As “boas pessoas”, que não passam de uns patetóides
João Manzarra – um apresentador da SIC – anunciou que vai vender o seu automóvel da marca Tesla. Alega que o carro é “eticamente desconfortável” e garantiu que vai doar o valor da venda, não, não, estava a brincar, vai doar 10% do valor da venda – assim é que é – a uma organização norte-americana focada nas alterações climáticas. Todos bem sabemos que as organizações norte-americanas são mais competentes, transparentes e mais necessitadas de apoio financeiro do que as portuguesas, que só servem para lavar dinheiro e fugir aos impostos. As americanas é que são muito sérias, como a U.S.A.I.D..
Pelos vistos, o João Manzarra só se apercebeu da personalidade e das reais intenções de Elon Musk, agora, desde que se associou e apoiou Donald Trump. Até há bem pouco tempo, Musk era um tipo tão fantástico que até dava gosto comprar um Tesla.
Vejamos, quem adquiriu um Tesla já entregou o seu dinheiro a Elon Musk. Já não há nada que possa fazer em relação a isso. O facto de vender o carro a outra pessoa, não vai causar dano a Elon Musk. Mais, o carro irá pertencer a outra pessoa que, aos olhos de João Manzarra terá que ser alguém com padrões éticos bem mais maleáveis que os dele. No entanto, isso já não incomodará o Manzarra, que não terá qualquer rebuço em botar as suas mãozorras no dinheiro que uma pessoa com baixos ou nenhuns padrões éticos – segundo a sua própria interpretação – lhe irá pagar.
O “desconforto ético” é, de facto, uma coisa muito maleável para muitas pessoas, sobretudo para esta nova onda de “gentinha muito boa”, sempre disponível para hastear bandeiras éticas e morais nos maiores mastros da hipocrisia. Manzarra é uma dessas “pessoas boas”, uma “jóia de moço” que, só por acaso, recebe um salário pago por uma empresa (ou impresa) que promove partidos e governos de extrema-direita (como o de Israel), que normaliza e absolve as suas práticas genocidas, que glorifica nazis na Ucrânia, que endeusa e celebra os terroristas da Al-Qaeda na Síria, uma empresa que não apenas promove desinformação diária (em doses cavalares, nos seus inúmeros blocos informativos), como está constantemente a propagandear as mais despudoradas mentiras. Isto já não causa qualquer desconforto às “pessoas boas” da mesma estirpe do João Manzarra.
Se o João Manzarra quiser, que me informe qual a marca do seu telemóvel, qual a marca do seu televisor, a marca da sua roupa, do seu calçado e, já agora, que diga quantas milhas faz por ano em viagens de avião. Eu terei todo o gosto em prestar-lhe alguns esclarecimentos acerca do assunto. Só para que ele – num futuro próximo – não volte a ser apanhado, de surpresa, pelo “desconforto ético”. E assim poderá continuar a ostentar o seu imaculado título de “boa pessoa”. É que eu detesto ver “boas pessoas” a fazer figura de patetóides.