Nuno Melo voltou mas não cucou
O canto do cuco costuma ouvir-se a partir do final de Março, mas Nuno Melo já não aguentava mais. O eurodeputado saiu do ninho para exigir que o actual Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (Rocha Andrade) informe Bruxelas (lugar onde o deputado do CDS nidifica) sobre a polémica dos offshores. Melo quer saber as datas, montantes, beneficiários, etc. Enquanto o seu governo (PSD/CDS) esteve no poder e o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais era o seu comparsa de partido, Paulo Núncio (aquele que fechou os olhos à saída de 10 mil milhões do país), Nuno Melo nunca quis saber nada sobre os montantes que eram transferidos para offshores.
Será que Nuno Melo também vai exigir que Rocha Andrade explique por que razão Paulo Núncio assinou um despacho que garantia isenções fiscais a determinados grupos económicos? Será que vai exigir a Rocha Andrade que explique a lista VIP, aquela lista restrita a quatro figurões da vida política portuguesa, entre os quais o próprio Paulo Núncio? Para quem não se lembra, os outros três eram Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas. Digam lá se não está aqui uma bela quadrilha para jogar à batota.
Por último, será que Nuno Melo também vai exigir a Rocha Andrade que explique as buscas feitas pela Autoridade Tributária e Aduaneira à Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais, por causa dos vistos gold, no tempo de Paulo Núncio?
Melo não está minimamente preocupado com a total falta de escrúpulos do ex-Secretário de Estado, ele está habituado a lidar bem com isso. A sua única preocupação está em exigir a Rocha Andrade que explique o imbróglio deixado pelo seu compincha de partido. Só falta exigir a Rocha Andrade que assuma os erros cometidos por Paulo Núncio.
Nada me surpreende o facto de Nuno Melo preocupar-se mais com quem detecta erros do que com aqueles que os cometem, já que ele próprio costuma pertencer ao segundo grupo. O que realmente me surpreende é que tenha conseguido articular meia dúzia de frases sem falar em José Sócrates. Isso é que é de espantar.
O cuco voltou mas não cucou.