Halloween e a perda de identidade… e de tino
Há já alguns anos que a comemoração do dia de Halloween em Portugal se tornou um hábito para muita gente. Inicialmente, apenas a criançada aderia à “festa”, no entanto, pouco a pouco, também muitos “adultos” se tornaram nuns efusivos fãs desta festividade importada. E é sobre esses “adultos” que recai este texto.
Que a criançada ache piada e até mesmo normal que se festeje o Halloween, eu compreendo. Agora, ver adultos a fantasiados de fantasminhas, monstrinhos e docinhos é apenas ridículo. Esses “adultos” dizem que o importante é que as pessoas se divirtam. Mas se a questão é a diversão, por que razão é necessário importar modas americanas? Parece não haver criatividade suficiente na cabecinha dessas pessoas. E mesmo assim, sem criatividade para criar momentos de diversão, creio que nós portugueses temos inúmeras tradições, algumas delas seculares, que são mais do que suficientes para aproveitar momentos de diversão e de autenticidade cultural.
Durante largas décadas, nunca se festejou o Halloween, nunca ninguém tinha sequer escutado essa palavra, mas Hollywood, a TV por cabo, os canais de filmes, a publicidade e a comunicação social encarregaram-se de plantar o fenómeno em todos quantos têm umas cabecinhas de abóbora – qual bando de idiotas a tentar caricaturar aquilo que vêm nos filmes americanos. Porque os gajos lá na América é que sabem das coisas.
Festejar o Halloween em Portugal – bem como em inúmeros países ocidentais – é o reflexo da brutal propaganda veiculada por Hollywood. As pessoas têm vindo a ser objecto da mais sórdida e eficaz propaganda, sem sequer dar conta disso. E então, é só olhar à nossa volta e ver um bando de “adultos” completamente infantilizados, a comportarem-se como se fossem crianças ou adolescentes.
Trata-se de pessoas que se comportam dessa maneira, porque ainda alimentam o sonho de encontrar uma qualquer aceitação perdida na infância ou adolescência. Mas acham que são gente muito avançada, gente moderna, com a mente aberta. Não, isto não significa ter a mente aberta. Significa antes ter uma mente completamente conspurcada, pela mais abjecta propaganda facho-capitalista norte-americana.
Esta onda crescente de infantilização atingiu patamares que eu julguei nunca ser possível. Agora, até os programas de televisão cuja audiência é maioritariamente formada por gente idosa aderiram à moda. Também os programas de rádio com maior audiência, feitos por quarentões e cinquentões para quarentões e cinquentões aderiram à palhaçada. E até os programas de notícias dão conta do acontecimento, para conferir a tão necessária e derradeira confirmação de que o Halloween também é nosso.
E é isto, “adultos” disfarçados de monstrinhos, fantasminhas ou vampirinhos. E lá vão eles todos excitados para festas temáticas em restaurantes e bares – que muito bem sabem como engodar os papalvos – fazer figurinhas ridículas, enquanto se acham os reis da macacada. Comportando-se como se fossem estrelas de Hollywood em decadência. E elas então – as ”adultas” - são o máximo. A maioria delas vestidas de bruxinhas sexy ou vampirinhas marotas, achando que vão encontrar um Edward Cullen que lhes vai espetar uma dentada. Ou uma Kristen Stewart, depende dos gostos. Os calores pré-menopáusicos podem apresentar consequências inesperadas.
Pobres vítimas da mais abrangente e repugnante propaganda, que visa despir as pessoas da sua identidade e vesti-las com as mais patéticas vestes de uma cultura pop americana, fútil, vazia e desprovida de qualquer significado para a cultura portuguesa. É, portanto, apenas mais um reflexo da cultura americana, pós-capitalista, que visa endrominar as pessoas, infantilizá-las, esvaziá-las de qualquer sentido crítico, de qualquer senso do ridículo e levá-las a embarcar em patéticas orgias de despesismo bacoco. E, claro, mantê-las distraídas e entretidas com futilidades e deixar os assuntos sérios para aqueles que percebem da poda. Aqueles que estão sempre a zelar pelo superior interesse dos cidadãos comuns.
Se você é adulto e festeja o Halloween ou se você costuma dizer boo, woo hoo, yay, whoa e whatever, você já está para lá de propagandeado e nem deu conta disso.
Ah! Já me esquecia… amanhã não fiquem muito tristes. Não vale a pena. O Thanksgiving está já aí.