Os especialistas de 4.ª e o jornalismo de 5.ª
Há alguns meses, quando ocorreram os primeiros casos de Covid-19 em utentes de lares, as primeiras hospitalizações e até mesmo as primeiras mortes em idosos com a vacinação completa, as notícias – com o habitual suporte dos especialistas – apontavam como causa, o facto de alguns funcionários desses lares ainda não se encontrarem vacinados.
Muito pouco tempo depois, apareceram inúmeros casos semelhantes, apenas com uma diferença – o facto de que todas as pessoas nesses lares (utentes e funcionários) já estarem completamente vacinados. Por essa altura, as notícias passaram a reportar que, apesar de estarem vacinados, os idosos infectados que acabaram por ter que ser hospitalizados e/ou que faleceram tinham vários problemas de saúde associados.
Portanto, a lógica das notícias – e dos especialistas – passou a ser a de que qualquer idoso que venha a falecer com Covid-19 e que tenha a vacinação completa é porque já está muito velhinho, fraco e com doenças associadas; por outro lado, todas as pessoas (incluindo idosos) que venham a adoecer e/ou falecer com Covid-19, mas que não tenham sido vacinadas, mesmo que estejam debilitadas por outras doenças, a conclusão é a de que isso só acontece porque recusaram a vacina.
Neste momento, são vários os surtos activos em lares, sendo que a comunicação social quase não reporta a situação, e quando o faz não revela nenhuma informação sobre o estado da vacinação nos mesmos, o que faz com que a conclusão seja mais do que óbvia.
Entretanto, vão começar a ser realizados testes serológicos em vários lares, no sentido de aferir a quantidade de anticorpos nas pessoas mais idosas. Portanto, o Governo decidiu gastar largas dezenas (senão mesmo centenas) de milhares de euros num estudo que não serve para outra coisa que não seja a de conferir suporte para a decisão de aplicar terceiras doses das vacinas à população mais debilitada. Decisão que já se encontra tomada, mesmo contra a indicação de vários especialistas, que garantem que o estudo não poderá tirar nenhuma ilação acerca do grau de imunidade dessas pessoas, porque isso não depende exclusivamente do número de anticorpos presentes no organismo. Mas o Governo tem sempre aquela tendência de optar por seguir os outros “especialistas”.