A propósito da imigração
Muito se tem falado de imigração, não é verdade? Então, vamos lá acrescentar mais qualquer coisinha ao assunto. Algo que ainda não ouvi nem li em nenhum lado.
Primeiro, gostaria de salientar que aqueles que mais levantam a voz para – supostamente – defenderem os imigrantes, na verdade são aqueles que parecem estar muito pouco interessados na qualidade de vida das pessoas que decidiram imigrar para o nosso país, em busca de uma vida melhor.
Vejamos, foram muitos os que se enraiveceram com a actuação policial no Martim Moniz e consta até que estão a organizar uma manifestação contra aquilo que consideram ser racismo e xenofobia. Curiosamente, estes “vidrinhos” armados em “boas pessoas” nunca se manifestaram contra as actuações da polícia nos bairros do Cerco ou da Pasteleira. Cenas como a que se assistiu no Martim Moniz acontecem inúmeras vezes nesses bairros e em muitos outros locais, onde a esmagadora maioria dos habitantes são cidadãos nacionais.
Mas nós já sabemos que estes activistas de pacotilha consideram os cidadãos nacionais uns criminosos, uns mal comportados, uns insurrectos, uns preguiçosos que não querem trabalhar. Aliás, este último argumento é aquele que eles mais usam para justificar a suposta necessidade de entrada de migrantes no nosso país. Estão sempre a dizer que a vinda de imigrantes é imperiosa, porque são pessoas que vêm desempenhar funções que os portugueses não querem fazer.
Será mesmo assim, como dizem? Será que os portugueses não querem mesmo desempenhar essas funções, ou simplesmente se recusam a fazê-lo em troco de salários miseráveis e condições de trabalho inaceitáveis?
Além disso, os imigrantes que acabam por aceitar as miseráveis condições que lhes são apresentadas, são muito explorados pelas pessoas/empresas que os contratam. A exploração exercida sobre estas pessoas em contexto de trabalho são muito mais humilhantes e violadoras dos direitos mais básicos de qualquer cidadão, do que a famigerada actuação policial, mas os activistas de pacotilha ainda não se lembraram de fazer nenhuma manifestação para protestar contra os exploradores da população imigrante. E ainda se outorgam como gente democrática e de esquerda, quando mais não fazem do que branquear as práticas capitalistas mais vorazes e segregadoras de que há memória.
Mas essa gente não quer ir pela via do protesto das condições de vida das pessoas, sobretudo as condições de trabalho e salariais, porque se o fizessem teriam de abranger o protesto à maioria das pessoas deste país. E não é essa a sua intenção. Eles querem agarrar-se a minorias, ao racismo, à xenofobia, a tretas LGBT, ou tudo aquilo que sirva para dividir a sociedade, fazer fumaça e actuar na defesa dos interesses daqueles que mais exploram a sociedade - a das minorias e das maiorias.
Devo ainda acrescentar algo sobre o qual importa reflectir. Os mesmos que andam por aí a fingir que se importam com os imigrantes, são os mesmos que recorrem constantemente ao “argumento” de que a população nacional comete muitos mais crimes do que a população imigrada. É certo que há por aí uns e outros que exageram na alegação de que a população imigrante é perigosa e que comete muitos crimes, contudo não revelam um grau de sofisma superior àqueles que estão sempre a afirmar o contrário e que sustentam que a população portuguesa comete mais crimes. Para não variar, lá estão eles a debitar fel sobre a população nacional e a lançar a ideia de que se há preguiçosos e criminosos neste país, esses são os portugueses de gema. Sem surpresa, são os mesmos que reclamam que a classe política (nomeadamente os governantes) e a classe patronal são praticamente todos gente de bem. É o povo pá! O povo português é que é a causa de todos os males.
Então vamos lá ver uma coisa. Portugal tem uma população total de cerca de 10.600.000 habitantes. A população imigrante é de 9,8%, ou seja, cerca de 1.038.800 pessoas. Segundo os dados oficiais, nas prisões portuguesas encontram-se cerca de 12 mil reclusos, sendo que aproximadamente 2 mil são estrangeiros. Portanto, a população estrangeira que reside em Portugal é de 9,8% da população, mas a população de estrangeiros nas cadeias portuguesas é de 16,7%. E se quisermos ser ainda mais rigorosos na análise, a percentagem de cidadãos nacionais presos nas cadeias portuguesas é de 0,10% da população portuguesa total. Já a percentagem de cidadãos estrangeiros presos é de 0,19% (quase o dobro) da população estrangeira total a viver em Portugal.
Se querem fazer uma abordagem honesta à questão da criminalidade (nacional vs. estrangeira), devem começar por fazê-lo da forma correcta. E não andar a manipular dados que induzam as pessoas a pensar que a população portuguesa é mais criminosa.
Quando vejo tanta gente – e são os mesmos do costume – a desvirtuar a realidade e a gritá-la aos sete ventos, fico logo com a certeza de que há uma agenda por trás que tem que ser cumprida. E depois, chega a ser cómico o cenário actual, em que aqueles que deveriam ser a voz da verdade, são os que mais defendem o putrefacto poder estabelecido e os que mais contribuem para o crescimento da extrema-direita.