Jimmy Carter: mais “um santo de um homem”
Há poucos dias deu-se o funeral de Jimmy Carter, antigo Presidente dos EUA. A comunicação social nacional – como é habitual – prestou uma cobertura alargada ao evento, mas, acima de tudo, fartou-se de fazer a habitual propaganda pró-americana.
A ideia que passou para a opinião pública (desinformada e desmemoriada – a maioria) foi a de que Carter foi “um santo de um homem”, que até recebeu o Prémio Nobel da Paz.
Jimmy Carter poderá ter completado muitas boas acções (Jack “o estripador” também telefonava todas a noites à sua querida mãezinha, enquanto afiava as facas), mas também cometeu muitas atrocidades. E isso é o que mais importa, ou seja, o que mais conta no balanço final é a dimensão daquilo que alguém fez de errado, porque todo o bem que possa ter feito sairá manchado pelo mal que fez. A menos que estejamos a falar de pequenas falhas, que não é o caso de Carter.
Quando uma pessoa assume um cargo de poder (neste caso, a Presidência dos EUA), espera-se que ela cumpra com princípios básicos como o respeito total pelos direitos humanos. Jimmy Carter foi um enorme apoiante do ditador indonésio General Suharto, que invadiu Timor-Leste em 1975, tendo brutalmente assassinado cerca de 200 mil timorenses. Tudo isto com o alto patrocínio de Washington, tal como acontece agora com o genocídio israelita na Palestina.
Durante a administração Carter (1977-1981), os EUA foram um firme aliado da ditadura militar de Suharto, tendo aumentado a quantidade de armas fornecidas ao regime indonésio e tendo patrocinado a chacina em Timor-Leste. Claro que, tal como agora, a administração norte-americana de Carter pôs em prática a famosa cartilha de propaganda de Washington, que tentou desacreditar todos os relatos factuais, acerca daquilo que acontecia em Timor-Leste. Por exemplo, a administração Carter propagandeava a ideia de que realizava pressão sobre o regime de Suharto, para que este libertasse os presos políticos timorenses, ao mesmo tempo que lhe fornecia armas para os subjugar e assassinar a população inocente.
Exactamente como acontece agora no Médio Oriente. A máquina de propaganda de Washington – que se estende a todo o “mundo ocidental” – também apregoa que a administração Biden tenta, com muito empenho, um cessar-fogo no Médio Oriente (sobretudo na Palestina), quando na verdade não param de fornecer armas aos “nazionistas” genocidas de Israel.
Portugal deveria ter bem presente na sua memória colectiva, as horrendas atrocidades cometidas por Suharto em Timor-Leste, que contaram com o alto patrocínio de Jimmy Carter. Mas isso seria se vivêssemos em democracia, se os líderes políticos estivessem preocupados em defender valores como a democracia, a liberdade ou os direitos humanos, e também, se tivéssemos uma comunicação social minimamente decente, que não estivesse completamente capturada por um sistema imperialista, sustentado na mentira, na opressão, no total desrespeito pelos valores democráticos e na constante violação dos direitos humanos.