Está em curso a votação para eleger o próximo secretário-geral do Partido Socialista. São três os militantes que se candidatam, Daniel Adrião, José Luís Carneiro (JLC) e Pedro Nuno Santos (PNS).
Provavelmente, estas são as eleições mais cómicas, menos disputadas (em campanha) e totalmente evitáveis a que um partido já se submeteu. Vejamos, o Presidente da República veio dizer que o seu candidato preferido para ocupar o lugar de Primeiro-ministro é António Costa. Já os dois candidatos mais propalados na comunicação social dizem-se confessos admiradores de António Costa. Ambos prometem dar continuidade às políticas “costistas” e ambos quiseram convencer os militantes do PS e o país de que, cada um deles, é o melhor discípulo de Costa. Aliás, este foi, provavelmente, o assunto que ambos mais quiseram destacar como os seus pontos mais fortes.
Portanto, todos querem o Costa, mas o Costa já não está interessado em continuar a ser o Primeiro-ministro e secretário-geral do PS. Marcelo disse que preferia António Costa, mas alegou que este é que não quis continuar e, por essa razão, que nada mais poderia fazer. Ora, isto não é verdade. É certo que António Costa demonstrou a vontade de se demitir, mas a demissão só é efectivada se o Presidente da República aceitar. Se Marcelo considera que Costa continua a ser a pessoa ideal para desempenhar o cargo de Primeiro-ministro, então, não deveria ter aceitado o seu pedido de demissão e deveria tê-lo “forçado” a cumprir o mandato.
Obviamente que Costa não está mais interessado em continuar a ser Primeiro-ministro, ainda que venha com as suas habituais manobras tentar demonstrar que ficou muito chateado com o famigerado parágrafo da Procuradoria-Geral da República (PGR). A verdade é que Costa não quer ser o próximo Durão Barroso, ou seja, não quer estar no desempenho do cargo quando o convite “europeu” lhe bater à porta e ter de fazer a figurinha miserável que o “cherne” fez. Além disso, Costa estava entalado até ao pescoço com “casos e casinhos” e impregnado de incapacidade para dar solução aos principais problemas do país, por isso, aquele parágrafo da PGR caiu-lhe do céu. Ele pode barafustar e encenar o quanto quiser, mas já só cairá na patranha quem anda muito distraído ou não tiver tido tempo para lhe tirar as medidas.
Outra curiosidade está no facto de um dos candidatos a secretário-geral do PS quase não ter tido direito a aparecer nos holofotes da campanha. Claro que me refiro ao candidato Daniel Adrião. Por que razão a comunicação social não dá o mesmo espaço a todos os candidatos à liderança de um partido?
Claro que se trata de mais uma pergunta retórica. Todos já deveríamos estar cansados de saber que a comunicação social está sempre a emparelhar com os interesses dos dois principais partidos em Portugal (PS e PSD), porque só assim garantem a continuidade do “bloco central” no poder. Ser Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro a vencer as eleições, pouco importa, já que ambos garantem a continuidade do sistema montado.
No entanto, hoje, a comunicação social lembrou-se de mencionar o nome de Daniel Adrião e até de o deixar falar durante uns míseros segundos. Para que ninguém possa dizer que foi completamente ignorado pela comunicação social.
Entretanto, também ficámos a saber que Tony Carreira (outro protegido da comunicação social) apoia vigorosamente a candidatura de José Luís Carneiro. Tony Carreira considera que José Luís Carneiro “é uma pessoa com bons princípios”. Infelizmente, o Tony ficou-se pelos princípios e nada disse sobre os meios e os fins. E para conferir maior credibilidade à sua afirmação, Tony acrescentou que já conhece JLC “há muitos anos”. Bem, eu não sou amigo de José Luís Carneiro, mas conheço-o o suficiente, também há muitos anos, e posso assegurar que os seus “princípios” são os típicos dos passarões que se agarram a tudo quanto é tacho político e cargo público, para nunca mais largar. JLC faz parte dessa classe de políticos que progride dentro do partido através das habituais manobras e expedientes que muitos de nós conhecemos, mas que a maioria de nós prefere não falar ou ignorar.
José Luís Carneiro não tem nada de “moderado”, o último chavão político usado por indivíduos que pretendem convencer as outras pessoas acerca daquilo que eles não são, nunca foram e nunca serão. José Luís Carneiro é um político mais do tipo despótico, que aprecia a sabujice daqueles que o rodeiam e o controlo dos mesmos. É daqueles que estão completamente agrilhoados ao sistema vigente e – garanto-vos – nunca será um vector de mudança do status quo do poder, nem nunca colocará qualquer obstáculo à prossecução dos piores desígnios da política nacional. Fosse ele o único.
Outra curiosidade tem a ver com o facto de alguns militantes com algum destaque e poder, dentro dos órgãos do PS, militantes que são amigos e muito próximos de José Luís Carneiro, constarem na lista de candidatura de Pedro Nuno Santos. Portanto, as habituais manobras político-partidárias de “políticos” sem escrúpulos, que só estão interessados em manter o seu poder dentro do partido e garantir o acesso a cargos públicos. É que desta forma estão a apostar nos “dois cavalos” mais cotados. Se o Pedro Nuno vencer, os tachos estão-lhes garantidos, porque o “apoiaram” e, por essa razão, serão devidamente recompensados. Mas se for o Zé Luís a vencer, os tachos também estarão certinhos, porque os amigos servem para isto mesmo. Além disso, esses de que estou a falar – os que fazem parte da lista de PNS – na realidade vão votar em JLC.
Já o facto de Tony Carreira e José Luís Carneiro serem “amigos” não deveria surpreender ninguém. Eles são bem mais iguais do que parecem. Ambos são peritos na arte da dissimulação e fazer “carreira” sustentada na hipocrisia e no logro.
Já agora, só por curiosidade, os “simpatizantes” do PS já não podem votar na eleição do secretário-geral do partido, pois não? Parece que a moda dos “moderados” e “inclusivos” durou pouco.