O pacote do Costa é maior porque tem o Marcelo dentro
Aquilo que supostamente deveria ser um pacote de medidas de ajuda ao povo português, afinal não passou de um número propagandístico do Primeiro-ministro e seu governo. António Costa apresentou o seu pacote com toda a pompa e circunstância e até lhe chamou “Famílias Primeiro”.
Alguém no seu perfeito juízo pode considerar que as medidas apresentadas por António Costa são uma ajuda? Vejamos, os extraordinários 125 euros dão para comprar dois pães por dia durante um ano. Os 50 euros por cada criança/jovem não chegam nem para cobrir o aumento do lanchinho na escola de um só mês. A descida do IVA da electricidade de 13% para 6% representa uma poupança de pouco mais de um euro – sim, um mísero euro – na factura mensal das famílias. E agora, o maior de todos os escândalos, a “ajuda” aos pensionistas. António Costa não tem um pingo de decência ao aproveitar esta crise, que já retirou muito poder de compra aos pensionistas (e a todos), sobretudo aos que auferem uma pensão baixa e que são a maioria, para cortar-lhes a pensão. Sim, foi isso que António Costa fez, por muita falta de vergonha na cara que tenha ao dizer o contrário.
O pagamento de mais 50% do valor da pensão já no próximo mês de Outubro não constitui uma ajuda, mas sim um adiantamento face ao que os pensionistas já iriam receber – por lei – no próximo. “Iriam” mas já não vão, porque ao manobrar as contas desta forma tão sórdida, o que Costa está a fazer é antecipar um pagamento que, obviamente já não será pago em 2023.
Vejamos um exemplo: um pensionista que receba uma pensão no valor de 500 euros receberá em Outubro uma pensão de 750 euros (500 euros + 50%). Contudo, a partir de Novembro volta a receber os habituais 500 euros. Mas com esta manobra de António Costa, esse mesmo pensionista, que em Janeiro de 2023 deveria receber um aumento de cerca de 8% (ficaria com uma pensão de 540 euros) terá um aumento de apenas metade – 4% - passando a receber, a partir de Janeiro de 2023, o valor de 520 euros, portanto menos 20 euros de aumento. Ora, no final de 2023, esse pensionista receberá um total de 7.280 euros (520 euros x 14 meses). No entanto, se o “bondoso” António Costa não atribuísse nenhuma ajuda (os tais 50%) já no próximo mês e se limitasse a cumprir a lei, aumentando as pensões em Janeiro no valor devido, o referido pensionista receberia 7.560 euros (540 euros x 14 meses), ou seja, mais 280 euros. Como bem se vê, Costa não só não está a dar nada aos pensionistas, como está a subtrair-lhes rendimento, em cima de uma crise inflacionista. Para piorar a situação, no início de 2024, o valor que os pensionistas terão como valor base para o aumento da sua pensão será inferior. Ou seja, retomando o mesmo exemplo, em Janeiro de 2024, qualquer que seja o aumento, imaginemos que será de 5%, o pensionista atrás mencionado, em vez de passar a ter uma pensão de 567 euros (540 euros + 5%) irá apenas receber 546 euros porque a base de incidência é menor (520 euros + 5%), tudo devido à manobra do Costa.
Aquilo que o governo de António Costa está a fazer é um insulto aos pensionistas. Mas não é a primeira vez. Costa já havia feito chantagem com os pensionistas, no final do ano passado, quando decidiu castigá-los ao não proceder ao aumento extraordinário das pensões em Janeiro deste ano, adiando a implementação dessa medida para Agosto, mas só se votassem nele, claro.
E o mais repugnante ainda é termos de ver o Primeiro-ministro muito mais preocupado em discutir o tamanho do seu pacote, comparando-o com o pacote proposto pela oposição, do que fazer aquilo para o qual foi eleito - defender o superior interesse do povo português. Sejamos claros, Costa só tem uma única estratégia – preservar a sua imagem. Tudo o que faz é em honra desse seu superior interesse.
E para piorar ainda mais a situação, vem o comentador-mor – Marcelo Rebelo de Sousa – dizer coisas do tipo: “O Primeiro-ministro quis [com as medidas apresentadas] defender a posição do governo”, como se estivesse em causa a imagem dos políticos e não a vida das pessoas. Ou que “o que preocupa as pessoas é saber depois qual é a base de cálculo”, entre outras patacoadas próprias de quem não está minimamente à altura das suas responsabilidades.
A única certeza no meio de toda esta farsa é que o pacote de Costa é mesmo o maior de todos. Tão grande, que até leva o Marcelo dentro.