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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

Contrário

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RAPIDINHA

Trump deporta imigrantes, porque considera que as pessoas devem viver na sua terra, no seu país de origem, com excepção do povo palestiniano, que deve ser expulso do seu próprio país e entregá-lo aos "nazionistas".

Mas que grande monte… negro

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Ontem, no debate quinzenal na Assembleia da República, Luís Montenegro disse que a descida do IRC não é para beneficiar empresários, é para beneficiar as pessoas.

Claro que é para beneficiar as pessoas. Se fosse para beneficiar os empresários, o governo aumentaria o Salário Mínimo Nacional (SMN), pelo menos, para os 1.000 euros. Mas o governo não o faz – e bem – porque se aumentasse o SMN para os 1.000 euros, assim é que estaria a favorecer os empresários (e o Estado), porque toda a gente sabe que os pobretanas estouram o salário todo ainda antes do final do mês. E onde é que vai parar esse dinheiro? Às manápulas dos empresários (e ao Estado, via fiscal).

Portanto, Montenegro faz muito bem em não pôr mais dinheiro no bolso daqueles que não o sabem gerir. E, por isso, torna-se bastante óbvio que a melhor maneira de beneficiar as pessoas, os trabalhadores comuns, é baixando o IRC e aumentando os lucros das empresas. Toda a gente sabe que sempre que os empresários ficam com mais dinheiro em caixa, a primeira coisa que fazem é aumentar os salários dos trabalhadores e criar mais emprego, porque é esta a grande motivação de qualquer empresário. Tem sido isso que eles sempre fizeram e fazem.

Toda a gente sabe que o dia-a-dia de um qualquer patrão é a trabalhar 24 horas por dia (e mais algumas horas extra de noite), com o primordial objectivo de fazer caridade ao criar empregos para a maioria das pessoas comuns, que por serem uns coitados, uns desinspirados sem qualquer laivo de empreendedorismo, ficam dependentes das boas almas patronais, que nunca lhes viram as costas nem os deixam sem um emprego. E, saliente-se que não são uns empregos quaisquer, são bons empregos e muito bem pagos, porque não há patrão que pense em satisfazer qualquer um dos seus muitos desejos supérfluos, sem que antes tenha criado uma carrada de empregos bem pagos. Bom, admitamos que há um ou outro empresário miserável – casos muito raros – que não passam de uns gananciosos, que só estão empenhados em amealhar capital que lhes permita possuir várias casas, engordar as contas bancárias (muitas vezes em paraísos fiscais, que PSD/CDS e PS insistem em manter), para comprar um Tesla, um Jaguar, um Aston Martin ou um Bentley (já não se satisfazem com Mercedes ou BMW). Há também aqueles patrões que só estão interessados em proporcionar vidas luxuosas a si próprios e aos seus, desde férias e viagens pagas com dinheiro da empresa, despesas do dia-a-dia pagas com cartão da empresa, seguros de saúde “premium” pagos pela empresa, entre muitas outras benesses, pagas pela empresa, ou, se preferirem, pagas com a riqueza gerada pela labuta diária dos trabalhadores.

Mas, como referi anteriormente, esse tipo de patrão é coisa rara de se encontrar. A esmagadora maioria dos empresários investe – sempre – todo o dinheiro na valorização dos salários e no bem-estar dos seus trabalhadores.  

Portanto, Montenegro tem muita razão em querer aumentar os lucros dos empresários, porque essa é a melhor forma de beneficiar as pessoas que trabalham, aquelas que eles gostam de chamar de “colaboradores”. Vá lá, não sejam piegas. Vamos todos “colaborar” com estas políticas e com os superiores interesses dos empresários, porque eles estão muito empenhados e focados em proporcionar-nos bem-estar. Foi sempre assim, e assim há-de ser. 

Somos uma só família… de genocidas

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Ah, o Natal! A época mais linda do ano. Tempo de solidariedade, de paz e amor. E tempo dos mais emocionantes anúncios de publicidade que falam ao coração, assaltam os espíritos desprevenidos e os fazem acreditar em contos de fadas. Ou serão contos de fodas? Para o caso tanto faz.

Obviamente que estou a ironizar sobre o assunto. Mas, a verdade é que são muitas as pessoas que embarcam nestas campanhas de amolecimento do coração, como se as entidades que estão por trás delas estivessem realmente interessadas no bem-estar de quem quer que seja, com excepção do bem-estar deles próprios – dos que as detêm e controlam.

Só ainda se emocionam e se deixam levar por falinhas mansas, as gentes patéticas que acreditam em tudo o que vêem nos ecrãs, sem nenhum conhecimento de causa, sem qualquer laivo de espírito crítico, sem conseguir enxergar para lá do óbvio e, claro, com assustadoras doses de ignorância.

O cúmulo da desfaçatez e o prémio para melhor anúncio de dissimulação natalícia deste ano vai direitinho para a MEO. Já todos o devem ter visto e vomitado vezes sem conta, tal é a quantidade de vezes que aparece, em todo o lado. Trata-se de um anúncio que pretende fazer as pessoas acreditar que essa empresa está muito empenhada em promover o amor ao próximo e de que todos “somos uma só família”.

Portanto, o anúncio publicitário que visa passar a mensagem de que “somos uma só família”, é o anúncio de uma empresa cujo proprietário apoia o genocídio cometido pelos algozes de Netanyahu sobre o povo palestiniano em Gaza e na Cisjordânia. Patrick Drahi – dono da Meo – recebeu a autorização por parte do governo “nazionista” de Israel para poder executar a distribuição de TV por cabo e mais uma série de contractos para a implementação de infra-estruturas nos colonatos ilegais na Cisjordânia.

O indivíduo Patrick Drahi – patrão da Meo – é também o dono do criminoso canal de televisão que emite a mais vil propaganda, como foi o caso das repugnantes mentiras acerca dos “bebés decapitados” ou das “violações em massa”, nos ataques de 7 de Outubro de 2023. E, pode-se ainda acrescentar que a empresa do dono da MEO, que tem carta-branca para operar nos territórios palestinianos que foram usurpados pelos israelitas – à custa de muito derramamento de sangue, incluindo milhares de mulheres e meninas com véu (hijab), como as que aparecem no anúncio – é uma das entidades que consta na lista “negra” das Nações Unidas, das empresas que operam nos colonatos ilegais e que enriquecem à custa da perseguição, tortura e genocídio de um povo.

O grupo de empresas de Patrick Drahi – o dono da MEO (convém sempre vincar de quem se trata) – doou cerca de oito milhões de dólares para apoiar os militares israelitas que, numa base diária, cometem genocídio sobre o povo palestiniano. Um exército de energúmenos endemoniados que filmam os massacres que perpetram sobre uma população indefesa e que os publicam nas redes sociais, para se vangloriarem das atrocidades cometidas. Celebram, fazem danças de vitória mariconças (típico dos nazis) e ainda oferecem o assassinato de crianças palestinianas como presentes de aniversário às suas próprias crias.

O indivíduo que detém a empresa MEO – que diz que somos uma só família – apoia o apartheid, vibra com o genocídio, financia um exército de depravados e lucra milhões com as negociatas que faz em território roubado e ocupado. Quando falam de uma só família, supõe-se que estejam a falar da grande família de supremacistas (os suprema-semitas) que consideram que os palestinianos não são gente, mas animais.

E veja-se a dimensão do desplante que é querer passar uma mensagem de unidade, recorrendo mesmo ao uso de pessoas que – supostamente – são árabes e devotos da religião islâmica, quando ele próprio é um dos maiores apoiantes da matança dessas pessoas e dessas famílias - milhares de famílias - em Gaza e na Cisjordânia.

Num país verdadeiramente democrático, gente do calibre de Patrick Drahi nunca meteria as suas patas sobre uma empresa nacional que, por acaso, até já foi uma empresa detida por outra empresa pública.

A propósito, neste Natal (e em diante), humanizem-se. Mas a sério, não apenas para a fotografia. 

Você alguma vez pensou?

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Você alguma vez pensou ver os “líderes” ocidentais do “mundo livre”, dos regimes “democráticos”, os maiores arautos da liberdade e da paz a glorificar o nazismo, a apoiar o genocídio e a celebrar a destruição de nações?

Desde o passado Domingo que os “líderes” políticos do ocidente, sua comunicação social prostituída e muita gente comum estão em pulgas com a queda e fuga do Presidente da Síria, Bashar al-Assad. Dizem eles que caiu mais um regime ditatorial regido por um facínora sanguinário. Dizem eles que os “rebeldes” libertaram a Síria da ditadura, da repressão e da guerra. Dizem eles que, agora, a Síria poderá respirar liberdade, democracia e paz.

Eu fico estupefacto com a total incapacidade que muitas pessoas – é que são mesmo muitas – evidenciam em pensar pelas suas próprias cabeças, fico até estarrecido com a completa inoperatividade cerebral dessas pessoas, que não conseguem perceber nada do que se passa à sua volta. Com tantos meios disponíveis, continuam mergulhadas na ignorância e inebriadas (eu diria que, até mesmo encantadas) com tudo aquilo que ouvem, vêem e lêem na comunicação social, ou com tudo o que sai da boca dos políticos serventes do poder instituído.

Vejamos, não é necessário ser-se um historiador, um analista político, um especialista em relações internacionais ou outra acreditação qualquer, daquelas com nomes pomposos, para se saber o mínimo – e o suficiente – acerca do que se tem passado na Síria.

Portanto, dizem que a Síria era uma ditadura com mais de 50 anos (alguns até dizem que Bashar al-Assad estava no poder há 50 anos, deve ter assumido o poder assim que concluiu a escola primária…), no entanto, são os mesmos que repetem até à exaustão que Bashar al-Assad foi responsável por milhares de presos políticos, por centenas de milhares de mortos e por milhões de refugiados, desde o ano de 2011. Ou seja, até 2011 Bashar al-Assad não era sanguinário, não mandava exterminar ninguém, nem causava milhões de refugiados. Só a partir de 2011 – altura em que, numa bela tarde, Bashar al-Assad terá ingerido dois damascos podres que o deixaram num estado de fúria incontrolável – é que começaram as bárbaras execuções, a matança, a perseguição de curdos e cristãos e a debandada de refugiados sírios. Malditos damascos podres que contaminaram a mente do senhor Assad.

A verdade é que em 2011, a Primavera Árabe, que não é mais do que um duro Inverno infligido por Washington, invadiu a Síria. Foi a partir desse ano que todos os males imputados a Bashar al-Assad começaram verdadeiramente e em massa. Muitos também lhe chamaram de Guerra Civil da Síria, como se alguma vez tivesse ocorrido um insurreição popular, ou se aquilo que aconteceu na Síria fosse uma guerra desejada e perpetrada pelo povo sírio.

Até 2011, a Síria era um dos países mais pacíficos do mundo e o governo sírio estava a implementar uma série de reformas que estavam a desenvolver as infra-estruturas do país, como nunca antes havia acontecido. A Síria era/é um grande produtor de petróleo e cereais, sendo quase completamente autónoma numa série de recursos e produtos essenciais à vida da população.

Mas como é seu hábito, os EUA não aceitam que o “seu” petróleo esteja alojado em territórios estrangeiros. É que ninguém entende a razão pela qual o petróleo norte-americano teima em aparecer nos outros países. Por exemplo, os EUA nunca aceitaram o facto de a Venezuela possuir enormíssimas quantidades de petróleo que pertence a Washington. E, por essa razão - só por essa razão -, Chavez era um ditador e Maduro seguiu-lhe os passos. Se eles colaborassem e devolvessem a Washington o petróleo que não lhes pertence, já seriam uns democratas de primeira categoria. Que raio de mania que estes “ditadores” têm em considerar que o petróleo norte-americano é deles, apenas porque está no seu território.

Voltando à questão da Síria, o país só entrou no descalabro depois de EUA, Israel e Turquia, directamente com as suas forças, e indirectamente, através do financiamento e fornecimento de armas aos terroristas da al-Qaeda e do Estado Islâmico terem invadido e esventrado o país. Por exemplo, muitos se indignam com o facto de a Rússia ter ocupado cerca de 20% da Ucrânia, mas nenhum deles se incomodou com o facto de os EUA terem ocupado e usurpado cerca de 30% da Síria. Curiosamente a parte que tem mais petróleo e trigo (a Síria é um dos maiores produtores de trigo do mundo, 100% auto-suficiente e exportadora).

Esta foi e é a realidade da Síria. Um país que poderia ter vários problemas (quem os não tem?), mas que se agudizaram e se exponenciaram com a interferência externa orquestrada por Washington. Quem mais poderia ser? E eles nunca o esconderam, muito pelo contrário, eles sempre fizeram saber das suas putrefactas intenções sobre a Síria, a Líbia, o Iraque, o Afeganistão e o Irão. Para quem ache que estou a teorizar conspirações, eu deixo abaixo a verdade, pela boca dos próprios.

E, agora, vemos o ocidente demente a protagonizar mais um dos seus patéticos surtos psicóticos, ao festejar a queda de um país, porque é isso que está a acontecer na Síria. Basta ver como se encontram, agora, o Iraque e a Líbia, depois de terem sido alvos do mesmo manual de procedimentos da CIA.

Vemos também o ocidente demente a festejar a tomada do poder na Síria, por grupos de terroristas da pior espécie – aqueles que andaram a exterminar milhares de civis, sobretudo curdos e cristãos, aos quais decapitam e queimam as suas cabeças na praça pública. É com estas pessoas que o ocidente demente espera que se faça a paz e a democracia na Síria. Como se o ocidente estivesse minimamente preocupado com a paz, a liberdade e a democracia, seja onde for. Basta ver o estado desses valores nos seus países. Os vermes que agora estão a tomar conta da Síria, a que o ocidente demente e propagandista passou a chamar de HTS, para fazer de conta que não são aquilo que sempre foram, estão a eliminar todos os cristãos no Médio Oriente. Foi assim no Iraque e foi, é e continuará a ser assim na Síria. Todos massacrados e muitos deles decapitados pelos mesmos que agora “libertaram” a Síria.

E se dúvidas houvesse em relação ao que acaba de acontecer na Síria – e porque a maioria das pessoas apresenta uma enorme ânsia de tomar o “lado do bem”, escolhendo invariavelmente o lado errado – bastaria atentar na forma como o “nazionista” genocida Netanyahu celebrou a queda de Bashar al-Assad e a vitória dos terroristas, como ele. Só isso é suficientemente esclarecedor para se perceber que aquilo que está a acontecer na Síria não poderia ser mais errado e maléfico. O pior que poderia acontecer ao povo sírio, neste momento.

Entretanto, Netanyahu não tem parado de atacar a Síria e de tomar conta de mais território que não lhe pertence. Tal como faz na Palestina e no Líbano.

Em suma, mais um golpe para favorecer os sórdidos e repugnantes interesses de Washington e de Israel, no Médio Oriente (lembremos as palavras de Joe Biden quando disse que “se Israel não existisse, nós [os EUA] teríamos de o inventar”). E, já agora, adicionemos também a Turquia que, finalmente poderá construir o tão desejado gasoduto que visa conectar o Qatar e a Turquia, mas que tem que invadir o território da Síria, para que tal seja possível. Erdogan só terá de fornecer armas e dinheiro aos terroristas da al-Qaeda e do Estado Islâmico e mantê-los entretidos a perseguir e chacinar curdos, cristãos, mulheres e crianças, para cumprir o seu objectivo.

Aquilo que acaba de acontecer na Síria é o pior dos cenários para o povo sírio, para a própria existência da Síria como país e, infelizmente, para toda a região do Médio Oriente, sobretudo a Palestina, que deixará de ter os únicos que até agora lhes ofereciam algum apoio para se defenderem do regime genocida israelita. Com a Síria neste estado, a pouca ajuda que chegava à Cisjordânia e Gaza fica agora muito mais difícil.

O genocida Netanyahu esfrega as mãos. Os terroristas da al-Qaeda e do Estado Islâmico esfregam as mãos e ganham poder. E os maiores arquitectos da desgraça e do terror em Washington esfregam as mãos com mais um golpe de estado e, acima de tudo, com mais uma enorme apropriação de recursos que não lhes pertence. Nenhum deles se importa com o povo sírio. Nenhum.

Se você nunca pensou no assunto por este prisma, você nunca pensou. Mas não se preocupe, ligue a televisão ou conecte-se à Internet e deixe-se levar por quem abnegadamente se dedica a essa tarefa árdua que é pensar por si.

De mentira em mentira, até às meias verdades

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A Executive Digest e todos os demais órgãos de comunicação social andam desde 2020 a propagar a mentira de que a pandemia Covid-19 teve origem natural. Primeiro diziam que foram os pangolins que passaram o vírus aos humanos, depois já eram os morcegos e, mais tarde, não tinham dúvidas de que a culpa foi dos cães-guaxinim.

Aqueles que – como eu – logo em 2020 levantaram a dúvida acerca da origem do vírus, considerando que o mesmo só poderia ter sido manipulado em laboratório, foram todos acusados de serem chalupas e de que andavam a propagar teorias da conspiração.

Agora, no final de 2024 (notem bem), a Executive Digest publica esta porcaria a “informar” aquilo que qualquer pessoa com dois dedos de testa já sabe há vários anos. Fazem-no agora porque foi uma entidade norte-americana que decidiu reconhecer a verdade. Mas desenganem-se aqueles que acham que estão a fazê-lo honestamente e de forma transparente, porque apesar de o estarem a reconhecer - tarde demais -, só o fazem para inventar mais uma narrativa de propaganda contra China.

Este esterco de artigo visa apenas passar a ideia de que foram os chineses que sonegaram informação acerca da origem do vírus, quando já em 2021 várias entidades chinesas, incluindo o próprio laboratório em Wuhan haviam admitido que o vírus teve origem nesse local, devido à manipulação do vírus SARS-CoV-2 nesse laboratório, onde se praticaram experiências de ganhos de função (gain-of-function). Todas estas experiências que resultaram na manipulação deste vírus, tornando-o mais potente e com capacidade para infectar seres humanos foram patrocinados pela NIH do senhor Anthony Fauci.

No fundo, é apenas isto que os prostituídos da comunicação social pretendem, ou seja, isentar os verdadeiros culpados. Mas escusam de se prestar a esse trabalho, porque o Presidemente Biden já tratou de aplicar um “perdão preventivo” a todos os crimes cometidos por Fauci.

Até parece mais uma teoria da conspiração, não parece?

O assassinato do CEO da UnitedHealthcare e a privatização da saúde

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O CEO da empresa norte-americana UnitedHealthcare, Brian Thompson, foi assassinado, na passada Quarta-feira, numa rua em Nova Iorque. O assassinato foi executado por um indivíduo ainda não identificado e que continua foragido às autoridades.

Até ao momento, não se sabe o motivo do assassinato de Brian Thompson. Mas não será uma grande surpresa que a execução de Thompson esteja relacionada com o facto de a UnitedHealthcare ter negado a cobertura médica aos seus segurados e ter forçado indivíduos e famílias à completa falência, na desesperada tentativa de poderem pagar pelos serviços de saúde de que necessitavam. A UnitedHealthcare tem-se recusado, durante muitos anos, a realizar a cobertura de tratamentos médicos a muitos milhares de pessoas com doenças graves. Só para que se tenha a noção, as seguradoras que actuam na área da saúde, nos EUA, rejeitam cerca de 1 em cada 7 pedidos de tratamento, decidindo muitas vezes que o tratamento não é “clinicamente necessário”, quando é mais do que necessário, quando é um imperativo.

A título de exemplo, são inúmeros os casos de pessoas com cancro, a quem as seguradoras como a UnitedHealthcare suspenderam os tratamentos. Muitas acabaram por falecer, quando o tratamento o evitaria e muitas outras acabaram por falecer prematuramente e num grau de sofrimento perfeitamente passível de atenuar.

Se olharmos bem para esta realidade, facilmente se percebe facilmente quem são os maiores assassinos. E também percebemos que as autoridades estão sempre - e bem - a postos para perseguir e levar à justiça que comete um assassinato, como ocorreu neste caso. Contudo, nenhuma autoridade, seja ela policial, judicial ou política mexe uma única palha para levar os criminosos que gerem estas grandes corporações assassinas à justiça, muito pelo contrário, legislam em favor desses criminosos e protegem-nos como se fossem os seres mais especiais do mundo.

Convém também ter a noção que entre os 10 países mais ricos, os Estados Unidos é o país que tem maior despesa em cuidados de saúde, no entanto, é o país que apresenta os piores resultados. E a esperança média de vida dos norte-americanos é cerca de quatro anos a menos daquela que se verifica nos restantes países mais desenvolvidos. Não seria de esperar outra coisa, num país com um sistema de saúde ultra-privatizado.

Mas mesmo com todas estas evidências, por cá, são muitos os que falam maravilhas acerca da privatização do sistema de saúde, usando o exemplo norte-americano como mantra e como benchmarking. Como bem se vê, a privatização do sistema de saúde resulta - e de que maneira - para as empresas de seguros e para os prestadores privados, mas nunca para as pessoas. Os sucessivos governos de PSD/CDS e PS têm feito de tudo para levar o estado da saúde em Portugal para algo semelhante ao que se passa nos EUA. O actual governo tudo fará para dar passos ainda maiores do que o governo anterior, na prossecução desse objectivo. Basta ver que até já estão a privatizar “Centros de Saúde” e a incrementar parcerias público-privadas, com a desculpa esfarrapada de que pretendem aliviar a pressão sobre determinados centros hospitalares.

Como é possível ainda haver alguém que possa considerar aceitável este tipo de “parcerias” ou as privatizações? Será assim tão difícil perceber que isso custa sempre muito mais ao Estado, daquilo que custaria, caso o Estado investisse no Serviço Nacional de Saúde (SNS), como é seu dever?

Voltando à situação nos EUA, existem mais de 200 milhões de pessoas que dependem de seguros de saúde privados, mas quando ficam gravemente doentes, são automaticamente arrumados para canto, ficando totalmente desprotegidos e sujeitos a contas médicas totalmente incomportáveis e, por consequência, ficam deixadas à sua sorte e sem receber o tratamento adequado. As contas médicas são tão exorbitantes, que chegam a ser responsáveis ​​por cerca de 40% das falências familiares. Saliente-se que, muitos dos que caíram em desgraça por causa das contas referentes aos tratamentos médicos tinham seguro de saúde.

Outro dado importante a considerar é o facto de as receitas das seis maiores seguradoras – a Anthem, a Centene, a Cigna, a AVS/Aetna, a Humana e a UnitedHealth – mais do que quadruplicaram desde 2010, para 1,1 mil milhões de dólares. As receitas combinadas das três maiores – United, CVS/Aetna e Cigna – quintuplicaram.

Outro dado importante a reter – até parece mentira – tem a ver com o facto de estas empresas estarem legalmente autorizadas a manter crianças doentes como “reféns”, enquanto os seus pais vão à falência tentando desesperadamente salvar os seus filhos. E muitos acabam por morrer, devido a estas políticas imorais e assassinas.

Portanto, é isto que os defensores do sector privado da saúde querem implementar em Portugal, para que meia dúzia de empresas possam sugar muitos milhões em lucros, enquanto as pessoas morrem por falta de tratamento.

E agora, voltando ao assassinato do CEO da UnitedHealthcare, pode-se dizer que, em termos legais, não haverá nada que possa absolver o perpetrador do crime, mas a escabrosa verdade que querem silenciar é que também nada absolve aqueles que dirigem empresas de cuidados de saúde com fins lucrativos, que adoptam um modelo de negócio que só tem como objectivo arruinar e exterminar vidas em nome do lucro. Lucro desmedido, ganancioso e assassino.

De salientar ainda a onda de indignação que foi gerada com a morte do CEO da UnitedHealthcare, que levou milhões de cidadãos norte-americanos a demonstrar uma enorme revolta para com a forma como os cuidados de saúde são prestados. A maioria das pessoas não se sentiu minimamente incomodada com a forma como Brian Thompson perdeu a vida, muito pelo contrário. Lá terão as suas razões.

Estaremos a assistir ao canto do cisne do capitalismo? Veremos. Já ontem era tarde.

O centenário do pai do “bloco central”

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Quem quiser celebrar o centenário de Mário Soares deve começar por responder a duas perguntas muito simples: Onde é que ele estava no 25 de Abril? E onde é que ele estava no 25 de Novembro?

As respostas a estas duas perguntas demonstram muito bem quem foi Mário Soares. A maioria das pessoas não tem tempo para se informar acerca das respostas a estas perguntas e, por isso, preferem acreditar no que ouvem na comunicação social ou naquilo que os seus ídolos publicam nas redes sociais.

E o que dizem a comunicação social e os fazedores de opinião nas redes sociais?

No que ao 25 de Abril diz respeito, dizem que Mário Soares foi um dos grandes lutadores e fazedores da Liberdade. Foi, foi, foi. Soares lutou muito pela Liberdade, usufruindo de total liberdade e boa vida em Paris, local onde se encontrava fugido à luta e ao combate.

Já em relação ao 25 de Novembro, os mesmos dizem que Mário Soares também foi um dos principais responsáveis. Dizem que Soares ajudou a devolver à sociedade civil, a liberdade de decidir o seu destino. Foi, foi, foi. Aquilo que Soares fez (a par de Eanes e Sá Carneiro), foi matar definitivamente a Revolução de Abril. Foi integrar os fascistas na dita sociedade democrática, sem que houvesse lugar a qualquer punição. Muito pelo contrário, devolveu-lhes tudo aquilo que eles abocanharam durante a ditadura, à custa de tanta miséria e sofrimento popular. Mário Soares foi um dos maiores responsáveis pela metamorfose que tornou os maiores fascistas nos melhores e impolutos democratas. E eles estão aí, bem à vista de todos. Mário Soares não puniu os fascistas, cobriu-os com peles de cordeirinhos e ajudou a punir os verdadeiros fazedores do 25 de Abril.

E se dúvidas ainda restarem, basta olhar para o que aconteceu hoje na Assembleia da República, onde PS aplaude de pé os discursos do PSD e vice-versa. Basta ver a direita a dizer que “Soares é fixe”, basta constatar o que disse Marcelo (“afilhado” do Marcello).

É este o legado de Mário Soares. Destruiu a esquerda – a que nunca abandonou o país, a que sempre lutou contra a ditadura e que fez o 25 de Abril -, fundou um partido de falsa esquerda e reconheceu a falsa democraticidade dos fascistas que ele próprio ajudou a metamorfosear-se.

Mário Soares é o pai do “bloco do central” e o grande responsável por 10 anos de governação cavaquista.

Depois de tudo isto, quem quiser que lhe bata palmas.

Cala-te seu “difusor de terrorismo”, ou então…

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O Conselho de Ministros aprovou uma proposta de lei que visa aplicar coimas reforçadas às entidades que difundam conteúdos terroristas online. Saliente-se que as multas podem atingir o valor de milhões de euros.

A primeira questão que se coloca é a de saber o que pode ser considerado como difusão de conteúdos terroristas. Vejamos, todos os dias - repito, TODOS OS DIAS -, jornalistas, comentadores, políticos e governantes emitem conteúdos que podem e devem ser considerados como actos de apoio ao terrorismo, de branqueamento do terrorismo e até mesmo de glorificação do terrorismo, e NADA lhes acontece.

Portanto, não se vislumbra o que raio é que poderá ser considerado como difusão de conteúdos terroristas, quando isso é o pão nosso de cada dia há vários anos, praticados pelas entidades com maiores responsabilidades públicas e NINGUÉM foi sequer chamado à atenção por fazê-lo. Pior, fazem-no como se estivessem a fazer o maior de todos os bens.

Políticos, jornalistas e comentadores glorificam o nazismo e o terrorismo na Ucrânia, gritando hossanas aos neonazis do Batalhão de Azov, apoiam fervorosamente os terroristas da al-Qaeda na Síria, fazem claque a favor do genocídio perpetrado pelos terroristas “nazionistas” de Netanyahu, em Gaza e na Cisjordânia e ainda apoiam as investidas terroristas que Israel, EUA e seus lambe-cus fazem no Líbano. Isto, só para citar alguns exemplos mais prementes.

Nada acontece a toda esta gentalha. Nem uma única multa, nem sequer uma só chamada de atenção. Muito pelo contrário, este é o mantra daqueles que se outorgam como defensores e propagadores da verdade, da liberdade e da paz.

Portanto, fica bem claro que esta lei serve apenas para perseguir os não-alinhados com a narrativa do poder. Todos quantos se atrevam a criticar o regime receberão automaticamente a chancela de “difusor do terrorismo”, para aprender a estar caladinho.

Não é grande novidade. A perseguição e o cancelamento de opiniões que incomodam o regime já vêm desde há muito tempo, tendo-se acentuado na altura da pandemia e, posteriormente, com a invasão da Rússia na Ucrânia, em 2022.

E isto está apenas a começar. Não tardará o momento em que aprovarão leis que proíbam um cidadão de afirmar que “vacinas” experimentais são “vacinas” experimentais, leis que proíbam as pessoas de dizer que a Ucrânia é um antro de nazismo e corrupção, leis que proíbam dizer que Israel é um estado apartheid, que comete genocídio sobre o povo palestiniano, leis que proíbam os cidadãos dizerem que os “líderes” europeus são uns meros fantoches de Washington, ou ainda, leis que proíbam as pessoas dizerem que Washington é a sede de todos os terrorismos e de todas as guerras. Em suma, leis que proíbam dizer a verdade.

E, notem bem, a maioria das pessoas vai aplaudir a aprovação desse tipo de leis, julgando que são leis elaboradas com o único objectivo de garantir a segurança, a paz e o bem-estar dos cidadãos. Quão ingénuos.

Basta reparar no que aconteceu ontem, com o protesto dos bombeiros. O país indignou-se – porque a comunicação social lhes disse para se indignarem – perante a forma como os bombeiros protestaram. Ah e tal, os bombeiros até podem protestar, mas não desta forma. Como se os bombeiros tivessem matado, ferido ou atrapalhado minimamente a vida de alguém. Na pior das hipóteses, o rebentamento de petardos fez a senhora ministra deixar fluir umas pinguinhas de xixi, com o susto. Mas não podem protestar desta forma. Há que ter respeito. Ou melhor, respeitinho.

Já os médicos, quando fazem greve colhem todo o apoio da comunicação social, dos políticos, dos comentadores e da esmagadora maioria da população que acredita piamente no que vê, lê e ouve nas notícias. Porque os senhores doutores são gente bem formada. Os senhores doutores não andam por aí a berrar o hino nacional, a acender tochas e a rebentar petardos. Não senhor. Os senhores doutores exercem o seu direito de protesto como deve ser, porque são civilizados. Os senhores doutores, quando pretendem protestar, deixam as urgências fechadas - resultando na falta de atendimento a quem mais precisa e até mesmo na morte de cidadãos - e vão passar uns dias ao Hilton ou ao Tivoli da Marina de Vilamoura, onde aproveitam para disfrutar dos circuitos de spa, das massagens de relaxamento, da boa cama e boa mesa e, assim, descontar os vouchers que recebem da indústria farmacêutica.

É assim que estamos. E não se vislumbra que daqui se vá para melhor.

Se fossem “doutores” bombeiros seria bem diferente

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A prostituída comunicação social interpela os bombeiros que se encontram em protesto por melhores condições, da seguinte maneira:

- Não acham que estão a dar um mau exemplo à sociedade?

- Ao usarem artigos de pirotecnia, não acham que estão a piorar a vossa situação nas conversações?

- O facto de estarem tantos bombeiros em protesto (milhares) não vai afectar o serviço às populações? Acham bem?

E, apesar de ainda não ter ouvido esta alegação, não faltará muito para apelidarem os bombeiros em protesto de “uns insurrectos de extrema-direita”, apenas porque eles ousaram cometer esse hediondo crime que é entoar o hino nacional.

É sempre assim que se comportam os peões de brega da comunicação social. Ou seja, quando o protesto é realizado por classes de trabalhadores que eles consideram como inferiores, por exemplo, quando os trabalhadores do lixo fazem greve – que é algo raro - os jornalistas falam em algo inaceitável, que as ruas ficam atoladas em lixo, que é uma porcaria… Que não pode ser assim, não podem atrapalhar a vida das pessoas.

Ou quando são os camionistas a fazer greve – que também é raro – são logo apelidados de insurrectos, que não têm respeito pela vida das pessoas, que entopem as estradas, que não há produtos suficientes nas prateleiras dos supermercados e que não há combustível nos postos de abastecimento. Apontam-lhes os dedos todos e acusam-nos de não terem o direito de infernizar a vida das pessoas, dessa maneira.

Mas quando os “senhores doutores” fazem greve ou protestam por melhores condições (eles que têm muitíssimo melhores condições do que praticamente todos os outros trabalhadores), quando isso implica a falta de atendimento a pessoas que desesperam por melhorar o seu estado de saúde e, não raras vezes, a morte de cidadãos, aí os jornalistas até fazem de claque de apoio aos senhores doutores, alegando que eles ganham muito poucochinho, que precisam de melhores condições e que têm todas as razões e mais algumas para protestaram.

Alguma vez alguém ouviu algum jornalista perguntar a um médico em greve, se ele/ela tem consciência das nefastas implicações que isso tem na saúde de milhares de pessoas? Alguém os viu pressionar a classe médica e a destacar o facto de serem a classe de trabalhadores mais bem paga no país? Algum jornalista alguma vez teve a coragem de espor os hipócritas que são aqueles que fizeram o Juramento de Hipócrates? Nunca. Muito pelo contrário.

É assim que funciona a comunicação social – defendem e fazem sempre campanha a favor das classes mais favorecidas e tentam sempre marginalizar as classes profissionais que mais dificuldades enfrentam no seu dia-a-dia.

Actualmente, ter uma acreditação de profissional da informação da comunicação social é possuir a maior autenticação do que é ser um verdadeiro monte de merda.

Coitadinhos dos políticos, que ganham tão pouco...

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Na passada semana, o Chega colocou umas faixas no edifício da Assembleia da República (AR) a chamar a atenção para o facto de alguns partidos políticos pretenderem “aumentar” os salários dos seus representantes em funções, em 5%.

A esmagadora maioria dos deputados da AR (sobretudo os do PSD, do PS e do CDS), bem como os membros do governo desataram a cuspir línguas de fogo contra o protesto do Chega. E, logo de seguida, como é hábito, a comunicação social em peso, principalmente através do seu painel de comentadores apaniguados e escolhidos a dedo, também caíram em cima do Chega e do André Ventura.

E o que alega toda esta gentinha? Primeiro, que a forma do protesto é inaceitável e até mesmo criminosa. Depois, dizem que não se trata de um aumento, mas sim da reposição de um corte que vem dos tempos da troika. Ainda acusam André Ventura e restantes deputados do Chega de serem uns hipócritas, alegando que se não querem a restituição de 5% do salário têm bom remédio, ou seja, que não o aceitem. Ignorando o facto (ou fazendo-se de burros) de que o Chega não pode recusar o recebimento desse valor. Aquilo que pode fazer é doar esse valor, mas só depois de o receber, obviamente. Já agora, eu gostaria de saber se os senhores do PSD e do CDS continuam a ir trabalhar (trabalhar é como quem diz...) nos  feriados de 5 de Outubro e de 1 de Dezembro. É que, se bem me lembro, eles votaram contra a restituição desses dois feriados.

Há ainda quem refira que o Chega só está interessado em gerar mais polémicas e fazer palhaçada política.

E, como também é já um clássico, tudo aquilo que é proferido pelos “políticos moderados do centro” - aqueles que querem abocanhar mais 5% no final do mês - e martelado pelos seus apaniguados na comunicação social, torna-se um mantra que consegue convencer a esmagadora maioria das pessoas, que desataram a enraivecer-se contra o Chega, como se os problemas decorrentes da má governação do país fossem culpa do Chega. Como bem se pode ver, o protesto do Chega acabou por sair favorável aos políticos que defendem a restituição dos 5% - porque isso vai acontecer sem que as pessoas se revoltem contra essa injustiça, preferindo revoltar-se contra o Chega.

Portanto, chegamos ao ponto essencial da questão que, uma vez mais, passou ao lado da maioria dos cidadãos, que se deixa adormecer pelo que ouve, vê e lê na comunicação social.

Vejamos as coisas como elas são. Primeiro, a forma do protesto. Se a forma como o protesto foi efectuado constitui uma ilegalidade, é muito simples, que se haja em conformidade com a lei e ponto final. Segundo, se o protesto do Chega de André Ventura é efectuado com a intenção de gerar confusão e palhaçada política pouco importa para o caso. A questão essencial é a de avaliar se o protesto faz sentido. Se há razão substancial para isso. Ou seja, aquilo que mais deveria importar às pessoas é verificar se acham que a reposição de 5% do salário deve acontecer. Se acham que isso é justo, face à situação financeira da esmagadora maioria dos portugueses.

Só para que se tenha a noção: uma pensão de 300 euros vai ter um aumento de 11,55 euros; uma pensão de 400 euros terá um aumento de 15,40 euros; uma pensão de 500 euros terá um aumento de 19,25 euros; uma pensão de 1.000 euros terá um aumento de 38,50 euros; mas os senhores deputados que auferem um salário de 4.096,99 euros vão passar a receber mais 204,85 euros. Isto, sem contar com o acréscimo que recebem em despesas de deslocação, despesas de representação e mais uma série de conezias que a esmagadora maioria dos cidadãos portugueses não tem.

Portanto, é isto que realmente importa discutir, mas que os políticos do sistema e a sua concubinada comunicação social tentam encobrir, desviando o assunto para as palhaçadas do Chega.

A mim, pouco me importa se é o Chega ou outro partido a levantar a questão. Eu não formulo as minhas opiniões nem exerço o meu raciocínio em função das pessoas que praticam determinadas acções ou defendem determinadas ideias. Eu foco-me nas ideias e nos factos e tento “julgar” segundo a minha consciência, que está sempre orientada para o fundamental princípio da justiça social. Aliás, eu próprio salientei esta questão da restituição dos 5% aqui no blog, ainda antes de o Chega se pronunciar sobre o assunto. O que verdadeiramente importa é analisar a questão pelo prisma que ela deve ser avaliada. Quem acha justo esta restituição, numa altura em que milhões de portugueses vivem a contar tostões? Não interessa se é um aumento ou uma restituição. Interessa apenas o que é factual, o que acontece na realidade. E a realidade é demasiado cruel para ser verdade, isto é, os políticos que auferem salários na ordem dos 4.000 euros defendem que devem passar a receber mais 200 euros já a partir de Janeiro de 2025. Mas os reformados, sobretudo os que têm pensões mais baixas, só devem receber mais uma ou duas dúzias de euros. Pior ainda, os partidos que propuseram a restituição dos 5% para eles próprios, são os mesmos que defendiam um aumento de apenas 2,6% para as reformas mais baixas (valor que aumentou para 3,85%, contra a sua vontade). Isto é que é um escândalo. Isto é que palhaçada política. Isto é que é acentuar as desigualdades. Isto é que é um crime.

Falei apenas das reformas mais baixas, mas poderia falar também dos salários mais baixos. Por exemplo, o Salário Mínimo Nacional terá um aumento que é quatro vezes inferior ao valor que os senhores políticos vão receber a mais, já em Janeiro. Repito, pouco importa se é uma restituição ou se é um aumento. O que deve saltar à vista de todos e que deve indignar cada um de nós é a abissal diferença salarial entre a classe política e a esmagadora maioria da classe trabalhadora. Chama-se a isto: profunda desigualdade social.

Para emporcalhar ainda mais este chiqueiro, veio o Ministério Público anunciar que abriu uma investigação ao protesto do Chega. E, notem bem, a PGR (desde que foi nomeado o novo Procurador-geral, não se cansa de falar para as câmaras e para os microfones mediáticos) fez saber que deu início à abertura de um inquérito porque – pasmem-se ou não – recebeu uma queixa anónima. Portanto, o Ministério Público vai actuar porque recebeu uma queixa anónima. O facto de o caso ter passado incessantemente na comunicação social não foi suficientemente apelativo para o Ministério Público. Se não houvesse queixa anónima, o Ministério Público não abriria um processo de investigação? E, aqui que ninguém nos ouve: o que é que há para investigar? Como referi logo no início deste texto, ou é crime ou não é crime e ponto final. Não há nada para investigar. Há apenas que agir segundo o estrito cumprimento da lei.

É assim que funcionam o poder político e o poder judicial em Portugal. E depois ainda se admiram que o Chega tenha 50 deputados. A verdade é que os "moderados do centro" (PSD/CDS e PS) preferem 50 cadeiras do Chega no Parlamento, do que 50 cadeiras do PCP ou do BE. Porque será?