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O grande exemplo de Democracia

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Por cá, costumam ser muitos os que apreciam apontar a “democracia” britânica como um dos melhores exemplos de todo o sistema democrático. Em apenas um mês e meio, o Reino Unido mudou duas vezes de Primeiro-ministro. Primeiro havia Boris Johnson, que foi substituído por Liz Truss que, por sua vez, ao fim de um mês e meio foi forçada a abandonar o cargo para dar lugar a Rishi Sunak. Tudo isto aconteceu sem que fosse devolvida a voz ao povo. É certo que a lei assim o permite e que as eleições só acontecerão se o partido que está no poder assim o entender.

Mas quando o partido que está no poder sabe de antemão que há um enorme descontentamento popular face à sua governação é seu dever convocar eleições e devolver a escolha aos cidadãos. Têm medo de quê? Das sondagens que apontam para uma estrondosa derrota? Pois, mais uma razão para auscultar a vontade da população. Que raio de democracia é esta, em que o partido que está no poder recusa-se a ir a votos porque sabe que perderia estrondosamente?

Pode-se considerar como uma democracia, um sistema onde o poder instituído claramente já não colhe a vontade e o apoio da maioria da população?

E, agora, falemos da terceira escolha dos conservadores.

Rishi Sunak. Será que esta terceira escolha é um digno representante do seu povo? Vejamos, Sunak é um político com fortes ligações a avultosos investimentos efectuados nos laboratórios farmacêuticos Moderna, em especial na sua vacina contra a Covid-19. Será normal um Primeiro-ministro de um país ser grande um investidor numa empresa que a acaba de lucrar biliões numa negociata relacionada com uma das maiores crises que já testemunhámos?

Rishi Sunak é mais um político que vem do Goldman Sachs (há uns que vão e outros que vêm – a porta quando gira é para os dois lados) e com uma estreita ligação à alta-roda dos mercados e da alta finança. Portanto, num momento de enorme crise económica, em que o povo enfrenta inúmeras dificuldades decorrentes do aumento do custo de vida, o partido do poder decide escolher o menino riquinho, casado com uma multimilionária, que se recusa a domiciliar os seus negócios em Inglaterra, fazendo-o em outras paragens que cobram menos impostos.

Portanto, um indivíduo que andou a vida toda de mãos dadas com o poder corporativo (e corruptivo) pretende ser aquele que vai salvar o reino de uma catástrofe económica e social. Não haja dúvidas que a escolha de Sunak representa uma mudança radical na trajectória do poder britânico.

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Sunak é também aquele tipo de político que aprecia fazer-se passar por aquilo que não é. Pode ser algo comum na classe política – o que não constitui razão para se aceitar como normal – mas este tem um especial toque para a coisa. Há alguns meses, assim que os combustíveis começaram a disparar, Sunak deslocou-se até um posto de abastecimento para posar em frente às câmaras do mediatismo. E como não quis mostrar que só costuma conduzir viaturas que sejam de Jaguar para cima, tratou de pedir emprestada a viatura (Kia Rio) a um funcionário da loja, para fazer o seu filmezinho popularucho destinado a enganar pacóvios.

Um tipo que actua desta maneira ardilosa - para as câmaras - quando o objectivo é o de apenas construir o seu boneco político, imagine-se a encenação que fará em relação aos grandes temas e decisões que impactam a vida dos cidadãos.

Em jeito de nota final, gostaria de recordar uma estatística do final de 2020, que dava conta que 75% dos britânicos descreviam o Reino Unido como sendo democrático, contudo 60% queixava-se de não poder expressar-se livremente e um terço dizia sentir que não tinha voto na matéria, no modo como as coisas são geridas.

Considerando a degradação económica, social e política ocorrida nos últimos dois anos, imagine-se como se sentirão agora os britânicos. Devolvam-lhes o “voto na matéria” e verão.

Viva o grande exemplo de “democracia”. 

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