Algumas considerações sobre a Direita
Não é a primeira vez que escrevo sobre os partidos portugueses de Direita e estou convencido que não será a última. É que a Direita é uma coisa tão divertida quanto… Sei lá, como hei-de dizê-lo sem ser deselegante… Eufemisticamente é uma coisa... estúpida. A Direita no poder defende e faz coisas que a Direita na oposição é capaz de negar e contrariar. É esta hilariante dicotomia que me faz, não raras vezes, escrever sobre o assunto. E é tão divertido.
Passo a apresentar algumas considerações sobre a dualidade comportamental dos partidos da Direita:
- A Direita no poder abomina os sindicatos; a Direita da oposição quer vê-los nas ruas, mais activos que nunca.
- A Direita no poder quer a privatização da CGD; a Direita na oposição quer uma CGD 100% pública e com administradores que não tenham os vícios da banca privada.
- A Direita na oposição não aceita que o administrador da CGD tenha um salário de 30 mil euros; a mesma Direita no poder tratou de garantir equivalente salário a um seu ex-secretário de estado que se transformou em vendedor de bancos.
- A Direita na oposição diz que a CGD está “sem rei nem roque”; a Direita do poder deixou cair o banco do “rei” (da banca) e o banco dos “roque”.
- A Direita no poder gostaria que o Tribunal Constitucional deixasse o governo trabalhar como bem entende, deixando de parte as suas funções de fazer cumprir a Lei; a Direita na oposição espera que o TC se pronuncie sobre determinadas medidas do actual governo (nomeadamente sobre a situação dos administradores da CGD).
- A Direita no poder ignora a existência do Bloco de Esquerda e acusa-os de jamais conseguirem chegar ao poder; a Direita na oposição fica triste pelo BE “estar à venda por um naco de poder”.
- A Direita do poder considera como “inúteis” os partidos mais à esquerda; a Direita da oposição considera-os “idiotas úteis”.
- A Direita no poder espreme os pensionistas e a “classe-média”; a Direita na oposição brada pelo aumento das pensões e exige verdadeiras medidas de Esquerda para todos. E, simultaneamente diz que a Segurança Social está quase falida.
- A Direita no poder encetou um brutal aumento de impostos; a Direita da oposição não admite nenhuma alteração à carga fiscal e acusa a Esquerda de… aumentar os impostos.
- A Direita no poder preparava um corte de 600 milhões de euros na Segurança Social; a Direita da oposição quer um Estado-social mais caridoso e ao mesmo tempo afirma que está em pré-falência.
- A Direita no poder defende acerrimamente o ministro (n.º 2 do governo) que não se licenciou; a Direita na oposição exige a demissão de um ministro, cujo chefe de gabinete do secretário de estado não se licenciou.
- A Direita no poder só acabaria com a sobretaxa de IRS em 2019 (promessa); a Direita na oposição critica o actual governo por só acabar com a sobretaxa em 2017.
- A Direita na oposição exige que o governo resolva diligentemente os problemas que a Direita no poder criou e/ou não foi capaz de resolver.
- A Direita no poder desgoverna e age como se estivesse na oposição; a Direita na oposição é uma piada.
Em conclusão, a actual Direita (na oposição) continua a afirmar que venceu as eleições do ano passado, continua a insinuar que o actual governo é ilegítimo e continua a falar de José Sócrates. É a mesma Direita que, antes de o actual governo tomar posse afirmou que o “programa eleitoral” do Partido Socialista era muito semelhante ao seu, razão pela qual não deveria ter feito um acordo de incidência parlamentar à Esquerda, mas sim com ela própria. A actual Direita (na oposição) também afirma que quem manda no governo é o BE e o PCP, ao mesmo tempo que reitera que o Orçamento do Estado é um documento repleto de austeridade e sujeito às vontades da União Europeia (tal como eram os seus), e ainda assim votam contra. Confuso?
Não. É a Direita no seu melhor.