Culpado por expor a verdade
Julian Assange foi libertado. A notícia tem sido anunciada – com pouco alarido e muito pesar – pela comunicação social. O “jornalismo” vigente não aceita e repudia veementemente, qualquer jornalista que se atreva a fazer o trabalho que um jornalista é suposto fazer.
Mas a liberdade de Assange tem um preço. E muito elevado. Para que pudesse ser libertado da prisão de Belmarsh e deixasse de ser perseguido pelo poder norte-americano, Assange foi obrigado a declarar-se culpado e pedir perdão pelo que fez.
E o que é que Assange fez? Atreveu-se a expor a verdade sobre os mais escabrosos crimes cometidos pelo poder norte-americano. Nada daquilo que Assange fez pode ser considerado ilegal. Foi tudo feito dentro das regras do jornalismo e da liberdade de imprensa. Aquelas regras que a generalidade dos “jornalistas” e dos órgãos de comunicação social enfiaram na última gaveta da arrecadação.
Julian Assange esteve preso, no total, cerca de 14 anos. Um castigo demasiado pesado e completamente injustificado, sobretudo imposto pelo poder norte-americano, e apenas para servir de aviso a todos quantos ousem atrever-se a dizer a verdade sobre os seus crimes. Saliente-se que, em nenhum momento, o poder norte-americano demonstrou qualquer interesse em facilitar a libertação de Julian Assange, muito pelo contrário. Contudo, sabemos que em Novembro, os EUA vão a votos e o “ainda” candidato incumbente, Joe Biden, está desesperado com a perda de popularidade (e a quase certa derrota) e, só por essa razão, decidiram terminar – pelo menos por enquanto – com a perseguição a um jornalista que não fez nada de errado. Ou, se quisermos ser mais justos, um jornalista que fez aquilo que quase nenhum outro se atreve a fazer: jornalismo.
Não esqueçamos que a comunicação social, em geral, também condenou Julian Assange, sobretudo ao esquecimento. Durante todos este anos, em que um colega de profissão e, acima de tudo, um ser-humano foi submetido à mais abjecta perseguição e a uma verdadeira tortura psicológica e física – que só por milagre não resultou na sua morte -, a comunicação social nada fez para defender aquele que protagonizou, sem dúvida, o maior exemplo de jornalismo ocorrido neste século. Pior que isso, sempre que abordaram o assunto fizeram-no em tom reprobatório e de condenação do próprio Assange. Trata-se de uma comunicação social que defende acerrimamente o poder instituído, o poder das elites, em detrimento da investigação jornalística e da exposição da verdade.
Termino com uma citação do próprio Julian Assange, que espelha na perfeição o sistema vigente.
“Quais são as diferenças entre Mark Zuckerberg e eu? Eu forneço informações privadas sobre as corporações de forma gratuita e sou um vilão. Zuckerberg fornece informações privadas (de todos os utilizadores) às corporações, em troca de dinheiro, e ele é o Homem do Ano.”