Lacerda Sales, como se fosse normal


O ex-secretário de estado da saúde, Lacerda Sales, deu uma entrevista ao jornal Expresso, numa tentativa de esclarecer a sua polémica envolvência no caso das “gémeas brasileiras”.
Como todos certamente se recordam, há algumas semanas, quando confrontado com este caso, Lacerda Sales reagiu com muito incómodo, não pelas circunstâncias do caso, mas pelo simples facto de estarem a duvidar da sua conduta enquanto governante. Nessa altura, negou toda e qualquer participação no caso e falou à comunicação social com muita altivez. Mais tarde – à medida que o novelo (ou a novela) se foi desenrolando - disse que iria esclarecer tudo em sede própria. E, agora, decidiu que a sede própria é o jornal Expresso, ao qual concedeu uma entrevista comportando-se como um cordeirinho.
Nessa entrevista, Lacerda Sales confirmou que, afinal, teve reuniões com o filho de Marcelo Rebelo de Sousa (o doutor Nuno Rebelo de Sousa). Mas, logo se apressou a garantir que – nas conversas com Nuno Rebelo de Sousa – trataria deste caso como todos os outros. E ainda acrescentou que foi Nuno Rebelo de Sousa quem pediu audiências com ele. E não o contrário.
Lacerda Sales continua a querer comer os portugueses de cebolada. Há umas semanas quis fazer o povo acreditar que um secretário de estado não tem nenhum poder para marcar consultas em hospitais (logo ele, que tinha a pasta da saúde). E, agora, pretende que os portugueses entendam como “normal”, que qualquer cidadão que solicite audiências com um governante consegue ver essa pretensão atendida. Até mais do que uma vez e com toda a diligência do mundo.
Eu sugiro a todas as pessoas que estejam com dificuldade de atendimento no SNS (imagino que sejam poucochinhas), que agendem audiências com um governante, para agilizar a coisa. Porque, como se pode depreender das palavras de Lacerda Sales, isso é algo absolutamente normal e eles estão lá para nos receber e nos ouvir atentamente.
Lacerda Sales também disse que nunca contactou o hospital de Santa Maria, apesar de pelo menos uma médica do referido hospital ter garantido que o fez (directa ou indirectamente).
E, para coroar a sua patética actuação, ainda pediu desculpa aos “portugueses de bem”, que supõe-se que sejam todos os portugueses que acreditam na palavra dele. E disse que tudo aquilo que fez ou não fez, porque ele não se lembra de tudo (normal em governantes), foi para salvar a vida de duas crianças. Pois, pois. Só é pena que a esmagadora maioria dos portugueses (para Lacerda, serão os “portugueses de mal”) não conheçam o filho do Presidente da República, nem consigam audiências com o senhor secretário de estado da saúde.
Para terminar, gostaria de salientar a postura corporal de Lacerda Sales no decorrer da entrevista. Ora olhava para as notas que terá elaborado com o seu advogado, não vá o diabo tecê-las. Ora olhava para o tecto, naquele comportamento típico de aluno calão que tenta inventar uma resposta que sirva os seus propósitos.