As coisas que a SIC sabe…
No que respeita a assuntos relacionados com a pandemia, o jornalismo da SIC está cada vez melhor. Vejamos, apesar de já se conhecer muitas coisas sobre o SARS-CoV-2, são ainda muitas as dúvidas que pairam sobre esta pandemia.
Contudo, a SIC sabe tudo. Os jornalistas da SIC não têm nenhuma dúvida sobre o assunto e, por essa razão, não fazem perguntas, nem especiais de informação sobre as tantas dúvidas que subsistem sobre a pandemia, nomeadamente sobre o tema vacinas. Seja qual for a dúvida que alguém possa levantar, seja qual for a realidade, a SIC tem sempre a mesma conclusão: as vacinas são o santo graal. Em abono da verdade, a SIC só sabe uma coisa: as vacinas são boas, aliás muito boas e para além disso também são boas.
A situação não é um exclusivo da SIC, mas não conheço outro órgão de comunicação social nacional que o faça de forma tão abnegada. Será só incompetência ou será incompetência bem paga? Vejam que até houve um jornalista que chegou ao cúmulo de informar o país que já se vai inscrever para levar a dose de reforço, como se isso interessasse a alguém e como se o estado do seu boletim de vacinas fosse do interesse público.
Na SIC é assim, não há um jornalista ou comentador – um único – que se atreva a colocar a mínima dúvida sobre as vacinas. E são tantas as que poderiam e deveriam ser colocadas. Mas eles não se ficam pela não colocação de dúvidas. Eles incentivam a vacinação até à exaustão e garantem que as vacinas são absolutamente seguras e eficazes. Enfim.
Há uns dias, uma reportagem num centro de vacinação mostrava uma senhora a dizer que “apesar de existir algumas dúvidas sobre os efeitos secundários, não hesitou em tomar a dose de reforço”. No final da peça – acho que é esse o termo -, um tal de Bento Rodrigues tomou a liberdade de corrigir a senhora – note-se, corrigir uma opinião – dizendo que “não há nenhuma evidência científica que possa apontar para que as vacinas possam causar efeitos secundários graves”. O senhor Bento Rodrigues precisa de reciclar o seu curso de jornalismo, primeiro porque demonstrou uma total falta de respeito pela opinião de alguém que gentilmente não se coibiu a ser entrevistada, segundo porque a opinião da senhora até correspondeu totalmente à verdade, ao contrário daquilo que ele decidiu dizer, no cimo de toda a sua incompetência, e por cima daquilo que foi uma opinião válida, como qualquer outra.
Aproveito para deixar aqui um pequeno excerto do acordo de venda de vacinas que a Pfizer celebrou com o Governo português, só para que se perceba que é a própria Pfizer quem levanta as dúvidas sobre os efeitos secundários e sobre a eventual perda de eficácia das vacinas.
Alguns dias mais tarde, o director-geral da OMS dizia que “as vacinas, por si só, não tirarão nenhum país desta crise”. O jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho apresentou a “peça” afirmando que “a OMS admite que a nova variante está a espalhar-se a um ritmo nunca visto e que é preciso vacinar e, ao mesmo tempo, continuar com os cuidados sanitários”. Claramente, não foi isso que o senhor Tedros (OMS) disse, isto é, que é preciso vacinar. Ele foi bem claro quando afirmou que “as vacinas, por si só, não tirarão nenhum país desta crise”. O Rodrigo entendeu que ninguém – nem mesmo a OMS – tem o direito de colocar a mínima dúvida sobre a eficácia das vacinas, mesmo que não se verifique qualquer intenção de beliscar os processos vacinais.
No início desta semana, a SIC foi até à porta das escolas perguntar aos pais das crianças com idade inferior a 12 anos qual a sua posição sobre a vacinação. Uma vez mais, ao apresentar a “peça”, o jornalista de serviço afirmava que “professores e pais estão receptivos à vacinação” e, de seguida, exibiu uma reportagem onde todos os entrevistados (pais) afirmavam que não tinham dúvidas e que iriam vacinar os seus filhos. Curioso o facto de poucos minutos antes, a RTP ter apresentado uma “peça” de registo semelhante, mas onde vários pais demonstravam muitas reservas sobre a necessidade de vacinar os seus filhos, não tendo ainda decidido sobre o assunto. Pormenores.
Ontem, o mesmo Rodrigo Guedes de Carvalho noticiava que os dados (da DGS e INSA) demonstravam a existência de inúmeros surtos nas escolas e que a maioria dos casos se verifica em crianças não vacinadas. Ora, DGS, INSA e SIC afinam pelo mesmo diapasão. Há várias semanas que o objectivo é demonstrar que a maioria dos casos estão a ocorrer em crianças, para sustentar a ideia de que é preciso vacinar, pois claro. Mas, considerando que as crianças são todas as pessoas com idade inferior a 12 anos, será que faz algum sentido dizer que “a maioria dos casos se verifica em crianças não vacinadas”, quando todos sabemos que não existe nenhuma criança vacinada neste momento? Convinha que os jornalistas da SIC indagassem sobre a quantidade de testes realizados por faixa etária. Talvez se percebesse a razão pela qual as crianças só agora passaram a ser a faixa etária onde se verifica a maioria dos casos, quando na verdade sempre o foram.
É sempre esta sofisma que caracteriza todas as reportagens, entrevistas, peças jornalísticas e comentários da SIC, sobretudo quando o tema são as vacinas contra a Covid-19. Mas não há razão para preocupação, basta ouvir e ver a SIC e acreditar, porque a SIC sabe.