Idiotazinho, hipocritazinho e sem gracinha
Dizem que é o mais solicitado e bem pago humorista português. Numa sociedade em que o capital determina o valor e a capacidade das pessoas, se é o mais bem pago é porque é o melhor – o maior da aldeia.
Contudo, estranha-se que durante quatro longos e penosos anos de administração Biden, o humoristazinho não tenha tido um único minuto dedicado a caricaturar as inúmeras gafes cometidas por Joe Biden.
O humoristazinho é de humores – e amores – muito selectivos. Tão selectivos, que acaba por escolher sempre os mesmos alvos para direccionar o seu “humor”. E os seus alvos são os Trumps, os Venturas, os Bolsonaros e afins. Quer estejam, quer não estejam no poder.
No último programa cujo nome eles estão legalmente impedidos de dizer, o humoristazinho mostrou-se muito agastado com o facto de Trump ter dito que há países a beijarem-lhe o rabo – o cu, em português corrente. O humoristazinho foi ainda ao baú das recordações selectivas para trazer à memória algo que Bolsonaro disse em 2021. Na altura, a propósito da polémica à volta do leite condensado, Bolsonaro disse: “é pra enfiar no rabo de vocês da imprensa, essa lata de leite condensado”.
O humoristazinho, apesar de estar constantemente a defender que qualquer pessoa deve ter o direito de dizer o que quiser e nos modos que entender, não concorda que um chefe de Estado deva pronunciar-se nos termos em que Trump e Bolsonaro fizeram.
É o mesmo humoristazinho que nada disse – nem um pio – acerca daquilo que Joe Biden disse a um jornalista na Casa Branca. Biden referiu-se ao jornalista chamando-lhe “estúpido, filho da puta”. Nessa altura, o humoristazinho não ligou patavina ao que disse o "supremo" chefe de Estado.
As prebendas “balsemónicas” têm este efeito nas pessoas. Tornam-nas cegas, surdas e mudas. Fazem-nas ficar idiotas, hipócritas, desmemoriadas e com humores – e amores – muito selectivos.
Podem dizer que o humoristazinho tem o direito de se pronunciar sobre quem quiser e na forma que ele bem entender, contudo, ao fazê-lo nestes termos – beijando o cu a uns e apontando o dedo a outros – só demonstra que a selectividade e a hipocrisia podem ser muito mais dilacerantes e sodómicas, do que latas de leite condensado no cu.