Alguém viu a Direita por aí?
Por onde andam Passos e Portas? Em que ninho se enfiaram agora os cucos-políticos Marco António Costa e Nuno Melo? A estratégia parece ser a de continuar a fingir-se de mortos.
Quem tem falado e escrito muito sobre a actual situação política são os comentadores, esses soldados de infantaria que a Direita tem enfileirado em tudo que é canal de televisão, rádios, jornais, etc.
Dizem eles: “ah… não é tradição em Portugal que os partidos que não vençam as eleições possam formar governo…”, ou então, “vejam o que acontece na Alemanha, com um acordo ao centro…”. Curiosamente não usam o exemplo da Dinamarca ou da Finlândia, dois países super evoluídos que são bons exemplos para tudo, menos neste assunto. Um dia destes, a CDU ou o BE ganham mesmo as eleições (imaginemos com maioria), e vamos ter que levar com o argumento da Direita, dizendo que não podem formar governo porque não é tradição ter estes partidos no poder. Para esta gente, em Portugal vale a tradição e não a Constituição.
Há também aqueles que dizem que, este cenário de um partido vencer as eleições com minoria parlamentar e depois formar governo não é novo. Dito assim, parece verdade. Mas é inédito uma coligação de Direita ter vencido as eleições, tendo agora contra si uma maioria parlamentar de Esquerda. E isso faz toda a diferença.
Depois vêm com lérias do tipo: “BE, PCP e PS deveriam ter dito antes das eleições que se poderiam coligar…”. Exacto. Em 2011 PSD e CDS candidataram-se coligados, ou pelo menos, assumiram que o fariam depois das eleições?
Outros afirmam que “uma solução PS+BE+CDU é querer ganhar as eleições na secretaria…”. Não, não é na secretaria é no Parlamento (Assembleia da República) – casa da Democracia, onde os deputados eleitos estão devidamente mandatados para agir em conformidade. Em 2011 os eleitores que votaram no PSD e no CDS devem ter escrito no verso do boletim de voto que, ao votar nestes partidos, estavam a assinar por baixo qualquer coligação pós-eleitoral que as forças parlamentares destes dois partidos entendessem fazer, tal como o devem ter feito em nas eleições de 2002. Quem tem memória (quem não tem que procure, pois vai encontrar) lembra-se que a campanha em 2002 aqueceu bastante, principalmente entre PSD (Durão Barroso) e o CDS (Portas), chegando mesmo ao nível dos insultos mútuos, mas na Segunda-feira seguinte lá estavam eles a dar as mãos… Pois é! É mesmo assim. Nada de ilegítimo foi feito. Fizeram o que a Constituição lhes permitiu fazer.
Depois há aquele chavão que é o mais repetido, ou seja, “governa quem vence as eleições…”. Mas em que condições?
Dizem que não é possível o BE e a CDU abdicarem daquilo que disseram na campanha, sobretudo das críticas ao PS e perguntam: “Como podem agora entender-se?”. Dizem que se se vier a formar uma coligação tripartidária à Esquerda, será apenas para chegar ao poder, estando os partidos a abdicar das suas convicções.
Ai sim?
Então e o que disseram PSD e CDS do PS na campanha? Mais, tendo António Costa dito que jamais aprovaria um OE da coligação, como podem agora entender-se? Então, o que mais ouvimos dizer durante a campanha por parte dos elementos da coligação não foi que “António Costa e o PS estavam próximos da extrema-esquerda e até do Syriza?”. Como podem agora achar que um entendimento à Direita é mais fácil? Vejam bem! Agora, a Direita está até disposta a fazer acordos com apoiantes do Syriza.
A direitalha sabe muito bem que para atingir entendimentos nas negociações (à Direita), o que está sempre (e apenas) em causa é a distribuição de tachos e, nesse caso, parece que é mais fácil o PS entender-se com a coligação do que com os partidos à sua esquerda. Para a direitalha, o PR deve reconduzir o governo de Passos e Portas e depois cada partido deve assumir a sua responsabilidade na Assembleia da República. E para eles (deireitalha), a responsabilidade do PS é abdicar das suas ideias e do seu programa para facilitar a vida à coligação. Uma vez que não venceu as eleições, agora o PS tem o dever de se penitenciar com fortes chibatadas nas costas (do Costa) e, acima de tudo, deve apoiar o governo da coligação minoritária, dizem eles.
A direitalha acha que é o PR que decide quem deve formar governo, mas isso só porque o PR é Cavaco. A verdade é que forma governo quem apresentar a solução que dê maiores garantias de governabilidade. A pergunta é: Quem oferece maior garantia de governabilidade e de cumprir a Legislatura? Uma coligação de Direita em minoria que não consegue granjear apoios no Parlamento, ou uma maioria de Esquerda com todas as condições para governar?
E, já agora, na campanha de 2011 o que dizia o PSD do CDS?
O PSD dizia que o CDS era um partido de "pau-de-cabeleira", as hostes laranjas apelidavam Portas de "garnisé" e "aprendiz de Sócrates". Se bem que essa do “aprendiz de Sócrates” assentava melhor em Passos Coelho.
Em 2011, Passos dizia que se algum dia fosse necessário formar uma maioria com PSD+PS+CDS "isso seria uma salada russa que não daria resultado". Já Portas dizia que o problema do governo maioritário estaria em saber "quem poderia apresentar ao PR uma solução governativa com apoio maioritário no parlamento".
Entendimentos e estabilidade? Que tipo de entendimentos fizeram PSD e CDS em 2011 para poder governar em maioria? Quem abdicou do quê? Ambos afirmavam que tinham programas diferentes e ambos abdicaram de qualquer pingo de dignidade que lhes pudesse ainda restar e baixaram as calças para a troika.
E já se esqueceram que o líder do CDS, em 2013, demitiu-se das suas funções, deixando de apoiar o governo e chegando mesmo a chamar Passos Coelho de “irresponsável”? Chamam a isso estabilidade governativa? Tal como a estabilidade governativa do governo PSD/CDS de 2002, cujo primeiro-ministro Durão Barroso abandonou…
Não faço ideia sobre aquilo que o PS vai fazer. Sinceramente, acho que nem o próprio PS sabe o que deve fazer. Mas o que é realmente lamentável é ver aqueles que no Domingo à noite festejaram de forma entusiástica a vitória nas eleições, escondidinhos por aí num charco qualquer à espera que a chuva passe. Não me admirava nada que, entretanto, emergissem montados num qualquer submarino esquecido e atirarassem as culpas de tudo isto para cima do Sócrates.