A excessiva leveza do ser político português
Sobre os festejos dos adeptos do Sporting, Marcelo Rebelo de Sousa disse que houve “uma leveza excessiva na ideia de criar condições para um aglomerado muito grande de pessoas”.
Aquilo que ficou bem patente e que já vem acontecendo há demasiado tempo, no que à pandemia diz respeito, é que as pessoas com responsabilidades políticas deste país não actuam preventivamente e, pior que isso, depois dos acontecimentos ninguém assume responsabilidades.
Obviamente que compete às forças de segurança acautelar os possíveis perigos e actuar de acordo com a lei. Contudo, isso torna-se muito difícil de se fazer depois de milhares de pessoas estarem na rua. Mas, segundo consta, a polícia alertou para os perigos verificados de forma atempada, contactando a Câmara Municipal de Lisboa e o Ministério da Administração Interna, que nada fizeram.
A Câmara Municipal de Lisboa permitiu que fosse montado um ecrã gigante nas imediações do estádio do Sporting, permitiu que se vendesse bebidas alcoólicas no local e ainda permitiu que o autocarro do Sporting circulasse pela cidade durante várias horas e, para piorar a situação, após várias horas de atraso, o que fez com que as pessoas se mantivessem em apinhados ajuntamentos por muito mais tempo. Estas situações não são da exclusiva responsabilidade da CML, envolvem outras entidades, desde logo o Governo e até a ASAE.
O Sporting também não está isento de culpas. Longe disso. Não se ouviu um único apelo dos dirigentes do Sporting para que se cumprisse as regras em vigor. Mas, acima de tudo, porque foram uns dos grandes desrespeitadores das regras, ao sair para a rua no autocarro. Ora, estavam à espera do quê, com a realização do cortejo pelas ruas da cidade?
E, no final, ainda temos que levar com políticos – Presidente e Primeiro-ministro à cabeça - a recorrerem à meia desculpa de que tudo isto é um tanto compreensível porque o Sporting já não vencia o campeonato há 19 anos. É preciso muita lata. Portanto, se o campeão fosse o Braga, por exemplo, ainda haveria margem para se aceitar algo muitíssimo pior.
É mais um episódio para sustentar a insustentável e excessiva leveza do ser político português.