Desconfinamento: já deu para ver no que vai dar
Importa começar por referir que não se percebe a opção do Governo em avançar com a segunda fase do desconfinamento, quando um dos factores anunciados pelo Primeiro-ministro como decisivos para travar o desconfinamento já se encontra na linha vermelha. António Costa tomou a decisão de avançar com a segunda fase do desconfinamento (que entrou em vigor ontem) na passada quinta-feira, contudo, já era mais do que certo que o R(t) estava, tecnicamente, acima de 1.
O Primeiro-ministro optou por ignorar quilo que ele próprio havia dito aquando da célebre apresentação da “matriz do risco”. É óbvio que compete ao Governo tomar as decisões, só não se percebe a razão pela qual António Costa se contradiz com tanta facilidade. Além disso, é importante que se tenha isto em mente para que depois não tenhamos que ouvi-lo dizer coisas do tipo: “ninguém poderia prever”, “ninguém se mostrou contra”, “não havia nada que apontasse neste sentido”, etc.
A mim, parece-me óbvio que o país ainda não está preparado para avançar no desconfinamento, sobretudo no que respeita à abertura dos ginásios e das esplanadas. Mais ridículo ainda é constatar que o Governo permite a abertura dos ginásios, mas não autoriza a realização de aulas de grupo, como se a situação de ter várias pessoas dentro de uma sala a realizar diferentes tipos de exercício fosse diferente de uma aula de grupo, como aeróbica, pilates ou outra qualquer. O Governo entende que o vírus só se pega se as pessoas estiverem a fazer o mesmo exercício.
Agora as esplanadas. O que se passou ontem assemelha-se a uma libertação de prisioneiros. Vendo e ouvindo as pessoas que desataram a acorrer às esplanadas fica-se com a ideia de que isto tem tudo para correr mal. Notem que houve muita gente a efectuar reservas com uma semana de antecedência. Até parecia um concerto dos U2.
E deu também para constatar que muita gente não consegue aprender mesmo nada com esta pandemia. Desde aqueles que continuam a apreciar desfrutar de um belo jantar na berma da estrada, ou aqueles que continuam a fumar no mesmo local onde eles próprios, mas sobretudo outros se encontram a comer e beber, e ainda aqueles que continuam a passear sem máscara em ruas movimentadas (e que colocam a máscara à pressa só porque está lá a TV) e também aqueles que, apesar de haver um espaço com inúmeras mesas desocupadas, continuam a sentar-se ao lado da única mesa que já se encontra ocupada. Ah! Como é bom estar juntinho de desconhecidos, ouvir as suas conversas e sentir os seus cheiros.
O vírus deve estar a ficar mesmo aborrecido. Ele veio para ensinar, para alterar comportamentos, mas não está a consegui-lo. Ele criou demasiadas expectativas em relação à inteligência das pessoas.





