saúde com qualidade aos seus cidadãos.

Fico contente com a Eslováquia

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O partido Smer-SD, liderado por Robert Fico, venceu as eleições legislativas na Eslováquia. O partido Smer- SD é um partido da esquerda social-democrata.

Após a vitória nas eleições, Robert Fico disse que “A Eslováquia e o povo da Eslováquia têm problemas maiores do que a Ucrânia. O facto de sermos a favor da paz não altera o facto de querermos providenciar ajuda humanitária à Ucrânia. Estamos dispostos a ajudar na reconstrução do Estado, mas conhecem a nossa opinião sobre o armamento na Ucrânia. Acreditamos que a Ucrânia é uma grande tragédia para todos, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, também dentro da UE, para alcançar negociações de paz o mais rapidamente possível”.

Portanto, uma posição política não apenas aceitável, mas obrigatoriamente respeitável, sobretudo no seio daqueles que se arrogam como “os democratas do mundo livre”. Mas não é isso que se verifica. A maioria dos políticos ocidentais - bem como toda a pervertida e corrupta comunicação social – já se apressaram a apelidar Robert Fico de “populista”, de “pró-Rússia” e, pasmemo-nos com o tremendo acto falhado, de “anti-EUA” (só faltou dizer que é de "extrema-direita"). Ou seja, mesmo sem o querer admitir, a comunicação social e os políticos europeus já nem sequer disfarçam que, na Europa, não há espaço para os “anti-EUA”. Na Europa só há espaço para os anti-Rússia, para os anti-China e para os lambe-cus-EUA.

A comunicação social chega mesmo a criticar a Eslováquia, por “apenas” querer providenciar ajuda humanitária à Ucrânia e de querer mediar as negociações para o fim da guerra. Como se atrevem a só querer providenciar ajuda humanitária e a reconstruir o país? Como se atrevem a querer a paz? Como se atrevem a não alinhar com os ditames de Washington, que só têm em vista alimentar a máquina de guerra que faz jorrar biliões para a indústria de armamento e manter a Europa debaixo de uma crise interminável?

Fico contente quando vejo que ainda há políticos com a espinha dorsal intacta.

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