O problema do SNS não é a falta de dinheiro
O Orçamento do Estado para o ano de 2019 prevê um acréscimo na ordem das centenas de milhares de euros para o SNS. Entretanto, alguns profissionais do sector, nomeadamente médicos e enfermeiros, já demonstraram algum descontentamento pelo facto de considerarem que o acréscimo de valor previsto é insuficiente.
Pois é. O tempo passa, diferentes partidos alternam-se no poder, até o ministro já foi substituído, mas o maior problema mantém-se. E esse problema não é a falta de dinheiro, mas sim a forma como ele é despendido.
O SNS tem um enorme cancro que é a dívida à indústria farmacêutica e aos fornecedores de produtos de saúde. Assim à primeira vista até parece que me estou a contradizer, mas não. É aqui que reside o grande problema do SNS. Nunca ninguém ousa perguntar a razão pela qual os fornecedores, a quem o Estado deve milhares de milhões de euros, raramente manifestam descontentamento e continuam a fornecer produtos ao Estado.
Se calhar é porque aquilo que cobram pelos produtos fornecidos é muitíssimo acima do que deveria ser. Se calhar é porque a percentagem que o Estado lhes paga já é mais do que suficiente para manterem lucros astronómicos. E, se calhar, porque sabem que o Estado acabará sempre por pagar a totalidade da factura, mesmo que demore muito tempo.
A verdade é que com tantos milhões em dívida, não há nenhum fornecedor que tenha fechado as portas por causa disso, sendo que a esmagadora maioria apresenta extraordinários lucros, ano após ano. E alguns têm o Estado como principal ou único cliente.
Não, não é falta de dinheiro. É dinheiro fora do sítio.