Mais uma carta aberta pateta
Anda por aí um grupo de patetas a reivindicar que está na altura de retomar a normalidade e, nesse sentido, escreveram uma carta ao Governo na qual expõem a sua brilhante interpretação da situação actual.
Dizem que já não estamos a viver uma situação pandémica, mas sim endémica. Portanto, temos um grupo de médicos e farmacêuticos que, perante a preocupante situação actual, sustenta que já não existe nenhuma pandemia em curso. Defendem que não há razões para manter as actuais medidas de confinamento e defendem a abertura total e o fim das restrições.
Um tal de Jorge Torgal (um especialista) diz que "neste momento, a Covid-19 não é um problema de saúde pública em Portugal e que estão a morrer apenas 20 e tal pessoas por semana". O senhor Jorge Torgal está a precisar de rever os seus apontamentos da 2.ª classe, é que nas duas últimas semanas morreram quase 100 pessoas, praticamente o mesmo número de mortes verificadas na primeira quinzena do mês de Julho de 2020. É óbvio que a pandemia está bem presente, em Portugal e no mundo. Negar esta evidência constitui um episódio de pura senilidade.
Este grupo de especialistas também defende que o elevado número de novos casos não é preocupante porque isso não se reflecte num aumento do número de mortes. Outra patetice. O actual número de mortes é preocupante, na medida em que apresenta um valor aproximado ao número de mortes verificado no ano passado. Na primeira quinzena de Julho de 2020 morreram 100 pessoas, no período homólogo de 2021 verificaram-se 91 mortes. No entanto, estes seres iluminados fazem as suas contas comparando o número de mortos face ao número de novos casos, o que está completamente errado. É óbvio que o percentual que resulta dessa relação é bem menor agora, por uma razão muito simples, é que agora realizam-se mais testes. Mas as contas não se fazem assim, porque se no ano passado tivessem realizado mais testes, provavelmente o número de novos casos também seria superior.
Os números que devem ser avaliados com especial cuidado é o número de mortes e o número de internamentos, porque são números reais que não dependem do número de novos casos que, por sua vez, dependem do número de testes realizados. Se considerarmos o facto de que temos, agora, muito mais internamentos e mais doentes em cuidados intensivos do que em Julho do ano passado, sendo que o número de mortes é praticamente o mesmo, conclui-se que a situação é preocupante. Convinha lembrar a estes senhores que em Julho do ano passado não havia ninguém vacinado.
Devemos ainda lembrar estes imbecis que há, agora, uma variante mais contagiosa e que não está posta de parte a possibilidade de surgirem novas variantes ainda mais perigosas, que podem colocar em causa todo o esforço de vacinação desenvolvido até agora.
Como é possível alguém não perceber algo tão simples? Principalmente, alguém com responsabilidades acrescidas nesta matéria. Este é o grande problema que agora se coloca, ou seja, o de tentar reduzir ao máximo a incidência e a transmissibilidade, para que o vírus circule o mínimo possível e, assim, reduzir a probabilidade de surgirem novas estirpes que possam pôr em causa todo o processo de vacinação já realizado e o que falta cumprir.
Abrir a sociedade por completo e retomar a normalidade, neste momento, poderia significar deitar tudo a perder e, eventualmente termos que enfrentar um Inverno ainda pior do que o anterior. Imaginem o que seria se chegássemos ao próximo Inverno com uma ou mais variantes a circular, para as quais as vacinas não oferecem protecção. Daí a importância de se manter algumas medidas restritivas à circulação – que, na minha opinião, deveriam ser bem mais apertadas - e continuar a cumprir à risca com o uso da máscara, o distanciamento social e a lavagem frequente das mãos.
As actuais medidas restritivas só pecam por defeito.