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Contrário

oposto | discordante | inverso | reverso | avesso | antagónico | contra | vice-versa

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RAPIDINHA

Trump deporta imigrantes, porque considera que as pessoas devem viver na sua terra, no seu país de origem, com excepção do povo palestiniano, que deve ser expulso do seu próprio país e entregá-lo aos "nazionistas".

Banqueiros competentes e dióspiros azuis

Muito se tem falado no salário do presidente da Caixa Geral de Depósitos e restante equipa de executivos. A questão centra-se, sobretudo, no valor das remunerações, mas há também quem tenha trazido para a discussão a questão da competência. Bem, articular as palavras banqueiros e competência na mesma frase é um exercício arriscado. Para mim, encontrar um banqueiro competente em Portugal é como tentar encontrar dióspiros azuis.

 

António Costa convidou, em Maio deste ano, António Domingues (ex-vice-presidente do BPI) para ser o próximo presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos. Há poucos dias, o governo anunciou que António Domingues vai auferir um salário anual de 423 mil euros (mais prémios, até 50% do salário).

 

Naturalmente que este anúncio causou incómodo na maioria das pessoas. Considerando a situação em que o país se encontra há vários anos e o árduo caminho que ainda está pela frente, considerando todos os sacrifícios que são exigidos aos portugueses e acima de tudo, o nível de rendimentos da esmagadora maioria dos cidadãos, não é fácil de compreender e aceitar que um “gestor público” vá auferir tamanho rendimento no exercício de funções públicas. Alguns, entre os quais o próprio primeiro-ministro, dizem que a Caixa deve estar nas mãos de pessoas competentes e que a competência tem um preço. Foi ainda mais longe, quando afirmou que o salário do presidente da Caixa deve estar alinhado com os que se praticam no mercado da banca. Acha mesmo senhor primeiro-ministro? Isso não só é estúpido como também é imoral. Pagar um montante elevado ao presidente da CGD não só não garante sucesso na gestão, como também não implica um acréscimo de responsabilidade por eventuais maus resultados que venham a acontecer. E, já agora, senhor primeiro-ministro, não lhe parece que baixar o tecto salarial dos gestores públicos (sem excepções) cabe perfeitamente na ideia que está na base do "sentido de serviço público"?

 

Mas a pergunta que me está a saltar da boca é: Como se mede a competência de um banqueiro? E, já agora, desde quando é que existe esse medidor? É que, considerando, o historial da banca portuguesa, não se vislumbra nenhum caso de competência. Dizem que António Domingues fez um bom trabalho no BPI. Será mesmo verdade? Ricardo Salgado também foi considerado, durante muitos anos, o melhor e mais competente banqueiro do país. E quem diz Ricardo Salgado também pode dizer Jardim Gonçalves, Oliveira e Costa, João Rendeiro, etc., cuja principal competência era a de “liquidar bancos”. Durante tantos anos nunca houve um aferidor de competência, especialmente na banca. Parece que este governo conseguiu desenvolver essa tão desejada ferramenta. E desenvolveu-a com tanta precisão que até permite, de antemão, garantir a distribuição de prémios pelo novo presidente da Caixa e sua equipa (onde parece que consta um tal de Emídio Pinheiro, presidente do Banco de Fomento Angola?!) que, ao que parece nem sequer estarão indexados a incontestáveis resultados. Quando digo resultados incontestáveis, refiro-me a resultados que não se baseiem em cortes com o pessoal, sustentados em políticas cegas de despedimentos como é habitual. Se é para isso vou lá eu e faço-o por menos de metade.

 

Importa ainda salientar duas situações. A primeira tem a ver com o facto do senhor António Domingues ter exigido como condição para ir para a presidência da CGD, auferir a mesma remuneração que auferia no BPI. Creio que isto já é bastante demonstrativo daquilo ao que vai o competente banqueiro, que não é capaz de destrinçar a diferença entre administrar um banco público e um banco privado. Há quem diga que ninguém muda de emprego para ganhar menos… Por acaso até nem é verdade. Existem vários exemplos de pessoas que saíram do sector privado para o público e para ganhar menos, algo que, apesar de não garantir competência nem conferir candura, pelo menos, é um sinal de compreensão sobre o que significa serviço público. Quem não quer, não vai, ponto final. Agora quando vêm logo com exigências salariais, fica claro que se tratam de pessoas sem o mínimo sentido de serviço público e, logo à partida, deveriam ser excluídos independentemente das suas competências. A segunda situação tem a ver com o facto de este senhor passar a acumular o principesco salário da CGD com a choruda reforma (desconheço o valor, mas é muito garanto-vos) que vai receber pelo tempo que trabalhou no BPI. Ora, parece que, afinal, António Domingues não vai receber apenas o que recebia enquanto vice-presidente do BPI (que já é bastante), vai receber muito mais do que isso no final de cada mês.

 

O que mais me preocupa no meio de toda esta polémica é o facto de os políticos não serem capazes de aprender com os erros do passado. A alteração ao estatuto de gestor público da CGD, que deixa de obrigar que os administradores da Caixa declarem os seus rendimentos às entidades fiscalizadoras só vem demonstrar que os políticos continuam enredados na teia dos poderosos da banca. E, sobretudo, aquilo que tem sido e, pelos vistos, querem que continue a ser a Caixa Geral de Depósitos – um antro de influências partidárias, onde o chamado “centrão” sempre se entendeu e coexistiu em perfeita harmonia.

 

Querer encontrar um banqueiro competente entre os actuais e anteriores banqueiros portugueses é como querer encontrar um dióspiro azul, esse maravilhoso fruto dos deuses. Alguns, por vezes, começam a apresentar uma cor em tons de azul, sobretudo quando estão bolorentos, permitindo adivinhar o que lhes está por dentro. Enfim, é a fruta da época.

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