O "esquerdista" que defende o Bloco Central
No último programa Eixo do Mal da SIC Notícias, o comentador Daniel Oliveira disse o seguinte:
“Acreditava que iríamos ter um confronto ‘Pedro Nuno Santos-Pedro Passos Coelho’. E, aliás, eu o Pedro [Marques Lopes] tivemos aqui uma discordância… eu achava isso saudável para a democracia… Que eram dois projectos claros, distintivos… Uma polarização, mas que não é uma polarização em casos, é uma polarização em projectos políticos, alternativas, diferentes pontos de vista… Isto engrandecia a democracia. Agora, isto que vamos assistir é que é o pior. Vamos assistir a um PSD enfraquecido e a um Chega fortalecido, um PSD mais dependente do Chega e um PS acossado por este processo.”
É esta a opinião que um comentador que se diz “de esquerda” propaga na comunicação social, onde se forma e se manipula a opinião pública.
O Daniel Oliveira não está minimamente interessado em aproveitar o momento actual para catapultar uma verdadeira alternativa de esquerda. Não. O Daniel Oliveira mostra-se muito agastado com o facto de não termos um confronto “Pedro Nuno Santos-Pedro Passos Coelho”. Isso é que o deixaria muito satisfeito, porque só isso garantiria a continuação do famigerado “bloco central”. O Daniel Oliveira considera que só o confronto entre esses dois “titãs” é que poderia gerar engrandecimento para a democracia portuguesa, como se os portugueses já não conhecessem, de ginjeira, estas duas peças da política nacional. Sobretudo o segundo, que já liderou um governo. Talvez o pior entre os piores.
O Daniel Oliveira não ficou por aí e ainda limpou a imagem destes dois políticos – como tão bem sabe e aprecia fazer - quando disse que uma campanha com ambos a liderar os seus respectivos partidos, não seria uma campanha de “casos”, como se ambos não tivessem telhados de vidro.
Quase 50 anos de “democracia” em Portugal não são suficientes para que o Daniel Oliveira consiga compreender ao que vão PS e PSD, aquando da realização de eleições. E não são suficientes, não porque ele tenha falta de capacidade de compreensão, mas apenas pela simples razão de que ele está onde está, precisamente para fazer aquilo que faz constantemente, isto é, defender a continuidade do “bloco central” no poder. E é por isso que o Daniel Oliveira está muito triste com um PSD “fraco” e “dependente”, e com um PS “acossado”. O Daniel Oliveira gosta mesmo é de um PS pujante, como o das últimas Legislativas, e de um PSD vigoroso e livre de qualquer tipo de amarras, como o PSD de 2011-2015.
Gente como o Daniel Oliveira constituem a maior ameaça à verdadeira esquerda política portuguesa, porque eles conseguem – magistralmente - fazer-se passar como “gente de esquerda” e mais não fazem do que servir a narrativa do “bloco central” e, assim, impedir que a verdadeira esquerda seja vista pela opinião pública como uma alternativa.
Toda a gente sabe que a opinião publicada tem uma influência muito grande na opinião pública. Basta recordar o que aconteceu nas últimas eleições legislativas – no ano passado – onde os “fazedores de opinião” como o Daniel Oliveira contribuíram – e bem – para a fatídica maioria absoluta do PS de António Costa.
E é por esta razão que estes comentadores de “esquerda” vão continuar a usar da palavra em tudo que é órgão de comunicação social, mesmo nos alaranjados, sobretudo nos alaranjados. Estes comentadores de “esquerda” são quem mais destrói a esquerda e quem melhor defende a perpetuação do “bloco central” no poder.