Mas que grande monte… negro
Ontem, no debate quinzenal na Assembleia da República, Luís Montenegro disse que a descida do IRC não é para beneficiar empresários, é para beneficiar as pessoas.
Claro que é para beneficiar as pessoas. Se fosse para beneficiar os empresários, o governo aumentaria o Salário Mínimo Nacional (SMN), pelo menos, para os 1.000 euros. Mas o governo não o faz – e bem – porque se aumentasse o SMN para os 1.000 euros, assim é que estaria a favorecer os empresários (e o Estado), porque toda a gente sabe que os pobretanas estouram o salário todo ainda antes do final do mês. E onde é que vai parar esse dinheiro? Às manápulas dos empresários (e ao Estado, via fiscal).
Portanto, Montenegro faz muito bem em não pôr mais dinheiro no bolso daqueles que não o sabem gerir. E, por isso, torna-se bastante óbvio que a melhor maneira de beneficiar as pessoas, os trabalhadores comuns, é baixando o IRC e aumentando os lucros das empresas. Toda a gente sabe que sempre que os empresários ficam com mais dinheiro em caixa, a primeira coisa que fazem é aumentar os salários dos trabalhadores e criar mais emprego, porque é esta a grande motivação de qualquer empresário. Tem sido isso que eles sempre fizeram e fazem.
Toda a gente sabe que o dia-a-dia de um qualquer patrão é a trabalhar 24 horas por dia (e mais algumas horas extra de noite), com o primordial objectivo de fazer caridade ao criar empregos para a maioria das pessoas comuns, que por serem uns coitados, uns desinspirados sem qualquer laivo de empreendedorismo, ficam dependentes das boas almas patronais, que nunca lhes viram as costas nem os deixam sem um emprego. E, saliente-se que não são uns empregos quaisquer, são bons empregos e muito bem pagos, porque não há patrão que pense em satisfazer qualquer um dos seus muitos desejos supérfluos, sem que antes tenha criado uma carrada de empregos bem pagos. Bom, admitamos que há um ou outro empresário miserável – casos muito raros – que não passam de uns gananciosos, que só estão empenhados em amealhar capital que lhes permita possuir várias casas, engordar as contas bancárias (muitas vezes em paraísos fiscais, que PSD/CDS e PS insistem em manter), para comprar um Tesla, um Jaguar, um Aston Martin ou um Bentley (já não se satisfazem com Mercedes ou BMW). Há também aqueles patrões que só estão interessados em proporcionar vidas luxuosas a si próprios e aos seus, desde férias e viagens pagas com dinheiro da empresa, despesas do dia-a-dia pagas com cartão da empresa, seguros de saúde “premium” pagos pela empresa, entre muitas outras benesses, pagas pela empresa, ou, se preferirem, pagas com a riqueza gerada pela labuta diária dos trabalhadores.
Mas, como referi anteriormente, esse tipo de patrão é coisa rara de se encontrar. A esmagadora maioria dos empresários investe – sempre – todo o dinheiro na valorização dos salários e no bem-estar dos seus trabalhadores.
Portanto, Montenegro tem muita razão em querer aumentar os lucros dos empresários, porque essa é a melhor forma de beneficiar as pessoas que trabalham, aquelas que eles gostam de chamar de “colaboradores”. Vá lá, não sejam piegas. Vamos todos “colaborar” com estas políticas e com os superiores interesses dos empresários, porque eles estão muito empenhados e focados em proporcionar-nos bem-estar. Foi sempre assim, e assim há-de ser.