António Costa ainda vai a tempo
Anda por aí muita gente preocupada com o futuro de António Costa. São inúmeros os comentadores e os jornalistas a pronunciarem-se sobre o tema. Fazem-no com tanta excitação que até parece(?) que têm alguma coisa a ganhar com isso. Aliás, é um hábito ver na comunicação social, os seus “especialistas” muito mais interessados no futuro da vida pessoal e profissional dos políticos, do que propriamente nas ideias que defendem para o país. Esses “especialistas” olham para os políticos da mesma forma que olham para o Cristiano Ronaldo, ou seja, só se interessam por saber que novo contrato vai assinar e por quantos milhões, porque pouco importa aquilo que um jogador faz dentro de campo, o que lhes interessa é saber para onde vai e quanto lhe vão pagar.
Já eu estou muito mais interessado no passado e no presente de António Costa. No passado, porque está registado e eu não esqueço. E no presente, porque ele ainda é o Primeiro-ministro de Portugal e ainda pode fazer alguma diferença em assuntos com muita importância. Se estiver interessado nisso, claro.
Dizem por aí que António Costa é um forte candidato a ocupar um cargo (um tacho) europeu. Mas, agora, alguns apresentam algumas dúvidas sobre essa possibilidade, por considerarem que as suspeitas que recaem sobre a sua conduta enquanto Primeiro-ministro o podem prejudicar. Realmente, pode-se enxergar a léguas de distância, a perfídia que esses especialistas da treta demonstram nas suas opiniões. Só quem anda muito distraído, ou a fazer de conta, é que pode considerar que o facto de um governante ser suspeito de corrupção ou má conduta pode constituir um entrave à ocupação de cargos europeus ou outros tachos internacionais. Aliás, basta atentar nos casos de Ursula von der Leyen ou de Christine Lagarde, para não se ter nenhuma dúvida de que a suspeita e/ou confirmação de má conduta enquanto governante são pérolas preciosas no currículo de qualquer político.
Sabemos também que qualquer governante que tenha demonstrado ser um exemplar lacaio de Washington, e que não demonstre qualquer rebuço em apoiar a invasão, a ocupação, a destruição e a matança de milhões de pessoas, ao abrigo de um motivo totalmente falso, fabricado no sítio de todas as invenções e dissimulações, será muito bem recompensado.
Por outro lado, António Costa ainda vai a tempo de poder endireitar um pouco as costas, se tiver a coragem de seguir o exemplo do seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, que não se acobardou perante os mestres da guerra em Washington e disse aquilo que qualquer político minimamente decente deve dizer, isto é, condenar veementemente a actuação do governo fascista de Netanyahu, exigir um cessar-fogo imediato e reconhecer o Estado da Palestina, bem como o direito à autodeterminação do seu povo, mesmo que o tenha de fazer de forma unilateral e à margem da União Europeia.
Saliente-se que António Costa, apesar de uma ou outra vez se ter escudado nas afirmações do Secretário-geral das Nações Unidas (apenas por se tratar de quem se trata), em nenhum momento se "atreveu" a condenar a atitude do governo israelita, nunca pediu para que se imponha sanções a Israel, nunca esboçou o mínimo interesse em ajudar o povo palestiniano a defender-se, nem sequer teve a dignidade de exigir um cessar-fogo imediato e permanente. Esta atitude diz tudo acerca da probidade de uma pessoa, ainda mais, se se tratar de um chefe de governo.
António Costa está de saída, mas, quererá ele sair - ainda que pela porta pequena - um pouco menos curvado? Ou será que vai optar por seguir o exemplo dos “Durões Barrosos” desta vida?
Perguntas retóricas, obviamente. O nível de idoneidade de António Costa escancarou-se há muito tempo. E o seu percurso como soldadinho disciplinado dentro do putrefacto sistema político europeu, completamente dependente e subjugado aos ditames de Washington, é algo que não terá passado despercebido aos “mestres dos fantoches”, que tratarão de o recompensar pelos serviços prestados. Como sempre fazem.
Costa tem agradado muito aos mestres, não vai ser agora – especialmente agora – que vai deitar tudo a perder.