Marcelo também prepara a campanha, mas não a dele
Há poucos dias foi António Costa e o seu PS que deram início aos preparativos da campanha eleitoral. Tal como ficou à vista de todos, o PS pretendeu esvaziar o assunto “José Sócrates”, para não ter de carregar esse fardo nas próximas campanhas eleitorais, principalmente nas legislativas do próximo ano.
No seguimento da estratégia do PS, Marcelo não resistiu em avançar com deliberados actos de campanha eleitoral. A novidade aqui é que não se trata de auto-campanha, como habitualmente. Desta feita, Marcelo fez um grande favor à Direita, que não tem conseguido marcar posições bem definidas.
Provavelmente, Marcelo está apenas a ser Marcelo. Só que Marcelo é o Presidente da República e quem exerce a mais alta magistratura da nação não pode dizer o que disse, como se estivesse a opinar num talk show em hora de ponta. O Presidente da República disse que se “voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu (seu) mandato, isso seria, só por si, impeditivo de uma recandidatura”. Marcelo também disse que “não demite o Governo, se houver nova tragédia”.
O que Marcelo quis realmente dizer foi que o Governo tem a obrigação de se demitir, caso se volte a repetir uma tragédia como a do ano passado. Mas não tem. E muito menos razões terá Marcelo para não se recandidatar, já que pouco ou nada tem a ver com uma situação excepcional como esta, e pouco ou nada pode fazer senão distribuir afectos.
Obviamente que a responsabilidade política é sempre de quem governa, nomeadamente do Ministério que tutela a referida área. E, tal como aconteceu no ano passado, as responsabilidades foram assumidas, talvez de forma atabalhoada, mas foram. A situação foi tão assombrosa e anormal que se pode perdoar o atabalhoamento.
Agora, achar que um Governo se deve demitir só porque acontece uma tragédia é, simplesmente absurdo. Mais disparatado ainda é um Presidente da República não se recandidatar por essa mesma razão.
Com as referidas afirmações, Marcelo apostou em dois cavalos destros. Um que corre a favor de uma demissão do Governo e o outro que corre a favor de uma penalização (dos partidos que o suportam) nas urnas, caso a tragédia se repita.
O Presidente da República foi tão irresponsável, que nem sequer equacionou a possibilidade de alguns fanáticos anti-PS e anti-Esquerda poderem fazer a tragédia acontecer, só para ver se resulta.
Assim, até parece fácil deitar abaixo um Governo. E o Presidente da República fez questão de relembrar como se faz.