Cala-te seu “difusor de terrorismo”, ou então…
O Conselho de Ministros aprovou uma proposta de lei que visa aplicar coimas reforçadas às entidades que difundam conteúdos terroristas online. Saliente-se que as multas podem atingir o valor de milhões de euros.
A primeira questão que se coloca é a de saber o que pode ser considerado como difusão de conteúdos terroristas. Vejamos, todos os dias - repito, TODOS OS DIAS -, jornalistas, comentadores, políticos e governantes emitem conteúdos que podem e devem ser considerados como actos de apoio ao terrorismo, de branqueamento do terrorismo e até mesmo de glorificação do terrorismo, e NADA lhes acontece.
Portanto, não se vislumbra o que raio é que poderá ser considerado como difusão de conteúdos terroristas, quando isso é o pão nosso de cada dia há vários anos, praticados pelas entidades com maiores responsabilidades públicas e NINGUÉM foi sequer chamado à atenção por fazê-lo. Pior, fazem-no como se estivessem a fazer o maior de todos os bens.
Políticos, jornalistas e comentadores glorificam o nazismo e o terrorismo na Ucrânia, gritando hossanas aos neonazis do Batalhão de Azov, apoiam fervorosamente os terroristas da al-Qaeda na Síria, fazem claque a favor do genocídio perpetrado pelos terroristas “nazionistas” de Netanyahu, em Gaza e na Cisjordânia e ainda apoiam as investidas terroristas que Israel, EUA e seus lambe-cus fazem no Líbano. Isto, só para citar alguns exemplos mais prementes.
Nada acontece a toda esta gentalha. Nem uma única multa, nem sequer uma só chamada de atenção. Muito pelo contrário, este é o mantra daqueles que se outorgam como defensores e propagadores da verdade, da liberdade e da paz.
Portanto, fica bem claro que esta lei serve apenas para perseguir os não-alinhados com a narrativa do poder. Todos quantos se atrevam a criticar o regime receberão automaticamente a chancela de “difusor do terrorismo”, para aprender a estar caladinho.
Não é grande novidade. A perseguição e o cancelamento de opiniões que incomodam o regime já vêm desde há muito tempo, tendo-se acentuado na altura da pandemia e, posteriormente, com a invasão da Rússia na Ucrânia, em 2022.
E isto está apenas a começar. Não tardará o momento em que aprovarão leis que proíbam um cidadão de afirmar que “vacinas” experimentais são “vacinas” experimentais, leis que proíbam as pessoas de dizer que a Ucrânia é um antro de nazismo e corrupção, leis que proíbam dizer que Israel é um estado apartheid, que comete genocídio sobre o povo palestiniano, leis que proíbam os cidadãos dizerem que os “líderes” europeus são uns meros fantoches de Washington, ou ainda, leis que proíbam as pessoas dizerem que Washington é a sede de todos os terrorismos e de todas as guerras. Em suma, leis que proíbam dizer a verdade.
E, notem bem, a maioria das pessoas vai aplaudir a aprovação desse tipo de leis, julgando que são leis elaboradas com o único objectivo de garantir a segurança, a paz e o bem-estar dos cidadãos. Quão ingénuos.
Basta reparar no que aconteceu ontem, com o protesto dos bombeiros. O país indignou-se – porque a comunicação social lhes disse para se indignarem – perante a forma como os bombeiros protestaram. Ah e tal, os bombeiros até podem protestar, mas não desta forma. Como se os bombeiros tivessem matado, ferido ou atrapalhado minimamente a vida de alguém. Na pior das hipóteses, o rebentamento de petardos fez a senhora ministra deixar fluir umas pinguinhas de xixi, com o susto. Mas não podem protestar desta forma. Há que ter respeito. Ou melhor, respeitinho.
Já os médicos, quando fazem greve colhem todo o apoio da comunicação social, dos políticos, dos comentadores e da esmagadora maioria da população que acredita piamente no que vê, lê e ouve nas notícias. Porque os senhores doutores são gente bem formada. Os senhores doutores não andam por aí a berrar o hino nacional, a acender tochas e a rebentar petardos. Não senhor. Os senhores doutores exercem o seu direito de protesto como deve ser, porque são civilizados. Os senhores doutores, quando pretendem protestar, deixam as urgências fechadas - resultando na falta de atendimento a quem mais precisa e até mesmo na morte de cidadãos - e vão passar uns dias ao Hilton ou ao Tivoli da Marina de Vilamoura, onde aproveitam para disfrutar dos circuitos de spa, das massagens de relaxamento, da boa cama e boa mesa e, assim, descontar os vouchers que recebem da indústria farmacêutica.
É assim que estamos. E não se vislumbra que daqui se vá para melhor.