Borrell: o diplo(mata) que prefere as armas ao diálogo
Josep Borrell é apelidado de “Chefe da Diplomacia Europeia”. O seu objectivo é alcançar uma “paz justa” na Ucrânia, mas só no próximo ano, porque isto da paz (ou da guerra) tem o seu tempo. Borrell disse que “este não é o momento para conversas diplomáticas sobre a paz, mas para apoiar militarmente a guerra”. Por outras palavras, Borrell disse que ainda não é tempo para se fazer a paz, mas sim para continuar com a matança na Ucrânia. Isto foi dito pelo chefe da diplomacia europeia. Repito, "Chefe da Diplomacia". Eu achava que para um verdadeiro diplomata todos os instantes eram momentos para se falar de paz. Borrell também disse que "a Ucrânia cairá em poucos dias, sem o apoio do Ocidente". Bem, ninguém diria. É que a comunicação social farta-se de dizer que as forças ucranianas estão a conseguir importantes avanços na recuperação do território perdido. E que as forças russas estão desorientadas, sem munições, desavindas com o Kremlin e prestes a bater em retirada. Bando de palermas armados em jornalistas.
Durante a entrevista que deu à Euronews, Borrell lá admitiu, com aquela candura fingida que o caracteriza, que passa “uma parte importante do seu tempo a falar de armas”. Ele até foi verdadeiro nesta afirmação, não por ser um indivíduo honesto, mas apenas porque é um patego que não tem consciência daquilo que diz, ou melhor, daquilo que lhe mandam dizer.
E assim, a União Europeia lá aprovou mais um pacote de 500 milhões de euros em armas para enviar para a Ucrânia. Portanto, mais de um ano depois da invasão, ainda não houve um único gesto diplomático por parte das entidades europeias, para que se pudesse chegar a um acordo de paz na Ucrânia. E o “Chefe da Diplomacia” continua – como ele próprio admitiu – a falar de armas.
Agora, todos os “líderes” europeus falam de uma “paz justa” para a Ucrânia. Uma “paz justa”? O que é uma “paz justa”? Será a paz que o senhor Zelensky exige? Ou seja, a retirada de Rússia de todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia? Alguém, no seu perfeito juízo, acredita que existe alguma possibilidade de a Rússia se retirar da Crimeia? Só os delirantes e patetas “líderes” europeus podem sequer supor a possibilidade de tal cenário. Na verdade, nem os ucranianos acreditam nisso, caso contrário não tinham esperado até agora para fazer essa exigência. A Crimeia foi anexada pela Rússia em 2014, não foi ontem, nem mesmo em Fevereiro de 2022.
Os “líderes” europeus deveriam interessar-se por saber o que é que a população da Crimeia deseja. Eles só não demonstram esse interesse porque, na verdade, eles sabem muito bem o que a população da Crimeia deseja. Isso está na frente dos olhos de toda a gente. Deveriam também fazer a mesma pergunta às famílias das muitas milhares de pessoas que morreram no Donbass, desde 2014. Isto se pretendem continuar a falar em “paz justa”.
Agora chamam-lhe de “paz justa”, apenas para dissimular o facto de que durante 15 longos meses não foram capazes de falar, uma única só vez que fosse, de paz. O interesse nunca foi a paz. O interesse sempre foi o de alimentar a guerra, o negócio das armas, da energia, da banca, dos interesses instalados.
Como referi, a Rússia nunca vai abdicar da Crimeia e, em relação ao Donbass, já seria um acordo muito bom para a Ucrânia se a Rússia aceitasse que as Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk se mantivessem independentes. Convém sempre recordar que uma grande parte da população destas regiões é de etnia russa, sobre as quais os sucessivos governos ucranianos impuseram um inferno de perseguição, massacre e morte, durante oito longos anos. E, como não poderia deixar de ser, o acordo de paz terá de garantir que a Ucrânia jamais aderirá à OTAN, algo que o próprio Zelensky já havia aceitado (mas foi obrigado a recuar na decisão), bem no início da invasão.
Se Zelensky tivesse aceitado negociar com a Rússia, em Dezembro de 2021, ou até mesmo em Março/Abril de 2022, certamente que teria tido muito melhores condições de negociar uma “paz justa”, face às condições actuais. E quanto mais tempo passar, pior será a situação negocial da Ucrânia. Todo o arrastar desta situação insustentável e, pior que isso, todas as recusas de negociação de paz foram comandadas por Washington, às quais os vassalos europeus assentiram com muita satisfação. Parece que o objectivo é continuar com esta insanidade, pelo menos até 2024, como referiu Borrell. Continuem, pois bem se vê que estão no caminho certo.